Acervo Folha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br No jornal, na internet e na história Fri, 19 Feb 2021 13:40:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Só 2 presidentes receberam e passaram faixa no período pós-ditadura militar https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/31/so-2-presidentes-receberam-e-passaram-faixa-no-periodo-pos-ditadura-militar/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/31/so-2-presidentes-receberam-e-passaram-faixa-no-periodo-pos-ditadura-militar/#respond Mon, 31 Dec 2018 09:00:22 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/faixa-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10716 Rodolfo Stipp Martino e Luiz Carlos Ferreira

Dos sete presidentes que o Brasil teve entre 1985 (com o fim da ditadura militar) e 2018, apenas dois receberam a faixa presidencial de seus antecessores e a entregaram, após terminarem seus governos, para os seus substitutos durante as cerimônias de posse em Brasília.

Isso ocorreu com Fernando Henrique Cardoso e com Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos governaram por dois mandatos.

FHC recebeu a faixa de Itamar Franco em 1995 e a passou para Lula em 2003. Já o petista a entregou para Dilma Rousseff, a sua herdeira política, em 2011.

Veja como foram as  posses dos presidentes:

Sarney

Em uma cerimônia de apenas 20 minutos, iniciada às 10h15 de 15 de março de 1985 no Congresso Nacional, José Sarney foi empossado no cargo de vice-presidente da República. Em seguida, como o presidente eleito Tancredo Neves estava doente, ele assumiu a Presidência da República. Foi uma sessão rápida e sem discurso.

A saída do Congresso, Sarney deveria passar em revista a tropa, mas a presença de uma multidão de cerca de 30 mil pessoas, conforme a Folha publicou na ocasião, impediu que isso ocorresse. Antes de entrar no carro para ir ao Palácio do Planalto, ele acenou para as pessoas que estavam no gramado do Congresso e ouviu como resposta em coro: “Tancredo, Tancredo”.

O ex-presidente João Baptista Figueiredo se recusou a passar a faixa para Sarney e decidiu não participar das cerimônias de sucessão, preferindo acompanhá-la pela televisão.

Na madrugada anterior à posse, houve muita apreensão já que Tancredo estava internado no hospital. O próprio Sarney achava inicialmente que a Presidência deveria ser assumida pelo presidente da Câmara, Ulysses Guimarães. Mas essa solução foi rejeitada pela maioria dos parlamentares, liderados por Ulysses.

Collor

Fernando Collor tomou posse às 9h58 de 15 de março de 1990 e fez um discurso de 54 minutos, priorizando o combate à inflação como objetivo de seu governo.

Às 11h25, no Palácio do Planalto, ele recebeu de José Sarney a faixa presidencial e mostrou estar emocionado. Os dois, que eram adversários políticos, trataram-se de forma protocolar.

“Transmito ao doutor Fernando Collor de Mello, empossado pelo Congresso, a chefia do Estado e a chefia do governo”, disse Sarney. Cerca de 600 pessoas assistiram a solenidade através de três telões instalados no Congresso.

Eles se despediram às 11h34, e o ex-presidente desceu a rampa do Planalto. Já Collor retornou para assinar o termo de sua posse e dos ministros e depois foi para o parlatório, onde discursou. Ele foi o primeiro presidente a usar o parlatório no dia da posse depois de Jânio Quadros em 1961.

De todos os membros das representações estrangeiras (121 ao todo), o ditador cubano Fidel Castro foi quem mais atraiu a atenção do público. Ele foi também o estrangeiro mais aplaudido pelos convidados, ao aparecer no salão nobre do Planalto e o que mais alvoroçou deputados e senadores.

Itamar

Primeiro presidente eleito diretamente após a ditadura militar, Collor renunciou ao seu mandato no dia 29 de dezembro de 1992. O Congresso foi comunicado de sua decisão às 9h34, 21 minutos após o início da sessão do processo para seu impeachment no Senado.

Dessa forma, Itamar Franco tornou-se o sétimo vice a assumir a Presidência do Brasil. Ele assinou o termo da posse no mesmo dia às 13h10. A cerimônia foi breve.

Quando Itamar entrou no plenário, estudantes “caras-pintadas” cantaram das galerias o Hino à Independência e puxaram refrão: “O povo unido jamais será vencido.”

O novo presidente não fez discurso, apenas leu o “compromisso de posse”. Depois disso, a plateia cantou o Hino Nacional. Durante a saída do presidente, que fez carreira em solo mineiro, novo coro surgiu: “Ô, Minas Gerais, quem te conhece…”

FHC

Fernando Henrique Cardoso virou presidente da República às 16h41 de 1º de janeiro de 1995, quando ele e seu vice, Marco Antônio de Oliveira Maciel, foram declarados empossados pelo então presidente do Senado, Humberto Lucena (PMDB-PB).

Depois, FHC foi ao parlatório do Palácio do Planalto, ainda coberto por um plástico ainda marcado pelas gotas da chuva que caiu antes da cerimônia. Lá, FHC recebeu de Itamar a faixa presidencial e também um prolongado abraço. Os dois deram-se as mãos e ergueram os braços.

Essa foi a primeira vez que Itamar usou a faixa (ele havia recusado nos dois anos de Presidência a ir aos desfiles de Sete de Setembro com a faixa sobre o paletó). De acordo com dados da Polícia Militar, menos de 10 mil pessoas estiveram na Praça dos Três Poderes no dia da cerimônia.

A segunda posse de FHC foi em 1° de janeiro 1999 às 17h05 e acabou sendo mais simples do que a primeira. Dois fatores pesaram: a crise econômica e o fato de não ocorrer a transmissão de cargo de um presidente para outro.

Nas ruas, pouco mais de 1.500 pessoas acompanharam as solenidades. Nem o plenário da Câmara dos Deputados ficou lotado para a cerimônia da posse.

Lula

A posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 1º de janeiro de 2003 foi considerada como, até então, a maior manifestação popular da história das cerimônias do gênero em Brasília.

Ele foi empossado às 15h06, em cerimônia no Congresso Nacional. O seu pronunciamento enfatizou o combate à fome, convocando a população a um “mutirão nacional”

O dia foi marcado por informalidades e por quebras de protocolos. Uma mulher, por exemplo, conseguiu driblar a segurança e tirar uma foto com Lula depois que ele desceu a rampa do Congresso.

Na hora de transmissão de faixa, os óculos de FHC caíram e Lula abaixou-se para pegá-los. Na sequência, o Hino Nacional foi tocado. De acordo com a Defesa Civil, 70 mil pessoas acompanharam as solenidades.

FHC disse que se emocionou ao passar a faixa. “Praticamente nós dois choramos. Fiquei muito emocionado quando dei um abraço no Lula também”, afirmou o tucano. “Ele [Lula] me disse: ‘Você tem um amigo aqui’”, contou.

