Acervo Folha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br No jornal, na internet e na história Fri, 19 Feb 2021 13:40:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Roubo da taça Jules Rimet na sede da CBF completa 35 anos https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/19/roubo-da-taca-jules-rimet-na-sede-da-cbf-completa-35-anos/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/19/roubo-da-taca-jules-rimet-na-sede-da-cbf-completa-35-anos/#respond Wed, 19 Dec 2018 09:00:31 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/Jules-Rimet_tratada-e1545169162859-247x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10680 Em 1983, cerca de 13 anos depois de ter ajudado a seleção brasileira a ganhar a Copa do México, o ex-volante Clodoaldo tomou um susto em uma manhã ao ler a notícia bombástica no jornal: a taça Jules Rimet foi roubada da sede da CBF, no Rio de Janeiro.

“Fiquei espantado na hora. É uma coisa absurda e inexplicável. Aquela taça representava muito para o Brasil e para todos os que gostam de futebol”, disse o ex-jogador para a reportagem do Banco de Dados Folha.

A taça Jules Rimet foi conquistada, em definitivo, pela seleção no dia 21 de junho de 1970, com a goleada de 4 a 1 sobre a Itália na final do Mundial, no estádio Azteca, na Cidade do México.

Conforme as regras da Fifa, a primeira equipe que vencesse a Copa três vezes ficaria com o troféu. E o Brasil já havia triunfado em 1958 e 1962.

“Quando fomos campeões, a taça passou pelas mãos dos jogadores em campo. Foi muito emocionante quando a segurei. Em um momento como aquele, a gente nem repara direito [nos detalhes da taça]. Mas a Jules Rimet, realmente, era linda”, relatou.

Clodoaldo, em 1970 – Folhapress

Nesta quarta-feira (19), o sumiço do troféu completa 35 anos. O seu paradeiro é ainda um mistério, mas a versão mais difundida é a de que ela foi derretida.

“Duas datas ficaram marcadas. Uma alegre, do dia da conquista do Brasil no México, e a outra triste, do dia do roubo”, declarou Clodoaldo.

A taça tinha 35 centímetros de altura, pesava aproximadamente 3,8 quilos e representava a deusa grega da vitória. Era feita de prata, coberta com ouro, e era fixada em uma base de pedra semipreciosa. Também havia placas de ouro com os nomes dos países campeões.

A primeira Copa foi realizada em 1930, e os jogadores do Uruguai, país que sediou o Mundial, foram os vencedores, recebendo o troféu.

Em 1934, a taça passou para as mãos dos italianos, campeões da Copa em seu país. A Itália voltou a repetir o feito em 1938, quando conquistou o torneio na França.

Por causa da Segunda Guerra, a competição não foi realizada nos anos 40.

De acordo com a Fifa, durante o conflito o precioso troféu chegou a ficar escondido dentro de uma caixa de sapatos, em baixo da cama do então vice-presidente da entidade, o italiano Ottorino Barassi. A intenção do cartola foi impedir que a taça fosse tomada pelos soldados que ocupavam o seu país.

Depois da guerra, a Fifa decidiu batizar o troféu com o nome de Jules Rimet, em homenagem ao dirigente idealizador da Copa. O torneio voltou a ser realizado em 1950 no Brasil.

A base da taça foi trocada em 1954, por precisar de mais espaço para gravar os nomes dos times campeões. Uma nova parte, maior, foi colocada como suporte.

Base original da taça com placa do título do Uruguai em 1950 (Foto: Fábio Aleixo)

Furto em Londres

Em 1966, a Copa seria disputada na Inglaterra, e a Fifa autorizou que taça ficasse exposta em um evento em Londres.

A taça deveria permanecer em uma caixa de vidro fechada e ficar sob vigilância o tempo inteiro. Mas não foi isso o que ocorreu. No dia 20 de março daquele ano, no período em que a exposição estava fechada, alguém entrou pelas portas dos fundos e furtou a Jules Rimet.

Não foram os agentes da famosa Scotland Yard (polícia metropolitana de Londres) quem encontraram o troféu, mas, sim, o cachorro Pickles e o seu dono David Corbett.

O animal começou a farejar um pacote diferente (um objeto estava revestido por jornais e amarrado por barbantes) perto da roda de um carro.

Corbett disse que inicialmente pensou que fosse uma bomba, mas que ficou tomado pela curiosidade. Foi assim que a taça foi encontrada.

“Eu rasquei [o pacote] um pouco em baixo e havia um disco simples. Então, rasguei em volta e lá estava escrito Brasil, Alemanha, Uruguai [nomes dos países campeões grafados no troféu]”, afirmou Corbett para o site da Fifa.

No dia 30 de julho de 1966, o objeto achado por Pickles seria erguido pelo capitão da seleção inglesa, Bobby Moore, após a vitória sobre a Alemanha na final do Mundial.

Brasil

A última Copa com a Jules Rimet foi a de 1970 no México, quando Clodoaldo, Gérson, Pelé e seus companheiros brilharam. Com o tricampeoanto brasileiro, esse troféu foi entregue para a CBF e um novo foi criado para o Mundial seguinte.

Diferentemente da primeira taça, o novo troféu, chamado de Copa do Mundo Fifa, não fica, em definitivo, com nenhuma seleção. Muda de posse, sempre quando surge um novo campeão.

A taça Jules Rimet foi roubada no dia 19 de dezembro de 1983 no prédio da CBF, que ficava rua da Alfândega, no Rio de Janeiro.

Segundo relatos, ela ficava exposta na sala de reuniões, no nono andar do prédio, em uma vitrine de vidro que seria a prova de bala. Só que esse vidro estava instalado em uma moldura de madeira, podendo ser arrombado.

Já a réplica desse troféu, que também continha ouro e era usada para substituir a original em viagens, estava guardada em um cofre de aço.

Para invadir o prédio, os ladrões renderam um vigia.

A edição da Folha de 21 de dezembro de 1983 informou que os policiais consideraram precárias a segurança da vitrine em que estavam a Jules Rimet e os outros três troféus roubados na ação.

O então presidente da CBF, Giuliete Coutinho, rebateu e disse que precária era a segurança oferecida pela polícia aos cidadãos.

“O serviço de segurança que eles oferecem é praticamente mínimo, e agora vêm nos criticar. A taça Jules Rimet estava onde sempre esteve desde que foi conquistada pelo Brasil em 1970”, disse o dirigente, na época.

Segundo o presidente da CBF, a taça estava segurada em aproximadamente Cr$ 30 milhões (R$ 375 mil), pois era esse o valor correspondente à parte em ouro (1,8 kg).

Em 12 de maio de 1988, a Folha divulgou que a Justiça condenou a nove anos de prisão Sérgio Pereira Ayres (conhecido como Sérgio Peralta), José Luiz Vieira da Silva (Luiz Bigode) e Francisco José Rocha Rivera (Chico Barbudo), acusados de terem roubado a Jules Rimet. Já Juan Carlos Hernandes pegou a pena de três anos de prisão como receptor.

Conforme texto publicado na Ilustríssima em 25 de maio de 2014, assinado por Anélio Barreto,  Peralta foi preso em 1994 e ganhou liberdade condicional quatro anos depois. Chico Barbudo morreu assassinado em 1989. Luiz Bigode foi capturado em 1995 e ganhou liberdade condicional após três anos. Já Hernandes foi preso em 1998, mas por tráfico de drogas, e não por causa do roubo na CBF.

Reportagem sobre o roubo da Jules Rimet publicada na Folha – 21.dez.1968/Reprodução

 

 

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Tite rompe tabu ao ser o 1º técnico mantido na seleção para mais 4 anos após queda em Copa https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/26/tite-rompe-tabu-ao-ser-o-1o-mantido-na-selecao-do-brasil-apos-fracasso-em-copa/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/26/tite-rompe-tabu-ao-ser-o-1o-mantido-na-selecao-do-brasil-apos-fracasso-em-copa/#respond Thu, 26 Jul 2018 09:00:42 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/tite-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10183 Se o contrato de Tite com a CBF não for quebrado até 2022, o treinador realizará um feito ao participar do torneio no Qatar.

Até agora, nenhum técnico da seleção, que saiu como perdedor de uma Copa, continuou no cargo, de forma ininterrupta, até o Mundial seguinte.

