Acervo Folha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br No jornal, na internet e na história Fri, 19 Feb 2021 13:40:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 1948: Monteiro Lobato morre aos 66 anos, após se dizer curioso em conhecer fim da vida; leia entrevista https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/04/1948-monteiro-lobato-morre-aos-66-anos-apos-se-dizer-curioso-em-conhecer-fim-da-vida-leia-entrevista/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/04/1948-monteiro-lobato-morre-aos-66-anos-apos-se-dizer-curioso-em-conhecer-fim-da-vida-leia-entrevista/#respond Wed, 04 Jul 2018 10:56:38 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Lobato_-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9936 Vítima de um derrame cerebral, o escritor José Bento Monteiro Lobato, um dos mais populares do Brasil, morreu aos 66 anos, na madrugada de 4 de julho de 1948, em São Paulo.

Cerca de um ano antes de isso ocorrer, ele havia declarado, em entrevista exclusiva para a Folha da Noite (um dos jornais que deram origem à Folha), que já não tinha mais pretensões e que estava curioso em saber o que acontece depois do fim da vida.

“O meu cavalo está cansado, querendo cova —e o cavaleiro tem muita curiosidade em verificar pessoalmente se a morte é vírgula, ponto e vírgula ou ponto-final”, disse.

Quando a entrevista foi publicada, no dia 22 de abril de 1947, o escritor estava com 65 anos e morava em Buenos Aires, mas se preparava para voltar a viver no Brasil.

Lobato é autor de obras como “Reinações de Narizinho” e “Caçadas de Pedrinho”, que eternizaram as aventuras do “Sítio do Picapau Amarelo” e marcaram a infância de muitas crianças.

Também fez muito sucesso com jovens e adultos, publicando livros como “Urupês”, no qual aparece o famoso personagem Jeca Tatu, e “Cidades Mortas”, que retrata o declínio de municípios no Vale do Paraíba, em São Paulo.

Ele residiu por um ano, entre 1946 e 1947,  na Argentina, onde suas obras infantis tiveram grandes tiragens.  O motivo de viver naquele país, segundo afirmou, era “visitar os trinta filhos sob forma de edições de livros” que lá tinham sido lançados.

No entanto, Lobato sentia nostalgia da língua portuguesa e por isso queria retornar ao Brasil:

“Descobri que pátria é pura e simplesmente a língua nativa, na qual, desde o ‘papá-mamãe’, vivemos organicamente como o bicho dentro da goiaba. Sinto-me bicho fora da goiaba, e quero a goiaba”, disse.

A entrevista dada à Folha da Noite foi realizada durante uma visita ao escritor em Buenos Aires.

Lobato, que reclamou da imprensa por lhe atribuir falsas declarações, aceitou responder por escrito a algumas questões, publicadas no fim da reportagem.

“O método americano de entrevista de jornal é que é batata. O repórter escreve as perguntas, o entrevistado as devolve datilografadas e não há jeito da confusão se estabelecer”, afirmou.

Leia abaixo a íntegra do texto publicado pela Folha da Noite,  com a grafia original:

22 de abril de 1947

A morte é virgula, ponto e virgula ou ponto final?

Monteiro Lobato, que vai regressar ao nosso país, quer verificar essa “inquietação”

Em entrevista exclusiva para Folha da Noite narra o grande escritor as verdadeiras razões de sua viagem à Argentina e os motivos que o trazem de volta ao Brasil, aonde deverá chegar dentro de poucos dias

Correspondência especial para a Folha da Noite

BUENOS AIRES, abril, por via aerea – Monteiro Lobato voltará ao Brasil no fim deste mês. Desta vez vai mesmo. E vai para ficar.

O seu retorno, tantas vezes anunciado e tantas vezes desmentido, foi-nos comunicado com essas simples palavras:

— Estou de malas prontas para voltar a São Paulo. Vou ficar em hotel, já que não há casa…

Foi assim que Monteiro Lobato nos revelou uma noticia que todos os verdadeiros amigos e discipulos do grande escritor desejavam ouvir há tanto tempo. E concluiu, resmungando:

— Não vá publicar nada do que lhe disse. Isso aqui é uma informação para uso pessoal e não uma entrevista. Veja esses recortes são de entrevistas a mim atribuidas. E olhe quanta besteira contem esse pequeno trecho, quanta besteira em tão poucas linhas!

Uma entrevista nada fácil

A verdade, entretanto, é que nossa entrevista saiu sem que nós ou Monteiro Lobato estivessemos com esta intenção. Ao visitá-lo, não nos passava pela cabeça entrevistá-lo. Alem do mais, quasi que não havia nenhuma originalidade em mais uma entrevista com Lobato.

Raro é o jornalista brasileiro que vem a Buenos Aires e não corre logo à casa de Lobato. Que belo assunto para jornal. O reporter nem tem que fazer força. Lobato—e como ele e sua familia sabem receber bem os brasileiros que passam por aqui!—vai dizendo, com aquele seu geitão de caipira paulista, frases que podem constituir cada qual uma manchete. Mas, quando a entrevista sae lá vem o estrilo.

A culpa, porem, nem sempre é do reporter. Não é nada facil registrar mentalmente o aluvião de coisas interessantes que o escritor vai dizendo. Alem do mais, aqueles dois olhos negros, escondidos debaixo de um par de imponentes sobrancelhas, não param de se agitar. O pobre do reporter nem sabe o que deve registrar primeiro—as palavras ou a malicia do olhar, as frases ou aquela gargalhada nervosa e indecifravel.

E enquanto essa pequena tragedia profissional ocorre, Lobato—sem se dar conta de que o reporter esfrega intimamanete as mãos de contente—vai distilando a sua amargura, essa amargura que o torna um dos espiritos mais construtivos do Brasil.

É por isso que a gente passa por burro”

Foi assim que nasceu esta entrevista. Lobato agitou no ar um dos últimos recortes que recebera de São Paulo, onde alguem colocara em sua boca que “o Brasil melhorara porque não estava mais dominado por politicos ossudos, bojudos e soturnos”.

— Eu nunca diria esse amontoados de asneiras. Ora, ora, politicos ossudos e bojudos Você é capaz de me explicar o que quer dizer isso? Naturalmente me referi a qualquer outra coisa e o reporter fez a confusão.

Sim, Lobato tinha razão. Mas—que diabo!—ele estava falando com um jornalista. E o instinto profissional se manifestaria … Assim, de mansinho, partiu a insinuação:

— O metodo americano de entrevista de jornal, é que é batata. O reporter escreve as perguntas, o entrevistado as devolve datilografadas e não há geito da confusão se estabelecer.