Assim como ocorreu com FHC, a festa da posse do segundo mandato de Lula, no dia 1º de janeiro de 2007, também foi mais esvaziada do que a primeira, atraindo cerca de 10 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar.

Jornalistas, funcionários de vários setores e convidados chegaram até a serem autorizados a entrar no plenário da Câmara para sentar nas cadeiras reservadas aos deputados, evitando um constrangimento maior na cerimônia.

Dilma

No dia 1ª de janeiro de 2011, pela primeira vez na história do Brasil uma mulher recebeu a faixa presidencial: Dilma Rousseff.

Ex-presa política, ela foi declarada empossada às 14h52 por um antigo integrante do campo político da ditadura que combateu, o então senador José Sarney. Em seu discurso, chorou quando homenageou os que “tombaram pelo caminho”, referindo-se às vítimas da ditadura.

Por causa de uma tempestade, Dilma não pôde usar um carro aberto no desfile até o Congresso. Mas a chuva cessou no trajeto até o Palácio do Planalto e no momento de subir na rampa. Segundo a Folha informou, a cerimônia foi assistida por cerca de 30 mil pessoas.

Quando assumiu o seu segundo mandato, em 1º de janeiro de 2015, Dilma prometeu ajustes na economia sem trair compromissos sociais e submeter a população ao “menor sacrifício possível” para o país crescer. A solenidade levou um público de cerca de 15 mil pessoas à Praça dos Três Poderes.

O ex-presidente Lula teve uma passagem discreta pela cerimônia. Ele não compareceu à solenidade no Congresso. Ficou esperando em uma sala da Presidência até que ela chegasse ao Palácio do Planalto. Circulou entre convidados, cumprimentou Dilma, assistiu ao discurso e saiu antes da posse dos ministros.

Temer

O Senado destituiu Dilma da Presidência em 31 de agosto de 2016 após um processo de impeachment, fazendo com que Michel Temer assumisse, de vez, o poder. Ele já exercia o cargo interinamente desde maio daquele ano.

Após ser notificada, Dilma disse que estava vivendo o segundo golpe de sua vida, em referência ao de 1964.

A posse de Temer ocorreu às 16h49 em um Senado lotado. À noite, em um pronunciamento em cadeia nacional de TV e rádio, o novo presidente prometeu buscar a reconciliação e a pacificação nacional.

No mesmo dia da posse, ele já viajou para a China para reunião do G20 (grupo das maiores economias do mundo).

 

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1988: Folha desmascara banda fake do hit ‘Pipi Popô’, idealizada pelos Titãs https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/18/1988-folha-desmascara-banda-fake-do-hit-pipi-popo-idealizada-pelos-titas/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/18/1988-folha-desmascara-banda-fake-do-hit-pipi-popo-idealizada-pelos-titas/#respond Tue, 18 Dec 2018 09:00:03 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/PIPI-POPO-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10583 No final de 1988, um sucesso meteórico começava a fazer barulho nas FMs. Era o proibidão “Pipi Popô”,  uma marchinha nonsense do grupo fake Vestidos de Espaço, feita para o Carnaval de 89.

Com referência clara à homossexualidade [“Seu pipi no meu popô, seu popô no meu pipi…”], o hit foi o escolhido para ser a faixa-título do único trabalho do grupo, um compacto de duas músicas.

No lado B do disco está a mais elaborada, porém menos difusa, “A Marcha do Demo”, feita em homenagem ao compositor popular Lamartine Babo (1904-1963), dos clássicos “O Teu Cabelo Não Nega” e “Linda Morena”.

O grupo era formado pelos “farsantes” Pepino Carnale, 37 –que assina as composições do disco–, Lola, 26, Zeno, 25, e Sebastian, 23, todos nomes fictícios para aumentar ainda mais o ar de mistério diante do então novo fenômeno musical.

O propósito era fazer com que o público acreditasse que o Vestidos de Espaço fosse uma banda real. Outra estratégia era salvaguardar as identidades dos músicos de estúdio e dos verdadeiros letristas.

Mas a brincadeira durou poucas semanas, já que em 3 de dezembro daquele ano, a Folha, por intermédio do repórter Mario Cesar Carvalho, tornou público o enigma.

“É tudo mentira. Vestidos de Espaço, o grupo que está nas rádios com a marchinha ‘Pipi Popô’, nunca entrou num estúdio de gravação”, revelou o jornal.

A reportagem mostrou que quem estava por trás das letras, dos instrumentos e vozes, eram os Titãs, à época em processo de gravação do seu 5° álbum de estúdio, “Õ Blésq Blom” (Warner), das músicas Miséria, Flores e O Pulso.

Os vocais tiveram também as contribuições secretas da então integrante do Kid Abelha, Paula Toller, do produtor musical e ex-Mutante Liminha, do engenheiro de som Vitor Farias e do traquejado músico, escritor e poeta Jorge Mautner, que foi quem batizou a banda. Segundo Mautner, a expressão “vestido de espaço” era usada na Grécia Antiga para dizer que uma pessoa estava despida. 

A reportagem veio acompanhada de uma entrevista exclusiva com dois dos integrantes fake: Pepino Carnale, que o jornal revelou ser o artista plástico Fernando Zarif (1960-2010), e Lola, que era representada pela modelo Bronie, uma das mais requisitadas para desfiles entre os anos 70 e 80.

Na tentativa de mostrar a verdade dos fatos, o jornal perguntou aos falsos músicos se eles sabiam que as marchinhas do compacto eram cantadas e tocadas pelos Titãs, ao que Carnale respondeu: “Quem? Deve haver algum engano. Se isso for uma intriga, eu entro na justiça e processo. Os Titãs formam um grupo interessante. Mas nós fazemos outra coisa. Rock é coisa de colonizado”.

Antes, a Folha havia questionado a banda sobre a possibilidade de “Pipi popô” ser censurada por causa de sua conotação homossexual. Carnale rechaçou o cenário ao afirmar que a música “é muito casta” e que “não existe orgasmo e nem penetração na letra”.

Sobre o poder de influência da marchinha nas crianças, Carnale e Lola, num tom intelectualizado, responderam que “a cultura de massa infantil é onanística” e que a composição foi pensada para ser “uma coisa anti-onanística”.

Os porta-vozes do grupo aproveitaram a entrevista para reforçar que o Vestidos de Espaço não era uma banda de mentira, e sim um projeto que culminaria no lançamento de um LP para o ano seguinte, que não chegou a ser concretizado pelo grupo.

Conforme a biografia “A Vida Até Parece uma Festa – Toda a História dos Titãs” (Record), escrita pelos jornalistas Luiz André Alzer e Hérica Marmo, lançada em 2003, as marchinhas “Pipi popô” e “Marcha do Demo” começaram a ser trabalhadas entre setembro e outubro de 87, no estúdio Nas Nuvens (Rio).

As músicas foram feitas durante os intervalos das gravações do 4º LP dos Titãs, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, dos sucessos “Comida”, “Diversão” e “Lugar Nenhum”, lançado em 88 pela Warner.