Entre os treinadores campeões da Copa do Brasil, somente Zagallo dirigiu direto a equipe em duas Copas seguidas, em 1970 e em 1974.

Nem Telê Santana com o futebol-arte em 1982 permaneceu como técnico do Brasil.  Ele também participou do Mundial de 1986, mas, no período entre os dois torneios, ele dirigiu um time na Arábia Saudita.

Antes de desligar-se da CBF, em 29 de setembro de 1982, Telê havia reclamado, em uma entrevista para a TV Cultura, de críticas e pressões que um técnico disposto a trabalhar honestamente na seleção costumava sofrer.

Quando pediu demissão, ele negou que os responsáveis pela pressão tenham sido os dirigentes da seleção brasileira.

“Expliquei que minhas declarações não se relacionavam com os homens responsáveis pela direção da confederação. Mas confirmei minhas declarações e as mantenho, pois realmente considero muito difícil ser técnico da seleção quando se quer trabalhar honestamente”, disse, em reportagem da Folha.

“Só que essa dificuldade vem de fora, pois as pressões são muitas e as incompreensões também. Um trabalho sério não pode sofrer a quantidade de críticas e pressões pelas quais passei”, continuou.

Depois da derrota para a Itália por 3 a 2, no estádio Sarriá, na Copa da Espanha, o treinador sofreu muitas críticas como, por exemplo, não ter reforçado o meio de campo, pois bastaria um empate para o time passar de fase.

 

O contrato de Telê acabava no 31 de dezembro de 1982, mas ele decidiu antecipá-lo depois ter assumido um compromisso verbal com os dirigentes do Al Ahli, clube da Arábia Saudita.

“Como o presidente Giuliete Coutinho [ da CBF] e o diretor Medrado Dias já tinham se manifestado dispostos a aceitar meu pedido de demissão, resolvi fazê-lo e antecipar uma decisão que, praticamente, teria de tomar em dezembro”, afirmou.

Depois de sua saída, os técnicos Carlos Alberto Parreira, Edu Antunes e Evaristo de Macedo passaram pelo comando a equipe.

Mas, no dia 23 de maio de 1985, o nome de Telê voltou a ser anunciado como técnico do Brasil.

Campeão em 1970,  Zagallo comanda Brasil em 1974

Esse ciclo começou há poucos meses da Copa do México. No dia 18 de março de 1970, Zagallo assumiu o cargo após a queda de João Saldanha.

Em uma de suas primeiras entrevistas, o treinador afirmou que não escalaria Pelé e Tostão juntos. “Dentro do meu esquema, eles são incompatíveis”, declarou, conforme publicou Folha.

“Para o meu sistema, eles não dariam certo jogando juntos. É uma opinião pessoal, mas como técnico da equipe, tenho o direito de pensar e escolher um caminho. Outros podem não ser da mesma opinião, coisa que eu respeito. Mas a decisão cabe a mim e está tomada.”

No entanto, o treinador mudou de ideia, arrumou um sistema para os dois atuarem juntos, com Tostão mais avançado no ataque, e o Brasil conquistou o tricampeonato no México.

Já no Mundial-1974, a seleção ficou em quarto lugar, e Zagalo foi muito questionado. Uma das críticas era ter escalado Ademir da Guia somente na decisão pelo terceiro lugar.

“Se o Brasil tivesse vencido, apesar de continuar jogando o mesmo futebol e fazendo tudo igual, seríamos os melhores do mundo, gênios e deuses. Todos nós da seleção”, afirmou o treinador quando o Mundial acabou.

Sem o título, a dança de cadeira entre os treinadores voltou na seleção. O próximo a comandar a equipe nacional foi  Oswaldo Brandão.

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1998: Após França vencer Copa, Zidane revelou que Platini ligava para dar conselhos; leia entrevista https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/13/1998-apos-franca-vencer-copa-zidane-revelou-que-platini-ligava-para-dar-conselhos-leia-entrevista/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/13/1998-apos-franca-vencer-copa-zidane-revelou-que-platini-ligava-para-dar-conselhos-leia-entrevista/#respond Fri, 13 Jul 2018 09:30:56 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Zidane-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10099 Depois de levar a França ao inédito título mundial, o então meia Zinedine Zidane afirmou em 1998, em entrevista exclusiva para a Folha, ter recebidos conselhos do ex-jogador Michel Platini, que era até então o nome mais badalado do futebol francês.

A entrevista, dada para o jornalista João Carlos Assumpção, foi publicada em 16 de agosto de 1998.

Platini participou de três Copas, foi campeão da Eurocopa-84 e ganhou três Bolas de Ouro (prêmio concedido pela revista France Football ao destaque de cada ano).

No Mundial disputado na França, o ex-meio-campista exerceu o cargo de presidente do Comitê Organizador da Copa.

Zidane disse que mantinha uma boa relação com Platini e que, mesmo depois do título, não se via superando o ex-jogador no coração dos franceses.

“No coração da torcida, não só eu, mas todo o grupo que ganhou a Copa e o técnico Aimé Jacquet, que soube como poucos aguentar uma pressão monstruosa, estaremos para sempre”, afirmou.

“Mas superar Platini é uma coisa que mesmo nós, campeões mundiais, não podemos fazer. Ele foi uma marca, um grande jogador e um bom amigo, que me telefonava de vez em quando, dava conselhos e torceu muito por nós”, continuou.

A França havia vencido o Brasil por 3 a 0, no Stade de France, em Saint-Denis, no dia 12 de julho.

Essa final ficou marcada para os brasileiros pelo mal-estar vivido pelo atacante Ronaldo ter passado mal antes do jogo e mesmo assim ter entrado em campo.

Segundo o Zidane, ter vencido o Brasil na final da competição, disputada em casa, foi algo muito especial.

“Melhor do que um sonho. Melhor do que um sonho, porque é uma realidade. Eu entrei com muita vontade de representar com dignidade o futebol francês, de motivar os torcedores. E o resultado foi melhor do que poderíamos imaginar, foi como um sonho. Enfrentar o Brasil na final era o que todo o francês sonhava. Vencer, então, nem se fala.”

2018

Na Copa-2018, o treinador da equipe francesa é Didier Deschamps, capitão do time campeão de 1998.

Com a saída de Zidane do comando do Real Madrid no fim de março, o nome do ex-meia chegou a ser cogitado para substituir Deschamps quando terminasse o Mundial da Rússia, apesar de o contrato do atual técnico com a seleção francesa ser válido até 2020.

Para acabar com os rumores, a federação francesa veio a público sinalizar que não mudará de técnico.

Enquanto isso, Zidane curte seu tempo livre.

No dia 12 de julho, quatro dias antes a estreia vitoriosa da França sobre a Austrália por 2 a 1, ele participou, com outros ex-atletas, de um jogo comemorativo para celebrar os 20 anos do título mundial.

Depois disso, o ex-técnico do Real Madrid publicou no dia 2 de julho, em sua rede social, uma foto mostrando suas férias em Ibiza, na Espanha.

Estava bem distante do estádio de Kazan, na Rússia, onde a seleção do seu país havia derrotado a Argentina por 4 a 3, em um dos melhores jogos da Copa, no último dia 30 de junho.

Leia abaixo a íntegra da entrevista dada por Zidane, com a grafia original.

16.ago.1998

Campeão, Zidane exige reconhecimento

João Carlos Assumpção

Carrasco do Brasil ele não foi, porque os carrascos da seleção talvez ainda possam ser encontrados dentro da equipe comandada por Zagallo, seja entre os jogadores, a comissão técnica ou os dirigentes que estiveram na França.

De qualquer forma, autor dos dois primeiros gols da decisão da Copa-98, ele ficou sendo, para os franceses, a personificação do herói nacional.

Ainda sem esconder a euforia pela conquista do Mundial, Zinedine Zidane, 26, ou simplesmente ”Zizou”, lamenta apenas o que chama de tentativa de tirar os méritos do título francês.

Para ele, o ”episódio Ronaldinho” colocou a equipe de Aimé Jacquet numa situação semelhante à vivida por Carlos Alberto Parreira, que ganhou o Mundial em campo, mas até hoje tem que ”justificar” a vitória, fora dele.