— É isso mesmo, respondeu Lobato. O que nos falta é metodo, é sistema. É por falta dessas coisas que a gente passa tantas vezes por desonesto e burro.

Enquanto Lobato falava, rabiscavamos—como quem não quer nada—um questionario. E o escritor mais lido e difundido na America Latina, caiu na armadilha como um patinho.

Por detras da cortina de ferro

Aliás, para aproveitar a deixa, esta não é a primeira demonstração de inocencia de Lobato. Apesar de seu ar feroz e casmurrão, ele é um dos homens mais puros do Brasil. E daí tantas de suas dores de cabeças.

A gente está habituada a vêlo revolver e espicaçar a vaidade nacional com uma critica impiedosa e incorruptivel, como raros são os intelectuais do Brasil com coragem de fazê-lo. Entretanto, por detrás da cortina de ferro de cepticismo e descrença de Lobato, encontra-se um homem que ama o Brasil e que para torna-lo melhor vai dos livros ao fundo da terra, cria a Jeca Tatu, organiza editoras e funda companhias de petroleo e ferro, para ver se a coisa toma melhor jeito.

Aqui mesmo, em Buenos Aires o dedo de Lobato se acha por trás de tudo que signifique melhorar o nome e a posição do Brasil diante do povo argentino.

Há uma exposição de livros brasileiros. Oficialmente, é a nossa embaixada a sua organizadora. E não há dúvida que o jovem e eficiente secretario, Murilo Pessoa, dedicou-se a ela com o melhor dos seus esforços. Mas, é ele mesmo quem nos confessa:

—Monteiro Lobato foi o primeiro e o que mais nos animou e auxiliou na realização desse empreendimento.

E, se um dia a correspondencia de Lobato for publicada—aliás, por que é que ninguem não se lembrou ainda de editá-la?—a gente descobrirá a preocupação de Lobato, por um Brasil melhor através dos inumeros exemplos, sugestões, planos, criticas, conselhos, que ele envia incansavelmente daqui para os seus amigos e companheiros do Brasil.

O meu cavalo está cansado”

Mas, isso já é assunto para outra conversa. Aqui, o que nos interessa é a entrevista, a primeira que Lobato afirma ser plenamente autorizada para os jornais do Brasil.

E, lá vai ela, tal e qual Lobato a redigiu, respondendo ao nosso questionario:

P [Pergunta] — Em verdade, por que saiu do Brasil?

R [Resposta] — Para visitar na Argentina os trinta filhos que lá tenho sob forma de edições de livros.

P — E agora, qual a verdadeira razão de sua volta ao Brasil?

R — Nostalgia da lingua. Descobri que Patria é pura e simplesmente a lingua nativa, na qual, desde o “papá-mamãe” vivemos organicamente como o bicho dentro da goiaba. Sinto-me bicho fora da goiaba, e quero a goiaba.

P — Comparativamente, quais as diferenças fundamentais de vida no Brasil e na Argentina?

R — As mesmas que há entre um automovel que já partiu e um automovel cujos passageiros ainda discutem com o chofer sobre o caminho a tomar.

P — Olhando de longe, seus pontos de vista sobre o futuro do Brasil sofreram qualquer alteração?

R — Nenhuma. Perto ou longe o nevoeiro é o mesmo.

P — Acha que a Argentina de hoje oferece alguns exemplos que o Brasil poderia aceitar e aplicar para o seu proprio desenvolvimento?

R — Acho que a abundancia de agua nas torneiras argentinas é um exemplo dignissimo de ser imitado pelas torneiras cariocas.

P — Voltando ao Brasil pretende divulgar o que viu na Argentina?

R — Divulgar a existencia de bifes para o faminto e agua para o sedento me parece obra de uma crueldade.

P — Finalmente, retornando ao Brasil, que pretende fazer ?

R — Que pretendo fazer? Rebolar-me dentro da goiaba, contemplar o umbigo e preparar-me num convento para a viagem final. O meu cavalo está cansado, querendo cova —e o cavaleiro tem muita curiosidade em verificar pessoalmente se a morte é virgula, ponto e virgula ou ponto final.

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1968 – A 12ª BOMBA: Coquetel molotov é jogado em muro do Colégio Mackenzie https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/1968-a-12a-bomba-coquetel-molotov-e-jogado-em-muro-do-colegio-mackenzie/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/1968-a-12a-bomba-coquetel-molotov-e-jogado-em-muro-do-colegio-mackenzie/#respond Thu, 28 Jun 2018 10:00:45 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/mackenzie_-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9868 Por volta das 4h de 28 de julho de 1968, dois dias após um carro carregado de dinamite ser lançado no quartel-general do 2º Exército e a explosão ter matado o soldado Mário Kozel Filho, a polícia contabilizou mais um ataque com bomba.

Desta vez, o episódio não foi grave e ninguém ficou ferido. Um coquetel molotov foi jogado em um muro do Colégio Mackenzie, em Higienópolis, em São Paulo.

Em menos de quatro meses, pelo menos 12 casos de bombas já tinham sido registrados na cidade. E essas histórias estão sendo resgatadas pelo Banco de Dados e publicadas no Blog do Acervo Folha.

Nesta época, os atentados intrigavam a ditadura militar, que estava em seu quarto ano no Brasil. E grupos de guerrilhas agiam pela cidade desafiando as forças de segurança.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

Conforme a Folha da Tarde publicou, o ataque feito ao Mackenzie teve dois médicos como testemunhas. Eles viram um carro Volkswagen vermelho passar em alta velocidade pela rua Itambé, fazer uma rápida parada, jogar a bomba e fugir.

A dupla chegou a seguir o veículo, mas o perdeu de vista. Depois, eles foram ao quartel-general relatar o ocorrido.

O Dops (Departamento de Ordem Política e Social) foi acionado, e policiais foram ao colégio, recolheram material para a análise e começaram a investigação.

Os agentes voltaram à delegacia às 6h com um homem detido. Porém, após uma interrogação, ele comprovou inocência e foi solto. Assim, a autoria e o motivo do ataque não foram esclarecidos.

Furto de dinamites

No mesmo dia, mais notícias aumentaram a preocupação das autoridades. Um grupo invadiu, também de madrugada, o depósito de explosivos de uma pedreira, perto do 15º quilometro da rodovia Raposo Tavares, e levou 500 quilos de dinamites.

A quantidade de explosivo que foi subtraída da pedreira era dez vezes maior do que a colocada no carro-bomba que matou Kozel Filho, 18.

O furto só foi descoberto às 6h30 pelo funcionário Jurael Lara dos Santos, quando este chegava ao trabalho.

