Acervo Folha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br No jornal, na internet e na história Fri, 19 Feb 2021 13:40:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Só 2 presidentes receberam e passaram faixa no período pós-ditadura militar https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/31/so-2-presidentes-receberam-e-passaram-faixa-no-periodo-pos-ditadura-militar/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/31/so-2-presidentes-receberam-e-passaram-faixa-no-periodo-pos-ditadura-militar/#respond Mon, 31 Dec 2018 09:00:22 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/faixa-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10716 Rodolfo Stipp Martino e Luiz Carlos Ferreira

Dos sete presidentes que o Brasil teve entre 1985 (com o fim da ditadura militar) e 2018, apenas dois receberam a faixa presidencial de seus antecessores e a entregaram, após terminarem seus governos, para os seus substitutos durante as cerimônias de posse em Brasília.

Isso ocorreu com Fernando Henrique Cardoso e com Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos governaram por dois mandatos.

FHC recebeu a faixa de Itamar Franco em 1995 e a passou para Lula em 2003. Já o petista a entregou para Dilma Rousseff, a sua herdeira política, em 2011.

Veja como foram as  posses dos presidentes:

Sarney

Em uma cerimônia de apenas 20 minutos, iniciada às 10h15 de 15 de março de 1985 no Congresso Nacional, José Sarney foi empossado no cargo de vice-presidente da República. Em seguida, como o presidente eleito Tancredo Neves estava doente, ele assumiu a Presidência da República. Foi uma sessão rápida e sem discurso.

A saída do Congresso, Sarney deveria passar em revista a tropa, mas a presença de uma multidão de cerca de 30 mil pessoas, conforme a Folha publicou na ocasião, impediu que isso ocorresse. Antes de entrar no carro para ir ao Palácio do Planalto, ele acenou para as pessoas que estavam no gramado do Congresso e ouviu como resposta em coro: “Tancredo, Tancredo”.

O ex-presidente João Baptista Figueiredo se recusou a passar a faixa para Sarney e decidiu não participar das cerimônias de sucessão, preferindo acompanhá-la pela televisão.

Na madrugada anterior à posse, houve muita apreensão já que Tancredo estava internado no hospital. O próprio Sarney achava inicialmente que a Presidência deveria ser assumida pelo presidente da Câmara, Ulysses Guimarães. Mas essa solução foi rejeitada pela maioria dos parlamentares, liderados por Ulysses.

Collor

Fernando Collor tomou posse às 9h58 de 15 de março de 1990 e fez um discurso de 54 minutos, priorizando o combate à inflação como objetivo de seu governo.

Às 11h25, no Palácio do Planalto, ele recebeu de José Sarney a faixa presidencial e mostrou estar emocionado. Os dois, que eram adversários políticos, trataram-se de forma protocolar.

“Transmito ao doutor Fernando Collor de Mello, empossado pelo Congresso, a chefia do Estado e a chefia do governo”, disse Sarney. Cerca de 600 pessoas assistiram a solenidade através de três telões instalados no Congresso.

Eles se despediram às 11h34, e o ex-presidente desceu a rampa do Planalto. Já Collor retornou para assinar o termo de sua posse e dos ministros e depois foi para o parlatório, onde discursou. Ele foi o primeiro presidente a usar o parlatório no dia da posse depois de Jânio Quadros em 1961.

De todos os membros das representações estrangeiras (121 ao todo), o ditador cubano Fidel Castro foi quem mais atraiu a atenção do público. Ele foi também o estrangeiro mais aplaudido pelos convidados, ao aparecer no salão nobre do Planalto e o que mais alvoroçou deputados e senadores.

Itamar

Primeiro presidente eleito diretamente após a ditadura militar, Collor renunciou ao seu mandato no dia 29 de dezembro de 1992. O Congresso foi comunicado de sua decisão às 9h34, 21 minutos após o início da sessão do processo para seu impeachment no Senado.

