Acervo Folha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br No jornal, na internet e na história Fri, 19 Feb 2021 13:40:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 1988: Folha desmascara banda fake do hit ‘Pipi Popô’, idealizada pelos Titãs https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/18/1988-folha-desmascara-banda-fake-do-hit-pipi-popo-idealizada-pelos-titas/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/18/1988-folha-desmascara-banda-fake-do-hit-pipi-popo-idealizada-pelos-titas/#respond Tue, 18 Dec 2018 09:00:03 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/PIPI-POPO-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10583 No final de 1988, um sucesso meteórico começava a fazer barulho nas FMs. Era o proibidão “Pipi Popô”,  uma marchinha nonsense do grupo fake Vestidos de Espaço, feita para o Carnaval de 89.

Com referência clara à homossexualidade [“Seu pipi no meu popô, seu popô no meu pipi…”], o hit foi o escolhido para ser a faixa-título do único trabalho do grupo, um compacto de duas músicas.

No lado B do disco está a mais elaborada, porém menos difusa, “A Marcha do Demo”, feita em homenagem ao compositor popular Lamartine Babo (1904-1963), dos clássicos “O Teu Cabelo Não Nega” e “Linda Morena”.

O grupo era formado pelos “farsantes” Pepino Carnale, 37 –que assina as composições do disco–, Lola, 26, Zeno, 25, e Sebastian, 23, todos nomes fictícios para aumentar ainda mais o ar de mistério diante do então novo fenômeno musical.

O propósito era fazer com que o público acreditasse que o Vestidos de Espaço fosse uma banda real. Outra estratégia era salvaguardar as identidades dos músicos de estúdio e dos verdadeiros letristas.

Mas a brincadeira durou poucas semanas, já que em 3 de dezembro daquele ano, a Folha, por intermédio do repórter Mario Cesar Carvalho, tornou público o enigma.

“É tudo mentira. Vestidos de Espaço, o grupo que está nas rádios com a marchinha ‘Pipi Popô’, nunca entrou num estúdio de gravação”, revelou o jornal.

A reportagem mostrou que quem estava por trás das letras, dos instrumentos e vozes, eram os Titãs, à época em processo de gravação do seu 5° álbum de estúdio, “Õ Blésq Blom” (Warner), das músicas Miséria, Flores e O Pulso.

Os vocais tiveram também as contribuições secretas da então integrante do Kid Abelha, Paula Toller, do produtor musical e ex-Mutante Liminha, do engenheiro de som Vitor Farias e do traquejado músico, escritor e poeta Jorge Mautner, que foi quem batizou a banda. Segundo Mautner, a expressão “vestido de espaço” era usada na Grécia Antiga para dizer que uma pessoa estava despida. 

A reportagem veio acompanhada de uma entrevista exclusiva com dois dos integrantes fake: Pepino Carnale, que o jornal revelou ser o artista plástico Fernando Zarif (1960-2010), e Lola, que era representada pela modelo Bronie, uma das mais requisitadas para desfiles entre os anos 70 e 80.

Na tentativa de mostrar a verdade dos fatos, o jornal perguntou aos falsos músicos se eles sabiam que as marchinhas do compacto eram cantadas e tocadas pelos Titãs, ao que Carnale respondeu: “Quem? Deve haver algum engano. Se isso for uma intriga, eu entro na justiça e processo. Os Titãs formam um grupo interessante. Mas nós fazemos outra coisa. Rock é coisa de colonizado”.

Antes, a Folha havia questionado a banda sobre a possibilidade de “Pipi popô” ser censurada por causa de sua conotação homossexual. Carnale rechaçou o cenário ao afirmar que a música “é muito casta” e que “não existe orgasmo e nem penetração na letra”.

Sobre o poder de influência da marchinha nas crianças, Carnale e Lola, num tom intelectualizado, responderam que “a cultura de massa infantil é onanística” e que a composição foi pensada para ser “uma coisa anti-onanística”.

Os porta-vozes do grupo aproveitaram a entrevista para reforçar que o Vestidos de Espaço não era uma banda de mentira, e sim um projeto que culminaria no lançamento de um LP para o ano seguinte, que não chegou a ser concretizado pelo grupo.

Conforme a biografia “A Vida Até Parece uma Festa – Toda a História dos Titãs” (Record), escrita pelos jornalistas Luiz André Alzer e Hérica Marmo, lançada em 2003, as marchinhas “Pipi popô” e “Marcha do Demo” começaram a ser trabalhadas entre setembro e outubro de 87, no estúdio Nas Nuvens (Rio).

As músicas foram feitas durante os intervalos das gravações do 4º LP dos Titãs, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, dos sucessos “Comida”, “Diversão” e “Lugar Nenhum”, lançado em 88 pela Warner.

“Aproveitávamos o tempo para brincar com faixas e bagunças perdidas no estúdio”, disse Charles Gavin, em 1995, em entrevista para a MTV.

“Pipi Popô é uma composição super infantil, embora com uma certa tendência homossexual. Era uma brincadeira!”, disse Paulo Miklos, também para a MTV, anos após a produção do disco.

Em janeiro de 1989, com o estouro de “Pipi Popô” nas rádios, um manifesto organizado por um estudante de nome Fábio Moura, de 24 anos e estagiário de uma agência de publicidade, pedia a censura da marchinha nas rádios.

A ideia do estudante, segundo a Folha publicou na ocasião, surgiu após o seu retorno dos EUA, onde cursou marketing por dois anos na universidade estadual do Missouri, em Springfield.

Fábio disse ter ficado chocado ao voltar para o Brasil, onde, na sua visão, “tudo estava indo para pior”, até que ele resolveu se manifestar contra um estado de coisas, entre as quais a execução de “Pipi Popô” na mídia.

Empenhado em manter a “ordem”, o estagiário reuniu alguns colegas do Mackenzie e do Anglo, onde havia estudado, para coletar assinaturas em oposição a marchinha, que ele classificou como “símbolo da corrupção no país”.

O estudante, que contou à Folha ser da Igreja Batista e confessou então ser grande admirador de Paulo Maluf, disse que sua principal oposição era ao efeito maléfico que a audição da música poderia causar aos mais velhos e, principalmente, às crianças.     

Para Fábio, que conseguiu 244 assinaturas, “Pipi Popô” estimulava o homossexualismo infantil. “Quem já tem a tendência, vai virar de qualquer jeito. Mas ouvindo essa música, a criança, que é ingênua e pura, vai querer brincar de ‘Pipi Popô’ com os amiguinhos”, afirmou.

Em 14 de janeiro, uma semana após a publicação da reportagem, a leitora da Folha Duane Barros da Fonseca, do Rio, que teve sua carta publicada na coluna “Painel do Leitor”, retrucou o manifesto do estagiário ao chamá-lo de “ridículo”. “O manifesto que pede a censura da música é simplesmente ridículo. Seu organizador devia se preocupar com problemas mais sérios. Manifestos políticos não irão melhorar a moral do país”, escreveu Fonseca.

No mesmo dia em que revelou o segredo dos Titãs e da Warner, o jornal relembrou outros episódios envolvendo bandas fake pelo mundo, como foi o caso do conjunto Klaatu, que, quando do lançamento em 1976 do seu primeiro LP (sem créditos e fotos), deixou rumores de que quem estaria por trás das gravações do álbum seriam os Beatles, por causa de similaridades com a sonoridade do álbum “Sgt. Pepper’s  Lonely Hearts Club Band”, gravado pelo quarteto inglês em 1967.

As identidades dos componentes do Klaatu eram desconhecidas até pela própria gravadora da banda. A verdade só veio à tona dois anos depois, em 1978, quando foi revelado que o conjunto era formado por quatro músicos canadenses de estúdio, que acabaram entrando no ostracismo.

Outra história citada pela reportagem é a dos célebres roqueiros Robert Plant e Jimmy Page, ex-membros do Led Zeppelin, que em 1985 gravaram um disco com “baladinhas açucaradas” sob o nome de Honeydrippers, “provavelmente, tentando escapar à fúria dos fãs conservadores do Led”.