“Conversei um pouco com os meus colegas lá do escritório e depois fui ao depósito buscar as dinamites. Uns 20 metros antes de chegar ao depósito vi que a porta estava meio aberta e a fechadura arrebentada. Corri, puxei a porta, a dinamite tinha sumido”, disse Santos para a Folha.

Os cálculos feitos eram que, somando essa ação a outros assaltos já efetuados em pedreiras, cerca de 1.100 quilos de dinamites estavam em mãos de elementos desconhecidos. E a polícia ainda teria muito trabalho naquele ano.

Veja também:

1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas

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Morto há 65 anos, Graciliano Ramos virou ‘escritor de vida eterna’ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/03/20/morto-ha-65-anos-graciliano-ramos-virou-escritor-de-vida-eterna/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/03/20/morto-ha-65-anos-graciliano-ramos-virou-escritor-de-vida-eterna/#respond Tue, 20 Mar 2018 11:00:48 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/Graciliano-Ramos-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=8737 Durante os 60 anos de sua vida, o escritor alagoano Graciliano Ramos deixou uma série de livros publicados que marcaram a literatura brasileira, como “São Bernardo” (1934), “Angústia” (1936) e “Vidas Secas” (1938).

Vítima de câncer no pulmão, ele morreu no dia 20 de março de 1953, e seu amigo, o escritor paraibano José Lins do Rego, o apontou como sendo o maior romancista daquela época. “É um escritor de vida eterna”, afirmou.

Quando completou um ano da morte, o historiador Sergio Buarque de Holanda foi outro a fazer grandes elogios: “Um dos poucos cuja a obra se pode dizer desde já que se inscreve entre os clássicos da nossa literatura”.

1ª OBRA PUBLICADA

Os livros de Graciliano foram publicados nos últimos 20 anos de sua vida ou de forma póstuma.  O primeiro foi “Caetés” (1933) e é considerado um romance de costumes modernos.

De acordo com o professor da USP Erwin Torralbo, “o problema, digamos assim, de ‘Caetés’ é ter irmãos de valor literário muito alto”.

“É preciso dizer que, a despeito de ‘São Bernardo’, ‘Angústia’ e ‘Vidas Secas’, o nome de Graciliano já estaria posto no debate da literatura brasileira por ‘Caetés’”, disse o professor.

Uma edição comemorativa desse livro, organizada por Torralbo e pela pesquisadora Elizabeth Ramos (neta do escritor), foi lançada em 2013.

PRISÃO

No mesmo ano em que lançou “Caetés”, Graciliano trabalhou como diretor de Instrução Pública de Alagoas, equivalente a ser secretário da Educação.

O cineasta Nelson Pereira dos Santos contou que naquela época os alunos cantavam os hinos de Alagoas, da bandeira e do Brasil todos os dias.

“A criançada cantava no sol, na chuva… Quando assumiu [o cargo], ele disse para cantar só o Hino Nacional e depois decidiu que era para cantar só a primeira parte”, declarou o cineasta.

O motivo era que Graciliano queria que aos garotos tivessem mais tempo para estudar. “Isso, além de outras histórias e boatos, fez que ele fosse considerado um subversivo”, continuou.

Durante “arrastão” promovido pelo governo Getúlio Vargas, Graciliano foi levado de Maceió ao Rio de janeiro e ficou preso entre março de 1936 e janeiro de 1937, sem processo e acusação formal.

Ele escreveu o livro “Memórias do Cárcere” sobre esse período de detenção, mas morreu antes de concluí-lo. A obra, sem o capítulo derradeiro, foi publicada em 1953 após a sua morte.

CINEMA

Fã do escritor, Nelson Pereira dos Santos levou “Vidas Secas” e “Memórias do Cárcere” para o cinema em 1963 e 1984, respectivamente. Porém, antes, quis filmar “São Bernardo”.

A ideia do cineasta era mudar o destino da personagem Madalena, que se mata no fim do romance. Só que o escritor não lhe deu autorização.

“Olha, se você quiser fazer o filme baseado no meu livro, tudo bem. Agora, se você quiser inventar uma história, faça a sua”, respondeu Graciliano em uma carta.

CARTAS E OUTROS TEXTOS

Além de “Memórias do Cárcere”, novos livros foram lançados, após a morte do escritor, a partir de crônicas, contos, correspondências,  entrevistas, depoimentos e outros textos curiosos.

O livro “Viventes das Alagoas” (editado pela primeira vez em 1962), por exemplo, trouxe relatórios redigidos por Graciliano na época em que foi prefeito da pequena cidade de Palmeira dos Índios, em Alagoas.  Ele assumiu o cargo em 1928 e renunciou em 1930.

Em um dos relatórios, usou seu talento com a língua portuguesa para se queixar de um antigo contrato da Prefeitura com a concessionária de energia.

“Apesar de ser o negócio referente à claridade, julgo que assinaram aquilo às escuras”, redigiu.

Já “Cartas de Amor a Heloísa”, de 1992, mostra um Graciliano diferente. A obra reúne mensagens, escritas entre 16 de janeiro e 8 de fevereiro de 1928, para Heloísa Medeiros, com quem se casaria.

“Confesso-te honestamente quem sou. Se não te agradam sentimentos tão excessivos, mata-me”, escreveu.

Em 2012, o livro “Garrancho” foi formado por uma coletânea de textos inéditos, escritos entre 1910 e 1950. São crônicas, críticas, discursos, um conto e o primeiro ato da peça “Ideias Novas” (1942) que nunca foi concluída.

Após 65 anos da morte do escritor alagoano, a declaração de José Lins do Rego de que Graciliano é um escritor de vida eterna permanece válida.

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Há 50 anos, Regina Duarte falou à Folha sobre noivado e aprovação na USP https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/26/ha-50-anos-regina-duarte-falou-a-folha-sobre-noivado-e-aprovacao-na-usp/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/26/ha-50-anos-regina-duarte-falou-a-folha-sobre-noivado-e-aprovacao-na-usp/#respond Mon, 26 Feb 2018 19:30:07 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/capa-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=7996 “O carnaval vai ser para recuperar o sono atrasado”, disse a atriz Regina Duarte em entrevista à Folha publicada em 25 de fevereiro de 1968.

Ela tinha 21 anos e havia acabado de ficar noiva do então estudante de engenharia e hoje empresário e ex-marido, Marcos Flávio Cunha Franco, com quem teve dois filhos, André Duarte e a também atriz Gabriela Duarte.

“Fico noiva de aliança no estilo tradicional, com as duas famílias reunidas e quero casar com um suntuoso vestido de noiva”, disse ao jornal.

