Acervo Folha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br No jornal, na internet e na história Fri, 19 Feb 2021 13:40:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 OUTROS 13 DE MAIO: Abdias do Nascimento explica o Quilombismo https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/05/12/outros-13-de-maio-abdias-do-nascimento-explica-o-quilombismo/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/05/12/outros-13-de-maio-abdias-do-nascimento-explica-o-quilombismo/#respond Sat, 12 May 2018 17:00:14 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/e490e5b3bc358606391782435fe4c21d23e1e9c8a624b22ced533cfad65a9013_5a54fb4e29a34-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9420 Com uma vida dedicada à luta contra o racismo, Abdias do Nascimento (1914-2011) combateu a desigualdade, discutiu formas de elevar a autoestima do negro brasileiro e desconstruiu a ideia de democracia racial.

Num autoexílio durante o regime militar, Abdias ficou 13 anos fora do Brasil, de 1968 a 1981. No dia 9 de setembro de 1979, durante passagem pelo país, o criador do Teatro Experimental do Negro concedeu entrevista ao Folhetim.

Abdias do Nascimento falou da situação do negro na década de 1970 e, entre outros assuntos, explicou o que é o Quilombismo, movimento cultural e político. O Blog do Acervo Folha reproduz o texto “ABC do Quilombismo” na série Outros 13 de Maio, que vai até este domingo (13), quando serão completados 130 anos da abolição.

Leia o artigo completo abaixo:.

 

9.set.1979

ABC do Quilombismo

* Abdias do Nascimento

O Quilombismo pretende ser um método de análise, de interpretação de conceituação, de conscientização e de ação das massas afro-brasileiras. No livro que vai sair, editado pelas Vozes, toda essa sistematização que se caracteriza como ciência política do negro será amplamente exposta e documentada.

Nesta oportunidade, eu queria apresentar o ABC do Quilombismo, os Princípios do Quilombismo e a Semana da Memória Afro-Brasileira.

O ABC do Quilombismo na trajetória consignada no livro  “O Quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista” nos ensina principalmente o seguinte:

 

OUTROS 13 DE MAIO: Darcy Ribeiro escreveu que escravidão era sustentáculo do império: “Morra a princesa”


a) Autoritarismo de quase 500 anos, já basta. Não devemos tolerá-lo por mais tempo.

b) Bantu estava entre os primeiros africanos escravizados no Brasil. Estes foram os primeiros quilombolas e, desde o Quilombo dos Palmares, eles nos ensinaram a falsidade dos tratos do poder branco.

c) Cuidar e organizar nossa luta por nós mesmos. Cuidado com se aliar a outras forças políticas, sejam as ditas revolucionárias, reformistas ou promessistas. Qualquer aliança deve obedecer o interesse estratégico dentro do qual o negro precisa estar em posição de decisão, a fim de não permitir que massas negras sejam, mais uma vez, manipuladas por interesses e causas alheias.

d) Devemos ampliar nossa frente de luta, tendo em vista: 1º – Objetivos mais distantes da transformação radical das estruturas sócio-econômicas da sociedade; 2º – Os interesses táticos imediatos. Nestes últimos se inclui o voto analfabeto e a anistia aos prisioneiros políticos negros, maliciosamente fichados pela polícia como desocupados, vadios, malandros, marginais, etc.

e) Ejetar o supremacismo branco do nosso meio e ter sempre presente que o racismo o preconceito e a discriminação compõem o fator raça, a primeira contradição para as massas negras na sociedade brasileira.

f) Formar os quadros do quilombismo é tão importante quanto a mobilização e a organização das massas negras.

g) Garantir às massas seu lugar na hierarquia do poder de decisão, mantendo sua integridade etnocultural, é a motivação básica do quilombismo.

 

OUTROS 13 DE MAIO: Rubens Ricupero destacou relação entre escravidão e terra

 

h) Humilhados que fomos todos os negros africanos, com todos eles devemos manter íntimo contato, assim como também com organizações africanas independentes, tanto na diáspora, como no continente. São ajudas necessárias as relações com órgãos e instituições internacionais de direitos humanos, tais como a Unesco e a ONU, de onde podemos perceber apoio em casos de repressão. Não esquecer que sempre estivemos sob a violência da oligarquia latifundiária, da oligarquia industrial-financeira, ou da oligarquia militar.

i) Infalível como um fenômeno da natureza será a perseguição do poder branco ao quilombismo.

 

Então vice-governador do Rio pelo PDT, Darcy Ribeiro participa da inauguração do CIEP Zumbi dos Palmares com o governador Leonel Brizola (à dir.) e o ativista negro e deputado federal Abdias do Nascimento (à esq.), no Rio. (Foto: 1º.abr.86 – Paulo Whitaker/Folha Imagem)

 j) Jamais as organizações afro-brasileiras deverão permitir acesso aos brancos não quilombistas a posições dentro do movimento, com autoridade para obstruir a ação ou influenciar as tomadas teóricas de posições em face da luta.

k) “Know-how” é a maneira em inglês de falar do conhecimento científico e técnico, o qual devemos urgentemente obter. E, com ele, dar um novo avanço de autonomia nacional. O quilombismo não aceita que se entregue nossa economia às corporações monopolistas internacionais, porém tampouco defende os interesses de uma burguesia nacional. O negro foi o principal artífice da formação econômica do país e a riqueza nacional pertence a ele e a todo novo brasileiro.

 

OUTROS 13 DE MAIO: Raquel Rolnik explica a formação de territórios negros em São Paulo

 

l) Livrar o Brasil da industrialização artificial, tipo “milagre econômico”, é uma tarefa do quilombismo. Neste esquema, o negro tem sido explorado tanto pelo capitalista industrial, como pela classe trabalhadora classificada. O negro, como trabalhador desclassificado, ou qualificado, e também classe trabalhadora qualificada, é vítima dupla: da raça e da classe.

m) Mancha branca é o que significa a imposição miscigenadora do branco, ou seja, o estupro da mulher negra.

n) Nada de permitir mais confusões. Se no Brasil todos tivessem efetivamente igualdade de tratamento, de oportunidade, de respeito e de poder político e econômico e seu encontro sexual, entre pessoas e raças diferentes, ocorresse espontânea e livre dos condicionamentos repressivos atuais, a miscigenação seria um fenômeno positivo, capaz de enriquecer a sociedade, a cultura e a humanidade das pessoas.

o) Obliterar os ensinamentos genocidas do supremacismo branco é uma das metas do Quilombismo.

p) Poder quilombista quer dizer: a raça negra no poder. A raça negra é majoritária, portanto, o poder negro será um poder democrático.

q) Quebrar determinados “slogans” que atravessam nossa ação contra o racismo, como esse de que nossa luta se localiza unicamente no conflito de classes. Os privilégios raciais do branco em detrimento dos negros é uma ideologia que vem desde o mundo antigo, não importa a roupagem que usava ou usa.
OUTROS 13 DE MAIO: Robert Slenes contrariou intelectuais ao mostrar núcleo familiar na escravidão