“Aproveitávamos o tempo para brincar com faixas e bagunças perdidas no estúdio”, disse Charles Gavin, em 1995, em entrevista para a MTV.

“Pipi Popô é uma composição super infantil, embora com uma certa tendência homossexual. Era uma brincadeira!”, disse Paulo Miklos, também para a MTV, anos após a produção do disco.

Em janeiro de 1989, com o estouro de “Pipi Popô” nas rádios, um manifesto organizado por um estudante de nome Fábio Moura, de 24 anos e estagiário de uma agência de publicidade, pedia a censura da marchinha nas rádios.

A ideia do estudante, segundo a Folha publicou na ocasião, surgiu após o seu retorno dos EUA, onde cursou marketing por dois anos na universidade estadual do Missouri, em Springfield.

Fábio disse ter ficado chocado ao voltar para o Brasil, onde, na sua visão, “tudo estava indo para pior”, até que ele resolveu se manifestar contra um estado de coisas, entre as quais a execução de “Pipi Popô” na mídia.

Empenhado em manter a “ordem”, o estagiário reuniu alguns colegas do Mackenzie e do Anglo, onde havia estudado, para coletar assinaturas em oposição a marchinha, que ele classificou como “símbolo da corrupção no país”.

O estudante, que contou à Folha ser da Igreja Batista e confessou então ser grande admirador de Paulo Maluf, disse que sua principal oposição era ao efeito maléfico que a audição da música poderia causar aos mais velhos e, principalmente, às crianças.     

Para Fábio, que conseguiu 244 assinaturas, “Pipi Popô” estimulava o homossexualismo infantil. “Quem já tem a tendência, vai virar de qualquer jeito. Mas ouvindo essa música, a criança, que é ingênua e pura, vai querer brincar de ‘Pipi Popô’ com os amiguinhos”, afirmou.

Em 14 de janeiro, uma semana após a publicação da reportagem, a leitora da Folha Duane Barros da Fonseca, do Rio, que teve sua carta publicada na coluna “Painel do Leitor”, retrucou o manifesto do estagiário ao chamá-lo de “ridículo”. “O manifesto que pede a censura da música é simplesmente ridículo. Seu organizador devia se preocupar com problemas mais sérios. Manifestos políticos não irão melhorar a moral do país”, escreveu Fonseca.

No mesmo dia em que revelou o segredo dos Titãs e da Warner, o jornal relembrou outros episódios envolvendo bandas fake pelo mundo, como foi o caso do conjunto Klaatu, que, quando do lançamento em 1976 do seu primeiro LP (sem créditos e fotos), deixou rumores de que quem estaria por trás das gravações do álbum seriam os Beatles, por causa de similaridades com a sonoridade do álbum “Sgt. Pepper’s  Lonely Hearts Club Band”, gravado pelo quarteto inglês em 1967.

As identidades dos componentes do Klaatu eram desconhecidas até pela própria gravadora da banda. A verdade só veio à tona dois anos depois, em 1978, quando foi revelado que o conjunto era formado por quatro músicos canadenses de estúdio, que acabaram entrando no ostracismo.

Outra história citada pela reportagem é a dos célebres roqueiros Robert Plant e Jimmy Page, ex-membros do Led Zeppelin, que em 1985 gravaram um disco com “baladinhas açucaradas” sob o nome de Honeydrippers, “provavelmente, tentando escapar à fúria dos fãs conservadores do Led”.

Confira as letras das duas marchinhas do compacto “Pipi Popô”

Pipi Popô 
(Arnaldo Antunes e Branco Mello)

Seu popô no meu pipi

Seu pipi no meu popô

Meu pipi no seu popô

Meu popô no seu pipi

 

Seu pipi no meu popô

Seu popô no meu pipi

Meu popô no seu pipi

Meu pipi no se popô

 

Pipi popô, popô pipi,

Pipi popô popô pipi popô pipi

Pipi popô

 

A Marcha do Demo
(Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer, Branco Mello e Paulo Miklos)

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia o Capitão Nemo

Cuidado com o Demo, cuidado com o Demo

Já dizia Pero Vaz

Cuidado com o Satanás

 

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia Maria Antonieta

Cuidado com o Capeta, cuidado com o Capeta

Já dizia pai Jeú

Cuidado com o Belzebu

 

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia Napoleão

Cuidado com o Cão, cuidado com o Cão

Já dizia Santo Antônio

Cuidado com o Demônio

 

Não foi por falta de aviso

Não foi pro falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia Lamartine Babo

Cuidado com o Diabo, cuidado com o Diabo

Já dizia Simbá o Marujo

Cuidado com o Dito Cujo

 

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

 

 

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1968: Protesto de atletas americanos mostra o Poder Negro contra o racismo https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/10/16/1968-protesto-de-atletas-americanos-mostra-o-poder-negro-contra-o-racismo/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/10/16/1968-protesto-de-atletas-americanos-mostra-o-poder-negro-contra-o-racismo/#respond Tue, 16 Oct 2018 10:00:49 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/Olimpíadas-México-Protesto-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10372 No dia 16 de outubro de 1968, em uma cerimônia de premiação na Olimpíada da Cidade do México, Tommie Smith e John Carlos subiram ao pódio para ouvir o hino dos EUA, depois de conquistarem ouro e bronze nos 200 metros. E entraram para a história ao erguerem os punhos, com luvas pretas, em uma saudação associada aos Panteras Negras.

O protesto dos dois atletas norte-americanos contra o racismo em seu país ficou marcado como um dos momentos mais importantes do esporte.

Um ano antes, em outubro de 1967, a Folha noticiou um possível boicote -organizado por atletas negros- aos Jogos Olímpicos do México, uma articulação do “Projeto Olímpico para os Direitos Humanos” (OPHR) . “A conduta dos meus patrícios de cor será provavelmente ditada pelos acontecimentos que ocorrerem na América, de agora até os Jogos”, afirmou Tommie Smith.

Sem a adesão de todos os atletas negros que participariam da Olimpíada, o OPHR acabou perdendo a força, mas, com a morte do reverendo Martin Luther King, em abril de 1968, a construção de uma forma de protesto permaneceu na mente de Tommie Smith e John Carlos.

Reprodução da página de Esporte de 4 de maio de 2008

Smith, numa das finais que selecionou os atletas americanos para os Jogos Olímpicos, dedicou sua vitória ao Poder Negro.

O Comitê Olímpico dos EUA -que estava de olho em Tommie Smith, John Carlos e Lee Evans- esperava uma possível ausência dos atletas negros vencedores na cerimônia de entrega das medalhas, o que representaria uma humilhação para os EUA.

“A discriminação é um problema social e não deve atingir o esporte. Sei que houve ameaça de boicote e que só podemos contar com todos os negros porque não houve unanimidade entre eles […] Parece que farão novos protestos, mas não sei e nem quero saber em que consistirá esse protesto”, disse Payton Jordan, técnico-chefe da equipe americana, antes do início da Olimpíada.