Dessa forma, Itamar Franco tornou-se o sétimo vice a assumir a Presidência do Brasil. Ele assinou o termo da posse no mesmo dia às 13h10. A cerimônia foi breve.

Quando Itamar entrou no plenário, estudantes “caras-pintadas” cantaram das galerias o Hino à Independência e puxaram refrão: “O povo unido jamais será vencido.”

O novo presidente não fez discurso, apenas leu o “compromisso de posse”. Depois disso, a plateia cantou o Hino Nacional. Durante a saída do presidente, que fez carreira em solo mineiro, novo coro surgiu: “Ô, Minas Gerais, quem te conhece…”

FHC

Fernando Henrique Cardoso virou presidente da República às 16h41 de 1º de janeiro de 1995, quando ele e seu vice, Marco Antônio de Oliveira Maciel, foram declarados empossados pelo então presidente do Senado, Humberto Lucena (PMDB-PB).

Depois, FHC foi ao parlatório do Palácio do Planalto, ainda coberto por um plástico ainda marcado pelas gotas da chuva que caiu antes da cerimônia. Lá, FHC recebeu de Itamar a faixa presidencial e também um prolongado abraço. Os dois deram-se as mãos e ergueram os braços.

Essa foi a primeira vez que Itamar usou a faixa (ele havia recusado nos dois anos de Presidência a ir aos desfiles de Sete de Setembro com a faixa sobre o paletó). De acordo com dados da Polícia Militar, menos de 10 mil pessoas estiveram na Praça dos Três Poderes no dia da cerimônia.

A segunda posse de FHC foi em 1° de janeiro 1999 às 17h05 e acabou sendo mais simples do que a primeira. Dois fatores pesaram: a crise econômica e o fato de não ocorrer a transmissão de cargo de um presidente para outro.

Nas ruas, pouco mais de 1.500 pessoas acompanharam as solenidades. Nem o plenário da Câmara dos Deputados ficou lotado para a cerimônia da posse.

Lula

A posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 1º de janeiro de 2003 foi considerada como, até então, a maior manifestação popular da história das cerimônias do gênero em Brasília.

Ele foi empossado às 15h06, em cerimônia no Congresso Nacional. O seu pronunciamento enfatizou o combate à fome, convocando a população a um “mutirão nacional”

O dia foi marcado por informalidades e por quebras de protocolos. Uma mulher, por exemplo, conseguiu driblar a segurança e tirar uma foto com Lula depois que ele desceu a rampa do Congresso.

Na hora de transmissão de faixa, os óculos de FHC caíram e Lula abaixou-se para pegá-los. Na sequência, o Hino Nacional foi tocado. De acordo com a Defesa Civil, 70 mil pessoas acompanharam as solenidades.

FHC disse que se emocionou ao passar a faixa. “Praticamente nós dois choramos. Fiquei muito emocionado quando dei um abraço no Lula também”, afirmou o tucano. “Ele [Lula] me disse: ‘Você tem um amigo aqui’”, contou.

Assim como ocorreu com FHC, a festa da posse do segundo mandato de Lula, no dia 1º de janeiro de 2007, também foi mais esvaziada do que a primeira, atraindo cerca de 10 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar.

Jornalistas, funcionários de vários setores e convidados chegaram até a serem autorizados a entrar no plenário da Câmara para sentar nas cadeiras reservadas aos deputados, evitando um constrangimento maior na cerimônia.

Dilma

No dia 1ª de janeiro de 2011, pela primeira vez na história do Brasil uma mulher recebeu a faixa presidencial: Dilma Rousseff.

Ex-presa política, ela foi declarada empossada às 14h52 por um antigo integrante do campo político da ditadura que combateu, o então senador José Sarney. Em seu discurso, chorou quando homenageou os que “tombaram pelo caminho”, referindo-se às vítimas da ditadura.

Por causa de uma tempestade, Dilma não pôde usar um carro aberto no desfile até o Congresso. Mas a chuva cessou no trajeto até o Palácio do Planalto e no momento de subir na rampa. Segundo a Folha informou, a cerimônia foi assistida por cerca de 30 mil pessoas.