 

r) Racismo é a primeira contradição no caminho do negro. A esta se juntam outras, como a contradição de classes e de sexo.

s) Saber que é hipócrita a condenação pública e reiterada do racismo e da discriminação racial por parte das classes dominantes, se tornou uma arma eficaz, objetivando amortecer o ímpeto da luta da luta do negro e disfarçar a operação racista e discriminatória contra as massas afro-brasileiras.

t) Todo negro ou mulato que aceita a democracia racial como uma realidade brasileira e a miscigenação vigente como positiva está traindo a si mesmo e se considerando um ser inferior.

u) Unanimidade é impossível e não devemos perder nosso tempo e nossa energia com as críticas vindas de fora. Temos de nos preocupar e criticar a nós mesmos e as nossas organizações no sentido de ampliar nossa consciência negra e quilombista, rumo ao objetivo final: a ascensão das massas negras no poder.

v) Vênia é o que não precisamos pedir aos brancos para reconquistarmos os frutos do trabalho realizado pelos nossos ancestrais africanos.

x) Xingar não basta. Precisamos é de mobilização, organização e de luta sem pausa e sem descanso contra as instituições que nos atingem.

y) Yoruba somos também em nossa africanidade. Os Yorubas são parte integrante de nosso povo, de nossa cultura, de nossa religião de nossa luta.

z) Zumbi é o fundador do quilombismo.

 

* Abdias do Nascimento foi escritor e teatrólogo criador do Teatro Experimental do Negro e professor na Universidade de Nova York. Deputado federal (RJ), vice-presidente nacional do PDT e diretor do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Autor de livros sobre a questão racial, como “O Quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista” e “O Genocídio do Negro Brasileiro”, Abdias morreu de insuficiência cardíaca aos 97 anos, no dia 23 de maio de 2011.

 

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OUTROS 13 DE MAIO: Darcy Ribeiro escreveu que escravidão era sustentáculo do império: “Morra a princesa” https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/05/08/outros-13-de-maio-darcy-ribeiro-escreveu-que-escravidao-era-sustentaculo-do-imperio-morra-a-princesa/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/05/08/outros-13-de-maio-darcy-ribeiro-escreveu-que-escravidao-era-sustentaculo-do-imperio-morra-a-princesa/#respond Tue, 08 May 2018 11:00:31 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/Tony-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9326 Quando foram completados cem anos da abolição da escravidão no Brasil,  o antropólogo e educador Darcy Ribeiro escreveu, em um texto na Folha, que não havia motivos para exaltar a princesa Isabel.

Foi a filha do imperador Dom Pedro 2º quem oficializou o fim da escravidão no Brasil, mas isso não ocorreu devido a um gesto de bondade de Isabel, segundo o antropólogo.

O artigo completo de Darcy, de 13 de maio de 1988, é o primeiro da série que o Banco de Dados vai publicar no Blog Acervo Folha até o próximo domingo (13) —130 anos depois da abolição. Leia abaixo:

13.mai.1988

Cem anos de liberdade

Morra a princesa

* Darcy Ribeiro

Sempre detestei o 13 de Maio. Provavelmente pelo desgosto que me dava ver antigas lideranças negras, alienadas e submissas, expressarem, comovidíssimas, sua gratidão à princesa.

Ora bolas! O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão, que era o principal sustentáculo do império. Tão importante e respeitado pilar que, provavelmente, o imperador tirou o corpo, mandando sua filha assinar o ato, para não se incompatibilizar com a UDR de então. Não adiantou nada. As duas instituições arcaicas —a monarquia e o escravismo— era tão solidárias que, tombando uma, a outra caiu também, no ano seguinte, derrubando o trono.

Esta nossa abolição tardia só se deu, de fato, porque não havia como mantê-la. Todas as nações poderosas se opunham. Os tumbeiros não podiam mais navegar. Os escravos se rebelavam no eito, numa revolta tão generalizada, que não havia tropa repressiva capaz de contê-la. A opinião pública, que começava a articular-se, não suportava mais a instituição hedionda. A intelectualidade mais lúcida —ó que saudades da velha Faculdade de Direito, libertária— a ela se opunha, energicamente. Um abismo ideológico se abrira entre os negros, investidos de dignidade de combatentes de suas liberdades, e os brancos; encarnando o opróbrio, no papel de mantenedores do cativeiro.

Eram, tal qual agora, dois Brasis. Ontem, o dos escravistas versus abolicionistas. Hoje, o do latifúndio, fundado no direito constitucional de manter a terra improdutiva por força do instituto da propriedade, contra a massa imensa de lavradores famélicos, clamando por um pé de terra, onde possa plantar para comer. De um lado, os donos da vida querendo manter o mundo tal qual é porque isto lhes convém, do lado oposto, os que aspiram uma reordenação institucional socialmente responsável.

Então, venceu a liberdade, já era evidente que, por força da própria história, a escravidão obsolecera, como forma de recrutamento da mão de obra. Primeiro, pela oposição dos próprios escravos, cada vez mais veementes e combativos em usa luta pela liberdade. Mas também porque uma nova fonte de mão de obra, multitudinária, se oferecia para substituí-los. Com efeito, a Europa vivia, então, uma fase equivalente a que atravessamos hoje, na qual a mão de obra excedia enormemente às necessidades da produção capitalista, convertendo seu povo em gado humano exportável. Foi, aliás, pela exportação de 60 milhões deles que a Europa evitou a revolução social vaticinada por Marx —houve co-fatores, é claro. Se aquele povo todo ficasse lá, e lá reproduzisse, numa Europa muitíssimo mais populosa, era mais que provável a explosão de conflitos raciais insanáveis.

Isto é, talvez, o que venha a suceder no Brasil, uma vez que não temos para onde exportar nossos excedentes de mão de obra, que já somam milhões —quem aceitaria os maranhenses todos, mesmo de graça?  E, ainda mais provavelmente, porque sua fixação na terra —que é a forma mais barata e eficaz de ocupá-lo— foi legalmente inviabilizada pelos constituintes. Condenou-se, assim, nossas metrópoles, já tão inchadas, a crescerem ainda mais caoticamente. Chamo a isto Síndrome de Calcutá. É o que vejo em cidades, como São Paulo, ou Rio, com mais de vinte milhões de habitantes, morrendo de fome, apodrecendo de doenças, dilacerados numa criminalidade incontrolável. Neste mesmo cenário de pobres morrendo de fome, os ricos estariam morrendo de medo dos pobres. Viveriam açoitados em campos de concentração, cercados de arame farpado e eletrizado. Já não começa a ser assim.