Outra realização da atriz durante os festejos carnavalescos, foi sua aprovação na Escola de Comunicações Culturais, hoje Escola de Comunicações e Artes (ECA), da USP (Universidade de São Paulo). Mas Regina Duarte ainda estava indecisa sobre qual especialidade seguiria.

Ela fora informada por amigos que o curso de Cinema estava “muito interessante”. “O curso está bom, existe uma sala de projeção com exibição de filmes de Buñuel e outros grandes diretores”, contou a atriz, que depois escolheu fazer Comunicação. Ela estudou na mesma sala da cantora Rita Lee.

Regina Duarte também falou sobre o seu desempenho nas provas. Em conhecimentos gerais, disse ter acertado 52 das 100 questões. Em redação, cujo tema foi “A importância da imprensa no desenvolvimento da cultura”, atingiu 72 pontos.

A atriz Regina Duarte quando prestou vestibular para a Escola de Comunicações Culturais da Universidade de São Paulo (foto: 15.fev.1968/Folhapress)

Apesar da pouca idade, a atriz já estava em sua sexta novela, “Terceiro Pecado”, exibida pela TV Excelsior, onde era contratada desde 1965. Ela estava “muito feliz” pelas conquistas. “Os pais também estão contentes. Quando um filho sobe um degrau, os pais sobem dois”.

A JORNALISTA

Nascida em Franca, no interior de São Paulo, Regina Blois Duarte era a filha mais velha da dona de casa Dulce Blois e do tenente reformado do Exército, Jesus Duarte.

Suas maiores paixões eram o jornalismo e o cinema. Desde muito cedo escrevia contos infantis para o jornal “Diário do Povo”, de Campinas (SP), cidade para onde se mudou aos 6 anos com os pais e três irmãos.

Mais tarde assinou crônicas e fez entrevistas para a revista “Nosso Cantinho”, além de colaborar com o paulistano “Diário Popular” (hoje “Diário de São Paulo), que teve falência decretada pela Justiça em janeiro deste ano. “O ambiente de jornal me prende e fascina”, contou à Folha.

Os atores Regina Duarte e Francisco Cuoco em cena da primeira versão da novela “Selva de Pedra” (1972) (Foto: Divulgação)

A ATRIZ 

Regina iniciou no teatro amador aos 14 anos. Como profissional, estreou quatro anos depois, em 1965, na peça “A Megera Domada” (William Shakespeare), dirigida por Antunes Filho.

No mesmo ano, na extinta TV Excelsior, fez sua primeira novela, “A Deusa Vencida”, de Ivani Ribeiro, com direção de Walter Avancini. No cinema começou no drama “Lance Maior” (1968), dirigido por Sylvio Back.

Em 1969, trancou a faculdade depois de receber o convite da TV Globo para protagonizar o folhetim “Véu de Noiva”, de Janete Clair, onde fez par romântico com o ator Cláudio Marzo (1940-2015).

De “Namoradinha do Brasil” à feminista da série global “Malu Mulher” (1979), a atriz se destacou em vários papéis, sobretudo na teledramaturgia.

Entre os personagens mais marcantes de sua trajetória estão a sofrida Simone, da primeira versão do drama “Selva de Pedra” (1972), a viúva Porcina, de “Roque Santeiro” (1985), e Maria do Carmo, de “Rainha da Sucata (1998), além das “Helenas”, de Manuel Carlos.

Ao longo da carreira, a atriz atuou em cerca de 50 novelas, 12 peças teatrais e 15 filmes. 

A atriz Regina Duarte na série “Malu Mulher”, exibida pela Globo em 1979 (foto: Divulgação)

POLÍTICA

Simpatizante do atual prefeito de São Paulo, João Doria, e crítica ferrenha do ex-presidente Lula, durante a campanha para o 2° turno das eleições presidenciais de 2002, a atriz causou polêmica ao gravar um vídeo eleitoral para o programa do então presidenciável José Serra (PSDB).

Na gravação, Regina Duarte disse ter “medo” da vitória do candidato Lula. A atriz palpitou que com o PT no poder, o Brasil correria sérios riscos de perder toda a estabilidade econômica. 

Em 2017, em outra manifestação pró PSDB, desta vez a favor do prefeito João Doria, a atriz mostrou-se confiante com a vitória do tucano para o posto de “gestor” da capital paulista.

Em 7 de janeiro daquele ano, quando Doria completava uma semana à frente da prefeitura, a atriz esteve na avenida Paulista para prestigiar o prefeito, que participava de uma das etapas do programa Cidade Linda, de zeladoria urbana.

O prefeito de São Paulo, João Doria Jr, e a atriz Regina Duarte participam da Operação Cidade Linda na avenida Paulista, no centro de São Paulo. (Foto: Danilo Verpa – 7.jan.2017/Folhapress)

 

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Há 20 anos, prisão da banda Planet Hemp em Brasília reacendeu debate sobre o uso da maconha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/11/09/ha-20-anos-prisao-da-banda-planet-hemp-em-brasilia-estimulou-debate-sobre-o-uso-da-maconha/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/11/09/ha-20-anos-prisao-da-banda-planet-hemp-em-brasilia-estimulou-debate-sobre-o-uso-da-maconha/#respond Thu, 09 Nov 2017 06:30:43 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/Planet-Hemp_outra-capa-180x123.png http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=6125 No final de 1997, a prisão dos seis integrantes da banda carioca Planet Hemp em Brasília, sob acusação de apologia ao uso da maconha, impulsionou as discussões acerca da legalização das drogas e da liberdade de expressão no Brasil.

O sexteto, à época formado por Marcelo Maldonado Peixoto (D2), 30, Gustavo de Almeida Ribeiro (Black Alien), 25, Eduardo da Silva Vitória (Jackson), 20, Joel Oliveira Júnior (Formiga), 34, Wagner José Duarte Ferreira (Bacalhau), 25, e José Henrique Castanho de Godoy Pinheiro (Zé Gonzales), 28, foi detido em flagrante no fim de uma apresentação para 7.000 pessoas no Minas Brasília Tênis Clube, na madrugada de 9 de novembro, por agentes da  Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes, que gravaram o show como prova do que julgavam ser crime. Músicas  como “Mantenha o Respeito” (1995), “Legalize Já” (1995) e “Queimando Tudo” (1997), entre outras, trouxeram adversidades com a justiça, mas também maior notoriedade à banda.

Logo os músicos foram encaminhados para a carceragem da Coordenação de Polícia Especializada do Distrito Federal, o CPE. “A gente não deve mudar de posição, mas, por enquanto, é melhor não falar nada para não complicar ainda mais as coisas”, disse na época o principal vocalista da trupe, Marcelo D2.