Confira as letras das duas marchinhas do compacto “Pipi Popô”

Pipi Popô 
(Arnaldo Antunes e Branco Mello)

Seu popô no meu pipi

Seu pipi no meu popô

Meu pipi no seu popô

Meu popô no seu pipi

 

Seu pipi no meu popô

Seu popô no meu pipi

Meu popô no seu pipi

Meu pipi no se popô

 

Pipi popô, popô pipi,

Pipi popô popô pipi popô pipi

Pipi popô

 

A Marcha do Demo
(Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer, Branco Mello e Paulo Miklos)

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia o Capitão Nemo

Cuidado com o Demo, cuidado com o Demo

Já dizia Pero Vaz

Cuidado com o Satanás

 

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia Maria Antonieta

Cuidado com o Capeta, cuidado com o Capeta

Já dizia pai Jeú

Cuidado com o Belzebu

 

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia Napoleão

Cuidado com o Cão, cuidado com o Cão

Já dizia Santo Antônio

Cuidado com o Demônio

 

Não foi por falta de aviso

Não foi pro falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia Lamartine Babo

Cuidado com o Diabo, cuidado com o Diabo

Já dizia Simbá o Marujo

Cuidado com o Dito Cujo

 

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

 

 

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1943: Nasce Jim Morrison, poeta, cantor e símbolo sexual da música dos anos 60 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/08/1948-nasce-jim-morrison-poeta-cantor-e-simbolo-sexual-da-musica-dos-anos-60/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/08/1948-nasce-jim-morrison-poeta-cantor-e-simbolo-sexual-da-musica-dos-anos-60/#respond Sat, 08 Dec 2018 09:00:56 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/Doors__bx__blog-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10618 Para descrever Jim Morrison, as palavras cantor, compositor e líder dos The Doors podem ser substituídas por poeta, provocador e rock star incendiário e sexy.

Há 75 anos, nascia em Melbourne, na Flórida, James Douglas Morrison, primogênito de um militar de alta patente da Marinha, em cuja casa reinava a ordem, a disciplina e a retidão. Pela carreira de George Stephen Morrison, pai de Jim, a família se mudou diversas vezes de cidades e estados.

Quando entrou para o curso de cinema da Universidade da Califórnia (UCLA), em 1964, praticamente cortou os laços com a família e dali em diante se dedicou a filmes de curta metragem, poesia e, em pouco tempo, música.

Leitor voraz desde os tempos de escola, foi influenciado por Nietzche, Plutarco, Arthur Rimbaud, além de Jack Kerouac, Allen Ginsberg e Charles Baudelaire.

Um professor de inglês disse: “Jim leu tanto e provavelmente mais do que qualquer aluno, mas tudo o que leu era tão inusitado que outro professor (que estava indo para a Biblioteca do Congresso) foi verificar se os livros que relatava realmente existiam.”

A literatura se fez tão presente na vida dele que até o nome da banda foi inspirado em um livro. The Doors é uma referência direta à obra psicodélica de Aldous Huxley, “The Doors of Perception”. Huxley, por sua vez, tinha se baseado em um trecho de “The Marriage of Heaven and Hell”, de William Blake, de quem Morrison era fã.

De 1966 a 1971 (ano de sua morte), esteve à frente da banda que formara com o tecladista Ray Manzarek (1939-2013), em Venice, na Califórnia. Eles produziram apenas seis álbuns em cinco anos, mas com canções suficientes para marcar aqueles anos turbulentos e criarem clássicos como “The End”, “L.A. Woman”, “Light My Fire” e “Love Me Two Times”.

As músicas dos Doors eram uma fusão de blues, jazz e rock psicodélico. Suas composições captaram a atmosfera de rebeldia efervescente dos anos 1960 e o choque de gerações.

Não à toa que, diante de suas performances no palco, Jim se tornou um dos mais célebres mártires do rock. À frente dos Doors, sua presença magnética de cantor e poeta (também conhecido como “Lizard King”) vestido de couro, trouxe o poder fascinante de um xamã ao microfone.

A rebeldia e o confronto com a ordem, presente em suas canções e atitudes eram sua marca registrada, desafiando a censura e a sabedoria convencional. As letras de Morrison mergulharam em questões de sexo, violência, liberdade e espírito.

“Eu sempre fui atraído por ideias que eram sobre revolta contra a autoridade. Eu gosto de ideias sobre o rompimento ou a derrubada de uma ordem estabelecida”, explicou em uma entrevista.

Sua carreira sempre foi marcada por confronto e provocação. Em março de 1969, em Miami, durante um show Morrison baixou as calças para a plateia ao som de “Touch Me”. Foi julgado e condenado a seis meses de prisão e obrigado a pagar uma multa de US$ 500.

A atitude fez os Doors serem banidos das rádios, tiveram discos recolhidos de lojas e viram seus futuros shows cancelados.

Longe do estúdio, os problemas com drogas e álcool, combinados com sua mentalidade antiautoritária, resultaram em um comportamento sempre imprevisível.

Antes do lançamento de “L.A. Woman” (último álbum da banda com Jim ainda vivo), em abril de 1971, mudou-se para Paris.

Em 3 de julho do mesmo ano foi encontrado morto na banheira do apartamento que dividia com a namorada Pamela Courson. Oficialmente foi declarado ataque cardíaco, mas não houve autópsia e a verdadeira causa da morte segue sem explicação.

Do último trabalho resultaram em clássicos a faixa-título, “Love Her Madly” e “Riders on the Storm”.

Jim Morrison morreu exatamente dois anos depois de Brian Jones (um dos fundadores dos Rolling Stones), dez meses após Jimi Hendrix e nove de Janis Joplin.

Em 1984, o colunista da Folha Ruy Castro escreveu sobre o lançamento do disco “Alive, She Cried”, que continha gravações inéditas dos Doors, ao vivo. O jornalista sintetizou a sucessão de perdas para o rock com uma questão.

“Por que todos os mártires do rock têm J no nome?” E citou todos os acima com o acréscimo de John Lennon, assassinado em 8 de dezembro de 1980. “Quem será o próximo?”, perguntou Castro. E ele mesmo respondeu: “Quem falou Mick Jagger errou. Jagger é esperto demais para morrer”.

Ao longo de seis álbuns e incontáveis apresentações ao vivo, Morrison mudou o curso do rock. Seu corpo acabou não sendo trasladado para os EUA e foi enterrado na capital francesa, onde fãs do mundo todo fazem peregrinações para seu ver túmulo.

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1993: Frank Zappa deixou rock and roll órfão de seu humor e inventividade https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/04/1993-frank-zappa-deixou-rock-e-musica-orfaos-de-seu-humor-e-inventividade/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/04/1993-frank-zappa-deixou-rock-e-musica-orfaos-de-seu-humor-e-inventividade/#respond Tue, 04 Dec 2018 19:01:03 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/Zappa-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10592 O mundo da música nesta terça-feira (4) completa 25 anos sem um de seus ícones: Frank Zappa.

Como bem escreveu o jornalista Fábio Massari em 1997, na Folha, com Frank Vincent Zappa é difícil ficar no meio de caminho. “É amar ou odiar. Ficar indiferente frente à música do ‘american composer’ requer sacrifício.”

Isso porque o americano nascido em 21 de dezembro de 1940, em Baltimore, foi um workaholic da música, tendo lançado mais de 60 álbuns ao longo de 30 anos de carreira e ter sido sempre imprevisível.

Em 1978, porém, num show em Paris, o guitarrista tocou durante três horas, inventando versões de suas “The Illinois Enema Bandit” e “The Torture Neves Stops”, aproveitando as brechas das músicas para fazer gozações com ingleses, para delírio dos franceses.

A efervescência surgiu na infância, quando vivia com o pai, a mãe e três irmãos mais novos. Agarrou-se à música e dela jamais se desprendeu. Foi baterista, compositor, vocalista e guitarrista, e não só isso.

A sua banda, Mothers of Invention, formada em 1964, como descrito em 1983 pelo jornalista Pepe Escobar na Folha, materializou o que Zappa construía em mente, que misturava música, paródias pop, referências clássicas (Edgard Varèse e Béla Bartók), improvisos de jazz de vanguarda, teatro de variedades e comédia burlesca.