Dói pensar que este é o futuro que estamos construindo agora. A única providência concreta que se está tomando para enfrentá-lo, é uma intervenção criminosa na demografia brasileira. Refiro-me ao financiamento estrangeiro de um programa intensivo de esterilização das mulheres pobres —predominantemente negras, é óbvio. Isto significa que há, lá fora, quem saiba qual é a dimensão da população brasileira que eles estão interessados em fixar para o próximo milênio. Cumpre-se, assim, a profecia de João 23, que se opunha ao planejamento familiar, dizendo que era porta aberta à esterilização em massa dos pobres. Acrescento que, provocando artificialmente o envelhecimento da população brasileira, estão nos ameaçando de perpetuar o atraso. Em lugar de equilibrarmos nossa população, contendo seu crescimento através do desenvolvimento e em razão dele, como se faz por toda a parte, a equilibraríamos substituindo uma maioria de menores de idade por uma maioria de maiores de idade, trocando imensos contingentes infantis por senis, ainda maiores, através da intervenção mais crua no processo natural de multiplicação do nosso povo.

Que este feriado de celebração do centenário da chamada Lei Áurea nos sirva para lavar os olhos, a fim de ver com clareza os descaminhos em que nos metemos. Ou em que estando sendo metidos, à força, por uma classe dominante infecunda, só devotada a multiplicar seus lucros, privilégios e sinecuras, incapaz de implantar uma prosperidade generalizável a toda população. Ontem, uma abolição tardia, e o abandono da massa alforriada à sua sorte, provocou uma redução drástica na população negra, submetida a condições incomprimíveis de miséria, que até hoje dificultam extraordinariamente o seu trânsito, da condição de escravos à condição de trabalhadores livres e cidadãos. Hoje é uma Constituição retrógrada que, fechando qualquer perspectiva de reordenação social, condena o Brasil a continuar trotando no subdesenvolvimento.

 

*Darcy Ribeiro (1922-1997) foi antropólogo, educador e escritor. Exerceu os cargos de ministro da Educação (entre 1962 e 1963) e ministro-chefe da Casa Civil (entre 1963 e 1964), no governo João Goulart.  Foi vice-governador do Rio de Janeiro (entre 1983 e 1987, na gestão de Leonel Brizola) e atuou como senador da República, entre 1991 até a sua morte em 1997.   Criou a Universidade de Brasília e os Cieps (Centros Integrados de Educação Pública).

 

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1968 – A SEXTA BOMBA: Coquetel molotov é jogado em ônibus após aumento de passagem https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/05/07/1968-a-sexta-bomba-coquetel-molotov-e-jogado-em-onibus-apos-aumento-de-passagem/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/05/07/1968-a-sexta-bomba-coquetel-molotov-e-jogado-em-onibus-apos-aumento-de-passagem/#respond Mon, 07 May 2018 10:00:48 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/banco-de-ônibus-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9307 Durante a madrugada de 6 de maio de 1968, São Paulo voltou a registrar uma explosão, a sexta em menos de dois meses.

Depois de serem atingidos os prédios do Consulado dos Estados Unidos, da Força Pública, do 2º Exército, do jornal O Estado de S.Paulo e da casa de um ex-procurador do estado de SP, o alvo, desta vez, foi um ônibus.

A polícia não prendeu ninguém nesta ação, mas encontrou no local da explosão vários panfletos de protesto contra o aumento na tarifa do transporte público.

O preço das passagens dos ônibus foi majorado em 25% por decisão do prefeito Faria Lima e entrou em vigor no dia 5 de maio de 1968. Passou de NCr$ 0,20 (equivalente a R$ 1,68) para NCr$ 0,25 (R$ 2,10).

Clique na imagem e confira o mapa das explosões em São Paulo em 1968

O ataque ao ônibus não feriu ninguém nem causou grandes prejuízos, mas a situação poderia ter sido bem mais grave.

Um coquetel molotov foi atirado contra um ônibus que estava estacionado ao lado de mais de cem veículos no pátio da empresa Viação Urbana Penha, na avenida Gabriel Mistral, na Penha da França, na zona leste de São Paulo.

O produto não explodiu totalmente e provocou só um pequeno incêndio, logo apagado pelos funcionários da companhia.

O Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e a Polícia Técnica foram até lá e encontraram uma garrafa quebrada, ainda com resto da substância química, além de panfletos contra o novo no preço das passagens.

De acordo com um vigia da empresa, dois carros saíram em disparada logo depois da explosão, um Fusca e um Gordini.

O ano de 1968 foi o quarto da ditadura militar no Brasil, e a polícia e o Exército buscavam conter as ações das guerrilhas urbanas que lutavam contra o regime.  Com a série de explosões em São Paulo (que estão sendo recontadas agora pelo Banco de Dados no Blog do Acervo Folha), o temor de mais atentados era grande.

No mesmo dia ao ataque do ônibus, a notícia de uma bomba no Parque do Estado causou grande apreensão. O objeto encontrado, porém, foi uma granada enferrujada, que, de acordo com a polícia, devia ter sido enterrada naquela área havia muitos anos.

Outro susto foi tomado no dia anterior. Policiais foram avisados de um explosivo sob o pontilhão do Pavilhão Internacional do Ibirapuera.

Agentes especializados em bombas foram chamados e viram que o objeto suspeito era apenas de uma lata furada, com um pedaço de pau fino. Segundo policiais, a lata parecia mais uma brincadeira do que um artefato.

Granada encontrada no Parque do Estado estava enferrujada – Folhapress

 

Veja também:

1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas

1968 – A QUARTA BOMBA: Impacto de explosão na sede de O Estado de S. Paulo atinge raio de 200 m

1968 – A QUINTA BOMBA: Bomba explode em casa de ex-procurador do Estado

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1968 – A QUINTA BOMBA: Bomba explode em casa de ex-procurador do Estado https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/04/21/1968-quinta-bomba-bomba-explode-em-casa-de-ex-procurador-do-estado/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/04/21/1968-quinta-bomba-bomba-explode-em-casa-de-ex-procurador-do-estado/#respond Sat, 21 Apr 2018 12:00:21 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/IMG_9283_tratada-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9213 Luiz Carlos Ferreira
Cristiano Cipriano Pombo
Jair dos Santos Cortecertu
Rodolfo Stipp Martino

Após a bomba na sede do jornal “O Estado de S. Paulo”, no centro da capital, na madrugada do sábado de 20 de abril, não demorou um dia para que outra explosão viesse à tona em São Paulo.

Desta vez o artefato foi colocado no jardim de inverno da residência do desembargador aposentado e ex-procurador do estado Virgilio Malta Cardoso, que ficava num edifício da avenida Rebouças (zona oeste de São Paulo).

Esta foi a quinta de uma série de explosões que foram registradas na cidade de São Paulo ao longo de 1968 –a primeira delas explodiu em 19 de março no Consulado dos EUA– e que o Banco de Dados resgata no Blog do Acervo Folha.