Quando assumiu o seu segundo mandato, em 1º de janeiro de 2015, Dilma prometeu ajustes na economia sem trair compromissos sociais e submeter a população ao “menor sacrifício possível” para o país crescer. A solenidade levou um público de cerca de 15 mil pessoas à Praça dos Três Poderes.

O ex-presidente Lula teve uma passagem discreta pela cerimônia. Ele não compareceu à solenidade no Congresso. Ficou esperando em uma sala da Presidência até que ela chegasse ao Palácio do Planalto. Circulou entre convidados, cumprimentou Dilma, assistiu ao discurso e saiu antes da posse dos ministros.

Temer

O Senado destituiu Dilma da Presidência em 31 de agosto de 2016 após um processo de impeachment, fazendo com que Michel Temer assumisse, de vez, o poder. Ele já exercia o cargo interinamente desde maio daquele ano.

Após ser notificada, Dilma disse que estava vivendo o segundo golpe de sua vida, em referência ao de 1964.

A posse de Temer ocorreu às 16h49 em um Senado lotado. À noite, em um pronunciamento em cadeia nacional de TV e rádio, o novo presidente prometeu buscar a reconciliação e a pacificação nacional.

No mesmo dia da posse, ele já viajou para a China para reunião do G20 (grupo das maiores economias do mundo).

 

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Roubo da taça Jules Rimet na sede da CBF completa 35 anos https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/19/roubo-da-taca-jules-rimet-na-sede-da-cbf-completa-35-anos/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/19/roubo-da-taca-jules-rimet-na-sede-da-cbf-completa-35-anos/#respond Wed, 19 Dec 2018 09:00:31 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/Jules-Rimet_tratada-e1545169162859-247x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10680 Em 1983, cerca de 13 anos depois de ter ajudado a seleção brasileira a ganhar a Copa do México, o ex-volante Clodoaldo tomou um susto em uma manhã ao ler a notícia bombástica no jornal: a taça Jules Rimet foi roubada da sede da CBF, no Rio de Janeiro.

“Fiquei espantado na hora. É uma coisa absurda e inexplicável. Aquela taça representava muito para o Brasil e para todos os que gostam de futebol”, disse o ex-jogador para a reportagem do Banco de Dados Folha.

A taça Jules Rimet foi conquistada, em definitivo, pela seleção no dia 21 de junho de 1970, com a goleada de 4 a 1 sobre a Itália na final do Mundial, no estádio Azteca, na Cidade do México.

Conforme as regras da Fifa, a primeira equipe que vencesse a Copa três vezes ficaria com o troféu. E o Brasil já havia triunfado em 1958 e 1962.

“Quando fomos campeões, a taça passou pelas mãos dos jogadores em campo. Foi muito emocionante quando a segurei. Em um momento como aquele, a gente nem repara direito [nos detalhes da taça]. Mas a Jules Rimet, realmente, era linda”, relatou.

Clodoaldo, em 1970 – Folhapress

Nesta quarta-feira (19), o sumiço do troféu completa 35 anos. O seu paradeiro é ainda um mistério, mas a versão mais difundida é a de que ela foi derretida.

“Duas datas ficaram marcadas. Uma alegre, do dia da conquista do Brasil no México, e a outra triste, do dia do roubo”, declarou Clodoaldo.

A taça tinha 35 centímetros de altura, pesava aproximadamente 3,8 quilos e representava a deusa grega da vitória. Era feita de prata, coberta com ouro, e era fixada em uma base de pedra semipreciosa. Também havia placas de ouro com os nomes dos países campeões.

A primeira Copa foi realizada em 1930, e os jogadores do Uruguai, país que sediou o Mundial, foram os vencedores, recebendo o troféu.

Em 1934, a taça passou para as mãos dos italianos, campeões da Copa em seu país. A Itália voltou a repetir o feito em 1938, quando conquistou o torneio na França.