E o dia chegou. No pódio, que ficou registrado para sempre, o atleta australiano Peter Norman, ganhador da medalha de prata, aderiu ao protesto e,  assim como Tommie Smith e John Carlos, usou no peito o símbolo do OPHR. Seguindo o conselho de Norman, os americanos dividiram o único par de luvas disponível -por isso um levantou o braço direito, e o outro, o esquerdo.

John Carlos, de chapéu, deixa a Vila com a mulher após expulsão (AFP)

A manifestação dos três atletas causou retaliações. Tommie Smith e John Carlos foram suspensos da equipe dos EUA e excluídos dos Jogos Olímpicos. O australiano branco Peter Norman foi jogado no ostracismo em seu próprio país. O atleta morreu em 3 de outubro de 2006 de um ataque cardíaco. No sepultamento de Peter Norman, Smith e Carlos carregaram o caixão de seu companheiro de luta.

Em 2016, numa recepção na Casa Branca, o presidente Barack Obama homenageou os dois medalhistas olímpicos que levantaram seus punhos contra o racismo.

[+] Conheça o histórico de protestos de atletas negros ao longo da história dos EUA

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Mortes e atentados fazem parte do histórico de ações contra políticos no Brasil https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/09/06/mortes-e-atentados-fazem-parte-do-historico-de-acoes-contra-politicos-no-brasil/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/09/06/mortes-e-atentados-fazem-parte-do-historico-de-acoes-contra-politicos-no-brasil/#respond Thu, 06 Sep 2018 23:36:14 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/itumbiara-320x213.jpeg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10331

Ataques a políticos no Brasil, que chamam a atenção da mídia e da população, estão presentes no país com mais repercussão desde o século retrasado. Assassinatos, tiros, brigas e até bolinha de papel fazem parte do histórico de ações contra a classe.

Um levantamento feito por pesquisadores da UniRio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) mostra que foram assassinados 79 candidatos que concorreram às eleições ocorridas entre 2000 e 2016 –os casos diferem da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL), que não estava em campanha, mas indicam os riscos da atuação política, que se concentram, mas vão além do período eleitoral.

Abaixo você confere alguns casos levantados pelo Banco de Dados Folha:

21.nov.1830 – Assassinato de Libero Badaró

Político, jornalista e médico, Giovanni Battista Líbero Badaró chegou ao Brasil em 1826. Ele se estabeleceu em São Paulo e fundou o jornal Observador Constitucional, em que criticava ação de governantes. Ele foi assassinado após sofrer atentado a bala, quando chegava em sua casa, na rua que hoje leva seu nome no centro de São Paulo. Antes de morrer teria dito: “Morre um liberal, mas não morre a liberdade”.

O crime foi considerado político, já que o imigrante alemão Henrique Stock alegou ter atirado a mando do desembargador ouvidor Candido Ladislau Japi-Assú, defensor do Império.

15.jul.1889 – Atentado contra dom Pedro 2º

Quando dom Pedro 2º saia do teatro Sant’Anna, no centro do Rio, e se dirigia para uma carruagem, um pequeno grupo gritou vivas à República.

O carro imperial seguiu para a praça da Constituição, um indivíduo disparou na direção do monarca e fugiu para um estabelecimento próximo.

Pouco depois, porém, foi preso pelo povo um homem que acreditava-se ser o autor do atentado. Não ficou comprovado se o suspeito tinha ligações políticas com grupos republicanos.

5.nov.1895 – Prudente de Morais escapa de facada, mas ministro morre

Era uma terça-feira quando o soldado Marcellino Bispo tentou esfaquear o presidente da República, Prudente de Morais, no pátio do Arsenal de Guerra (Rio), durante a cerimônia de recepção dos militares vindos da Guerra de Canudos. Morais foi salvo pelo ministro da Guerra, o marechal Carlos Machado Bittencourt, que se jogou na frente do presidente. O ministro foi atingido e morto por Bispo.

O coronel Luís Mendes de Morais, chefe da Casa Militar e sobrinho de Prudente de Morais, que ajudou a defender o presidente, também foi esfaqueado, mas sem gravidade.

26.jul.1930 – Morte de João Pessoa

Presidente da Paraíba, posto equivalente hoje ao de governador, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque foi assassinado em Recife, em 1930, pelo advogado João Dantas. Ele era candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Getúlio Vargas (1883-1954).

O movimento, liderado por Vargas, derrubou do poder o presidente Washington Luís, que apoiava a chapa da situação formada por Julio Prestes e Vital Soares. O assassinato foi utilizado pelos getulistas como propaganda para derrubar Washington Luís.

O crime foi definido como um atentado político e imediatamente atribuído aos aliados do presidente da República. Porém, o motivo mais provável do crime, conforme vários historiadores e reportagens publicadas na época, foi passional.

Dias antes do crime, o jornal aliado na Paraíba a João Pessoa, A União, havia publicado a correspondência íntima entre Dantas, o advogado que matou o político, e a sua namorada Anayde Beiriz.
Revoltado, Dantas surpreendeu João Pessoa na Confeitaria e Café Glória, no Recife, e o assassinou com tiros à queima-roupa.

Primeira página da Folha da Manhã sobre a morte de João Pessoa

4.ago.1954 – Atentado contra Lacerda

Na madrugada de quarta-feira, o jornalista e político Carlos Lacerda, maior opositor do presidente Getúlio Vargas e que fazia ferrenha campanha contra Getúlio no jornal Tribuna da Imprensa, de sua propriedade, foi atingido por um tiro no pé quando chegava ao número 180 da rua Tonelero, em Copacabana (Rio), onde morava.

Os disparos, vindos de um carro, atingiram também o major da Aeronáutica Rubens Vaz, que fazia a segurança de Lacerda com outro oficial. Vaz foi morto com dois tiros.

De acordo com o inquérito policial, o mandante do crime foi Gregório Fortunato, chefe da Guarda Pessoal de Vargas.

4.dez.1963 – Morte do senador José Kairala

Durante uma discussão no Senado, o senador Arnon de Mello, pai do ex-presidente e atual candidato ao governo de Alagoas Fernando Collor de Mello, matou por engano o senador José Kairala com um tiro no abdômen.

O alvo do disparo era o senador Silvestre Péricles, que já havia ameaçado Arnon durante seu discurso na Casa.

Tanto Arnon quanto Péricles, que também estava armado, foram presos em flagrante por decisão do Senado. Poucos meses depois, o Tribunal do Júri de Brasília votou pela inocência dos senadores.

18.dez.2006 – ACM Neto é esfaqueado

A pensionista Rita de Cássia Sampaio de Souza utilizou uma peixeira de 40 centímetros para esfaquear o deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL), quando o parlamentar deixava seu escritório no bairro da Pituba, em Salvador.