Clique na imagem e confira o mapa das explosões em São Paulo em 1968

Eram 20h quando ouviu-se um estampido no edifício de número 3.143 da Rebouças. Uma das empregadas do ex-procurador, Isilda Batista de Sousa, estava sozinha na casa no momento da explosão. Virgilio e sua família passavam o fim de semana em Santos (litoral de São Paulo). Em contato com a polícia, o aposentado disse que não tinha suspeitas de quem teria causado a explosão e completou: “Se quiserem fazer promoção, procuraram a pessoa errada”.

Todos os vidros de uma porta de ferro que dava acesso ao jardim, nos fundos do imóvel, foram quebrados com o impacto do petardo. 

Policial mostra estragos causados pela bomba que explodiu na casa do desembargador aposentado Virgilio Malta Cardoso (Reprodução/Folhapress)

Logo a polícia técnica chegou ao local para a coleta de fragmentos para a perícia e antecipou que se tratava de uma bomba caseira. Estiveram também na residência um delegado de plantão do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e agentes da Força Pública do Estado.

Um dos investigadores do caso comentou que “avacalharam com terrorismo”, em referência ao curto espaço de tempo entre uma explosão e outra na capital, que, naquele ano, o quarto da ditadura, viu cerca de 800 agentes serem mobilizados pelos governos federal e estadual, pelo Exército, pela Polícia Federal, pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social), pela Força Pública e pelas delegacias da cidade na caça aos responsáveis pelas explosões.

O chefe da Polícia Federal, o general Silvio Correia de Andrade, o mesmo que esteve à frente das investigações do “atentado” contra o jornal O Estado de S. Paulo, ocorrido um dia antes, cogitou a hipótese de a bomba ter sido fabricada a partir das 250 bananas de dinamite roubadas em Cajamar (região metropolitana de São Paulo), um ano antes. Já a equipe do Sops (Seção de Ordem Política e Social) informou que poderia até mesmo ser uma “brincadeira de crianças”, pela baixa potência do explosivo.

O medo de novas explosões na capital levou a polícia a adotar procedimentos de segurança até em suas próprias dependências. No Dops, órgão que vinha recebendo telefonemas com ameaças de atentados, ninguém podia entrar sem passar por revista. A mesma regra se estendeu ao Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

Além dos lugares já atingidos por bombas naquele ano, entre os quais o Consulado dos EUA e o quartel-general do 2º Exército de São Paulo, outras instalações públicas, como o Palácio dos Bandeirantes e a Assembleia Legislativa, também passaram a ter a segurança reforçada por imposição da Secretaria da Segurança Pública do Estado.

Colaboraram Carlos Bozzo JúniorFelipe Lima e Shirley Queiroz

 

Veja também:

1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas

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Relembre textos de Ricardo Bonalume Neto na Folha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/03/25/relembre-textos-de-ricardo-bonalume-neto-na-folha/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/03/25/relembre-textos-de-ricardo-bonalume-neto-na-folha/#respond Sun, 25 Mar 2018 21:32:37 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/Bonalume2-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=8799 O jornalismo perdeu neste sábado (24) Ricardo Bonalume Neto, 57, um dos maiores repórteres de ciência e especialistas em assuntos militares de sua geração.

Natural de São Paulo, ele escreveu para a Folha desde 1985.

O Blog do Acervo Folha relembra abaixo algumas das principais coberturas realizadas por Ricardo Bonalume Neto (1960-2018):

 

OS PRIMEIROS TEXTOS

A reportagem “Gatos e gatas embelezam o festival”, no dia 14 de janeiro de 1985, marcou a estreia de Ricardo Bonalume Neto na Folha.

Publicado na página 30 da Ilustrada, o texto falava sobre o público presente no Rock in Rio.

Ele voltaria a publicar um texto no dia 19 de janeiro de 1985, sobre uma descoberta de uma obra de Mozart numa pequena cidade dinamarquesa.

A estreia numa das áreas em que mais se notabilizou, a de ciências, ocorreu em 27 de outubro de 1985, com o texto “Espaço se abre para produção industrial”.

 

AS GRANDES COBERTURAS

Em 1987, como lembra o jornalista Leão Serva, uma cobertura protagonizada por Ricardo Bonalume Neto ganhou repercussão mundial. À época, ele participou de uma expedição que reconstituía a primeira viagem de colonizadores da Austrália.

A embarcação tinha partido de Poutsmouth em 11 de maio de 1987. Passou por Tenerife e por Salvador, onde Bonalume embarcou. “As embarcações eram réplicas das originais dois séculos mais antigas, e os convidados também tinham de ser marujos –limpar o convés, cozinhar, entre outras atividades. Durante uma tormenta na travessia do Atlântico, antes da chegada à África do Sul, um tripulante morreu. Foi uma notícia que ganhou muito destaque em todo o mundo e a cobertura do Bona foi excepcional”, afirmou Serva.

O morto no caso era o imediato Henrik Nielsen, diante dos olhos de Bonalume, durante um turno de trabalho no veleiro norueguês Anna Kristina. O dinamarquês caiu no mar em 22 de agosto, na metade da rota entre o Rio de Janeiro e a Cidade do Cabo.

Em outra reportagem, de 17 de março de 1994, com “Turismo ‘hard’ corta a Transamazônica“, ao lado do fotógrafo Antônio Gaudério, Ricardo Bonalume Neto escreveu sobre um dos grandes temas de cobertura de sua carreira, a Amazônia.

À época, após percorrer a Transamazônica, ele escreveu: “O primeiro erro da estrada é o seu nome. Ela não é ‘transamazônica’, já que o trecho final pelo estado de Amazonas não foi concluído. O segundo é a própria estrada, uma invenção do regime militar para resolver o problema fundiário no Nordeste e povoar a Amazônia, transportando levas de camponeses sem-terra para o meio do mato, que foram praticamente abandonados em alguns anos, sem ajuda para praticar a agricultura e nem meios de transportar sua produção por uma estrada que a floresta teima em reclamar. O próprio traçado da rodovia parece ter sido feito à lápis em um atlas escolar, cortando áreas indígenas pelo meio.”

O jornalista Ricardo Bonalume Neto (Crédito: Arquivo pessoal)

Escreveu também sobre os mais variados temas, desde “Mulher implanta pênis e agora é pai“, em 1994, até coberturas de assuntos internacionais, como a queda do ditador do Zaire.

De 16 a 22 de maio de 1997, publicou uma série de reportagens que marcaram a queda do ditador Mobutu Sese Seko no Zaire, que se transformaria em República Democrática do Congo, iniciada com o texto “Rebeldes estão a 20 km de Kinshasa” até “Kabila negocia com oposicionistas”.

A cobertura foi tensa, com o repórter em meio a tiroteios e mortes. Na volta à sede da Folha, contou a experiência aos colegas de trabalho. “Ele narrou a viagem, os tiroteios, as mortes. No meio da fala, abriu uma caixa. ‘Agora vou mostrar uns souvenires’. E sacou algumas balas douradas e pontiagudas, enormes, do tamanho da palma de uma mão. ‘Isso aqui eu resgatei do chão em frente o palácio do Mobutu. Felizmente, nenhuma me atingiu”, contou Fábio Zanini, editor de Poder da Folha.