Imagem de Frank Zappa que ilustra “You Are What You Is”, álbum duplo do cantor lançado em 1981 (Crédito: Divulgação)

Com um bigode e cavanhaque que também viraram símbolo, Zappa tinha um humor impagável. Exemplo disso: com a banda usando máscaras de gases, de repente todos os músicos ignoravam o público e cessavam a música, e o baterista se levantava para engraxar os sapatos de Zappa. No limite da paciência do espectadores, ele ironizava: “Isto traz à tona todas as hostilidades dentro de vocês, não é?”.

E poucos souberam brincar como Zappa, que reunia desde ácidas críticas ao establishment, deboche e improvisos únicos com a guitarra que o colocam ao lado de Jimi Hendrix, Jeff Beck e Eric Clapton. Um exemplo do que falava: “Não usem drogas, crianças! Elas arrasam o fígado, o coração, a cabeça e, de modo geral, fazem com que vocês fiquem que nem os seus pais”.

Não à toa e por ter deixado uma das mais inacreditáveis discografias, Zappa teve seu nome incluído no Hall da Fama do rock and roll, em 1995, (“Repórteres de rock são pessoas que não sabem escrever, entrevistando gente que não sabe falar para leitores que não sabem ler”, dizia) e também deixou um enorme legado no jazz. Ganhou ainda Grammy póstumo pelo conjunto da obra, em 1997.

Para dar uma ideia de como a obra de Zappa influenciou a música, nada menos do Paul McCartney disse que, se não fosse “Freak Out” (1966), não haveria “Sgt. Pepper” (1967), dos Beatles.

O americano, que também chamou a atenção por participações políticas —chegou “a se lançar” a Presidência dos EUA— e virou tema de filme, morreu em 1993, aos 52 anos, vítima de câncer na próstata.

Abaixo você confere um texto do músico, escrito e publicado pela Folha em 3 de abril de 1983.

Americanos e mediocridade
“A América deveria se orgulhar das coisas que foram produzidas aqui e são excepcionais, diferentes, ousadas, e não coisas das coisas que se fingem de excepcionais, diferentes e ousadas. A América deveria optar pelo que realmente conta. Mas os americanos não optam, porque nunca são expostos a isso. O trabalho transgressivo nunca chega ao rádio, e nunca é comentado. Porque tudo que é ouvido sobre a dita vida musical nos EUA é de autoria de pessoas em jornais e revistas que não estão qualificadas para a tarefa; não são capazes de diferenciar uma composição boa de uma péssima, e não sabem diferenciar uma ótima composição mal tocada de uma composição medíocre que ganhou um grande tratamento molto vibrato por uma orquestra importante (…) É o clima dos tempos. Você faz alguma coisa realmente ousada, e fica com sua vida na palma da mão. Todo mundo quer ficar com a mediocridade.”
Frank Zappa
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1948: Nasce Ozzy Osbourne, que comeu morcego, cheirou formiga e se tornou ‘O Príncipe das Trevas’ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/03/1948-nasce-ozzy-osbourne-que-comeu-morcego-cheirou-formiga-e-se-tornou-o-principe-das-trevas/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/03/1948-nasce-ozzy-osbourne-que-comeu-morcego-cheirou-formiga-e-se-tornou-o-principe-das-trevas/#respond Mon, 03 Dec 2018 09:00:12 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/Ozzy-careta__BX-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10522 Três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, nasce em Birmingham, na Inglaterra, John Michael Osbourne, o Ozzy, mundialmente conhecido por um apelido dado na escola como provocação por sua dislexia.

Após passar por uma série de empregos na juventude e ter cometido pequenos crimes que acabaram levando-o a uma sentença de prisão por roubo, aos 20 anos ele se junta a Geezer Butler, Tony Iommi e Bill Ward para formar a banda Polka Tulk Blues.

O conjunto, depois, se tornaria Earth, mas, como havia um grupo de mesmo nome, os músicos decidiram adotar Black Sabbath, referência a um filme de Boris Karloff e título da canção que abre o primeiro trabalho do quarteto, em 1970.

Nos vocais da banda, que inaugurava um novo gênero, o heavy metal, Ozzy ficou até 1979, onde emprestou sua voz em nove discos e cravou sucessos como “N.I.B”, “Paranoid”, “Iron Man” e “War Pigs”.

Sobre o “divórcio” com o Sabbath, Ozzy disse em entrevista à Folha, em 1995, que “a banda é como uma ex-namorada: desejo tudo de melhor para ela, mas tenho minha própria vida”.

Capa do primeiro disco da banda Black Sabbath (Divulgação)

A partir de 1980, Ozzy inicia sua carreira solo e já no primeiro disco emplaca três canções executadas até hoje em suas turnês: “Crazy Train”, “Mr. Crownley” e “Suicide Solution”.

Desta última há duas controversas: Ozzy disse ser em homenagem ao ex-vocalista do AC/DC, Bon Scott, morto em 1980, mas Bob Daisley (ex-baixista e principal letrista de Ozzy) afirmou que a letra faz alusão ao próprio cantor. E o suicídio de um fã cujos pais processaram o cantor como responsável por sua morte.

Em 1985, Ozzy desembarcou no Rio de Janeiro para a primeira edição do Rock in Rio. Realizou dois shows, um em 16 de janeiro e outro no dia 19. Na ocasião explicou a Folha sua fama de mau.

“Faço as pessoas sentirem medo porque elas gostam de sentir essa sensação. Para mim tanto faz, sou tão interessado em Deus como no Diabo. Se querem horror, tomem lá, que todo mundo se diverte e eu ainda ganho dinheiro”, disse o “Príncipe das Trevas”, como também é conhecido.

Na década de 80, ele lançou praticamente um disco por ano. Já nos anos 1990, foram apenas quatro trabalhos. Porém o primeiro deles, “No More Tears” (1991), também deixou uma marca com a canção título e “Mama, I’m Coming Home”, tocadas até hoje quando está no palco.

‘THE OSBOURNES’

Com a aposentadoria anunciada inúmeras vezes e sempre de volta à estrada, os anos 2000 acabaram mais lembrados pelo reality show “The Osbournes” do que pelos sete discos.

Com quatro temporadas na MTV, os telespectadores viram outra pessoa. O cotidiano de Ozzy, a inseparável (e empresária) Sharon, os filhos Jack e Kelly, além dos gatos e cachorros, foram transmitidos de 2002 a 2005. Prevaleceram os diálogos esculachados, os palavrões, e o dia a dia de uma família cujo “chefe” apalermado foi motivo de muitas risadas.

Num dos episódios, ao ser maquiado e penteado para ir a um jantar na Casa Branca com George W. Bush, o roqueiro disparou: “Não quero parecer a Cher”.

Sua contribuição para a música juntamente com a fase no Black Sabbath, no entanto, vão além da caricatura que ficou por causa do programa.

Nada menos do que 162 produções, sejam de longas, de documentários ou de séries de TV, já usaram alguma de suas canções ou do Sabbath.

Talvez a mais famosa e na memória dos fãs mais jovens seja a música tema do “Homem de Ferro”, protagonizado por Robert Downey Jr. Sobre ela, Ozzy declarou sem nenhum pudor: “Gostaria de não ter que tocar ‘Iron Man’ todas as noites”.

BEATLES

Com 18 shows no Brasil –já computados os de sua última passagem, em maio deste ano–, Ozzy disse que precisava diminuir o ritmo. Apesar de a turnê No More Tours Tour ter programação até 2020, o “Padrinho do Heavy Metal” afirmou “não estou me aposentando, só não vou mais cair na estrada por longos períodos em turnês“.

Para quem já comeu morcegos, mordeu pombos, cheirou formigas (relatos podem ser conferidos na autobiografia “Eu sou Ozzy”) e bebeu hectolitros de álcool, um descanso é merecido.

Fã confesso dos Beatles (“A maior coisa da minha vida foram os Beatles. Agradeço a Deus por eles.”), falando à Folha oito anos atrás, foi questionado sobre se havia alguma coisa que ainda gostaria de fazer. “Sim, tocar com Paul McCartney”, disse.

Quem sabe um dia o novo setentão da praça não realiza seu sonho. Afinal, seu ídolo segue ativo, com disco novo (“Egypt Station”) e sem pistas de uma possível aposentadoria.