Ele disse estar revoltada com o aumento salarial dos deputados. ACM Neto foi atingido nas costas, quando já estava sentado em seu carro, mas se recuperou.

20.out.2010 – Objeto jogado em José Serra

Durante a campanha presidencial em 2010, o candidato José Serra (PSDB) foi atingido por um objeto circular e transparente durante confusão no Rio de Janeiro.

Ele foi a um hospital onde passou por uma tomografia e cancelou a agenda no período da tarde. Com base em uma reportagem do SBT mostrando o tucano sendo atingido por uma bolinha de papel, Lula ironizou o incidente no dia seguinte.

No entanto, imagens gravadas pela Folha indicavam que o vídeo do SBT mostrando a bolinha de papel atingindo Serra é anterior a arremesso de um outro objeto.

28.set.2016 – Candidato a prefeito de Itumbiara (GO) é morto

O candidato à Prefeitura de Itumbiara (GO) José Gomes da Rocha (PTB) morreu após ser baleado durante a última carreata de campanha. Ele estava acompanhado do então vice-governador de Goiás e hoje governador do estado, José Eliton, que também foi atingido pelos disparos, mas sobreviveu.

Após o ataque, houve uma troca de tiros. O cabo da Polícia Militar Vanilson Rodrigues, que fazia a segurança do evento, e o autor do atentado, identificado como Gilberto Ferreira do Amaral, funcionário da Secretaria Municipal de Saúde, também morreram na ação.

14.mar.2018 – Vereadora do Rio é assassinada

A vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista do carro que a transportava, Anderson Gomes, foram assassinados na rua Joaquim Palhares, no Estácio, zona norte do Rio.

Um carro parou ao lado deles, disparou e fugiu sem roubar nada. Uma assessora que a acompanhava sobreviveu.

27.mar.2018 – Tiros na caravana de Lula

Dois dos três ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram atingidos por quatro tiros na noite de 27 de março de 2018, no Paraná.

Um dos veículos, que era ocupado por jornalistas e era o último do comboio, teve duas perfurações na lataria —dos dois lados. Outro tiro atingiu de raspão um dos vidros do mesmo veículo. Ninguém se feriu.

O ataque ocorreu na saída da cidade de Quedas do Iguaçu, no Paraná, quando a caravana seguia para Laranjeiras do Sul.

 

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1968 – DA 21ª À 23ª BOMBA: Após explosões no Dops e em fóruns, polícia prende grupo de extrema direita https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/08/20/1968-da-21a-a-23a-bomba-apos-explosoes-no-dops-e-em-foruns-policia-prende-grupo-de-extrema-direita/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/08/20/1968-da-21a-a-23a-bomba-apos-explosoes-no-dops-e-em-foruns-policia-prende-grupo-de-extrema-direita/#respond Mon, 20 Aug 2018 09:00:56 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/carro2-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10300 A madrugada de 19 de agosto de 1968 foi muito agitada para os policiais em São Paulo. A partir das 3h, houve uma sequência de três explosões em locais relevantes para o poder público.

Um carro-bomba, cheio de dinamites, foi detonado na frente do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e dois artefatos foram jogadas nos prédios dos fóruns da Lapa e de Santana.

Apesar de o ataque ter sido de grande potência, só houve vítimas com ferimentos leves.

Com essa ação, a região metropolitana de São Paulo passou a registrar, pelo menos, 23 casos de bomba somente em 1968. Essas histórias estão sendo resgatadas pelo Banco de Dados e publicadas no Blog do Acervo Folha.

Após tantos ataques, a polícia prendeu um grupo de extrema direita e o apontou como responsável por, pelo menos, 13 ações com bombas, inclusive as três do dia 19 de agosto.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

A maior explosão daquela madrugada ocorreu no largo General Osório a cerca de 50 metros do Dops. A bomba estava dentro de um automóvel Aero Willys, de cor verde.

Esse carro e outros dois, que estavam parados ao seu lado, ficaram destruídos. Estilhaços dos veículos foram encontrados até a 150 metros.

O estouro destruiu todos os vidros do prédio do Dops e deixou um policial ferido, o sentinela Paulo Roberto Santos. Com o impacto da explosão, ele foi jogado para trás e teve a perna cortada.

Um hóspede de um hotel da região também se feriu. Jeronimo Moreira Neto foi atingido por um estilhaço de vidro na testa enquanto dormia. Passou pelo Pronto-Socorro da Barra Funda e depois foi ao Dops.

A cerca de cinco quilômetros dali, o Fórum Distrital de Santana também foi alvo de um ataque apenas poucos minutos depois. Uma bomba destruiu a fachada do local.

O soldado da Força Pública Isidoro Luís Inoe estava dormindo nos fundos do prédio e caiu da cama com o estouro. Ele, ainda atordoado e usando apenas um shorts, foi até a frente do prédio e verificou o que tinha acontecido.

As casas vizinhas do fórum também sofreram danos. A deslocação de ar quebrou muitos vidros das residências.

O terceiro e último atentado daquela madrugada ocorreu no Fórum Distrital da Lapa, localizado a dez quilômetros do de Santana e a oito quilômetros do Dops.

A bomba foi jogada na parede lateral do edifício, provocando um rombo no concreto. Uma agência bancária, instalada no prédio vizinho, ficou com sua entrada bastante danificada.

A primeira viatura que chegou ao local teve que prestar socorro a um casal de namorados que estava passando próximo ao local. Eles ficaram levemente feridos.

A moradora Neusa Pinto Magalhães, que residia perto do fórum na Lapa, disse que a explosão deixou a rua sob muita fumaça.

“Eram 3h15, mais ou menos. Eu acordei um pouco antes. Repentinamente, ouvi uma violenta explosão, as paredes tremeram, os vidros se partiram”, afirmou.

Investigação

Ao analisar os destroços, a polícia verificou que o carro que explodiu era o mesmo utilizado por ladrões em um assalto a um banco em Perus, no dia 1º de agosto daquele ano. O automóvel havia sido roubado e teve a placa trocada.

Em 22 de agosto, as forças de segurança informaram ter detido alguns membros do grupo que organizou os atentados ao Dops e aos fóruns da Lapa e Santana, além do assalto ao banco de Perus.

As investigações prosseguiram. E, após depoimentos de 19 presos, o Exército apontou o escritor Aladino Félix (que usava o codinome de Sábato Dinotos) como o chefe da quadrilha. O grupo de extrema direita contava com a participação de militares e de civis.

O motivo era político. Segundo a polícia, eles formam um movimento que pretendia levar Félix a ser governador de São Paulo e fazer com que o soldado Gesse Candido de Morais se tornasse comandante da Força Pública.