Essas e outras reportagens tornaram Bonalume, além de um repórter humor ácido e irônico, o jeito brincalhão e a rabugice, um expert em assuntos internacionais e militares, afinal ele era capaz de escrever sobre países, mísseis e fuzis, bombas, tanques e canhões, planos da CIA, ações de guerra no Iraque e no Afeganistão, Exército e outros assuntos que lhe pedissem. Capaz de retardar o fechamento de uma edição, já que como ele dizia: “O atraso é o preço da qualidade”.

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Começou há 25 anos o cerco de Waco, que deixou cerca de 80 mortos https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/28/comecou-ha-15-anos-o-cerco-de-waco-que-terminou-com-80-mortos/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/28/comecou-ha-15-anos-o-cerco-de-waco-que-terminou-com-80-mortos/#respond Wed, 28 Feb 2018 15:00:41 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/Waco-1-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=8063 Agentes do governo federal dos Estados Unidos e policiais do Texas iniciaram no dia 28 de fevereiro de 1993 um cerco em torno da sede da seita Ramo Davidiano, na cidade de Waco, que terminou de forma trágica, no dia 19 de abril, com um grande incêndio e com a morte de cerca de 80 pessoas.

O cerco começou depois de uma ação malsucedida de agentes do ATF (Bureau of Alcohol, Tobacco, and Firearms), órgão responsável pela aplicação das leis relativas ao álcool, tabaco, armas de fogo e explosivos. Eles foram à sede da seita confiscar armas ilegais. Mas, ao chegar ao local, encontraram resistência e houve troca de tiros.

Nessa ação, morreram quatro agentes e 20 ficaram feridos. Também houve baixas com integrantes da seita, mas o número não foi revelado.

A estimativa era que mais de cem pessoas (entre homens, mulheres e crianças) estariam dentro da sede e que abrigavam lá quase 250 armas.

“Eles tinham mais e melhores armas do que nós”, afirmou o porta-voz do ATF, Sharon Wheeler, na época, em declaração publicada pela Folha, no dia 2 de março de 1993.

A reportagem sobre o incidente informou que a seita era uma dissidência da Igreja Adventista do Sétimo Dia, fundada em 1934, e que tinha cerca de 3.000 seguidores nos Estados Unidos. Seu líder era Vernon Howell, que decidiu mudar de nome para David Koresh. Ele pregava que era reencarnação de Jesus Cristo.

O líder afirmou que todas as armas que estavam em sua comunidade eram legais e que não havia justificativa para a invasão em sua sede. Por isso, resolveu contra-atacar.

Depois do confronto, eles acertaram um cessar-fogo para retirar os corpos dos agentes e os feridos. Uma negociação foi aberta.

Conforme a reportagem do dia 4 de março, Howell afirmou que não se entregou porque Deus havia lhe dito para esperar por instruções. Também falou que sua filha de dois anos havia morrido no confronto e que ele tinha ferimentos na barriga e na perna.

Ele até havia prometido se render se uma mensagem dele de 58 minutos fosse transmitida pelas principais rádios do Texas. A radiação foi feita, mas a promessa não foi cumprida.

A mãe de Howell, Bonnie Haldeman, tentou conversar pessoalmente com o filho, mas a polícia não o autorizou. “Eu acho que ele pode estar muito ferido. A infecção pode ter tomado conta de seu corpo e ele pode não estar mais pensando direito”, disse.

Durante as negociações, 20 crianças foram liberadas.  Duas mulheres, que também saíram da sede, afirmaram que os membros da seita tinham estoques de alimentos para cinco anos e estavam fortemente armados.

A tentativa da invasão dos agentes foi muito criticada no país e havia suspeita de que Howell soubesse com antecedência da ação e havia se preparado.

Durante o cerco, policiais colocaram músicas estridentes em alto-falantes para tentar enervar Howell e seus seguidores que continuavam entrincheirados na sede.

Apesar da tática, o porta-voz do FBI (a polícia federal dos Estados Unidos), Jeffrey Jamar, previa que a negociação seria longa, sugerindo que os repórteres deslocados a Waco alugassem casas ali.

O cerco realmente foi longo, e não acabou bem.

Após 51 dias de cerco, um incêndio atingiu o local seis horas depois de veículos blindados terem iniciado um ataque para abrir buracos nas paredes da sede. O objetivo era injetar um gás para forçar a rendição.  Segundo as autoridades policiais, o incêndio foi iniciado dentro da sede, e o FBI classificou o ato como um suicídio coletivo.

Apenas, dez homens e uma mulher conseguiram escapar.

A secretária da Justiça, Janet Reno, assumiu a responsabilidade pela ação. “Obviamente, se eu tivesse achado que havia grandes chances de suicídio em massa, eu jamais teria aprovado o plano”, afirmou.

O presidente Bill Clinton divulgou uma mensagem em que se dizia profundamente entristecido pelas mortes, mas defendeu Janet Reno e o FBI.

Policiais do FBI apontaram que alguns corpos foram encontrados com marcas de tiros, mas legistas contestaram essa informação. Depois, foi identificado que Howell morreu com um tiro na cabeça, e não queimado. Alguns dos sobreviventes também alegaram que o fogo foi provocado pelos policiais durante o ataque dos veículos blindados contra o prédio, diferentemente da versão de suicídio.

O caso do cerco de Waco e o mistério que o envolve acabaram inspirando produções no cinema e na TV.

Sede de seita religiosa em Waco pega fogo (Gerald Schumann – 19.abr.1993 /Reuters)
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Há 85 anos, Nina Simone nascia para lutar e brilhar na música https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/21/ha-85-anos-nina-simone-nascia-para-lutar-e-brilhar-na-musica/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/21/ha-85-anos-nina-simone-nascia-para-lutar-e-brilhar-na-musica/#respond Wed, 21 Feb 2018 09:00:40 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/AHi_j0013-150x150.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=7935 Quase impossível você não ter ouvido uma música de Nina Simone?
Escute as canções abaixo.

Todas elas estiveram entre as melhores músicas de todos os tempos. E principalmente relevaram o virtuosismo de Eunice Kathleen Waymon.

O talento para a música surgiu logo aos três anos, quando passou a tocar piano de ouvido. Apoiada pela mãe, que era empregada doméstica e pastora metodista, e pelo pai, biscateiro, Nina Simone caminhava para se tornar uma pianista clássica.

As primeiras aulas de piano foram pagas com ajuda da comunidade de Tyron, onde nasceu na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, em 21 de fevereiro de 1933. Como retribuição, tocava na igreja.