Trecho do livro “Eu sou Ozzy” (Reprodução)
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1938: Com ‘Guerra dos Mundos’, Orson Welles leva pânico a ouvintes da CBS https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/10/30/1938-com-guerra-dos-mundos-orson-welles-causa-panico-a-ouvintes-da-cbs/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/10/30/1938-com-guerra-dos-mundos-orson-welles-causa-panico-a-ouvintes-da-cbs/#respond Tue, 30 Oct 2018 15:00:23 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/Orson-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10398 Há 80 anos, um jovem diretor de cinema, com apenas dois curtas e um longa no currículo, causou pânico nos Estados Unidos com a transmissão de uma peça de radioteatro, “A Guerra dos Mundos”, do escritor inglês H.G. Wells, na véspera do Dia das Bruxas.

A notícia em edição extraordinária em que narra uma batalha entre terráqueos e marcianos foi transmitida pela rede de rádio CBS por um desconhecido Orson Welles —sua obra-prima, “Cidadão Kane”, seria lançada menos de três anos depois.

Welles adaptou, produziu e dirigiu a peça. De quebra ainda encarnou o papel do professor da Universidade de Princeton, que liderava a resistência à invasão marciana. A transmissão combinava elementos do radioteatro com os noticiários da época.

A primazia do trabalho estava na veracidade e seriedade com que a notícia foi transmitida nas ondas do rádio —na época o meio de comunicação de maior alcance.

O programa trazia boletins noticiosos, entrevistas, efeitos sonoros, opinião de peritos, declarações de autoridades sobre a “guerra” e a emoção dos supostos repórteres.

Como milhares de pessoas sintonizaram a estação com a narração de Welles já iniciada, a introdução em que ele explicou tratar-se de uma adaptação de um livro, tal como o programa fazia semanalmente, foi perdida, e o pânico foi total.

O escritor britânico H.G. Wells (8.nov.1937/Associated Press)

O medo e a sensação de realidade trouxeram pânico a várias cidades americanas próximas a Nova Jersey, de onde a CBS fazia a transmissão e de onde Welles ambientou a história. Houve fuga em massa e reações desesperadas de moradores também em Newark e Nova York.

No dia seguinte, o jornal Daily News estampou em sua capa “Guerra falsa no rádio espalha terror pelos Estados Unidos”.

Outros periódicos seguiram na mesma linha. O Boston Globe publicou “Brincadeira no rádio aterroriza nação” e o New York Times destacou em manchete “Ouvintes de rádio em pânico tomam drama de guerra como fato” e acrescentou “Muitos fugiram de suas casas para escapar de ‘ataque a gás de Marte'”.

Na época, a rede CBS calculou que o programa protagonizado por Welles chegou a ser ouvido por pelo menos 6 milhões de pessoas e que ao menos 1,2 milhão pessoas (algo como 20% de toda a audiência) acreditou que a história era de fato real.

O professor de Informação e Comunicação Rodrigo Cássio Oliveira, da Universidade Federal de Goiás, explica que a transmissão “pode ser vista como uma das histórias mais marcantes do século 20, especificamente em relação ao poder do rádio como meio de comunicação”.

Capa do jornal nova-iorquino Daily News de 31 de outubro de 1938 sobre a transmissão de “Guerra dos Mundos” (Reprodução)

FAKE NEWS

Para o colunista da Folha Luís Francisco Carvalho Filho, “a transmissão radiofônica de ‘A Guerra dos Mundos’ talvez seja o caso mais desconcertante do insuperável confronto entre verdade e mentira”.

“Em outubro de 1938, o jovem Orson Welles (1915-85) se consagraria por assustar um pedaço da América. Do ponto de vista estritamente burocrático, é adaptação teatral, anunciada, de obra preexistente. No entanto, décadas antes de se instalar a rede mundial de computadores, milhares de habitantes de New Jersey sentiriam verdadeiro pânico diante da notícia da invasão de marcianos”, explica Carvalho Filho.

Já para o professor Rodrigo Cássio a comparação com as fake news é indevida. “As fake news pertencem a outra lógica de produção e consumo de informações. O caso Guerra dos Mundos foi ocasionado por um problema de decodificação do conteúdo. Aquilo que se apresentava como ficção deveria ter sido assimilado como tal, mas não o foi. Já as fake news são produzidas, na maior parte das vezes, a partir de uma intenção deliberada de simular a verdade”, explica.

OUTROS ‘GUERRA DOS MUNDOS’

Passado o pânico que o programa causou, o romance de ficção científica do britânico Herbert George Wells ainda rende lembranças e referências.

No cinema ganhou duas versões, em 1958 e em 2005 —a primeira pelas mãos do diretor Byron Haskin e que ganhou o Oscar de melhor efeitos especiais e a segunda com direção de Steven Spielberg e Tom Cruise no papel principal.

Além dos filmes, há ainda inúmeros HQs, novas edições de livros e está sendo produzida uma série de três episódios na Inglaterra com distribuição pela BBC. Por enquanto, sem data de estreia.

O ator Tom Cruise em cena de ‘Guerra dos Mundos’, de Steven Spielberg (Divulgação)
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1968: Atores de ‘Roda Viva’ são agredidos, e teatro é depredado https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/18/1968-atores-de-roda-viva-sao-agredidos-e-teatro-e-depredado/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/18/1968-atores-de-roda-viva-sao-agredidos-e-teatro-e-depredado/#respond Wed, 18 Jul 2018 09:00:35 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/BancoTeatroRuthEscobar-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10142 Assim que terminou a apresentação da peça ‘Roda Viva’, por volta das 23h30 de 18 de julho de 1968, os atores foram surpreendidos por um ataque na sala O Galpão, no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo.

Integrantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) começaram a bater nos atores e na equipe do espetáculo.  Cerca de 90 homens agiram dentro do teatro, e 20 ficaram fora.

A peça foi escrita por Chico Buarque e recebeu a direção de Zé Celso Martinez Corrêa. Estreou no Rio de Janeiro em janeiro de 1968, com muito sucesso, e em maio veio para São Paulo.

Os invasores estavam armados com cassetetes e socos-ingleses, relatou a Folha, em uma edição vespertina, publicada no dia seguinte.

“Depredaram as poltronas, quebraram os ‘spots’, instrumentos musicais, e subiram aos camarins onde as atrizes estavam mudando de roupa. Espancaram-nas, tirando-lhes a roupa, e praticaram atos brutais de sevicia, conforme afirmavam atores, testemunhas oculares da violência”, informou a reportagem.

Reprodução da primeira página da Folha de 19 de abril, da edição vespertina

A pancadaria durou cerca de três minutos. O contrarregra José Luiz Araújo sofreu uma fratura na bacia. A atriz Marília Pêra, protagonista da peça, foi forçada a sair pelada de lá.

“Os invasores quebraram tudo o que puderam, bateram em todos os artistas, principalmente no contrarregra José Luiz Araújo e na atriz Marília Pêra, que, depois de várias vezes mordida, foi obrigada a andar nua pela rua”, reportou a Folha da Tarde.

Manchete da Folha da Tarde, de 19 de julho de 1968

Marília falou sobre esse episódio no livro “Vissi D’Arte” (1999), biografia escrita pelo dramaturgo Flavio de Souza e pela própria atriz.

“Entraram quebrando os espelhos, arrancaram minha roupa, deram socos. Saí correndo, me desviando de socos. No corredor havia mais rapazes, e enquanto fugia eu sentia cassetetes nas costas”, declarou.

A atriz Margot Baird foi outra vítima, conforme publicou a Folha da Tarde. “Depois de despi-la totalmente, dois terroristas torceram os seus seios”, descreveu a reportagem.

O ator Rodrigo Santiago declarou que estava no seu camarim só de paletó, quando houve a invasão. “Corri. Passei por um corredor polonês, de 20 homens com japonas azuis. Levei porrada e torci o tornozelo. Nada grave.”

Durante a tarde daquele dia, um telefonema anônimo foi recebido avisando que um grupo estava planejando um quebra-quebra na peça “Feira Paulista de Opinião”, também encenada no Teatro Ruth Escobar. A ameaça ao teatro se confirmou, mas o alvo foi o outro espetáculo.