Os integrantes, que estavam divulgando o lançamento do segundo álbum da banda – “Os Cães Ladram mas a Caravana Não Pára” – ficaram presos por cinco dias até serem soltos em 13 de novembro, por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que encontrou erros técnicos no flagrante.

Depois de libertos, os músicos concederam uma coletiva no Hotel Glória, no Rio, onde falaram da perseguição à banda. ”As pessoas não estavam preparadas para o sucesso do Planet Hemp. Não esperavam que pudéssemos falar para 7.000 jovens em um show e passar tanta informação. Essas pessoas querem tratar os jovens como imbecis” disse D2. O próximo show do Planet Hemp, que aconteceria em Belo Horizonte, foi proibido pela justiça. No fim de novembro, no entanto, por meio de um “habeas-corpus preventivo”, a justiça determinou que os seis músicos não poderiam mais ser presos em flagrante durante os shows. 

CONFEN  X DELEGACIA

De acordo com o delegado Eric Castro, responsável pela prisão do grupo, os músicos infringiram o artigo 12 da Lei Antidrogas, que tipifica o incentivo ao uso de maconha como crime inafiançável, com penas que podem variar de 3 a 15 anos de reclusão. Castro disse ainda que a ação veio “da pressão de pais preocupados com as músicas que seus filhos podem ouvir”.

Para o Conselho Federal de Entorpecentes (Confen) e a Divisão de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, o episódio não tratava de crime e sim de uma manifestação cultural ou de liberdade de expressão. O presidente do Confen, Luiz Matias Flach, classificou o ato do cárcere como “um retrocesso”.” Há o direito de livre manifestação do pensamento no Brasil”, protestou Flach.

O então ministro da Justiça, Iris Rezende, disse na ocasião que, “como cidadão evangélico” e contrário à descriminalização do uso da maconha, não poderia “permitir que, em nome da liberdade que têm, as pessoas defendam o uso das drogas”. O diretor-geral da Polícia Federal, Vicente Chelotti, em apoio ao ministro , afirmou que “a Polícia Federal vai estar em todos os shows deles”.

Marcelo D2 e Bacalhau, do Planet Hemp, deixam a prisão em Brasília, em novembro de 1997 (Foto: Alan Marques-13.nov.1997/Folhapress)

PROTESTOS

Artistas, políticos e fãs se manifestaram contra a detenção da banda. Em 13 de novembro, dia em que  os músicos foram libertados, as cantoras Paula Toller, Fernanda Abreu e Marisa Monte, entre outros artistas, foram à capital federal em defesa ao grupo. No Rio, o deputado  Carlos Minc (PT) promoveu um protesto em favor da liberdade de expressão. Fernando Gabeira, então deputado pelo PV do Rio, esteve com o sexteto na prisão. “O episódio vai possibilitar que haja uma nova política de drogas mais rapidamente”, disse Gabeira em referência ao projeto pró-legalização que tramitava no Senado naquele ano.

Na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, em São Paulo, mais de 300 pessoas, entre fãs, produtores musicais e representantes do rap como Thayde & DJ Hum, Racionais MC’s, Pavilhão 9 e Primo Preto, marcaram presença em defesa à livre expressão. Vjs da MTV também discursaram no ato.

Em entrevista à Folha, a cantora Rita Lee opinou sobre o episódio ao dizer que deveria haver “algum delegadozinho de plantão querendo mostrar serviço para depois se candidatar nas próximas eleições como El Gran Caçador de Maconheiros”.

Integrantes da banda carioca Planet Hemp durante entrevista coletiva na gravadora Sony pelo lançamento do álbum “Os Cães Ladram Mas A Caravana Não Pára”, em 1997 (Crédito: Dadá Cardoso – 5.jun.1997/Folhapress)

OUTRAS BLITZ

Os percalços com a Justiça, contudo, eram quase rotina nas andanças da banda pelo país. Em 29 de julho de 1997, quatro meses antes do episódio ocorrido em Brasília, e quando o grupo estava prestes a realizar dois shows em Salvador, a juíza Daisy Lago, da 1ª Vara Privativa de Tóxicos da Bahia, em cumprimento à medida cautelar solicitada pelo delegado Itamir Casal, expediu liminar proibindo apresentações dos músicos na capital baiana.

Outro show, marcado para o dia 11 de outubro de 97 na Sociedade Hípica Brasileira, no Rio, foi cancelado pelo presidente do clube, o coronel Américo Barros, que, em oposição à ideologia da banda, não alugou o espaço para o espetáculo.

Em julho de 1996, durante os shows para a divulgação  de lançamento do primeiro disco, “Usuário” (1995), que passava por Vitória (ES), o grupo teve duas apresentações proibidas pela polícia, que ainda apreendeu materiais de publicidade da banda como cartazes e camisetas.

Em outro ato de censura, ocorrido em outubro, também em Brasília, a banda teve cerca de 500 CDs apreendidos em lojas da capital federal, por ordem de um promotor de justiça. Um ano antes, em outubro de 1995, ano em que começaram a aparecer na grande mídia, a polícia de Goiânia (GO) apreendeu 50 CDs do grupo, que também foi impedido de se apresentar na cidade. Em abril do mesmo ano, o clipe “Legalize Já”, faixa do primeiro disco, recebeu do Ministério da Justiça ordem para ser exibido após as 23h.

GÊNESE

Criado em 1993 da união dos vocalistas Marcelo D2 e Skunk, morto em 1995,  vítima da Aids, o Planet Hemp lançou quatro álbuns ao longo dos quase dez anos de estrada. O terceiro e último disco de inéditas, foi o eclético “A Invasão do Sagaz Homem Fumaça”, que chegou às lojas em meados do ano 2000, após três anos de recesso do grupo. No ano seguinte sirgiu o derradeiro e comemorativo “MTV ao Vivo Planet Hemp” (2001). Apesar da separação, os músicos continuam se reunindo em apresentações especiais, sempre lotando casas de espetáculos pelo país.

Banda posa para foto de divulgação de shows em 2012 (Divulgação)
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Há 20 anos, papa João Paulo 2º fazia sua terceira e derradeira visita oficial ao Brasil https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/10/02/ha-20-anos-papa-joao-paulo-2o-fazia-sua-terceira-e-derradeira-visita-oficial-ao-brasil/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/10/02/ha-20-anos-papa-joao-paulo-2o-fazia-sua-terceira-e-derradeira-visita-oficial-ao-brasil/#respond Mon, 02 Oct 2017 08:00:01 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/09/papa-capa-180x144.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=5468 Às 15h30 da sexta-feira de 2 de outubro de 1997, o representante máximo da igreja católica, o papa João Paulo 2° (1920-2005) pisava pela terceira vez em missão oficial de quatro dias no Brasil. Ele participaria, dentre outras cerimônias, do 2° Encontro Mundial das Famílias, no Aterro do Flamengo, no Rio.