Mas já aos 12 anos sentiu que não bastava ter talento na música, isso porque viu seus pais serem alvo de discriminação em seu primeiro concerto –os primeiros assentos eram destinados aos brancos.

Ela reagiu. Só tocaria mediante mudança dos pais para mais perto do palco.

E essa personalidade forte foi equivalente a seu talento.

Tanto que é difícil rotular Nina Simone em um estilo musical.

Nina Simone, em performance no Brasil, em 1988 (Foto: Juvenal Pereira 11.set.1988/Folhapress )

Desde que deixou sua cidade natal para seguir os estudos, quando que dar aulas de piano e passar a tocar num bar para se manter financeiramente, ela se moldou.

“Eu estudei piano clássico por 22 longos anos e teria seguido carreira se tivesse dinheiro para isso. Acontece que eu era pobre e fui rejeitada pelo Curtis Institute of Music da Filadélfia [por ela ser negra]. Então, eu não tive outra alternativa além de cantar em clubes noturnos para sustentar a família [ela tinha sete irmãos]”, afirmou à Folha em setembro de 1988.

Primeiro, foi desafiada a cantar, caso contrário perderia o emprego no bar de Atlantic City. Queriam que cantasse à altura de como tocava piano. E ela o fez. “Até eu fiquei surpresa”, disse ela, que até então não notava a voz.

E que voz ela tinha. Eletrizante que era, rapidamente fez sucesso, o que a levou a se transformar em Nina Simone –Nina, porque um namorado porto-riquenho a chamava de menina em espanhol (niña), e Simone, porque era fã da atriz Simone Signoret e “soava bem”.

O batismo artístico servia para preservar os pais do preconceito que seria destilado contra eles por ela estar cantando na noite e se afastando da figura única de pianista clássica.

Até estudou na respeitada Julliard School of Music, mas foi além e se tornou, como escreveu o repórter da Folha Thales de Menezes, em 2017, uma grande cantora de jazz e também de soul, rhythm’n’blues, pop, folk, gospel. Além de exímia pianista, tornou-se uma compositora inspirada e engajada na luta pelos direitos civis.

Essa última vertente rendeu-lhe amizades com Malcom X e Martin Luther King e um discurso forte, como o da música “Mississippi Goddam” (Maldito Mississippi), que escreveu em minutos após o assassinato de quatro meninas negras numa igreja em Birmingham (Alabama), em 1963. Tão forte que a aversão ao racismo a fez deixar os EUA e a ajudou a amealhar mais fãs.

Em meio a casamentos, problemas financeiros e vários endereços –Barbados, Suíça, Libéria, Guiné, Reino Unido e França–, a “suma sacerdotisa do soul”, como é descrita em seu site, lutou até quando pôde, contra o racismo, contra fãs barulhentos, contra um câncer de mama, contra sua própria birra e até mesquinharia.

Registrou isso em suas músicas, em livros e em documentários e filmes, como “What Happened, Miss Simone“.

Nada, porém, que apagasse a imagem da cantora imponente, que visitou o Brasil em 1960, em 1988, em 1997 e em 2000. A passagem de 1997  marcou uma série de “encenações” para envolver a cantora sobre o horário do show –ela tocava às 16h acreditando ser 17h– e mostrou ao público e aos produtores brasileiros o quanto eletrizante era Nina Simone.

Na última, 2000, em entrevista à Folha, revelou que “não era fácil ser Nina Simone“.

Nina Simone, durante coletiva de imprensa no Hotel Softel em São Paulo, em 2000 (Foto: Ormuzd Alves – 11.abr.2000/Folhapress)

Como escreveu Sérgio Dávila, hoje editor-executivo da Folha, em 23 de abril de 2003, quando da morte da cantora (no dia 21 daquele ano), Nina “nos abandonou primeiro, antes que começássemos a abandoná-la, enxergando-a como uma ‘velha exótica'”.

 

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Há 50 anos, investida policial em favela de São Paulo matou menino de 16 anos https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/16/ha-50-anos-investida-policial-em-favela-de-sao-paulo-matou-menino-de-16-anos/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/16/ha-50-anos-investida-policial-em-favela-de-sao-paulo-matou-menino-de-16-anos/#respond Fri, 16 Feb 2018 08:00:08 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/IMG_7821-150x150.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=7853 “Este menino tinha um primo de 16 anos que se chamava Adão. Andavam juntos na favela Mimosa, em Vila Gustavo. De repente, a polícia chegou à procura de um marginal. Houve tiros dados a esmo. Adão correu, e logo adiante caiu morto. Agora, a lágrima de seu primo rola na face de uma criança que não entende direito por que estas coisas acontecem.”

O parágrafo acima, publicado com destaque da edição da Folha de 16 de fevereiro de 1968, resumia mais uma das tragédias ocorridas nas diversas favelas brasileiras.

Antonio Fabrine Donizeti, irmão de Adão, o menino morto na favela Mimosa  (foto: 15.fev.1968/Folhapress)

Eram 22h do dia 14 de fevereiro de 1968. Estava muito escuro quando uma “perua” da polícia entrou na favela Mimosa, no bairro de Vila Gustavo, na zona norte da capital paulista.

Dentro do veículo, além do motorista Arlindo Cesário da Silva, estavam os investigadores Paulo Novi e Carlos Faria Porto, o inspetor da divisão da Guarda Civil, Antonio Vicente, os policiais civis Alcebiades Marsola e Arnaldo Tobias e o comerciante português Francisco Carmelino Sagulo, dono de um bar e de um açougue próximo à favela.

Com eles, também no veículo, estava Euclides Lourenço, conhecido como Tico, que fora preso dentro de sua casa na mesma região. Ele havia confessado à polícia ter roubado o açougue de Carmelino, com os amigos “França” e “Veríssimo”, que naquele momento eram procurados pela polícia.

Logo que os policiais adentraram a favela, o ajudante de pedreiro Adão Fabrine Donizeti, 16, seu irmão Antonio, 11, e um primo, levavam sacos de roupas para o barraco de uma vizinha, Neuza Ferreira dos Santos.

”Nós fomos à noite levar sacos de roupa para o barraco de Dona Neuza. A cunhada dela viajou e deixou a roupa    lá em casa para minha mãe lavar”, disse Antônio.

Repentinamente, ouviram-se disparos. Assustado, Adão, que tinha medo da polícia, correu em direção ao barraco de Neuza. Chegando à frente da casa da vizinha, foi atingido por um tiro nas costas, na altura dos rins.

Ele ainda tentou pular uma cerca de arame farpado na casa ao lado, mas fora atingido por outro disparo, e acabou morrendo no local.

Antonio Fabrine, irmão de Adão, fala com jornalistas na favela Mimosa (foto: 15.fev.1968/Folhapress)

Durante os tiros, Neuza saiu do barraco aos gritos: “Não atirem que vocês vão matar minhas crianças”. Seus quatro filhos, que dormiam no momento do tiroteio, assustados com os estampidos, acordaram e começaram a chorar. Neuza disse ter ouvido Adão pedir socorro três vezes. Apavorada, ela não viu mais o que aconteceu.