No momento do ataque, policiais estavam teatro para tentar aumentar a segurança. Porém, como relatam os jornais, eles nada fizeram para impedir a depredação e as agressões.

O enredo de “Roda Viva” não tinha cunho diretamente político. Contava a história de um artista que ficou famoso, virou um ídolo, se adaptou as demandas da indústria cultural  e depois cometeu suicídio.

A peça tinha palavrões e cenas mais fortes. Por exemplo, um fígado cru era dilacerado no palco, como se um ídolo fosse devorado, e o sangue respingava no público.

Nesta época, a ditadura militar estava em seu quarto ano no poder no Brasil, e os militares já haviam começado a endurecer o discurso.

O teatrólogo Plínio Marcos, um dos dirigentes da classe teatral, afirmou que o ataque aos atores de “Roda Viva” serviria para tumultuar ainda mais o país.

“Todo o patriota teme e nós tememos pelos destinos de nossa pátria. Sentimos que há realmente um grupo organizado, forçando a barra, para levar a nação a um regime de terror e violência”, declarou.

No dia seguinte, os atores se apresentaram mesmo feridos e com figurinos rasgados.

Depois do ataque, o censor Mário F. Russomano chegou a questionar se Chico Buarque seria um débil mental por ter escrito a peça.

“Roda Viva” ainda sofreria outro ataque, em Porto Alegre, em outubro de 1968. Segundo Zé Celso, soldados foram ao hotel, agrediram os atores e os colocaram em um ônibus com destino a São Paulo.

O ataque

Em 17 julho de 1993, a Folha publicou a reportagem “Comando de Caça aos Comunistas diz como atacou ‘Roda Viva’ em 68”, assinada pelo jornalista Luís Antônio Giron.

O texto revelou que o advogado João Marcos Flaquer foi quem planejou e comandou a ação.

“O objetivo era realizar uma ação de propaganda para chamar a atenção de autoridades sobre a iminência da luta armada, que visava a instauração de uma ditadura marxista no Brasil”, disse  Flaquer.

Dos 110 homens que atuaram naquela noite, 70 eram civis e 40 militares. Fora do teatro, ficaram 20 para facilitar a fuga. Estavam armados com cassetetes, revólveres e metralhadoras.

Eles, que já haviam estudado o espaço do teatro, esperaram o público sair, colocaram uma luva na mão esquerda para identificação e iniciaram o quebra-quebra.

Segundo o grupo, a meta havia sido atingida, pois não houve feridos graves e ação ganhou muita repercussão.

O Ato Institucional número 5 foi decretado em 13 de dezembro de 1968, pelo presidente Arthur da Costa e Silva, e deu poderes extraordinários para o governo, como o de fechar o Congresso, as Assembleias e as Câmaras e o de suspender a garantia de habeas corpus em crimes políticos.

“[O ataque à ‘Roda Viva] antecipou o AI-5 e cortou a via subversiva que o teatro teria seguido”, disse Zé Celso, em maio de 1993.

Em novembro de 2017, a coluna da Mônica Bergamo informou que Zé Celso recebeu a autorização de Chico Buarque para remontar a peça. O diretor passou a buscar financiamento para a produção.

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1948: Monteiro Lobato morre aos 66 anos, após se dizer curioso em conhecer fim da vida; leia entrevista https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/04/1948-monteiro-lobato-morre-aos-66-anos-apos-se-dizer-curioso-em-conhecer-fim-da-vida-leia-entrevista/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/04/1948-monteiro-lobato-morre-aos-66-anos-apos-se-dizer-curioso-em-conhecer-fim-da-vida-leia-entrevista/#respond Wed, 04 Jul 2018 10:56:38 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Lobato_-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9936 Vítima de um derrame cerebral, o escritor José Bento Monteiro Lobato, um dos mais populares do Brasil, morreu aos 66 anos, na madrugada de 4 de julho de 1948, em São Paulo.

Cerca de um ano antes de isso ocorrer, ele havia declarado, em entrevista exclusiva para a Folha da Noite (um dos jornais que deram origem à Folha), que já não tinha mais pretensões e que estava curioso em saber o que acontece depois do fim da vida.

“O meu cavalo está cansado, querendo cova —e o cavaleiro tem muita curiosidade em verificar pessoalmente se a morte é vírgula, ponto e vírgula ou ponto-final”, disse.

Quando a entrevista foi publicada, no dia 22 de abril de 1947, o escritor estava com 65 anos e morava em Buenos Aires, mas se preparava para voltar a viver no Brasil.

Lobato é autor de obras como “Reinações de Narizinho” e “Caçadas de Pedrinho”, que eternizaram as aventuras do “Sítio do Picapau Amarelo” e marcaram a infância de muitas crianças.

Também fez muito sucesso com jovens e adultos, publicando livros como “Urupês”, no qual aparece o famoso personagem Jeca Tatu, e “Cidades Mortas”, que retrata o declínio de municípios no Vale do Paraíba, em São Paulo.

Ele residiu por um ano, entre 1946 e 1947,  na Argentina, onde suas obras infantis tiveram grandes tiragens.  O motivo de viver naquele país, segundo afirmou, era “visitar os trinta filhos sob forma de edições de livros” que lá tinham sido lançados.

No entanto, Lobato sentia nostalgia da língua portuguesa e por isso queria retornar ao Brasil:

“Descobri que pátria é pura e simplesmente a língua nativa, na qual, desde o ‘papá-mamãe’, vivemos organicamente como o bicho dentro da goiaba. Sinto-me bicho fora da goiaba, e quero a goiaba”, disse.

A entrevista dada à Folha da Noite foi realizada durante uma visita ao escritor em Buenos Aires.

Lobato, que reclamou da imprensa por lhe atribuir falsas declarações, aceitou responder por escrito a algumas questões, publicadas no fim da reportagem.

“O método americano de entrevista de jornal é que é batata. O repórter escreve as perguntas, o entrevistado as devolve datilografadas e não há jeito da confusão se estabelecer”, afirmou.

Leia abaixo a íntegra do texto publicado pela Folha da Noite,  com a grafia original:

22 de abril de 1947

A morte é virgula, ponto e virgula ou ponto final?

Monteiro Lobato, que vai regressar ao nosso país, quer verificar essa “inquietação”

Em entrevista exclusiva para Folha da Noite narra o grande escritor as verdadeiras razões de sua viagem à Argentina e os motivos que o trazem de volta ao Brasil, aonde deverá chegar dentro de poucos dias

Correspondência especial para a Folha da Noite

BUENOS AIRES, abril, por via aerea – Monteiro Lobato voltará ao Brasil no fim deste mês. Desta vez vai mesmo. E vai para ficar.

O seu retorno, tantas vezes anunciado e tantas vezes desmentido, foi-nos comunicado com essas simples palavras:

— Estou de malas prontas para voltar a São Paulo. Vou ficar em hotel, já que não há casa…

Foi assim que Monteiro Lobato nos revelou uma noticia que todos os verdadeiros amigos e discipulos do grande escritor desejavam ouvir há tanto tempo. E concluiu, resmungando:

— Não vá publicar nada do que lhe disse. Isso aqui é uma informação para uso pessoal e não uma entrevista. Veja esses recortes são de entrevistas a mim atribuidas. E olhe quanta besteira contem esse pequeno trecho, quanta besteira em tão poucas linhas!

Uma entrevista nada fácil

A verdade, entretanto, é que nossa entrevista saiu sem que nós ou Monteiro Lobato estivessemos com esta intenção. Ao visitá-lo, não nos passava pela cabeça entrevistá-lo. Alem do mais, quasi que não havia nenhuma originalidade em mais uma entrevista com Lobato.

Raro é o jornalista brasileiro que vem a Buenos Aires e não corre logo à casa de Lobato. Que belo assunto para jornal. O reporter nem tem que fazer força. Lobato—e como ele e sua familia sabem receber bem os brasileiros que passam por aqui!—vai dizendo, com aquele seu geitão de caipira paulista, frases que podem constituir cada qual uma manchete. Mas, quando a entrevista sae lá vem o estrilo.