A visita mobilizou mais de 1.200 policiais militares e cerca de 500 soldados do Exército, contingente que o papa considerou exagerado para uma visita pastoral. Após a manifestação do pontífice, o Exército teve que mudar sua tática de segurança.

Na chegada, no aeroporto do Galeão, no Rio, João Paulo 2° foi recebido pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher, a primeira-dama Ruth Cardoso (1930-2008). A debilidade física do religioso, que tinha 77 anos na época, não possibilitou o esperado beijo no chão, gesto que o sumo pontífice sempre cumpria em suas viagens internacionais.

Durante o trajeto entre Roma e Rio, o papa concedeu uma coletiva a jornalistas que estavam em seu voo, onde, ao falar das adversidades socioeconômicas do país, destacou o problema dos trabalhadores sem-terra, discurso retomado logo que ele desceu do avião. “Os desequilíbrios sociais, a distribuição desigual e injustiça dos meios econômicos, geradores de conflito na cidade e no campo, constituem um desafio de enormes proporções ao país”, alertou o religioso.

A violência não deu trégua no primeiro dia do papa no país. Treze horas e meia antes da sua chegada, a PM do Rio matou cinco homens na favela do Rato Molhado, no bairro do Engenho Novo (zona norte), em suposta troca de tiros com a polícia.

A passagem do papamóvel pelas ruas do Rio reuniu mais de 100 mil pessoas, segundo dados da policia. Mendigos e crianças desapareceram das vias públicas durante o percurso do líder católico. De acordo com uma psicóloga que trabalhava com pessoas em situação de rua, policiais teriam os ameaçado.

Ex-meninos de rua que aguardavam o papa em frente à igreja da Candelária prestavam homenagem aos oito moradores de rua executados pela polícia quatro anos antes, quando dormiam nas proximidades da igreja, no episódio que ficou conhecido como “Chacina da Candelária”. Seis deles eram menores e crianças.

Enquanto a visita do pontífice era transmitida ao mundo pela CNN e no Brasil pela maior parte das emissoras locais, a Record, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, pertencente ao bispo Edir Macedo, exibia uma receita de bolo, como forma de hostilizar a visita do “rival” religioso.

FAMÍLIA, DIVÓRCIO E ABORTO

Embora João Paulo 2° tenha falado menos sobre a instituição família e focado mais nos problemas sociais durante sua estada no Rio, o líder religioso foi duro ao reafirmar as posições contrárias da Igreja Católica à proposta de legalidade do aborto no país.

Em contrapartida, a primeira-dama Ruth Cardoso, que vinha evitando manifestar publicamente sua posição, que era favorável à legalização, disse em discurso que “esse é um problema da sociedade brasileira”. A expressão da primeira-dama foi considerada por parte dos bispos como “oportunista”, “demagógica” e agressiva ao papa.

No segundo dia de sua passagem pelo país, João Paulo 2° participou de uma reunião “a sós” com o presidente Fernando Henrique Cardoso para discutirem os problemas sociais do Brasil. O encontro, no Palácio das Laranjeiras, durou 40 minutos, o dobro do tempo previsto.

Em seu terceiro dia visita, o papa proferiu discurso para 115 mil fiéis em cerimônia no estádio do Maracanã, onde mencionou a família como “patrimônio da humanidade”, e voltou a reafirmar a posição da igreja contra a separação e o divórcio entre casais.

No derradeiro dia de visita, o papa celebrou missa campal para cerca de 2 milhões de pessoas no Aterro do Flamengo (zona sul do Rio). A celebração final contou com a presença do rei Roberto Carlos, que, ao cantar “Jesus Cristo” e notar que o papa tentava acompanhá-lo na canção, se emocionou durante a apresentação.

João Paulo 2° deixou o país às 19h02 do dia 5 de outubro com destino a Roma depois de partir da Base Aérea do Galeão, para nunca mais retornar em solos tupiniquins.

 

OUTRAS VISITAS

Primeiro papa a visitar o Brasil em 30 de junho de 1980, quando percorreu durante 13 dias várias capitais do país – além da cidade santa de Aparecida (SP) -, João Paulo 2°, que tinha 60 anos na ocasião, teve fôlego suficiente para subir o morro do Vidigal (Rio), onde abençoou uma capela e presenteou os moradores com o anel de ouro que usava. Nas cerimônias de que participou, quase sempre era recebido com a música “À benção, João de Deus”, composta por Péricles de Barros.

Ainda na primeira visita, o papa beatificou o padre jesuíta José de Anchieta (1534-1597), um dos fundadores da cidade de São Paulo. Voltou ao país 11 anos depois, em 1991, para participar do encerramento do Congresso Eucarístico Nacional, sediado em Natal (RN). Desta vez ficou no país por dez dias. Na época, foi a Salvador (BA) para visitar a Irmã Dulce (1914-1992), que estava em estado grave na UTI e havia se submetido a uma traqueotomia.

Em 1981, em passagem não oficial no Brasil durante escala de voo no Rio quando seguia para Argentina, deu uma breve coletiva a jornalistas no aeroporto do Galeão.

 

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Em entrevista à Folha há 50 anos, Antonio Marcos pregou luta contra o analfabetismo no Brasil https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/09/27/em-entrevista-a-folha-ha-50-anos-antonio-marcos-pregou-luta-contra-o-analfabetismo-no-brasil/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/09/27/em-entrevista-a-folha-ha-50-anos-antonio-marcos-pregou-luta-contra-o-analfabetismo-no-brasil/#respond Wed, 27 Sep 2017 08:01:41 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/09/1967.09.24-119x180.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=5386 Cantor, compositor, ator e poeta entre outras minúcias artísticas, Antonio Marcos Pensamento da Silva, conhecido como Antonio Marcos –ou Toninho para os íntimos–, já se mostrava um jovem engajado e um tanto apreensivo com as aspirações sociais de sua geração ao pregar “uma verdadeira guerra contra o analfabetismo” em entrevista concedida à Folha em setembro de 1967, quando, aos 21 anos, iniciava uma  triunfante carreira solo após deixar o quarteto “Os Iguais”, ligado à Jovem Guarda.