Apenas parte dos adeptos desse movimento, porém, teria participado das ações violentas. As autoridades acreditavam que eles organizaram outras dez ações com explosivos em pontos estratégicos:

  1.  Quartel-general da Força Pública
  2.  Departamento de Alistamento da Força Pública
  3.  Bolsa de Valores
  4.  Pontilhão da ferrovia Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, no Piqueri
  5.  Passagem subterrânea da ferrovia Estrada de Ferro Sorocabana, na Lapa
  6.  Passagem de nível da Estrada de Ferro Central do Brasil, na Penha
  7.  Trem da da Estrada de Ferro Central do Brasil
  8.  Oleoduto em em Utinga, na cidade Santo André
  9.  Estátua de Duque de Caxias, na praça Princesa Isabel
  10.  Palácio do Governo

Félix havia ganhado notoriedade com seus estudos sobre disco voador anteriormente. Chegou a dizer a um jornalista que tinha feito uma viagem de ida e volta ao planeta Vênus. Também foi divulgado na época que ele havia criado uma nova língua, misturando o hebraico, o grego e o latim, na qual ele teria aprendido de Deus.

De acordo com a polícia, o plano do preso era primeiro atingir o poder do estado de São Paulo e, depois, dominar o país.

Em depoimento ao juiz, Félix negou que tenha participado diretamente de um atentado a bomba. No entanto disse que os atos eram determinados pela Casa Militar da Presidência da República e que ele era apenas o intermediário do grupo.

Segundo ele, o objetivo era apenas criar tensão para possibilitar uma ditadura mais aberta e, por isso, não poderia chamar as ações de “terroristas”.

Félix disse que, quando foi preso, sofreu tortura, com choques elétricos, e que assinou o seu depoimento quando estava semiconsciente.

O general Silvio Correia de Andrade, titular do Departamento de Polícia Federal em São Paulo, desmentiu as falas de Félix. “Está completamente fora da realidade”, disse, sobre o escritor preso.

À parte a prisão de Félix, as forças de segurança se mantinham em alerta e ainda à caça dos autores de outros atendados a bomba.

Veja também:

1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas

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Desde 1998, Kofi Annan escreveu sobre liberdade de imprensa e eleições na Folha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/08/18/desde-1998-kofi-annan-escreveu-sobre-liberdade-de-imprensa-e-eleicoes-na-folha/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/08/18/desde-1998-kofi-annan-escreveu-sobre-liberdade-de-imprensa-e-eleicoes-na-folha/#respond Sat, 18 Aug 2018 14:05:39 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/Kofi-Annan-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10315 Kofi Annan, que foi secretário-geral da ONU de 1997 a 2006, sempre esteve presente nas páginas da Folha. E em pelo menos em 15 oportunidades o fez com suas próprias palavras.

Desde que assumiu a Organização das Nações Unidas, o ganês relatou na Folha seus maiores desafios, como em 15 de março de 1998, quando fez um balanço de um ano à frente da entidade. e as principais questões que abordaria em sua gestão, como Conselho de Segurança, crise humanitária, clima.

Sob o título “Nações Unidas: revolução silenciosa“, ele indicou os desafios que enfrentava com falta de recursos. Isso porque, naquele primeiro ano (1997-1998), teve que realizar a demissão de funcionários e a redefinição de ações, com cortes orçamentários de US$ 123 milhões (cerca de R$ 487 milhões).

Atento aos temas mais sensíveis para o mundo, Annan falou sobre a liberdade de imprensa (“Em toda sociedade, a liberdade de informação é fundamental para a transparência, a prestação de contas, o bom governo e o império da lei”),  pontos-chaves para a vida humana (“água, energia, saúde, agricultura e biodiversiade”), países que precisavam de ajuda (entre eles o Timor Leste) e a importância das Nações Unidas (“A ONU não sobreviverá ao século 21 enquanto todos não perceberem que a organização está fazendo algo para eles, protegendo-os não só de conflitos, mas da pobreza, da fome, das doenças e da degradação do ambiente”), entre outros assuntos.

Defensor ferrenho de que a “guerra deve sempre ser o último recurso”, ele disse que ao longo de sua trajetória aprendeu cinco lições, que inclui responsabilidades sobre a própria segurança, a de uma nação e a do mundo, e revelou ser fã de futebol, um esporte que “é um dos poucos fenômenos tão universais quanto as Nações Unidas”.

Também mostrou ter visão sobre o que poderia vir a afligir o mundo, quando citou em 2004 a que a Europa deveria se preparar para uma crise migratória (“Um dos maiores testes para uma União Européia ampliada, nos próximos anos e décadas, será a maneira como administrará o desafio da imigração. Se as sociedades europeias estiverem à altura do desafio, a imigração será um fator de enriquecimento e irá fortalecê-las. Se o não conseguirem, as conseqüências podem ser uma queda no nível de vida e divisão social”).

Por fim, em seu último texto na Folha, em 2012, Kofi Annan, que à época presidia a Comissão Global de Eleições, Democracia e Segurança, falou sobre como o processo eleitoral pode ser prejudicado se não houver controle do financiamento de campanhas.

“O financiamento político descontrolado e não regulado põe em risco a fé dos eleitores nas eleições, bem como a confiança na democracia –em países ricos e em países pobres. Isso significa que certamente é preciso agir para impedir compra de votos e suborno dos candidatos, incluindo pelo crime organizado. Mas significa também combater o crescimento explosivo das despesas das campanhas, que afetam a confiança na igualdade eleitoral.”

 

Confira nos links abaixo a íntegra dos textos escritos por Kofi Annan na Folha:

Nações Unidas: revolução silenciosa

Dia Mundial da Liberdade de Imprensa

Uma chance de proteger o futuro

O mundo não pode abandonar Timor Leste

ONU deve ser digna da confiança que o mundo tem nela

Uma oportunidade de paz em Darfur

Por que a ONU é importante?

Uma estratégica de migração para o mundo

Cinco lições

O enfrentamento das alterações climáticas

Como invejamos a Copa do Mundo

Façamos com que esse conselho funcione

Vacinas infantis precisam de incentivos

O que atrasa o progresso da África?

Regular doações e despesas de campanha

 

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Personagem de humor, Barão de Itararé se autoproclamou imperador da Ursas https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/08/13/personagem-de-humor-barao-de-itarare-se-autoproclamou-imperador-da-ursas/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/08/13/personagem-de-humor-barao-de-itarare-se-autoproclamou-imperador-da-ursas/#respond Tue, 14 Aug 2018 01:36:06 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/barao_-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10286 No debate entre candidatos a presidente na última quinta-feira (9), Cabo Daciolo (Patriota) utilizou, de forma séria, a sigla Ursal para se referir a um suposto plano para a construção de uma União das Repúblicas Socialistas da América Latina.

O termo virou piada na internet. Mas, na década de 30, o jornalista e humorista Apparício Torelly já brincava nas páginas da publicação A Manha, uma sátira ao jornal A Manhã, com algo semelhante.

Em seus textos de humor, ele criou a Ursas —que seria a União das Repúblicas Socialistas da América do Sul. A sigla era muito parecida à URSS, da União Soviética

O jornalista usava o nome Barão de Itararé, mas, gradativamente, foi aumentando o seu falso título de nobreza. Passou a dizer que tinha virado duque, grão-duque e imperador.

