Há 55 anos, morria a escritora Pagu, militante comunista e musa dos modernistas

A romancista, tradutora, jornalista, ilustradora e militante comunista Pagu, morta em 12 de dezembro de 1962, carregou durante a vida –e depois dela– a fama de musa escandalosa.

“A imagem da menina que roubou Oswald da mulher [Tarsila do Amaral] e andava com roupas escandalosas se estendeu para o tempo da militância política, tanto que o partido [comunista] a considerava uma burguesinha. Ela lutou muito contra isso, mas a fama permaneceu”, contou à Folha Geraldo Galvão Ferraz, o Kiko, filho de Pagu com o modernista Geraldo Ferraz, no ano do centenário de nascimento da escritora, em 2010.

Patrícia Rehder Galvão, nascida em 9 de junho de 1910, na cidade paulista de São João da Boa Vista, ganhou o apelido do poeta Raul Bopp (1898-1984), que em 1928 dedicou poema “O Coco de Pagu” à moça.

Bopp era apenas mais um dos fãs da bela jovem, que aos 18 anos frequentava a casa de Oswaldo de Andrade e Tarsila do Amaral, quando se tornou a musa dos modernistas.

Nesta época, ela teve alguns desenhos de sua autoria publicados na “Revista da Antropofagia”.

Foi também neste período que se envolveu com Oswald, com quem se casou em 1930, em um cemitério, e teve seu primeiro filho, Rudá de Andrade (1930-2009).

Em 1931, Pagu se filiou ao PCB e deu início a sua militância, vista em parte na seção “A Mulher do Povo”, no jornal “O Homem do Povo”, que editou com Oswald e fora proibido pela polícia após algumas edições.

Pouco tempo depois, abriu mão da família ao se mudar para uma vila operária no Rio, onde trabalhou como metalúrgica e tecelã.

No ano de 1933, Pagu publicou o romance proletário “Parque Industrial”, com o apoio financeiro de Oswald, sob o pseudônimo Mara Lobo, uma condição imposta pelo Partido Comunista.

A escritora foi presa dezenas de vezes por causa de sua militância. Uma das prisões foi por participar da Intentona Comunista de 1935, durante o governo Getúlio Vargas. Pagu foi torturada e permaneceu encarcerada por quatro anos e meio.

Não bastasse o período de reclusão, foi expulsa do PCB, que a obrigou a assinar uma retratação em que se apresentava como “agitadora individual, sensacionalista e inexperiente”, como conta seu biógrafo, o poeta Augusto de Campos, em “Pagu: Vida-Obra”, de 1982.

Desiludida com o partido e os tempos de militância, Patrícia Galvão retomou sua vida e casou-se pela segunda vez, em 1940, com Geraldo Ferraz, com quem teve seu segundo filho.

Nesta época deu sequência ao seu trabalho como jornalista e tradutora. Escreveu colunas literárias em jornais, como o “A Tribuna”, de Santos, o que a ajudou a acumular uma produção jornalística de 30 anos.

Desmotivada pelas decepções de um período vivido com intensidade, Pagu tentou o suicídio em duas oportunidades. Uma em 1949, quando com um revólver quase acertou o próprio olho, e outra, também com uma arma de fogo, ao ser diagnosticada com um câncer de pulmão, em 1962, ano em que morreu da doença.