Em entrevista à Folha, por telefone, Zidane comentou a Copa, analisou a derrota brasileira, falou sobre a importância do título para o futebol francês e de seu futuro.

Folha – A Copa começou mal para você. Uma expulsão na primeira fase, dois jogos de suspensão, mas, no final, a volta por cima, principalmente os dois gols contra o Brasil, o título… Como está sendo para você viver estes momentos pós-Mundial? Parece um sonho?

Zinedine Zidane – Melhor do que um sonho. Melhor do que um sonho, porque é uma realidade. Eu entrei com muita vontade de representar com dignidade o futebol francês, de motivar os torcedores.

E o resultado foi melhor do que poderíamos imaginar, foi como um sonho. Enfrentar o Brasil na final era o que todo o francês sonhava. Vencer, então, nem se fala.

Folha – Mas a final foi sem graça, você não acha?

Zidane – É claro que o futebol fica mais bonito quando nosso time vence, mas quando perde, pode perder de pé. E não foi o que aconteceu com o Brasil, que não ofereceu a menor resistência. Para um torcedor neutro, nem brasileiro, nem francês, não houve espetáculo, foi um jogo de um time só…

Aí é que está o erro de muitas das análises que vi na imprensa mundial. O Brasil tinha certeza de que venceria e não venceu. E o mundo todo achava que os brasileiros ganhariam. Até muitos franceses.

Como não foi o que aconteceu, ficou todo mundo procurando explicações para o resultado na seleção brasileira, quando poderiam estar procurando explicações entre os franceses.

Nós optamos pela tática certa, exploramos deficiências do Brasil nas bolas altas, paramos o Roberto Carlos, dominamos o meio-campo e jogamos com muita garra…

Folha – O Brasil, então, menosprezou os franceses?

Zidane – Isto não sei dizer. O que sei é que vimos, pela TV, o senhor Zagallo dizer que o Brasil ganharia, que a França sentiria a pressão da torcida por jogar em casa, mas nós sabíamos que não era exatamente assim.

Na final, pelas próprias declarações dos brasileiros, a pressão e a obrigação de vencer estavam com vocês, não conosco.

Folha – A França, então, não sentiu a pressão de jogar em casa?

Zidane – Sentiu, mas não na final. Este foi o erro da comissão técnica do Brasil. Sentimos a pressão nas oitavas-de-final, contra o Paraguai, e nas quartas-de-final, contra a Itália. Porque nossa obrigação era chegar entre os quatro.

Tínhamos que vencer o Paraguai, e quase não conseguimos, e depois a Itália, quando acabamos indo para os pênaltis. Contra a Croácia e contra o Brasil, não havia mais pressão, porque já estávamos entre os quatro melhores. Jogamos muito mais relaxados.

Folha – E o caso Ronaldinho, que teve uma crise nervosa… O que você acha que aconteceu?

Zidane – Não sei, não estava lá, não acompanhei o caso. A única coisa que acho é que nós, franceses, não temos nada que ver com isso. Nós estávamos concentrados para o jogo, respeitamos o Brasil, entramos cautelosos, dispostos a enfrentá-los da maneira que nosso treinador achava a melhor e deu certo. Isto é o que importa.

Se começarmos a procurar explicações para o resultado entre os brasileiros, não chegaremos a lugar algum e estaremos nos esquecendo de nossos méritos.

É o mesmo que aconteceu com vocês em 94. Vi uma entrevista do ex-treinador brasileiro (Carlos Alberto Parreira) em que ele lamentava que tinha de explicar o porquê de ter ganho a Copa. Jogou com as regras, foi o time com melhor campanha, não perdeu um jogo, não tinha que ficar se justificando.

Conosco é a mesma coisa. Tivemos o melhor ataque do torneio, a melhor defesa, terminamos invictos, ganhamos de 3 a 0 na final, fizemos o maior número de pontos, merecemos o título…

Vocês, brasileiros, são fantásticos, têm um futebol maravilhoso, mas tiveram duas derrotas na Copa. Acontece.

Fomos obstinados, um grupo fechado, unido, isto é importante. Ganhamos e não temos que pedir desculpas, porque foi de acordo com a regra. Isto é o futebol.

Folha – A Copa-98 foi considerada a melhor dos anos 90. Fora do campo, porém, em termos de organização, perdeu feio para a de 94. Qual é o seu balanço?

Zidane – É difícil falar do ponto de vista da organização fora do campo, porque nós, os jogadores, estávamos muito concentrados nas nossas partidas, não pensávamos em outras coisas.

No campo, acho que o nível técnico melhorou, alguns jogos foram emocionantes, mas houve o problema da arbitragem, que não teve um critério. Eu mesmo peguei dois jogos de suspensão, o que achei um pouco exagerado. Mas pelo menos a Fifa tentou corrigir as falhas durante o torneio.

Para o futebol, o fato de a França ter vencido foi importante. Motiva mais o esporte a entrada de um sétimo país como campeão mundial.

Folha – Qual foi o jogo mais difícil para a França?

Zidane – O contra o Paraguai. Se não tivéssemos marcado na morte súbita, seriam eles os favoritos nos pênaltis, não só pelo aspecto psicológico, mas por terem o Chilavert, um goleiro excepcional.

Folha – A França eliminou nos pênaltis a Itália, pelas quartas-de-final. Há algum receio em retornar ao futebol italiano?

Zidane – Não, pelo contrário, muito pelo contrário mesmo. Apesar de ter carinho pelos italianos, não só eu, mas outros jogadores franceses, como o Deschamps, entramos motivados, porque é uma maneira de mostrar que eles fizeram bem em nos contratar.

Folha – Então é uma forma de vocês voltarem por cima?

Zidane – Sim, mas é bom lembrar que nossa experiência no futebol italiano foi decisiva para que tivéssemos sucesso no Mundial.

Aprendemos na Itália a lidar melhor com a pressão. Como me disse Michel Platini certa vez, a relação entre jogadores e imprensa na Itália parece um jogo, uma guerra constante que ensina muitas lições, que faz os atletas crescerem.

Folha – E já que você citou o Platini, antes da Copa você era citado como seu provável sucessor no futebol francês. Agora, com um título que ele nunca teve, já o superou no coração da torcida?

Zidane – No coração da torcida, não só eu, mas todo o grupo que ganhou a Copa e o técnico Aimé Jacquet, que soube como poucos aguentar uma pressão monstruosa, estaremos para sempre.

Mas superar Platini é uma coisa que mesmo nós, campeões mundiais, não podemos fazer. Ele foi uma marca, um grande jogador e um bom amigo, que me telefonava de vez em quando, dava conselhos e torceu muito por nós.

O que espero é ter o mesmo sucesso na Juventus (Itália). Lá ele se transformou num mito.

Estou apenas engatinhando. Tive um começo difícil, mas já estou acostumado e pronto a apresentar meu melhor futebol. Vamos ver se nesta temporada eu tenho a mesma sorte que tive no Mundial.

Pelo menos é o que desejo, porque acomodar… Acomodar é uma coisa que você não deve fazer nunca, certo?

 

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2013: Diego Costa jogou 40 minutos pela seleção brasileira https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/01/2013-diego-costa-jogou-40-minutos-pela-selecao-brasileira/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/01/2013-diego-costa-jogou-40-minutos-pela-selecao-brasileira/#respond Sun, 01 Jul 2018 09:00:16 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Diego-Costa-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9888 Um dos principais nomes da Espanha na Copa-2018, o atacante Diego Costa atuou pela seleção brasileira por 40 minutos em dois jogos em março de 2013.

Sem ter grandes chances no time do país onde nasceu, o jogador preferiu passar a defender a equipe espanhola sete meses depois de ter vestido a camisa verde-amarela.

 A Fifa autorizou a mudança porque as duas partidas disputadas pelo Brasil eram apenas amistosas, e não de torneios oficiais da entidade.

Foi na Espanha que Diego Costa fez a maior parte de sua carreira. Nascido em Lagarto (SE), ele jogou no Brasil pelo Barcelona Esportivo de Capela, na quarta divisão de São Paulo, antes de partir aos 17 anos para a Europa, em 2006.

Passou pelos clubes portugueses Penafiel e Sporting Braga e os espanhóis Celta de Vigo, Albacete, Valladolid, Rayo Vallecano e Atlético de Madrid até ser chamado pelo técnico Luiz Felipe Scolari para defender a seleção brasileira.