Com “Os Iguais”, que contava ainda com os músicos Mário Lúcio de Freitas, Apolo Mori e Marcelo Gastaldi (este último o dublador dos personagens Chaves e Chapolin, dos seriados exibidos no SBT), o cantor gravou um compacto simples com as músicas “A Partida” e “Quero Te Dar Meu Coração”, pela RCA. Em seguida, relutante, aceitou o convite da gravadora para seguir carreira individual. Foi então que lançou as pouco executadas “Perdi Você”, dele com o ex-parceiro de banda Mário Lúcio e “A História de Alguém Que Amou Uma Flor”, composta em parceria com o irmão Mário Marcos, que tinha 14 anos na ocasião.

Antonio Marcos já havia sido calouro na TV Record, em 1962. Dois anos depois se destacou no programa de Estevam Sangirardi, na rádio Bandeirantes, onde mostrou o seu lado ator e humorista, fazendo imitações de cantores famosos da época.

Paulistano do bairro de São Miguel Paulista, na zona leste, onde nasceu em 8 de novembro de 1945 e segundo de oito irmãos, o cantor teve uma infância simples no tradicional bairro de São Paulo, onde se destacou em inúmeros festivais de música.

O primeiro sucesso de massa veio com “Tenho Um Amor Melhor Que o Seu” (1967), de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, que vendeu mais de 300 mil cópias. Ainda no final dos anos 60 emplacou as canções “E Não Vou Deixar Você Tão Só (1968)”, gravada no mesmo ano por Roberto Carlos no disco “O Inimitável” e “Se Eu Pudesse Conversar Com Deus”, gravada em 1969.

Seguindo o gênero romântico, com doses de melancolia, na década seguinte compôs “Menina De Trança” (1970), “Escuta” (1971), “Como Vai Você” (1972), parceria de êxito com o irmão Mario Marcos e também gravada pelo rei Roberto Carlos, que vendeu mais de 700 mil discos, “Oração De Um Homem Triste” (1972), de Alberto Luiz,  “O Homem de Nazareth” (1973), de Cláudio Fontana, “Sonhos De Um Palhaço”, com Sérgio Sá, entre outras pérolas da música popular brasileira. Em 1987 gravou seu último trabalho de inéditas, “O Anjo de Cada Um”, pela Copacabana.

No teatro atuou nas montagens “Arena Conta Zumbi” (1969), com direção de Augusto Boal, e “Hair” (1970), dirigida por Altair Lima, entre outros espetáculos. Na teledramaturgia, estrelou em “Toninho On The Rocks” (1970), na Tupi e em “Cara a Cara” (1979), na TV Bandeirantes. No cinema esteve em “Pais Quadrados… Filhos Avançados” (1970), “Geração em Fuga” (1972),  “Som, Amor e Curtição” (1972) , “Salve-se Quem Puder – Rally da Juventude” (1972) e do musical “Com a Cama na Cabeça” (1973). 

Depois de passar por três infartos e constantes internações ao longo dos anos 80 e início dos 90, por conta do alcoolismo e uso de drogas, Antonio Marcos morreu precocemente aos 46 anos, na noite de 5 de abril de 1992, de insuficiência hepática e cardíaca. Deixou 6 filhos frutos de 4 relacionamentos, entre eles a atriz Paloma Duarte, filha da também atriz Débora Duarte e a cantora e ex-apresentadora mirim Aretha Marcos, nascida de sua união com a cantora Vanusa. Em 2015, ano em que completaria 70 anos, teve uma caixa com quatro CDs lançada pelo selo Discobertas.

 

Leia entrevista com o cantor publicada com destaque na Folha em 25 setembro de 1967, há 50 anos:

ANTONIO MARCOS, O OTIMISMO NA MÚSICA

“Vejo uma grande necessidade de reunir-se a juventude e debater, com música ou sem ela, os problemas dos jovens. O ideal seria a Jovem Guarda discutir, por exemplo, literatura brasileira. É necessário que conheçamos melhor as coisas do nosso país, que, no meu entender, não pode ser considerado subdesenvolvido tal o estágio que já alcançou no conceito das nações, em todos os setores.”

Esse é o pensamento do cantor e compositor Antonio Marcos, há pouco saído do conjunto de música jovem “Os Iguais”, para atuar em “faixa própria”. Ele entende ser necessário à Jovem Guarda atuar mais efetivamente no sentido de incentivar a mocidade e as crianças a procurar ser útil à sua terra. E prega uma verdadeira guerra contra o analfabetismo.

 

UMA LUTA, AGORA

“Roberto Carlos, Ronnie Von, Erasmo Carlos, Wanderlea e outros líderes da juventude, que têm inegável ascendência sobre ela, a par do muito que fizeram em seu benefício (atente-se entre muitas outras coisas, para as campanhas em favor das crianças pobres), não podem deixar passar a grande oportunidade que se lhes apresenta para lutar contra o analfabetismo. Basta, por exemplo, que o ‘rei’ comece a dizer, em seus programas que ‘a criança que não estuda hoje será menos útil ao Brasil amanhã’, para que toda a petizada passe a pedir livros a seus pais. Se ele e seus companheiros afirmarem que ‘a criança que não estuda é barra suja’, não tenhamos dúvida: vão procurar estudar. É a força que representa, hoje, a música jovem e seus líderes. E ela deve ser aproveitada ainda mais com vistas ao futuro do país”.

 

A esta altura, o jovem António Marcos – 21 anos apenas, mas muita inteligência e talento que, em curto prazo, todo mundo vai sentir – se inflama e convoca os “cobras”:

“Atualmente, bem poucos se somam entre os que consideram vazia a música jovem e vazios os que nela intervêm; já se reconhece o seu valor como fator de aglutinação de jovens que, enquanto estão reunidos a cantar e a tocar não estão praticando crimes nem se entorpecendo com maconha ou qualquer outro tóxico. Basta atentar para as estatísticas policiais para verificar quanto caiu o índice da criminalidade juvenil –de que, aliás, Ronnie Von deu conta há pouco, à própria Folha de S.PauloÉ hora, portanto, de os grandes da Jovem Guarda encetarem um movimento de grande amplitude para reduzir o quanto possível o número de analfabetismo no Brasil. E todos os setores de atividades devem incorporar-se à campanha, quer fornecendo livros, cadernos e outros materiais escolares, quer contribuindo para o surgimento de mais e mais escolas. As editoras poderiam imprimir livros e distribuí-los gratuitamente ou vendendo a preço de custo a entidades que se propõem a fazê-los chegar aos necessitados; às autoridades ligadas à educação também. Todos devem entrar com o seu quinhão, visto que os benefícios são comuns a todos.”