No dia 21 de novembro de 1931, a Manha publicou um “Manifesto á União das Republicas Sacialistas da Ameaica do Sul” (sic).

Na página, estava destacado que: “O grão-duque de Itararé corôa-se imperador dos povos opprimidos do continente austral do novo mundo” (sic).

Torelly ficou muito popular com os textos de humor. Na política, concorreu a uma cadeira de vereador no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, pelo PCB, em 1947.

O seu lema era “Mais leite! Mais água! Mas menos água no leite!”. Elegeu-se com 3.669 votos. Porém, em janeiro de 1948, os vereadores do partido foram cassados.

Torelly continuou a sua vida no jornalismo.

No livro “AlManhaque”, publicado em 1955 e ampliado em 1995 –em parceria com o diagramador e chargista paraguaio Andre Guevara–, a sigla Ursas voltou a aparecer.

​Ele brincou escrevendo que a “embaixada mais austera, mais solene e alinhada, entre as 50 representações estrangeiras” que vieram assistir à posse de Juscelino Kubitschek como presidente foi “sem dúvida a chefiada pelo exmo. sr. Barão de Itararé, que compareceu ao Palácio Tiradentes por si e pelo Território Livre de Itararé, que já faz parte das Ursas”.

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1968 – 20ª BOMBA: Ataque no Sumaré faz polícia suspeitar de ação contra EUA https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/30/1968-20a-bomba-ataque-no-sumare-faz-policia-suspeitar-de-acao-contra-eua/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/30/1968-20a-bomba-ataque-no-sumare-faz-policia-suspeitar-de-acao-contra-eua/#respond Mon, 30 Jul 2018 09:21:26 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/DOPS4-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10228 No primeiro semestre de 1968, o Consulado dos Estados Unidos e a residência de um executivo norte-americano da Kibon já haviam sido alvos de atentados a bombas em São Paulo.

O caso seguinte a estes contra um estrangeiro ocorreu no dia 28 de julho daquele ano, um domingo.

Às 3h30, um coquetel molotov foi jogado na residência da chinesa Elizabeth Chang Margareth, que havia vindo de Hong Kong para São Paulo fazia cinco anos.

O explosivo caiu no jardim, falhou ao explodir e só queimou uma pequena parte da grama.

Ela morava na rua Grajaú, número 212, no Sumaré, na zona oeste de São Paulo. Seu vizinho era o vice-cônsul norte-americano Richard Baker.

Com esse dia, ao menos, 20 bombas haviam sido registradas na região metropolitana de São Paulo pela polícia em 1968, conforme mostra a série do Banco de Dados que está sendo publicada no Blog do Acervo Folha.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

O Brasil vivia um período de ditadura. Os militares, no poder desde 1964, estavam sendo desafiados por grupos armados.

E as autoridades batiam cabeça para tentar desvendar a autoria dos ataques a bombas e se havia alguma relação entre eles.

Sobre o atentado do dia 28 de julho, a polícia sabia que, além do explosivo jogado, também houve disparos de tiros. E isso não era comum nos casos de bombas registrados em 1968.

A janela de frente da casa foi atingida e ficou com vidros quebrados. O Dops (Departamento de Ordem Política e Social) esteve no local e apurou, ao analisar uma bala incrustada na parede, que a arma usada era de calibre 38.

Morador da casa ao lado, o vice-cônsul americano acordou e foi para a janela ver o que estava acontecendo.

Ele relatou que chegou a ver um carro Aero Willys, com várias pessoas discutindo em seu interior. O veículo logo partiu em alta velocidade.

Uma das suspeitas da polícia era que os autores do atentado desejariam fazer um ataque contra o diplomata dos Estados Unidos. Porém eles teriam se enganado na hora da ação e lançado o coquetel molotov na casa errada.

Outra hipótese, esta com cunho político contra Hong Kong, levantada pela polícia considerava que o grupo responsável pelo ataque tinha alguma ligação com a comunista China continental.

O território, de onde veio Elizabeth, estava sob o controle do Reino Unido e era um polo do capitalismo na região da Ásia.

Suspeitas sem relação política também foram feitas.

Sem ter muitas pistas, esse caso se juntou a outros atentados (alguns bem mais graves) que as autoridades brasileiras buscavam,  ainda meio desnorteadas, esclarecer.

Veja também:

1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas

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1968: Atores de ‘Roda Viva’ são agredidos, e teatro é depredado https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/18/1968-atores-de-roda-viva-sao-agredidos-e-teatro-e-depredado/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/18/1968-atores-de-roda-viva-sao-agredidos-e-teatro-e-depredado/#respond Wed, 18 Jul 2018 09:00:35 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/BancoTeatroRuthEscobar-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10142 Assim que terminou a apresentação da peça ‘Roda Viva’, por volta das 23h30 de 18 de julho de 1968, os atores foram surpreendidos por um ataque na sala O Galpão, no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo.

Integrantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) começaram a bater nos atores e na equipe do espetáculo.  Cerca de 90 homens agiram dentro do teatro, e 20 ficaram fora.

A peça foi escrita por Chico Buarque e recebeu a direção de Zé Celso Martinez Corrêa. Estreou no Rio de Janeiro em janeiro de 1968, com muito sucesso, e em maio veio para São Paulo.

Os invasores estavam armados com cassetetes e socos-ingleses, relatou a Folha, em uma edição vespertina, publicada no dia seguinte.

“Depredaram as poltronas, quebraram os ‘spots’, instrumentos musicais, e subiram aos camarins onde as atrizes estavam mudando de roupa. Espancaram-nas, tirando-lhes a roupa, e praticaram atos brutais de sevicia, conforme afirmavam atores, testemunhas oculares da violência”, informou a reportagem.

Reprodução da primeira página da Folha de 19 de abril, da edição vespertina

A pancadaria durou cerca de três minutos. O contrarregra José Luiz Araújo sofreu uma fratura na bacia. A atriz Marília Pêra, protagonista da peça, foi forçada a sair pelada de lá.

“Os invasores quebraram tudo o que puderam, bateram em todos os artistas, principalmente no contrarregra José Luiz Araújo e na atriz Marília Pêra, que, depois de várias vezes mordida, foi obrigada a andar nua pela rua”, reportou a Folha da Tarde.

Manchete da Folha da Tarde, de 19 de julho de 1968

Marília falou sobre esse episódio no livro “Vissi D’Arte” (1999), biografia escrita pelo dramaturgo Flavio de Souza e pela própria atriz.

“Entraram quebrando os espelhos, arrancaram minha roupa, deram socos. Saí correndo, me desviando de socos. No corredor havia mais rapazes, e enquanto fugia eu sentia cassetetes nas costas”, declarou.