A convocação foi anunciada no dia 5 de março de 2013 para enfrentar a Itália e a Rússia em amistosos de preparação para a Copa das Confederações.

“É um atleta que merece essa oportunidade para que a gente possa observá-lo. Ele tem características que são importantes. É forte e sabe se posicionar”, disse Scolari depois de ter anunciado a lista dos jogadores.

O primeiro jogo foi contra os italianos, no dia 21 de março, em Genebra, na Suíça, e Diego ficou entre os reservas. Aos 23 minutos do segundo tempo, chegou a hora da estreia.

Entrou na vaga do centroavante Fred, quando o placar marcava 2 a 2, resultado que persistiu até o apito final. Como a partida teve três minutos de acréscimos, ele ficou em campo por 25 minutos.

Diego também começou no banco o amistoso contra a Rússia, em Londres, na Inglaterra, no dia 25 de março. Só foi a campo aos 33 minutos da etapa final em substituição a Kaká.

Atuou por 15 minutos (a partida terminou só aos 48). O Brasil, que perdia por 1 a 0, reagiu e empatou o duelo aos 44, com gol de Fred.

Em julho daquele ano, o Atlético de Madrid divulgou que Diego obteve a cidadania espanhola, liberando a vaga de jogador extracomunitário no clube. Cada clube na Espanha pode escalar apenas três atletas de países fora da União Europeia.

Clique na foto e veja a edição da Folha de 30 de outubro de 2013

Com o passaporte espanhol, ele, que ficou fora da Copa das Confederações, também passou a ter a possibilidade de trocar de seleção.

Ao blog da Folha Por Dentro da Seleção, assinado pela jornalista Martín Fernandez, o atleta mostrou que não estava satisfeito com as poucas oportunidades dadas por Scolari.

“Eu acho que o Felipão já me testou. Ele não me levou para a Copa das Confederações”, disse Diego, em setembro de 2013.

O treinador brasileiro chegou a convocá-lo mais uma vez, por antecipação, para duas partidas amistosas que seriam disputadas em novembro daquele ano. Porém o atleta não aceitou o chamado e optou por defender a Espanha.

Scolari não gostou nada da decisão. “Ele está dando as costas para um sonho de milhões, o de representar a nossa seleção pentacampeã em uma Copa do Mundo no Brasil”, declarou, em nota publicada no site da CBF  após a recusa.

Depois da repercussão, o jogador negou que tenha rejeitado o seu país de origem e apontou que sua decisão foi essencialmente “futebolística”.

“Aqui [na Espanha] fiz minha carreira. Tudo o que sou eu devo a este país. Tenho familiares no Brasil, é onde eu nasci e onde eu vou viver quando deixar de jogar futebol. Espero que as pessoas entendam e respeitem.”

O centroavante ganhou na época o apoio público de Pelé. “Foi bonita atitude do Diego Costa. Ele tinha uma posição e assumiu isso”, afirmou o tricampeão mundial, durante um evento em São Paulo.

A trajetória do sergipano na seleção espanhola começou com vitória de 1 a 0 sobre a Itália, em um amistoso, em Madri, no 5 de março de 2014.

Campeã mundial de 2010, a Espanha chegou badalada para a Copa no Brasil. Mas Diego e seus companheiros decepcionaram, e a equipe caiu eliminada, logo na primeira fase. Na Rússia-2018, o centroavante teve mais uma chance de disputar um Mundial.

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Zico chega aos 65 anos com aventuras de Quintino ao Iraque para contar https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/03/03/zico-chega-aos-65-anos-com-aventuras-de-quintino-ao-iraque-para-contar/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/03/03/zico-chega-aos-65-anos-com-aventuras-de-quintino-ao-iraque-para-contar/#respond Sat, 03 Mar 2018 15:00:27 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/Zico-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=8254 Atuar pelo Flamengo em mais 700 jogos. Liderar em campo a seleção brasileira da Copa de 1982. Retomar a carreira como jogador,  aos 38 anos, para tentar popularizar o futebol no Japão. Virar treinador do Iraque, mesmo com os graves problemas de segurança no país.

Essas foram algumas das aventuras que Arthur Antunes Coimbra, o Zico, encarou ao longo dos seus 65 anos, completados neste sábado (3 de março).

Nascido em Quintino, na zona norte do Rio de Janeiro, ele recebeu ainda criança o apelido de “galinho”. O motivo era que ele comemorava os gols do time do irmão Antunes gritando “có-có-ri-có”.

Suas peripécias no futebol ganharam destaque nas categorias de base do Flamengo. No entanto, seu porte físico, muito franzino, não lhe ajudava.

“Senti que Zico tinha todas as qualidades para ser um craque de gabarito. Mas seu físico era uma tragédia. Decidi então submetê-lo a um tratamento especial para que desenvolvesse maior estrutura óssea e ganhasse mais oxigenação na musculatura”, afirmou o preparador físico Francalacci, em 1976.

Início

Como jogador profissional, a sua estreia foi com apenas 18 anos, em uma vitória sobre o Vasco por 2 a 1.  Ele usou a camisa 9 e jogou como ponta direita.

O sucesso veio rápido. Aos 22 anos, ele já era apontado como ídolo, e o técnico flamenguista Joubert enfatizava que o jovem era disciplinado, obediente taticamente e que não queria receber nenhum privilégio.

“O Zico tem ótimo controle, é inteligente e gosta de treinar. Além dos gols, cria jogada para todo o time”, declarou Joubert, em 1975. Mas ele destacou uma preocupação: “Só tenho uma restrição ao seu estilo. Aceita o jogo duro e machuca-se muito. Tenho recomendado a ele que procure evitar as entradas dos zagueiros”.

Seleção

Após estrear pela seleção brasileira, em 1976, as comparações entre Zico e Pelé aumentaram e, ao voltar ao Rio, depois de enfrentar o Uruguai e a Argentina, fora de casa, o flamenguista teve que responder sobre o assunto ao chegar no aeroporto do Rio.

“Não sou como Pelé. O Negão jamais terá alguém que possa ocupar o seu lugar. O que ele fez pelo futebol do Brasil, jogador nenhum pode conseguir repetir”, afirmou, em 1976.

Zico jogou três Copas do Mundo e perdeu apenas um jogo. Em 1976, a seleção ficou invicta e só não passou para a final por causa do saldo de gols. Em 1982, a equipe mostrou um futebol muito bonito, mas acabou eliminada pela Itália: 3 a 2.  Em 1986, o Brasil empatou com a França no tempo normal por 1 a 1 (Zico desperdiçou um pênalti), mas perdeu na decisão por pênaltis e caiu fora do Mundial.

Para Zico, Copa não era a sua praia. “Ainda encarei outras Copas. Fui coordenador técnico da seleção [em 1998]. Chegamos à final, e o Brasil perdeu [3 a 0 para a França] naquele episódio da convulsão do Ronaldo, que todos conhecem. Ainda fui técnico do Japão em 2006, mas paramos na primeira fase, outra frustração”, disse, em 2014.

Mas o astro foi campeão mundial pelo Flamengo em 1981, ano em que também venceu a Taça Libertadores. Conquistou os títulos de 1980, 1982 e 1983 do Campeonato Brasileiro e o de 1987 de Copa União.

A era Zico no Flamengo chegou a ser interrompida por dois anos. Entre 1983 e 1985, o atleta foi defender a modesta Udinese na Itália. Apesar da curta passagem pelo clube, ele virou ídolo em Udine.

Ele encerrou, pela primeira, vez a sua carreira como jogador profissional em dezembro de 1989. No ano seguinte, assumiu o cargo de secretário nacional de Desportos, no governo Fernando Collor.  Em abril de 1991, pediu demissão.

Pelo mundo 

Ainda em 1991, decidiu voltar aos gramados, mas em um projeto especial. Jogar no time japonês Sumitomo (time que passaria a se chamar Kashima Antlers) para aumentar a exposição do futebol por lá, aumentar a popularidade do esporte e consolidar a liga nacional do país. A missão foi cumprida, e Zico se aposentou, de vez, dos gramados em 1994.