 

A “SAFRA” SEGUINTE

Antonio Marcos diz que o jovem, geralmente insatisfeito, quase sempre esconde dos demais seu estado de ânimo. Mas tem necessidade de exteriorizar seus pensamentos. Assim, o faz cantando ou compondo –quer em público, quer a sós . “Mas” –acentua– “isso não é tudo: deve fazê-lo também de outras formas e, reunindo-se a outros, debater com eles problemas comuns, pois assim é mais fácil solucioná-los. Deste debate, estou certo, muita inteligência é muito talento podem ser revelados. E quem mais lucra com isso senão o país – que cada vez mais precisa de técnicos em tudo e, de preferência, jovens?”

“Não se deve esquecer que a população brasileira é constituída de jovens de 18 anos para menos em proporção superior a 50%. Isto é muito importante e grave ao mesmo tempo, uma vez que a geração atual precisa estar preparada para atender ao chamado da nação, que dela não pode prescindir.”

 

O jovem compositor e cantor não esconde a sua preocupação pelo futuro dos menores:

“Não se pode deixar de cuidar dos que, agora, recebem as primeiras instruções na escola (ou devem receber) porque esses, tendo em vista a evolução do mundo, quando tiverem 14 anos de idade já sentirão os sintomas experimentados pelos se 18 anos atualmente.”

 

AINDA NÃO SE DEFINIU

Disse que a música jovem tem atuado positivamente nesse sentido e muito ainda pode fazer:

“Para mim – afirmou – a música jovem no Brasil ainda não se definiu, encontrando-se em fase intermediária. Quando ela estiver atuando em pleno vapor, transmitindo ainda mais as boas iniciativas aos jovens, não tenhamos dúvidas: vai influir decisivamente na cultura e na economia nacional. A música jovem, entre nós, além da alegria transmitida, já possibilitou –e ainda o fará muito mais– emprego a muita gente, maior circulação de riquezas e, segundo vocês mesmos já noticiaram, também divisas ao país. Quem, ciente disso tudo, ainda pode considerar vazia a música jovem?”

 

O COMPOSITOR

Quem é esse jovem que pensa em  termos tão elevados quanto realistas? A “ficha”, pois, é necessária: Antonio Marcos, 21 anos, solteiro, estudou até o científico que completou, é poeta e filho de poetas, irmão de pintor e de quatro pequenos cantores, um dos quais compositor também. Antonio Marcos já fez teatro. Na música, começou ainda criança, cantando em programas de seu bairro; participou da “ginkana” apresentada por Vicente Leporace e recebeu muitas medalhas e troféus.

Em 1964, em testes realizados por Silas Roberg, para a seleção de novos valores para o futuro canal 13, foi o cantor-revelação. Depois, foi para o teatro. Com Pascoal Lourenço, figurou em “Pé Coxinho” e “Samba Contra 00 Dólar”, interpretando sambas.

Mais tarde, ligou-se aos “Iguais” –era o moço alto e triste do conjunto. Com eles ficou até o ano passado, quando aceitou proposta de uma gravadora para atuar sozinho. Relutou muito, mas foi.

Agora, já tem um disco na praça: “Perdi Você”, dele mesmo em parceria com Mario Lúcio, do “Iguais”; e “A História de Alguém Que Amou Uma Flor”, que compôs com seu maninho Mario Marcos (apenas 14 anos), do “M-4”, conjunto que integra com três irmão menores.

Brevemente, o poeta será revelado em livro. É que Antonio Marcos está escrevendo um de poesias, que chama de “Restos”. Esse volume será lançado muito em breve.

J.S. Vanni

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HÁ 50 ANOS: Ministro da Justiça articula para impedir Congresso da UNE em SP https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/07/11/ha-50-anos-ministro-da-justica-articula-para-impedir-congresso-da-une-em-sp/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/07/11/ha-50-anos-ministro-da-justica-articula-para-impedir-congresso-da-une-em-sp/#respond Tue, 11 Jul 2017 05:00:18 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/estudantes-180x111.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=4431 Em telegrama enviado nesta segunda (10) ao governador de SP, Abreu Sodré, o ministro Luís Antônio da Gama e Silva (Justiça) determinou a proibição do Congresso da União Nacional dos Estudantes, programado para os dias 2, 3 e 4 de agosto na capital paulista.

No telegrama, Gama e Silva cita o decreto nº 57.634, de 14 de janeiro de 1966, que suspende atividades da UNE em todo o território nacional.

Por outro lado, alunos se mexem para impetrar habeas corpus como meio de proteção a possíveis ações repressivas da polícia, que há dez dias invadiu o Crusp (conjunto residencial) da USP.

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HÁ 50 ANOS: Após invasão da polícia, alunos da USP voltam a exigir alojamentos https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/07/04/ha-50-anos-apos-invasao-da-policia-alunos-da-usp-voltam-a-exigir-alojamentos/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/07/04/ha-50-anos-apos-invasao-da-policia-alunos-da-usp-voltam-a-exigir-alojamentos/#respond Tue, 04 Jul 2017 05:00:19 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/crusp-180x119.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=4395 Estudantes da USP se reuniram nesta segunda (3), no grêmio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, para discutir a invasão de policiais da Força Pública no Crusp (conjunto residencial da instituição) para a retirada de alunos que ocupavam o local havia dois meses.

A intervenção resultou na prisão de 31 universitários.

Na reunião, os alunos criticaram o reitor Mário Guimarães Ferri e exigiram mais alojamentos na instituição.

Os presos foram soltos na noite desta segunda, após serem enquadrados em artigos penais por lesão corporal, dano ao patrimônio público e desobediência à ordem legal.

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HÁ 50 ANOS: Costa e Silva cria a Universidade Federal de SP https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/06/23/ha-50-anos-costa-e-silva-cria-a-universidade-federal-de-sp/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/06/23/ha-50-anos-costa-e-silva-cria-a-universidade-federal-de-sp/#respond Fri, 23 Jun 2017 18:01:37 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/06/50anosfaculdade-180x86.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=4268 O presidente Arthur da Costa e Silva assinou nesta quinta-feira (22) decreto que cria a Universidade Federal do Estado de São Paulo, com campus na cidade de São Carlos (SP).

A implantação da universidade será progressiva e a longo prazo, com início marcado para 1º de janeiro de 1968, com a inclusão no Orçamento da União.

O governador de São Paulo, Abreu Sodré, enviou telegrama ao presidente manifestando satisfação pela criação da universidade federal.

Em São Carlos, a cerca de 235 km de São Paulo, a notícia foi motivo de muita festa, na prefeitura e nas ruas.

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