A culpa, porem, nem sempre é do reporter. Não é nada facil registrar mentalmente o aluvião de coisas interessantes que o escritor vai dizendo. Alem do mais, aqueles dois olhos negros, escondidos debaixo de um par de imponentes sobrancelhas, não param de se agitar. O pobre do reporter nem sabe o que deve registrar primeiro—as palavras ou a malicia do olhar, as frases ou aquela gargalhada nervosa e indecifravel.

E enquanto essa pequena tragedia profissional ocorre, Lobato—sem se dar conta de que o reporter esfrega intimamanete as mãos de contente—vai distilando a sua amargura, essa amargura que o torna um dos espiritos mais construtivos do Brasil.

É por isso que a gente passa por burro”

Foi assim que nasceu esta entrevista. Lobato agitou no ar um dos últimos recortes que recebera de São Paulo, onde alguem colocara em sua boca que “o Brasil melhorara porque não estava mais dominado por politicos ossudos, bojudos e soturnos”.

— Eu nunca diria esse amontoados de asneiras. Ora, ora, politicos ossudos e bojudos Você é capaz de me explicar o que quer dizer isso? Naturalmente me referi a qualquer outra coisa e o reporter fez a confusão.

Sim, Lobato tinha razão. Mas—que diabo!—ele estava falando com um jornalista. E o instinto profissional se manifestaria … Assim, de mansinho, partiu a insinuação:

— O metodo americano de entrevista de jornal, é que é batata. O reporter escreve as perguntas, o entrevistado as devolve datilografadas e não há geito da confusão se estabelecer.

— É isso mesmo, respondeu Lobato. O que nos falta é metodo, é sistema. É por falta dessas coisas que a gente passa tantas vezes por desonesto e burro.

Enquanto Lobato falava, rabiscavamos—como quem não quer nada—um questionario. E o escritor mais lido e difundido na America Latina, caiu na armadilha como um patinho.

Por detras da cortina de ferro

Aliás, para aproveitar a deixa, esta não é a primeira demonstração de inocencia de Lobato. Apesar de seu ar feroz e casmurrão, ele é um dos homens mais puros do Brasil. E daí tantas de suas dores de cabeças.

A gente está habituada a vêlo revolver e espicaçar a vaidade nacional com uma critica impiedosa e incorruptivel, como raros são os intelectuais do Brasil com coragem de fazê-lo. Entretanto, por detrás da cortina de ferro de cepticismo e descrença de Lobato, encontra-se um homem que ama o Brasil e que para torna-lo melhor vai dos livros ao fundo da terra, cria a Jeca Tatu, organiza editoras e funda companhias de petroleo e ferro, para ver se a coisa toma melhor jeito.

Aqui mesmo, em Buenos Aires o dedo de Lobato se acha por trás de tudo que signifique melhorar o nome e a posição do Brasil diante do povo argentino.

Há uma exposição de livros brasileiros. Oficialmente, é a nossa embaixada a sua organizadora. E não há dúvida que o jovem e eficiente secretario, Murilo Pessoa, dedicou-se a ela com o melhor dos seus esforços. Mas, é ele mesmo quem nos confessa:

—Monteiro Lobato foi o primeiro e o que mais nos animou e auxiliou na realização desse empreendimento.

E, se um dia a correspondencia de Lobato for publicada—aliás, por que é que ninguem não se lembrou ainda de editá-la?—a gente descobrirá a preocupação de Lobato, por um Brasil melhor através dos inumeros exemplos, sugestões, planos, criticas, conselhos, que ele envia incansavelmente daqui para os seus amigos e companheiros do Brasil.

O meu cavalo está cansado”

Mas, isso já é assunto para outra conversa. Aqui, o que nos interessa é a entrevista, a primeira que Lobato afirma ser plenamente autorizada para os jornais do Brasil.

E, lá vai ela, tal e qual Lobato a redigiu, respondendo ao nosso questionario:

P [Pergunta] — Em verdade, por que saiu do Brasil?

R [Resposta] — Para visitar na Argentina os trinta filhos que lá tenho sob forma de edições de livros.

P — E agora, qual a verdadeira razão de sua volta ao Brasil?

R — Nostalgia da lingua. Descobri que Patria é pura e simplesmente a lingua nativa, na qual, desde o “papá-mamãe” vivemos organicamente como o bicho dentro da goiaba. Sinto-me bicho fora da goiaba, e quero a goiaba.

P — Comparativamente, quais as diferenças fundamentais de vida no Brasil e na Argentina?

R — As mesmas que há entre um automovel que já partiu e um automovel cujos passageiros ainda discutem com o chofer sobre o caminho a tomar.

P — Olhando de longe, seus pontos de vista sobre o futuro do Brasil sofreram qualquer alteração?

R — Nenhuma. Perto ou longe o nevoeiro é o mesmo.

P — Acha que a Argentina de hoje oferece alguns exemplos que o Brasil poderia aceitar e aplicar para o seu proprio desenvolvimento?

R — Acho que a abundancia de agua nas torneiras argentinas é um exemplo dignissimo de ser imitado pelas torneiras cariocas.

P — Voltando ao Brasil pretende divulgar o que viu na Argentina?

R — Divulgar a existencia de bifes para o faminto e agua para o sedento me parece obra de uma crueldade.

P — Finalmente, retornando ao Brasil, que pretende fazer ?

R — Que pretendo fazer? Rebolar-me dentro da goiaba, contemplar o umbigo e preparar-me num convento para a viagem final. O meu cavalo está cansado, querendo cova —e o cavaleiro tem muita curiosidade em verificar pessoalmente se a morte é virgula, ponto e virgula ou ponto final.

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1988: Morre Aracy de Almeida, jurada de TV e maior intérprete de Noel Rosa https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/20/1988-morre-aracy-de-almeida-jurada-de-tv-e-maior-interprete-de-noel-rosa/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/20/1988-morre-aracy-de-almeida-jurada-de-tv-e-maior-interprete-de-noel-rosa/#respond Wed, 20 Jun 2018 11:00:02 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Aracy1-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9737 “Mas que putaria, eu não posso estar aqui”, afirmou Aracy de Almeida à sua afilhada Maria Adelaide Bragança minutos antes de uma embolia pulmonar  tirá-la de cena aos 73 anos, na tarde de 20 de junho de 1988, no Hospital dos Servidores do Estado (centro do Rio), onde estava internada havia 13 dias por causa de um acidente vascular cerebral.

Personagem das mais memoráveis da TV brasileira, onde encarnou a jurada “ranzinza” em quadros de calouros, o último deles no Programa Silvio Santos –onde estava desde 1975–, Aracy de Almeida foi, sobretudo, uma das mais proeminentes cantoras da era de ouro do rádio. No samba, gênero que adotou para a carreira, foi considerada a mais fiel intérprete de Noel Rosa, ao lado da cantora Marília Batista.

Aracy, que nunca se casou nem teve filhos, foi sepultada no cemitério Parque Jardim da Saudade (Rio) depois de ser velada por cerca de 20 mil pessoas no Teatro João Caetano, onde em 1981 e 1982 fez suas últimas apresentações como cantora, ao lado de João Nogueira e do grupo Coisas Nossas, respectivamente.

“O mais triste é saber que toda esta gente veio aqui para se despedir da jurada de televisão. Quase ninguém mais lembra que ela foi uma grande cantora”, disse o compositor e pesquisador da música brasileira Hermínio Bello de Carvalho, que esteve na cerimônia para dar o último adeus à cantora e amiga.

Aracy Teles de Almeida, ou “Araca”, como também era chamada pelos amigos, nasceu em 19 de agosto de 1914, na rua Guilhermina, no bairro suburbano do Encantado (zona norte do Rio), onde morou até o fim da vida. Filha de uma dona de casa e de Baltasar Teles Almeida, um pastor protestante e funcionário da Central do Brasil, Aracy, que dizia nunca ter brincado de boneca nem de ciranda durante a infância, era a única mulher entre os cinco filhos da família.

O SAMBA EM PESSOA

Durante a adolescência, a pulsação pelas batucadas do Rio levou Aracy a ser uma assídua frequentadora de escolas de samba na zona norte da cidade, onde aprendeu as gírias, os trejeitos e a ginga que acabaram se tornando marcas na vida da artista. Em entrevistas revelou que a escolha pela música veio por necessidade. “Era uma menina pilantra, safada, que não queria estudar e não sabia fazer nada. Daí, só mesmo cantando.”