O ex-atleta não se afastou do futebol. Participou da comissão técnica do Brasil, foi diretor do Flamengo e treinou Kashima, Japão,  Fenerbahce (Turquia), Bunyodkor (Uzbequistão), CSKA (Rússia), Olympiakos (Grécia) e outros times.  Até a seleção do Iraque ele aceitou dirigir, mesmo com a falta de estrutura do país e os problemas de segurança.

“Violência tem em todo os lugares do mundo. O que tiver para acontecer não vai ser por eu estar lá no Iraque. Tudo pode acontecer em qualquer lugar”, disse  Zico, antes de assinar o contrato, em 2011.

Outra grande aventura foi tentar em 2015 se candidatar para a presidência da Fifa, depois dos casos de corrupção serem divulgados e da renúncia de Joseph Blatter. No entanto, não conseguiu o apoio necessário de, pelo menos, cinco federações, para se inscrever na eleição.

Mesmo sem ter participado do pleito na Fifa, ele valorizou a experiência e indicou que não considera mais disputar o cargo.

“Não, não, isso acabou. Aquilo foi um momento, foi uma possibilidade, foi bom para mudar algumas estruturas, falar algumas coisas que não eram comentadas pela Fifa, ter espaço na mídia para colocar pontos importantes…”, afirmou, em 2016.

O seu último trabalho como treinador foi pelo FC Goa, da Índia, clube no qual saiu no começo de 2017.  Hoje Zico trabalha como comentarista de TV no Esporte Interativo e também possui um canal no YouTube.

Zico orienta os jogadores do Iraque (Shizuo Kambayashi -11.set.2012/Associated Press)
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Confira uma das entrevistas mais contundentes de João Saldanha, que completaria cem anos hoje https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/07/03/o-rei-esta-nu/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/07/03/o-rei-esta-nu/#respond Mon, 03 Jul 2017 05:00:54 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/SALDANHA-JOÃO-7643-180x137.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=4371 Para lembrar os 100 anos de nascimento do jornalista, comentarista e ex-técnico da seleção brasileira, João Saldanha, responsável pela ida do time brasileiro à Copa de 1970, e demitido antes do início do Mundial, o Blog do Acervo Folha reproduz entrevista publicada em 2 de dezembro de 1979 no extinto suplemento cultural Folhetim, onde o polêmico cronista faz duras críticas à Loteria Esportiva, à ditadura e à relação entre futebol e política.

Nascido em 1917, em Alegrete (RS), João Saldanha morreu em 12 de julho de 1990, aos 73 anos, em Roma (Itália), onde participava da cobertura da Copa do Mundo daquele ano.

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O REI ESTÁ NU

Folhetim, 2 de dezembro de 1979

Como técnico da Seleção Brasileira, o jornalista João Saldanha armou o time que conquistou, em 1970, o tricampeonato mundial. O time era formado, segundo expressão cunhada por ele mesmo, de “onze feras”. De fato, foi a derradeira seleção que permitiu jogadores criativos, dribladores, e um futebol alegre. Foi também a última vitoriosa.

Em entrevista à repórter Izilda Alves, João Saldanha reconhece que somos o país “rei do futebol”, mas ressalva: “o rei está nu”.

Saldanha – A política entrou violentamente no esporte na década de 70. A ditadura que veio, que se abateu sobre o Brasil em 1964, precisava de alguma forma de comunicação de massa. Ela não ia se comunicar com a massa, matando, torturando, prendendo, espancando. Por outro lado, as eleições estavam suspensas – aconteceram eleições, como em 1974, quando por sinal, eles levaram um tremendo banho, crentes que tinham feito um magnífico trabalho de comunicação de massa, através do esporte, através do futebol. Por causa disso, para tentar essa aproximação, deturparam, corromperam, e corrompem até hoje. Está corrompido o futebol, como outros setores e atividades.

Isso aconteceu também no cinema, aconteceu na escola com o decreto 477, porque seria um erro pensar que o futebol está fora do contexto da vida social do País. Ao contrário, está intimamente ligado. O esporte faz parte da cultura. A atividade física é indispensável a qualquer ser humano. Então, como todos esses setores da cultura sofreram violentamente, o futebol sofreu. Ele foi agredido, foi aviltado, foi até estuprado pelos homens do poder público, no açodamento de fazer relações públicas. Até se dizia: se a Arena vai mal, bote um time no Nacional. Acontece que a Arena continuou mal, tanto que eles tiveram que dissolver os partidos. A Arena foi preparada para ser primeiro lugar e chegou sempre em segundo. Segundo entre dois é último, então o jeito é dissolver. Se eles tivessem tido êxito – quando eu digo eles, eu falo das forças reacionárias que ocuparam o poder nesses últimos 15 anos – se eles tivessem tido algum êxito, eles não tinham feito tantos males ao futebol.

Nós vínhamos de uma época de ouro no futebol. Futebol tem características diferentes aqui no Brasil: ele é paixão popular, o nosso clima permite que se jogue o ano inteiro, que se jogue descalço. Então, por isso, a participação da massa é maior do que seria na Suécia ou num país frio. Então, eles vieram em cima disso, de uma força que atraía camadas de milhões e se estreparam. Mas se estreparam fazendo grandes males ao futebol. Estão terminando um Campeonato Nacional asqueroso, tão asqueroso que você vê troços dos mais sórdidos. Lá em Mato Grosso, o diretor de um clube disse que tinha subornado um juiz por 50 mil cruzeiros e tinha feito um depósito na conta do juiz. Aí o juiz gritou que ele não recebeu coisa nenhuma, que o depósito não foi feito porque ele não pôde impedir que pusessem o dinheiro na conta dele. Como poderiam ter posto na sua conta ou na minha – na minha nunca puseram porque eu não espalho o número de minha conta por aí, não é?

Como aconteceu com a cultura, a meu ver houve um retrocesso também no esporte. É claro, a ditadura sempre faz retrocesso. Aconteceu também um processo de corrupção violentíssima. Há um problema muito sério: hoje é dia 29, as rendas de ontem em todo o Brasil foram umas porcarias. Um jogo deu 25 mil cruzeiros, isso qualquer cinema faz; renda Flamengo e Bahia, dois grandes clubes, 23 mil pessoas. Mixaria, porque fim de mês está todo mundo duro, todo mundo vendendo garrafa. A crise afeta, violentamente, o futebol. Então, os clubes estão fazendo o seguinte: jogando três vezes por semana. Eu fiz, acompanhando o Flamengo, 22 pousos/decolagens nos últimos dez dias.

Enfim, a política entrou mesquinha, açodadamente, de forma incompetente no futebol, da mesma maneira como geriram os negócios do Brasil. Os êxitos da Petrobrás você pode somar aos êxitos do futebol e você tem o quadro da situação brasileira”.

FOLHETIM – Então, foi esse retrocesso no futebol, que não permitiu que surgissem novos craques?

SALDANHA – Sim, é lógico. Os craques estão aí, porque eles existem. Você tira o craque da quantidade de jogadores que o Brasil tem. Há um problema sério: os campos estão acabando. Em Copacabana, Ipanema e Leblon, tinha 16 campos de futebol. Não tem mais nenhum. Em São Paulo, ali pelo ABC tinha milhares e milhares de campos, A Gazeta Esportiva tirava três cadernos de anúncio de jogo por sábado e domingo, e tirava, na segunda, com o resultado, três cadernos. Depois, ela chegou quase a fechar, não tem mais anúncio de jogo, time do bairro contra o bairro tal, isso há 10 anos, 12 atrás. Há 20 anos atrás, então, era mais loucura. Onde tem a Ford de Vila Prudente, dali para diante, aquilo tudo era um parque imenso, com milhares de campos. Não tem nenhum.

Eu nomearia, com a maior certeza de ter êxito, os atuais dirigentes do futebol brasileiro como diretores do Instituto do Câncer. Claro, porque se eles acabam com o futebol, eles têm chance de acabar com o câncer. Então, pelo menos seriam beneméritos da coisa. Ah! Nomearia!

Com essa barbaridade de jogos, a que horas o jogador vai treinar? Há uma medida aí que merece louvores. O CND (Conselho Nacional de Desportos) está fazendo mil módulos – nós temos 4 mil municípios – para fazer em cada município um campinho de futebol, um campinho de basquete para estimular o esporte. Está bem, isso é saudável.

FOLHETIM – Apesar dessa crise, surgiram novos craques nesta década?