No dia seguinte, na casa de Adão, enquanto a mãe chorava a perda do filho, o irmão da vítima, Antonio, que presenciou a tragédia, contava aos repórteres como tudo aconteceu.

O menino disse que os disparos que tiraram a vida do irmão foram efetuados por um homem alto e forte, de camisa clara e calça azul escura.

Ao ouvir o filho falando com a imprensa, Maria Aparecida aproveitou para contar aos jornalistas que enquanto ela chorava em frente à casa da vizinha no momento dos tiros, o suspeito descrito pelo filho, o investigador Paulo Novi, de forma rude, mandou que ela saísse do local.

Segundo Aparecida, o investigador ainda disse o seguinte: “O coitadinho que a senhora fala é um vagabundo. Moço de 16 anos também morre.” Ao ouvir as palavras do policial, ela desmaiou.

Irmão de Adão Fabrine, Antonio, fala com a imprensa sobre a morte do irmão ajudante de pedreiro  (foto: 15.fev.1968/Folhapress)

Aos repórteres, Paulo Novi disse que não efetuou qualquer disparo contra Adão. Ele contou ainda que Maria Aparecida, a mãe da vítima, gritava muito quando ele tentou deter seu outro filho, que tomava conta dos sacos de roupa após os disparos. “Mandei a mulher embora e disse que se ela não se calasse a levaria para a perua”, contou o investigador. Depois, disse que a viu rolando no chão aos gritos de “mataram o meu filho”. “Só depois me contaram que um moço morrera com os tiros e que aquela era a sua mãe”, defendeu-se o investigador.

Novi declarou também que, no momento da operação, o comerciante Francisco Carmelino, que acompanhava os policiais, havia efetuado muitos tiros durante a ação. Um dos jornalistas pediu ao investigador para que deixasse fotografar sua arma, mas Novi esquivou-se em direção ao carro da polícia e desapareceu.

Carmelino, por sua vez, quando procurado na tarde do dia seguinte ao crime, não se encontrava em seu açougue, que ficava na avenida General Jerônimo Furtado, perto da favela.

O delegado Dangler Travassos Guimarães, titular da Delegacia de Vila Gustavo, disse que abriria um inquérito para ouvir os policiais e o comerciante.

Antônio e Tico, que presenciaram parte da ação que levou à morte de Adão, já haviam sido ouvidos pelo delegado Assis Brazil Menck.

Adão, considerado um “bom menino” pelos moradores da favela Mimosa, onde morava havia apenas um ano com a mãe e seis irmãos, planejava ir para Santos (SP) com um amigo no domingo. Ele não conhecia o mar.

No barraco 29 da favela Mimosa, ficou uma mala com roupas “bem arrumadas”. Pois eram as roupas de Adão, que viajaria na semana seguinte para Lavras (MG), município onde nascera. Ele queria passar o Carnaval com os avós e  já havia até dado a um tio uma parte do dinheiro para comprar a passagem.

 

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Há 20 anos, fogo consumiu o aeroporto Santos Dumont e fechou ponte aérea https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/13/ha-20-anos-fogo-consumiu-o-aeroporto-santos-dumont-e-fechou-ponte-aerea/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/13/ha-20-anos-fogo-consumiu-o-aeroporto-santos-dumont-e-fechou-ponte-aerea/#respond Tue, 13 Feb 2018 07:00:11 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/Sem-título-4-150x150.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=7757 Quem vê hoje o aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio de Janeiro, nem imagina que ele já foi destruído por um incêndio de grandes proporções.

À época quarto maior aeroporto do Brasil –hoje está entre os dez maiores do país, com mais de 8 milhões de passageiros por ano– e base para a ponte aérea Rio-São Paulo, o Santos Dumont começou a pegar fogo entre 1h30 e 2h do dia 13 de fevereiro de 1998.

Mesmo com 150 bombeiros no local, o fogo só pôde ser controlado às 9h30.

Mesmo com dois terços do prédio atingidos, não houve vítimas –18 pessoas foram retiradas das instalações do local, mas só uma com ferimentos leves. Já as perdas financeiras chegaram a R$ 50 milhões –o seguro do local, conforme a Folha apurou, cobria R$ 6,78 milhões.

Dois fatores retardaram a contenção do fogo e provocaram trocas de acusações nos dias que seguiram ao incêndio.

Primeiro, hidrantes da praça Salgado Filho, em frente ao aeroporto, estavam sem água. Os bombeiros tiveram que bombear o líquido de um lago ornamental na praça –tentaram até pegar água do mar– e ainda constataram que o prédio não tinha aparelhagem adequada para combater as chamas e que sua infraestrutura ajudou a propagar o fogo. Para piorar, a equipe tinha até algumas mangueiras furadas e uma escada que apresentou falhas.

Bombeiros tentam apagar fogo no aeroporto Santos Dumont (Foto: Patrícia Santos – 13.fev.1998)

O segundo fator remete ao alerta de incêndio –houve demora a ser feito. A administração do aeroporto informou que o incêndio começou às 2h. O Corpo de Bombeiros informou que foi acionado às 2h08 e chegou ao local cinco depois. A essa altura, porém, o fogo já se alastrara.

Entre as perdas estavam documentações referentes a processos e investigações em andamento no Departamento de Aviação Civil –o órgão informou que tudo poderia ser recuperado porque os arquivos estavam em computadores.

Inaugurado nos anos 30, durante o governo Getúlio Vargas, o aeroporto preservava até aquele momento mármores, xícaras, painéis e pilotis que, de acordo com reportagem da Folha de 15 de fevereiro de 1998, eram digitais de um Brasil que estava ficando para trás.

À época, Jorge Henrique Dumont Dodsworth, sobrinho-neto de Santos Dumont e então com 71 anos, disse ser “curioso” que o aeroporto Santos Dumont tenha pegado fogo numa sexta-feira 13 de 1998. “O tio Alberto iria com certeza achar que o dia era de azar.”

O aeroporto completamente destruído após incêndio (Foto: Publius Vergilius – 13.fev.1998/Folhapress)

Ele lembrou, porém, que o azar não foi de todo, já que o painel com o retrato de Santos Dumont, na entrada do aeroporto, ficou intacto.

Uma investigação foi aberta. Só que 45 dias depois, conforme informou Luiz Caversan na Folha em 1º de abril de 1998, o instituto de criminalística do Rio apontou que não dava para concluir quais foram as causas do incêndio. E, devido ao veto da Infraero em instalar um terminal provisório no Santos Dumont, isso estava custando caro para os cerca de 4.968 passageiros que diariamente desciam no aeroporto do Galeão, que desembolsam cerca de R$ 40 a mais de táxi.