Aracy começou muito jovem. O primeiro contato direto com a música foi quando integrou corais evangélicos no bairro do Méier (zona norte do Rio). Depois, contrariando os preceitos religiosos da família, passou a cantar em candomblés no Engenho de Dentro, também na zona norte.

NOEL ROSA

A entrada na música popular se deu no início dos anos 30, sob influência de Carmen Miranda, cantora que Aracy admirava e tentava imitar no início da trajetória. Sua dicção peculiar, caracterizada por sua voz nasalada, foi elogiada num estudo de Mário de Andrade numa conferência em 1943.

O primeiro empurrão para o profissionalismo, porém, foi dado pelo compositor Custódio Mesquita, que, em 1933, a levou para um teste no programa Pinocchio, da Rádio Educadora (depois Tamoio), onde cantou a marchinha “Bom Dia, Meu Amor” (Joubert de Carvalho e Olegário Mariano), sucesso na voz de Carmen Miranda. Foi lá que conheceu o eterno “poeta da Vila”, Noel Rosa, que no mesmo dia compôs para a estreante “Seu Riso de Criança”, após ter ouvido e apreciado o raro timbre vocal da iniciante.

Aracy e Noel se tornaram grandes amigos, construindo uma parceria que duraria até a morte do compositor em 4 de maio de 1937, de tuberculose. Dele, gravou “Feitio de Oração”, “Palpite Infeliz” e “O X do Problema”, entre outras. O último trabalho foi a melancólica “Último Desejo”, cuja interpretação Noel não teve tempo de ouvir.

Em 1934, Aracy  foi contratada pela Columbia, onde gravou o seu primeiro disco, com a marcha carnavalesca “Em Plena Folia”, de Julieta de Oliveira. Depois, assinou com a Rádio Cruzeiro do Sul. Daí não demorou muito até a sambista ser convidada pela RCA Victor, onde gravaria “Cansei de Pedir”, “Triste Cuíca” e “Amor em Parceria”, todas de Noel. Logo passou pelas rádios Philips, Mayrink Veiga, Ipanema e Tupi. Ao longo da carreira foram mais de 400 canções gravadas.

OUTROS COMPOSITORES

A trajetória de Aracy na MPB não se resumiu apenas à grandeza de ter sido uma das maiores intérpretes de Noel. A “Dama da Central”, como também ficou conhecida, emprestou sua voz a vários outros nomes do cancioneiro brasileiro.

Dentre as composições que a sambista gravou estão “Helena” (Raul Marques e Ernâni Silva), “Vaca Amarela” (Lamartine Babo e Carlos Neto), “Saudosa Favela” (Heitor do Prazeres), “Fale Mal… Mas Fale de Mim” (Ataulfo Alves e Marino Pinto), “Brigamos Outra Vez” (Wilson Batista e Marino Pinto), “Saia do Caminho” (Custódio Mesquita e Evaldo Rui) e “Camisa Amarela”, de Ary Barroso, que certa vez criticou a voz da cantora ao dizer que ela desafinava e cantava pelo nariz.

A partir de 1948, com Noel Rosa quase esquecido, Aracy decidiu revisitar a obra do poeta com apresentações antológicas na famosa boate Vogue, no Rio, que posteriormente viraram discos e ajudaram a ecoar a poesia do autor às novas gerações. Em 1950, a cantora reduziu o ritmo de shows e passou a morar em São Paulo, onde viveu até 1962.

Em 1968 gravou “A Voz do Morto”, do tropicalista Caetano Veloso, que entrou para um compacto-simples produzido para a Bienal do Samba daquele ano. “Essa música é uma coisa meio tétrica, um negócio pra tocar em castelo estranho”, disse a cantora no programa de entrevistas Vox Populi, da TV Cultura.

Um ano depois, participou do show “Que Matavilha”, com Toquinho, Jorge Benjor, Paulinho da Viola, Trio Mocotó e Trio do Luiz Melo. Apresentado no Teatro Cacilda Becker, o espetáculo teve a direção do amigo Fernando Faro.

Tida por Paulinho da Viola como a maior cantora de samba, no final dos anos 70 Aracy esbarrou no rock, quando se apresentou ao lado do grupo Joelho de Porco, em espetáculo apresentado no Teatro Célia Helena, onde interpretaram Noel Rosa, Antônio Maria e Chico Buarque, entre outros nomes.

A JURADA

Começou a trabalhar como jurada nos programas do Chacrinha e do Bolinha, até ser contratada em 1975 para o “Show de Calouros” de Silvio Santos, atração que a tornou uma das figuras mais populares da TV pela irreverência e pelo deboche com que julgava os aspirantes a artistas.

Aracy era direta e não amenizava nas críticas nem mesmo calouros mirins, que recebiam palavras duras sobre suas performances.

Quando perguntada sobre ter abdicado da profissão de cantora pela de jurada de TV, respondia: “Melhor ser jurada do que ficar em casa fazendo tricô”.

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1968 – A NONA BOMBA: Polícia prende garoto com coquetel molotov após espetáculo ser censurado https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/11/1968-a-nona-bomba-policia-prende-garoto-com-coquetel-molotov-apos-espetaculo-ser-censurado/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/11/1968-a-nona-bomba-policia-prende-garoto-com-coquetel-molotov-apos-espetaculo-ser-censurado/#respond Mon, 11 Jun 2018 13:00:08 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/pacote-com-as-bombas-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9602 Na noite do dia 11 de junho de 1968, o quarto ano sob o comando da ditadura militar, o clima estava bastante tenso no Teatro Ruth Escobar, na Bela Vista, em São Paulo.

Com a ordem de impedir a apresentação da “1ª Feira Paulista de Opinião”, policiais foram ao teatro por volta das 18h.

Nesse espetáculo, com direção de Augusto Boal, os artistas levantavam a questão: “O que pensa o Brasil de hoje?”. E os militares não gostaram disso e proibiram a venda de ingresso e a apresentação.

Apesar do veto, os artistas conseguiram o aval do delegado regional do Departamento de Polícia Federal, o general Sílvio Correia de Andrade, para a realização de uma assembleia com a classe teatral no Ruth Escobar.

Por causa desse evento, a entrada do teatro estava cheia às 21h, quando uma agitação fora do prédio chamou a atenção. A polícia havia prendido um garoto, com uma bomba de fabricação caseira.

Essa é mais uma história, que está sendo recontada agora pelo Banco de Dados  no Blog do Acervo Folha, sobre a série de bombas naquele agitado período. Somente entre 19 de março e 11 de junho de 1968, foram registrados oito casos de explosões na cidade de São Paulo.

Clique aqui e confira o mapa das explosões em São Paulo em 1968

O rapaz preso pelos policiais no Teatro Ruth Escobar foi o estudante Eduardo Abramovay, de 17 anos, acusado de portar coquetel molotov, em cinco garrafas cheias, atadas por um estopim e camufladas num pacote de papel.

Prestes a completar 50 anos do episódio, ele falou que a sua vida mudou a partir daquele dia.

Segundo Abramovay, uma pessoa (ele diz não se lembrar o nome) havia lhe pedido para apenas transportar as bombas dentro de um embrulho até o teatro naquela noite e que alguém iria procurá-lo para recebê-la.

“Eu sabia que era coquetel molotov. Mas era muito moço, coloquei lá no carro, sem me preocupar em esconder direito”, disse.

Prisão

Ele afirmou que, assim que chegou ao teatro, os policiais olharam dentro do veículo e viram o pacote. Quando desceu do carro, acabou sendo enquadrado. “Não deu outra. Fui parar no Dops [Departamento de Ordem Política e Social]”, declarou.

Na época, agentes chegaram a divulgar que a bomba havia sido colocada ao lado do pneu direito da perua da Polícia Federal, mas ele nega essa versão. “Isso não aconteceu.”

Após ser levado pelos policiais, a assembleia da classe teatral acabou suspensa. Deputados que tinham ido prestar solidariedade aos artistas chegaram a dizer que o garoto era inocente.

Na entrada do teatro, o deputado estadual Fernando Perrone (MDB) gritava para multidão: “Alguém viu alguma bomba?”. A resposta vinha em coro. “Não!”