SALDANHA – Claro. Está aí o Zico, o Sócrates e outros. Acontece que eles não estão em condições nem de demonstrar a capacidade deles. Nós lutamos, batalhamos e conseguimos a lei de 72 horas de intervalo obrigatório entre duas partidas. Essa lei já existia, nós mesmos tínhamos conseguido essa lei. Eles diminuíram para 60, e para 48 horas. Então, de 48 em 48 horas um jogo é impossível. E como os nossos jogadores estão sofrendo esse desgaste permanente há 10 anos, é claro que tecnicamente eles caíram. Esse Júlio César, do Flamengo, é um monstro de jogador. O que esse cara fez lá na Europa deixou os homens estarrecidos: “Você é um monstro”. Você é o melhor jogador do mundo…” Ele não está nem na reserva do Flamengo, ele caiu de tal nível – jogo, jogo, jogo – machucou, depois voltou sem condições, mas ainda tentando. Ele tentou e quebrou a cara. Então, como o jogador não pode treinar, ele não pode se aprimorar. O Sócrates, por exemplo, ele atingiu o apogeu fabuloso na carreira de um jogador e está indo para os píncaros. Mas ele está sem forma física e não está podendo jogar. Então, cadê o craque? Ah, temos o Sócrates! Tá bom, então põe aí o Sócrates no crédito. Mas você não pode usar um crédito bloqueado na rubrica de crédito. O Zico teve uma distensão violenta, está voltando paulatinamente. Ele não tem atuado bem nos últimos jogos, não está podendo ainda, correr, está procurando recuperar a sua forma. Ele passou assim o ano inteiro. O Reinaldo, um grande craque, um monstro. Ele tirou os 4 meniscos e desligamentos e não sei mais o quê. Joga, mas uma partida e pára duas, três. E o Oscar, o zagueirão lá da Ponte Preta? É um dos melhores zagueiros do mundo. O Oscar não pode jogar, porque está com uma lesão ou distensão. Então, os craques são os mesmos. Esse campeonato é ridículo, um campeonato de 256 clubes. Nós somos o rei do futebol, mas o rei está nu. O que resume o futebol brasileiro no momento é uma esculhambação.

FOLHETIM – Quais os motivos desta desorganização nos calendários?

SALDANHA – O motivo é que o governo acha que dá pão e circo e está tudo resolvido. Mas não tendo pão, não adianta o circo. É preciso eliminar os déficits, eliminando-se os jogos deficitários, esses joguinhos michos. É uma vergonha, um monte de gente alheia ao esporte se enquistou dentro do esporte. O presidente da Federação Pernambucana está há 25 anos no cargo”, o Rubem Holffmeister, do Rio Grande do Sul, está há mais de 10, 16 anos; em São Paulo, dão tiro um no outro por causa do cargo. Tudo porque as federações tiram porcentagens sobre os jogos e são cornucópias, têm fábulas, mordomias, igual à Petrobrás. Oitenta e seis foram num avião Rio/Assunção, voo charter, fretado pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Só 17 eram jogadores. Que é que os outros foram fazer lá? Oitenta e seis dirigentes do futebol brasileiro num ‘rega-bofe’, uma vergonha. O avião veio embora e alguns ficaram lá; depois voltaram de avião de carreira comum e com passagem paga pela CBD. Isso agora, quando nós fomos jogar em Assunção, há um mês atrás.

FOLHETIM – Saldanha, o que os dirigentes podem fazer, ou têm feito, para melhorar o calendário?

SALDANHA – Nada. Está uma briga. Eles estão reclamando porque o Conselho Nacional de Desportos baixou a lei de 72 horas que obriga a diminuírem os jogos. Ao diminuírem os jogos, eles diminuem os jogos deficitários; diminuindo os jogos deficitários, diminuem a fadiga dos jogadores. O que acontece, resumindo tudo, é que as ditaduras brasileiras caíram violentamente sobre o esporte. O governo, para fazer proselitismo, fazer demagogia, cai em cima do futebol, apresenta as entradas mais baratas do mundo, muita gente pensa que o Saldanha é incoerente porque ele faz cada onda e pede aumento das entradas de futebol. Peço, tranquilamente, sorrindo, porque é uma demagogia sórdida o que fazem com o futebol. Eles apresentam o preço barato do futebol, mas o feijão, o arroz, a carne seca, a farinha, vai tudo para os cornos da lua. Eu estou de acordo que eles façam barato o futebol, mas bem barato o custo de vida.

“Você veja, o aspecto demagógico no Brasil você encontra nos grandes estádios. Em Sergipe, tá lá, o Batistão. Uma cidade como Aracaju, de 105 mil habitantes, tem um estádio para 50 mil pessoas. Na Paraíba, tem dois estádios, dois monstros numa das cidades capitais mais pobres do mundo, onde o povo anda miseravelmente vestido e não se alimenta, estádios monstruosos. Esse próprio Maracanã já tem um produto de demagogia. A média de público do campeonato carioca é ridícula. Neste ano não chega a dez mil pessoas. Então, pra que esse troço? É pura demagogia. Para sair falando que é o maior e mais belo estádio do mundo. O maior é, mas o mais belo uma ova. É horrível, ainda não está pronto até hoje. O Maracanã representa a obra de fachada. E isso fizeram por todo o Brasil. Você vai em Goiânia, um estádio belíssimo para 80 mil pessoas, o Morumbi, para 130, 140 mil…

FOLHETIM – A Loteria Esportiva veio ajudar o futebol?

SALDANHA – A Loteria Esportiva está ajudando ao governo. Ao futebol, não. Loteria, em primeiro lugar, é característica de país pobre. E a Loteria Esportiva compete com o futebol. Além do mais, é um jogo que é um roubo. É um jogo em que a casa fica com 70 por cento do bruto, e rateia 30 por cento. Num rateio de 30, não há chance matemática de você ganhar. Então, a chance que você fica é uma chance no jogo, jogo que representa um contra um milhão, 533 mil possibilidades. Em roleta, já é duro um contra 35. De vez em quando, um cara acerta aí 1 milhão, 2 milhões, sai, divulgam bastante. A Loteria, em termos econômicos para o país, é criminosa: Ela arrecada um dinheiro que não tem retorno. E esse dinheiro que não tem retorno faz um buracos nas economias das pequenas e médias cidades.

Então, com 10 cruzeiros,  o cara está participando do espetáculo. Aí ele não vai ao espetáculo. Basta ouvir no rádio o resultado. É um troço criminoso, do ponto de vista econômico para o país e do ponto de vista esportivo para os clubes. Qual o retorno que ele dá para os clubes? Para as passagens dos clubes no Campeonato Nacional. Então, vêm essas barbaridades: que é que adianta o Arapiraca vir jogar contra o Palmeiras, contra o Vasco da Gama? Ninguém vai ver o jogo. A Loteria paga um prejuízo. A Loteria enterra o futebol.

FOLHETIM – A Loteria Esportiva pode fazer com que torcedor perca o estímulo de ir ao campo?

SALDANHA – Claro, ele se transforma em apostador. Esse é o maior perigo. A Inglaterra proibiu a Loteria Esportiva porque o torcedor se transforma em apostador. E tem mais: uma vez um secretário do Corinthians acertou na loteria no dia em que o Corinthians perdeu um jogo para um time de Araraquara ou de Ribeirão Preto, eu não estou me lembrando bem. Naquele dia, o Corinthians perdeu. Como foi que o cara acertou? Porque jogou no outro time. Ele já não era torcedor do Corinthians, ele era apostador. O cara aposta contra seu próprio clube e aí perde a mística, e aí massacra o esporte. É um engodo a Loteria Esportiva. Ela criou uma série de mamatas e sopas na publicidade. As agências lavam a égua na publicidade. Ela criou uma série de seções nos jornais e revista, seções de palpites e isso e aquilo. E toda vez que eu escrevo sobre a Loteria Esportiva cortam.