A atriz Margot Baird foi outra vítima, conforme publicou a Folha da Tarde. “Depois de despi-la totalmente, dois terroristas torceram os seus seios”, descreveu a reportagem.

O ator Rodrigo Santiago declarou que estava no seu camarim só de paletó, quando houve a invasão. “Corri. Passei por um corredor polonês, de 20 homens com japonas azuis. Levei porrada e torci o tornozelo. Nada grave.”

Durante a tarde daquele dia, um telefonema anônimo foi recebido avisando que um grupo estava planejando um quebra-quebra na peça “Feira Paulista de Opinião”, também encenada no Teatro Ruth Escobar. A ameaça ao teatro se confirmou, mas o alvo foi o outro espetáculo.

No momento do ataque, policiais estavam teatro para tentar aumentar a segurança. Porém, como relatam os jornais, eles nada fizeram para impedir a depredação e as agressões.

O enredo de “Roda Viva” não tinha cunho diretamente político. Contava a história de um artista que ficou famoso, virou um ídolo, se adaptou as demandas da indústria cultural  e depois cometeu suicídio.

A peça tinha palavrões e cenas mais fortes. Por exemplo, um fígado cru era dilacerado no palco, como se um ídolo fosse devorado, e o sangue respingava no público.

Nesta época, a ditadura militar estava em seu quarto ano no poder no Brasil, e os militares já haviam começado a endurecer o discurso.

O teatrólogo Plínio Marcos, um dos dirigentes da classe teatral, afirmou que o ataque aos atores de “Roda Viva” serviria para tumultuar ainda mais o país.

“Todo o patriota teme e nós tememos pelos destinos de nossa pátria. Sentimos que há realmente um grupo organizado, forçando a barra, para levar a nação a um regime de terror e violência”, declarou.

No dia seguinte, os atores se apresentaram mesmo feridos e com figurinos rasgados.

Depois do ataque, o censor Mário F. Russomano chegou a questionar se Chico Buarque seria um débil mental por ter escrito a peça.

“Roda Viva” ainda sofreria outro ataque, em Porto Alegre, em outubro de 1968. Segundo Zé Celso, soldados foram ao hotel, agrediram os atores e os colocaram em um ônibus com destino a São Paulo.

O ataque

Em 17 julho de 1993, a Folha publicou a reportagem “Comando de Caça aos Comunistas diz como atacou ‘Roda Viva’ em 68”, assinada pelo jornalista Luís Antônio Giron.

O texto revelou que o advogado João Marcos Flaquer foi quem planejou e comandou a ação.

“O objetivo era realizar uma ação de propaganda para chamar a atenção de autoridades sobre a iminência da luta armada, que visava a instauração de uma ditadura marxista no Brasil”, disse  Flaquer.

Dos 110 homens que atuaram naquela noite, 70 eram civis e 40 militares. Fora do teatro, ficaram 20 para facilitar a fuga. Estavam armados com cassetetes, revólveres e metralhadoras.

Eles, que já haviam estudado o espaço do teatro, esperaram o público sair, colocaram uma luva na mão esquerda para identificação e iniciaram o quebra-quebra.

Segundo o grupo, a meta havia sido atingida, pois não houve feridos graves e ação ganhou muita repercussão.

O Ato Institucional número 5 foi decretado em 13 de dezembro de 1968, pelo presidente Arthur da Costa e Silva, e deu poderes extraordinários para o governo, como o de fechar o Congresso, as Assembleias e as Câmaras e o de suspender a garantia de habeas corpus em crimes políticos.

“[O ataque à ‘Roda Viva] antecipou o AI-5 e cortou a via subversiva que o teatro teria seguido”, disse Zé Celso, em maio de 1993.

Em novembro de 2017, a coluna da Mônica Bergamo informou que Zé Celso recebeu a autorização de Chico Buarque para remontar a peça. O diretor passou a buscar financiamento para a produção.

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1968 – A 12ª BOMBA: Coquetel molotov é jogado em muro do Colégio Mackenzie https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/1968-a-12a-bomba-coquetel-molotov-e-jogado-em-muro-do-colegio-mackenzie/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/1968-a-12a-bomba-coquetel-molotov-e-jogado-em-muro-do-colegio-mackenzie/#respond Thu, 28 Jun 2018 10:00:45 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/mackenzie_-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9868 Por volta das 4h de 28 de julho de 1968, dois dias após um carro carregado de dinamite ser lançado no quartel-general do 2º Exército e a explosão ter matado o soldado Mário Kozel Filho, a polícia contabilizou mais um ataque com bomba.

Desta vez, o episódio não foi grave e ninguém ficou ferido. Um coquetel molotov foi jogado em um muro do Colégio Mackenzie, em Higienópolis, em São Paulo.

Em menos de quatro meses, pelo menos 12 casos de bombas já tinham sido registrados na cidade. E essas histórias estão sendo resgatadas pelo Banco de Dados e publicadas no Blog do Acervo Folha.

Nesta época, os atentados intrigavam a ditadura militar, que estava em seu quarto ano no Brasil. E grupos de guerrilhas agiam pela cidade desafiando as forças de segurança.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

Conforme a Folha da Tarde publicou, o ataque feito ao Mackenzie teve dois médicos como testemunhas. Eles viram um carro Volkswagen vermelho passar em alta velocidade pela rua Itambé, fazer uma rápida parada, jogar a bomba e fugir.

A dupla chegou a seguir o veículo, mas o perdeu de vista. Depois, eles foram ao quartel-general relatar o ocorrido.

O Dops (Departamento de Ordem Política e Social) foi acionado, e policiais foram ao colégio, recolheram material para a análise e começaram a investigação.

Os agentes voltaram à delegacia às 6h com um homem detido. Porém, após uma interrogação, ele comprovou inocência e foi solto. Assim, a autoria e o motivo do ataque não foram esclarecidos.

Furto de dinamites

No mesmo dia, mais notícias aumentaram a preocupação das autoridades. Um grupo invadiu, também de madrugada, o depósito de explosivos de uma pedreira, perto do 15º quilometro da rodovia Raposo Tavares, e levou 500 quilos de dinamites.

A quantidade de explosivo que foi subtraída da pedreira era dez vezes maior do que a colocada no carro-bomba que matou Kozel Filho, 18.

O furto só foi descoberto às 6h30 pelo funcionário Jurael Lara dos Santos, quando este chegava ao trabalho.

“Conversei um pouco com os meus colegas lá do escritório e depois fui ao depósito buscar as dinamites. Uns 20 metros antes de chegar ao depósito vi que a porta estava meio aberta e a fechadura arrebentada. Corri, puxei a porta, a dinamite tinha sumido”, disse Santos para a Folha.

Os cálculos feitos eram que, somando essa ação a outros assaltos já efetuados em pedreiras, cerca de 1.100 quilos de dinamites estavam em mãos de elementos desconhecidos. E a polícia ainda teria muito trabalho naquele ano.

Veja também:

1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas

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