A ponte aérea foi restabelecida no Santos Dumont somente em 15 de agosto de 1998, com mudanças, já que Varig deixou o pool formado por Vasp e Transbrasil, para operar na rota aérea de Rio a São Paulo. À época a viagem custava R$ 79, pela TAM, e R$ 115, pela Vasp/Transbrasil e Varig/Rio Sul.

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Há 30 anos, desastre nas Filipinas superou Titanic https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/12/20/ha-30-anos-desastre-nas-filipinas-superou-titanic/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/12/20/ha-30-anos-desastre-nas-filipinas-superou-titanic/#respond Wed, 20 Dec 2017 07:00:53 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Dona-Paz-4-167x180.png http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=6794

O Titanic pode ser considerado o mais famoso naufrágio da história da navegação mundial, só que a colisão com o iceberg, que matou 1.503 pessoas em 1912, fica atrás da tragédia provocada pelo choque entre o barco de passageiros MV Doña Paz e o navio petroleiro MT Vector, que completa 30 anos.

O acidente, registrado nas Filipinas no dia 20 de dezembro de 1987, é até hoje a maior catástrofe marítima após a Segunda Guerra Mundial, com número estimado de 4.375 mortos, segundo a Folha e emissoras de TV locais.

Cartaz do documentário “Asia’s Titanic”, do National Geographic Channel, sobre o acidente marítimo de 1987

A cinco dias do Natal, o Doña Paz, que tinha capacidade para 1.580 passageiros, transportava mais de 4.000 pessoas que iam do porto de Tacloban, na ilha de Leyte, para a capital filipina Manila.

A viagem começou na manhã de domingo de 20 de dezembro e chegaria ao seu destino no dia seguinte.

O documentário “Asia’s Titanic” (2009), da National Geographic Channel, trouxe depoimentos de sobreviventes, que relataram a superlotação, o que provocou, por exemplo, caos até na hora das refeições.

O sobrevivente Salvador Bascal, então com 44 anos, cuja filha Aludia foi a única mulher resgatada, afirma que os passageiros dormiam no deck e nos corredores e chegavam a brigar por lugares no chão. “Nós fomos como baratas ou formigas”, conta Aludia no documentário. Ela tinha 18 anos na época, sofreu queimaduras e perdeu a visão do olho direito.

Três dos 26 sobreviventes resgatados pelo barco Don Carlos, com queimadura nos rostos, chegam a hospital em Manilla

O acidente ocorreu por volta das 22h, a 170 km de Manila, no estreito entre as ilhas de Mindoro e Luzon, quando o petroleiro Vector se chocou contra a lateral do Doña Paz. A maioria dos passageiros dormia no momento da batida.

Infográfico publicado pela Folha em 22 de dezembro de 1987, com o local de acidente entre o Doña Paz e o Vector

O Vector, que tinha 13 tripulantes, transportava 8.800 litros de óleo diesel, querosene e gasolina.

Com a colisão, houve uma forte explosão, com o material inflamável se espalhando pela água e a fumaça e as chamas invadindo o Doña Paz.

“Eu estava na cozinha. Quando vi o fogo, joguei-me na água através de uma janelinha. Segundos depois, as chamas engoliram a cozinha. O barco explodiu, depois rodopiou duas vezes e afundou devagar”, afirmou Arnel Garlang, então com 18 anos.

Ele foi um dos 27 sobreviventes do maior acidente da navegação marítima.

Além da superlotação, de não existirem barcos ou botes salva-vidas e de a região ser infestada por tubarões, as primeiras equipes de resgate chegaram ao local do acidente somente oito horas depois do acontecido.

O barco Don Carlos, o primeiro a chegar, foi responsável pelo resgate de 26 sobreviventes (24 do Doña e 2 do Vector). Cerca de outras dez embarcações realizaram buscas no local, cuja profundidade é de 530 metros, mas nada encontraram.  “Logo depois da explosão, as águas estavam cobertas com mais corpos, entre adultos e crianças, do que as equipes de resgate podiam dar conta”, afirmou o sobrevivente Renato Asistorga, então com 19 anos. Ele viajava com nove membros da família –oito deles desapareceram. Segundo o sobrevivente,  a água do mar tinha gosto de gasolina.

O resgate de um menino de cinco anos –o estado de saúde dele era crítico– no dia 22 de dezembro, quase dois dias após o acidente, reascendeu a chama da esperança de encontrar mais sobreviventes e foi considerado como “presente de Natal”. No entanto mais ninguém foi encontrado com vida.

Devido à falta de registro de nome de todos os passageiros do Doña Paz, o número de mortes não é preciso. As estimativas oscilam sempre entre 4.340 e 4.390 mortos. Os números das TVs e jornais locais chegam a ser mais confiáveis pelo fato dos veículos acompanharem, nos dias seguintes ao desastre, o encontro dos corpos, resgatados por pescadores, e o relato das pessoas que tinham parentes nas embarcações.

A empresa responsável pelo Doña Paz, a Sulpicio Lines, negou que o barco estivesse superlotado. Alegou que a bordo estavam 1.586 pessoas.

Após o acidente, foi divulgado que o capitão e dois oficiais tinham deixado o comando do barco, construído em 1963, em Hiroshima (Japão), sob responsabilidade de um aprendiz –e que, no momento do acidente, o capitão assistia a um vídeo em sua cabine e os oficiais bebiam cerveja fora de seus postos de trabalho. Assim como foi informado que a tripulação do Vector não tinha qualificação para guiar o petroleiro e navegava sem licença.

Filipinos procuram pelo nome de parentes em lista de passageiros do barco Doña Paz

No dia 26 de dezembro, a Folha informou que quase mil pessoas se reuniram em Manila para protestar contra as autoridades e criar uma lista própria de passageiros do Doña Paz.

Neste dia, foi divulgado que seria impossível resgatar todos os cadáveres, já que muitos foram carbonizados e/ou comidos por animais marinhos. Outra dificuldade, também, foi que pescadores, com medo de doenças, começaram a enterrar na areia da praia partes de corpos encontrados no mar. Restos mortais resgatados foram levados para o estádio Rizal Coliseum, na capital das Filipinas, a fim de serem identificados.

As autoridades portuárias concluíram no dia 29 de dezembro de 1987 que o sistema de radar do barco Doña Paz apresentava falhas no momento do acidente. As investigações concluíram que houve negligência por parte dos órgãos que regulavam a navegação marítima nas Filipinas, permitindo que uma embarcação partisse em viagem com excesso de passageiros e sem itens de segurança. E que também houve culpa por parte do Vector.

Após o acidente, a Sulpicio Lines trocou de nome, mas ainda assim esteve ligada a outros acidentes marítimos no país.

Em 2017, nos EUA, uma ação contra a Caltex Internacional, responsável pelo combustível do Vector, conforme informou o “BusinessMirror“,  indenizou cada família com vítima no acidente com a quantia de US$ 4.343 (cerca de R$ 14.300).

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