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Brasil busca ouro inédito e tenta igualar Argentina https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2016/08/20/brasil-busca-ouro-inedito-e-tenta-igualar-argentina/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2016/08/20/brasil-busca-ouro-inedito-e-tenta-igualar-argentina/#respond Sat, 20 Aug 2016 05:00:29 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/BRASIL_x_HONDURAS.1_BLOG-180x121.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=632 A seleção brasileira disputa a final do torneio olímpico de futebol masculino neste sábado (20) às 17h30, no estádio do Maracanã, contra a Alemanha. O sonho de conquistar o inédito ouro olímpico é o principal objetivo do time comandado por Rogério Micale, mas a vitória pode ter um tempero especial adicionado.

Não se trata apenas de vencer os algozes da Copa-2014 com um futebol convincente, mas também de igualar um grande feito da rival Argentina, que nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, foi campeã sem ter a meta do goleiro Gérman Lux vazada uma única vez.

No gol brasileiro, até o momento, Weverton não teve trabalho com os adversários. Contando com uma defesa segura, formada pelos zagueiros Marquinhos e Rodrigo Caio, o goleiro ainda não sabe o que é tomar gol. O recorde pode vir, inclusive, caso o Brasil empate sem gols no tempo normal e na prorrogação e venha a ser derrotado nas penalidades. No entanto, hipótese seria um desastre, e não algo a se comemorar.

Na campanha geral, a Argentina campeã de 2004 não poderá mais ser superada nos Jogos Rio-2016. Das seis partidas disputadas na Grécia, a equipe do então técnico Marcelo Bielsa venceu todas. Já a seleção brasileira tem dois empates (África do Sul e Iraque, pela 1ª fase) e três vitórias (Dinamarca –pela 1ª fase–, Colômbia e Honduras, pelas quartas de final e semifinal, respectivamente).

Naquela conquista, os argentinos marcaram 17 gols –contra 12 do Brasil até o momento– e tiveram o atacante Carlos Tevez como artilheiro com oito tentos. Na seleção brasileira, a artilharia está dividida entre Neymar, Gabriel Jesus e Luan, cada um deles com três bolas na rede. Mas quem lidera o quesito na competição é o meia alemão Serge Gnabry, que até aqui marcou seis vezes.

Todo o cuidado para essa final é pouco, pois assim como o Brasil, os alemães também estão em busca de uma medalha de ouro inédita. É a chance da seleção brasileira se redimir de fiascos anteriores e não deixar que a Alemanha estrague outra festa em sua casa.

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Invictas em estreias olímpicas, meninas do futebol enfrentam hegemonia dos EUA em busca do ouro https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2016/08/03/invictas-em-estreias-olimpicas-meninas-do-futebol-enfrentam-hegemonia-dos-eua-em-busca-do-ouro/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2016/08/03/invictas-em-estreias-olimpicas-meninas-do-futebol-enfrentam-hegemonia-dos-eua-em-busca-do-ouro/#respond Wed, 03 Aug 2016 05:00:14 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/461400.jff_-180x130.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=448 A seleção de futebol feminino, comandada pelo técnico Oswaldo Alvarez, estreia nos Jogos Olímpicos Rio-2016 nesta quarta (3/8) contra a China, no Engenhão, para apagar a má campanha de Londres-2012 –a pior da equipe em Olimpíadas–, quando foi eliminada nas quartas de final pelo Japão (2 a 0).

Para começar com o pé direito rumo à inédita medalha de ouro, o Brasil, comandado pelo técnico Oswaldo Alvarez, conta com bom retrospecto em estreias olímpicas. Desde o debute da modalidade nos Jogos de Atlanta, em 1996, o time feminino mantém-se invicto, com três vitórias e dois empates:

Arte

As chinesas, adversárias desta abertura do torneio, são velhas conhecidas das brasileiras. Em Atlanta-1996, elas eliminaram a seleção na semifinal, em jogo que acabou 3 a 2. Na ocasião, o Brasil perdeu a disputa do bronze para as norueguesas, por 2 a 0.

Remanescente desde o início da caminhada da seleção feminina em Olimpíadas, a meio-campo Formiga, 38, se tornará a jogadora brasileira que mais disputou os Jogos (seis vezes). Também defenderão a seleção as experientes Cristiane, 31 –maior artilheira da história das Olimpíadas, com 12 gols–, e Marta, 30, escolhida como melhor jogadora do mundo cinco vezes consecutivas e camisa 10 da equipe.

A meio-campista brasileira Formiga disputa bola contra jogadora americana, na vitória dos EUA por 2 a 1, na final dos Jogos de Atenas-2004 (Foto: Flávio Florido/Folhapress)
A meio-campista brasileira Formiga disputa bola contra rival na vitória dos EUA por 2 a 1, na final de Atenas-2004 (Foto: Flávio Florido/Folhapress)

O trio, inclusive, fez parte das equipes que conquistaram as únicas duas medalhas do Brasil, em uma modalidade dominada pelos EUA, detentor de quatro ouros e uma prata.

MEDALHAS

Nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004, após atropelar o México nas quartas de final, por 5 a 0, e vencer a forte seleção sueca pelo placar de 1 a 0 na semifinal, o time comandado pelo então técnico Renê Simões fez grande partida contra os EUA na final.

As americanas abriram o placar aos 39min do primeiro tempo, em um erro da arbitragem. Boxx tocou com a mão na bola e passou para a meia Lindsay Tarpley, que bateu no canto da goleira Andréia. O Brasil empatou no segundo tempo, aos 27min, após bela jogada de Cristiane, quando a bola bateu na defesa americana e sobrou para Pretinha empatar. Depois disso, a seleção brasileira acertou a trave por duas vezes, mas o jogo terminou empatado e foi para a prorrogação. Aos 6min do segundo tempo, Abby Wamback fez o gol de ouro, de cabeça, após cobrança de escanteio.

Mesmo com a derrota, as meninas comemoraram com o técnico o primeiro pódio brasileiro no futebol feminino.

Em Pequim-2008, novamente com uma boa campanha, a seleção brasileira chegou forte ao mata-mata do torneio olímpico. Na semifinal, o time do técnico Jorge Barcellos não tomou conhecimento da força das alemãs e goleou por 4 a 1. O país chegava pela segunda vez a uma final, novamente disputando o ouro com as norte-americanas.

Em um jogo em que o Brasil foi superior aos EUA em quase sua totalidade, a seleção não soube aproveitar as oportunidades que teve para vencer. A sólida defesa americana segurou o placar, que só foi alterado na prorrogação, com uma bomba da americana Lloyd, aos 6min.

Ao contrário dos Jogos de Atenas-2004, desta vez, a decepção estava evidente no rosto das jogadoras brasileiras. Mais uma vez, a seleção fazia uma grande campanha, apresentava um futebol mais vistoso, mas saia derrotada pela grande rival.

Jogadoras da seleção brasileira desoladas após perda do segundo ouro olímpico seguido para os EUA
Jogadoras da seleção brasileira desoladas após a perda da segunda final olímpica consecutiva para os EUA

A goleira dos EUA, Hope Solo, em entrevista após o fim da partida, provocou: “O Brasil deveria gostar mais do jogo defensivo. Olhem só meu ouro aqui”.

Já a lateral brasileira, Rosana, resumiu o que foi a partida: “Mais uma vez foi um jogo do talento contra a eficiência, e a eficiência ganhou de novo”.

Desta vez, no Rio, a seleção feminina,  assim como a masculina, busca o ouro inédito. Mesmo com o evidente abismo (leia-se patrocinadores, apoio de dirigentes, estrutura e mídia) que separa homens e mulheres no futebol brasileiro, agora, ao menos, elas jogam em casa.

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Seleção joga contra o passado e tenta ouro inédito https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2016/07/30/selecao-joga-contra-o-passado-e-tenta-ouro-inedito/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2016/07/30/selecao-joga-contra-o-passado-e-tenta-ouro-inedito/#respond Sat, 30 Jul 2016 05:00:28 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/NEYMAR__FUTEBOL_OLIMPICO__BLOG-180x120.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=417 A seleção brasileira de futebol inicia na próxima quinta-feira (4), diante da África do Sul, sua caminhada nos Jogos Olímpicos Rio-2016 em busca do único título que ainda não possui: a medalha de ouro.

Para isso se concretizar, o técnico Rogério Micale convocou uma equipe que mescla jovens talentos, como o santista Gabriel e o seu xará palmeirense Jesus -ambos têm 19 anos-, com os experientes Neymar (Barcelona), 24, Renato Augusto (Beijing Guoan), 28, e Fernando Prass (Palmeiras), 38. O goleiro, aliás, se tornará o jogador mais velho a defender a seleção em uma Olimpíada, feito que pertence ao atacante Bebeto, que em Atlanta-1996 tinha 32 anos.