De nada adiantou o protesto. Abramovay ficou preso até o dia 4 de julho, quando o Superior Tribunal Militar concedeu um habeas corpus e o soltou.

“Não cheguei a ser torturado, mas apanhei. Levei uns tapas e socos no Dops”, comentou.

Ficou cerca de dois meses livre, mas teve que voltar para a prisão. Permaneceu detido por aproximadamente dois meses no Presídio Tiradentes.

Antes que fosse julgado, conseguiu outra vez uma liberdade provisória. “A minha família foi avisada que eu seria condenado, e, então, decidi mudar de país.”

Morou no Uruguai, na França, no Chile e novamente na França até que voltou para o Brasil em 1976, já sem chance de ser preso (ele havia sido condenado a três anos e meio de prisão).

Hoje, Abramovay tem 67 anos e é produtor audiovisual. “Não me arrependo de nada. Tudo o que eu vivi me serviu de aprendizado.”

Veja também:

1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas

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1998: Morre nos EUA o cantor e ator Frank Sinatra, conhecido como ‘A Voz’ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/05/14/1998-morre-em-los-angeles-o-cantor-e-ator-frank-sinatra/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/05/14/1998-morre-em-los-angeles-o-cantor-e-ator-frank-sinatra/#respond Mon, 14 May 2018 16:00:10 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/AHi_j0048__Sinatraabre-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9479 Há 20 anos, morria em Los Angeles Francis Albert Sinatra, ou simplesmente Frank Sinatra, o maior cantor do século 20, vítima de um ataque cardíaco, aos 82 anos.

O filho de imigrantes italianos deixou a cidade de Hoboken, no estado de Nova Jersey, e o sonho da mãe de que se tornasse engenheiro para se tornar cantor. Sua saga começa em 1935 e desse ano em diante colecionou números impressionantes, não à toa a Folha dedicou um caderno de 12 páginas em sua morte.

Foram cerca de 2.000 canções gravadas em estúdio (e outras mais extraídas de apresentações em cinema, rádio, televisão, boates e estádios), mais de 200 álbuns e ao menos 206 CDs que fazem dele o músico mais preservado digitalmente na história do som gravado.

Em 2015, quando completaria cem anos, havia quase mil livros publicados a seu respeito. Como disse o colunista da Folha Ruy Castro, “alguns, destruidores, a maioria, admirativos, e muitos, sérios e consistentes”. No cinema foram quase 60 filmes, tendo recebido um Oscar de melhor ator coadjuvante por “A Um Passo da Eternidade” (1953).

E, até sua morte, seu patrimônio era estimado em US$ 200 milhões.

Bem menos numerosos eram os apelidos pelos quais era conhecido. “Presidente do Conselho”, “Líder”, “Olhos Azuis”, mas o principal deles e pelo qual ficou mundialmente conhecido era “A Voz”.

MULHERES

Isso sem contar suas paixões e os refrões e as gírias que inventou. Sinatra era próximo aos chefões da máfia nos Estados Unidos e colecionava tudo, amigos, inimigos e até brigas com a imprensa, ao ponto de chegar a investir com o carro contra fotógrafos.

Foi casado oficialmente quatro vezes, mas as relações extraconjugais eram contadas as dezenas. Apesar de ter arrebatado as mulheres mais lindas da época (Joan Crawford, Kim Novak, Sophia Loren, Gloria Vanderbilt, entre outras), o cantor se sentiu atraído por Ava Gardner por muito tempo. A relação conturbada entre os dois resultou na canção “I’m a Fool to Want You”, a qual coescreveu e gravou em 1951.

Os arroubos, os excessos –com ou sem o “Rat Pack”– em bares (seja em Nova York, Flórida ou Chicago), hotéis e cassinos marcaram a personalidade do ator, cantor, “líder”, namorador e amigo pessoal de políticos como John F. Kennedy e Ronald Reagan.

Sua filha caçula, Tina Sinatra, resumiu assim seu temperamento: “Suas bravatas, sua grandeza, sua dimensão na vida pública, tudo faz parte dele. Mas por baixo existe alguma coisa muito –não quero dizer ‘sensível’, porque seria uma redução–, por baixo há um menino frágil e delicado”.

CANTOR

Sinatra tinha em Bing Crosby sua maior inspiração, mas também o maior desafio: precisava superá-lo para garantir que era grande. Nunca negou a influência dele, porém sempre se derreteu em elogios a Billie Holiday –na década de 1980, ele afirmou que era sua maior influência isolada– e a Ella Fitzgerald, eleitas por ele como as melhores vozes da América.

Mesmo colecionando sucessos, ele conheceu o fracasso. Em 1941, foi eleito vocalista de banda mais popular do país pela revista Billboard e desbancou Bing Crosby do topo da lista dos melhores cantores da Down Beat.

Até 1948 reinou quase absoluto. Mas em 1949 passou a ver o declínio de sua popularidade, que resultaram em queda na venda de discos, na dispensa dos estúdios MGM e na revelação de casos fora do casamento.

No ano seguinte, sua primeira mulher, Nancy Sinatra, aceitou a separação, mas negou-lhe o divórcio. Para piorar, o comitê do Senado o convocou para depor sobre seu envolvimento com a máfia (havia sido fotografado com o chefão Lucky Luciano em Havana) e ainda sofreu com uma hemorragia na garganta, que o deixou sem cantar por meses.

Como se isso não bastasse, a relação extraconjugal com Ava Gardner, que finalmente se tornou oficial em 1951, naufragou 11 meses depois, cercada por crises de ciúmes, traições e reconciliações. A essa altura, a reputação de Sinatra com fãs e opinião pública estava arrasada.

A virada dos anos 50 trouxe muitas novidades musicais, mas Frank Sinatra ainda estava envolto em escândalos. Assim, só tocava antigos sucessos e continuava em baixa com o público.

Somente em 1953, quando inicia sua parceria com Nelson Riddle, o cantor retomou o caminho do sucesso. As músicas “I’ve Got the World on a String”, “Don’t Worry ‘Bout Me”, “Young at Heart” trouxeram um novo Sinatra.

A partir daí suas canções passaram a ser vistas como autobiográficas, e sua interpretação, mais madura, que a depender da letra refletia felicidade ou dor. Para o jornalista John Lahr, “Sinatra não cantava simplesmente uma canção. Dava uma urgência especial a seu tema”.

Sobre a nova fase, o cantor foi direto: “Você tem de chegar ao fundo do poço para apreciar a vida e começar a viver novamente”.

Com Riddle, engrenou um sucesso atrás do outro. Entre abril de 1958 e abril de 1966, não teve só compactos entre os dez mais da Billboard, mas sim 20 álbuns. “Only the Lonely”, lançado em 1958, ficou nas paradas durante 120 semanas. O seguinte, de 1959, “Come Dance with Me”, ficou 140 semanas.

No mesmo período de oito anos, Sinatra voltou a ser o queridinho da América e também dos estúdios de Hollywood, participando de 22 produções.

BRASIL

Sinatra gravou dois discos com o maestro Tom Jobim. Em 1967, foi lançado o álbum “Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim”.

Anos depois, gravações para um segundo disco da dupla chegaram a acontecer, mas, em vez de um álbum ao estilo do primeiro, somente com os dois, tornou-se um disco de Sinatra com vários parceiros. O que estava planejado para ser “Sinatra-Jobim” acabou virando “Sinatra & Co.”.

Os fãs brasileiros ficaram animados com o encontro de Jobim e o maior cantor popular americano, mas um show mesmo só foi acontecer 13 anos após o encontro dos dois.

Em 1980, Sinatra se apresentou por seis noites seguidas (de 22 a 27 de janeiro), no Rio. Foram cinco shows no Rio Palace Hotel e um no estádio do Maracanã, que, segundo o colunista Ruy Castro, “ele cantou para 150 mil pessoas”.

No ano seguinte, voltou ao Brasil para três shows em São Paulo, onde se apresentou no Maksoud Plaza Hotel.

FRASES

FILHOS

O Blog Acervo Folha entrou em contato com a filha mais velha de Sinatra, a atriz e cantora Nancy. Seu assessor de imprensa disse que “no momento não estão agendando nenhuma entrevista com a senhora Sinatra”.

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