A força do futebol brasileiro, pentacampeão mundial, é reconhecida e respeitada em todos os cantos do planeta. Mas, apesar de ser o país com mais Copas do Mundo, o que explica o fato do Brasil nunca ter conquistado a medalha de ouro olímpica na modalidade?

A reposta não é simples, pois existem muitos fatores, alguns tangíveis, outros não.

O futebol entrou para o programa olímpico em 1908 –em 1900 e 1904, foi disputado apenas como demonstração–, e, desde então, só era permitida a participação de jogadores amadores. O Brasil levou seu primeiro selecionado apenas em 1952, em Helsinque (Finlândia), quando estreou com vitória sobre Holanda, por 5 a 1, mas foi eliminado nas quartas de final pela Alemanha Ocidental, por 4 a 2.

Do período que compreende a estreia da seleção brasileira até o final da década de 1970, o futebol olímpico viveu o auge do “amadorismo”. Amadorismo entre aspas, já que seleções do Leste Europeu levavam seus times principais aos Jogos –elencos que disputavam Copas do Mundo–, pois nesses países quase todos os atletas faziam parte das Forças Armadas. Então, o futebol era visto como uma atividade paralela, o que o descaracterizava como profissão.

Assim como o Brasil, a Alemanha*, outra potência do futebol, vencedora de quatro Copas do Mundo, nunca alcançou o lugar mais alto do pódio na Olimpíada. Aliás, os alemães têm apenas uma medalha olímpica: a de bronze, conquistada em Seul, em 1988. Um desempenho bem inferior ao brasileiro, detentor de três medalhas de prata e duas de bronze na modalidade.

O REI E EL PIBE DE ORO

Vale ressaltar que Pelé e Maradona, considerados os maiores de todos os tempos, nunca disputaram uma Olimpíada, já que a proibição para jogadores profissionais só foi abolida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 1984, mas com uma restrição: o atleta não poderia ter disputado uma Copa do Mundo.

Essa limitação durou até os Jogos de Barcelona-1992, quando a regra mudou novamente, e o torneio virou sub-23, com a possibilidade de levar três atletas acima da idade. Na ocasião, a seleção brasileira não conseguiu a classificação no Pré-Olímpico. Após este período, os argentinos foram os campeões em 2004 (Atenas) e 2008 (Pequim). O que ajuda a aumentar a pressão pelo título inédito do Brasil.

DIVERSIDADE

Os campeões ao longo da história do futebol olímpico evidenciam o quanto é difícil vencer este torneio. Foram 18 diferentes medalhistas de ouro em 25 disputas. Grã-Bretanha e Hungria, esta última com a talentosa geração comandada por Puskas, despontam como as grandes campeãs, com três medalhas de ouro cada uma, seguidas pelos bicampeões Uruguai, Argentina e União Soviética.

AS MEDALHAS

Das 12 participações olímpicas, desde a estreia da seleção brasileira de futebol em Helsinque (Finlândia), em 1952, o Brasil conquistou cinco medalhas. Todas a partir da década de 1980.

Los Angeles (1984) – PRATA: o Brasil, comandado pelo técnico Jair Picerni, tinha em seu elenco nomes como Dunga, Mauro Galvão e o goleiro Gilmar.

Na primeira fase, venceu Arábia Saudita (3 a 1), Alemanha Ocidental (1 a 0) e Marrocos (2 a 0); nas quartas, empatou com o Canadá (1 a 1) –venceu por 4 a 2 nas penalidades–; na semifinal, derrotou a Itália (2 a 1). Na final, perdeu para a França (2 a 0).

Seul (1988) – PRATA: o técnico Carlos Alberto Silva comandou um elenco talentoso (talvez o melhor selecionado olímpico que o país já teve), com o goleiro Taffarel e os atacantes Careca, Giovani, Bebeto e Romário, o artilheiro da competição com sete gols.

Na primeira fase, vitórias sobre Nigéria (4 a 0), Austrália (3 a 0) e Iugoslávia (2 a 1); nas quartas, eliminou a rival Argentina (1 a 0); na semifinal, empate com a Alemanha Ocidental (1 a 1) –vitória nos pênaltis (4 a 3)– e na final, derrota para a União Soviética, em uma prorrogação dramática (2 a 1).

 Romário comemora gol no jogo final contra a União Soviética, em que a seleção brasileira perdeu, ficando com a medalha de prata.
Romário comemora gol contra a União Soviética, em jogo que a seleção brasileira perdeu o ouro (2 a 1). (Crédito: Wilson Melo – 1º.out.1988/Folhapress)

Atlanta (1996) – BRONZE: sob o comando de Zagallo, Dida, Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldo e o então veterano Bebeto ficaram com o terceiro lugar.

Na fase de classificação, derrota para o Japão (1 a 0) e vitórias ante Hungria (3 a 1) e Nigéria (1 a 0); pelas quartas, vitória contra Gana (4 a 2); na semifinal, o nigeriano Kanu marcou na morte súbita e eliminou o Brasil (4 a 3); na disputa pela medalha de bronze, a seleção venceu Portugal (5 a 0).

Pequim (2008) – BRONZE: o técnico Dunga convocou jovens promessas como Hernanes, Rafael Sobis, Thiago Neves e Alexandre Pato e depositou suas fichas na experiência de Ronaldinho Gaúcho.

Pela primeira fase, atropelou Bélgica (1 a 0), Nova Zelândia (5 a 0) e China (3 a 0); nas quartas de final, vitória sobre Camarões (2 a 0); já na semifinal, a Argentina passeou contra o Brasil (3 a 0). Em mais uma disputa pelo bronze, a seleção venceu os belgas (3 a 0).

20.ago.2008

Londres (2012) – PRATA: com Neymar como a grande esperança de gols, o sonho dourado parecia estar mais próximo do que nunca esteve.

O time do técnico Mano Menezes venceu bem os cinco jogos que fez até chegar à final –Egito (3 a 2), Bielorrússia (3 a 1), Nova Zelândia (3 a 0), Honduras (3 a 2) e Coreia do Sul (3 a 0). Porém, na decisão, em um jogo repleto de falhas por parte do Brasil, o mexicano Peralta fez dois gols e transformou a tão sonhada medalha de ouro brasileira em prata (2 a 1).

O GRANDE VEXAME

O fato de agora o Brasil jogar em casa também é visto como uma grande oportunidade de apagar decepções e vexames históricos na competição. O maior deles foi a eliminação para Camarões, em Sydney-2000.

Nas quartas de final, o Brasil de Ronaldinho Gaúcho, Alex e Lúcio perdeu para os africanos, estes, com nove em campo, devido às expulsões de Njitab e Nguimbat. Resultado final: 1 a 1 no tempo normal (Mboma, aos 16min do 1º tempo, e Ronaldinho, aos 48min do 2º tempo) e 2 a 1 para os camaroneses na prorrogação, com o “gol de ouro” marcado por Mbami aos 8min da segunda etapa.

A seleção brasileira era comandada pelo técnico Vanderlei Luxemburgo, que se recusou a levar o atacante Romário e qualquer outro atleta acima da idade permitida. A vexatória derrota resultou na demissão do treinador.

ORG XMIT: 344301_1.tif Futebol - Jogos Olímpicos de Sydney 2000 - Brasil 1 X 2 Camarões: o técnico da seleção brasileira, Wanderley Luxemburgo, após a derrota que eliminou o Brasil.   Brisbane - AUSTRÁLIA, 23.09.2000, Foto Digital: Juca Varella/Folhapress
Brasil 1 x 2 Camarões: o técnico da seleção brasileira, Vanderlei Luxemburgo, após a derrota que eliminou o Brasil. (Crédito: Juca Varella – 23.set.2000/Folhapress)

Apesar das mudanças nas regras olímpicas e as artimanhas de alguns países para levar seus principais jogadores, a resposta para a falta da medalha de ouro na lista de títulos do time canarinho talvez esteja em um dos jargões deste esporte: “o futebol é uma caixinha de surpresas”.

 

*A Alemanha Oriental conquistou uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Montréal-1976.

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