Por causa da Segunda Guerra, a competição não foi realizada nos anos 40.

De acordo com a Fifa, durante o conflito o precioso troféu chegou a ficar escondido dentro de uma caixa de sapatos, em baixo da cama do então vice-presidente da entidade, o italiano Ottorino Barassi. A intenção do cartola foi impedir que a taça fosse tomada pelos soldados que ocupavam o seu país.

Depois da guerra, a Fifa decidiu batizar o troféu com o nome de Jules Rimet, em homenagem ao dirigente idealizador da Copa. O torneio voltou a ser realizado em 1950 no Brasil.

A base da taça foi trocada em 1954, por precisar de mais espaço para gravar os nomes dos times campeões. Uma nova parte, maior, foi colocada como suporte.

Base original da taça com placa do título do Uruguai em 1950 (Foto: Fábio Aleixo)

Furto em Londres

Em 1966, a Copa seria disputada na Inglaterra, e a Fifa autorizou que taça ficasse exposta em um evento em Londres.

A taça deveria permanecer em uma caixa de vidro fechada e ficar sob vigilância o tempo inteiro. Mas não foi isso o que ocorreu. No dia 20 de março daquele ano, no período em que a exposição estava fechada, alguém entrou pelas portas dos fundos e furtou a Jules Rimet.

Não foram os agentes da famosa Scotland Yard (polícia metropolitana de Londres) quem encontraram o troféu, mas, sim, o cachorro Pickles e o seu dono David Corbett.

O animal começou a farejar um pacote diferente (um objeto estava revestido por jornais e amarrado por barbantes) perto da roda de um carro.

Corbett disse que inicialmente pensou que fosse uma bomba, mas que ficou tomado pela curiosidade. Foi assim que a taça foi encontrada.

“Eu rasquei [o pacote] um pouco em baixo e havia um disco simples. Então, rasguei em volta e lá estava escrito Brasil, Alemanha, Uruguai [nomes dos países campeões grafados no troféu]”, afirmou Corbett para o site da Fifa.

No dia 30 de julho de 1966, o objeto achado por Pickles seria erguido pelo capitão da seleção inglesa, Bobby Moore, após a vitória sobre a Alemanha na final do Mundial.

Brasil

A última Copa com a Jules Rimet foi a de 1970 no México, quando Clodoaldo, Gérson, Pelé e seus companheiros brilharam. Com o tricampeoanto brasileiro, esse troféu foi entregue para a CBF e um novo foi criado para o Mundial seguinte.

Diferentemente da primeira taça, o novo troféu, chamado de Copa do Mundo Fifa, não fica, em definitivo, com nenhuma seleção. Muda de posse, sempre quando surge um novo campeão.

A taça Jules Rimet foi roubada no dia 19 de dezembro de 1983 no prédio da CBF, que ficava rua da Alfândega, no Rio de Janeiro.

Segundo relatos, ela ficava exposta na sala de reuniões, no nono andar do prédio, em uma vitrine de vidro que seria a prova de bala. Só que esse vidro estava instalado em uma moldura de madeira, podendo ser arrombado.

Já a réplica desse troféu, que também continha ouro e era usada para substituir a original em viagens, estava guardada em um cofre de aço.

Para invadir o prédio, os ladrões renderam um vigia.

A edição da Folha de 21 de dezembro de 1983 informou que os policiais consideraram precárias a segurança da vitrine em que estavam a Jules Rimet e os outros três troféus roubados na ação.

O então presidente da CBF, Giuliete Coutinho, rebateu e disse que precária era a segurança oferecida pela polícia aos cidadãos.

“O serviço de segurança que eles oferecem é praticamente mínimo, e agora vêm nos criticar. A taça Jules Rimet estava onde sempre esteve desde que foi conquistada pelo Brasil em 1970”, disse o dirigente, na época.

Segundo o presidente da CBF, a taça estava segurada em aproximadamente Cr$ 30 milhões (R$ 375 mil), pois era esse o valor correspondente à parte em ouro (1,8 kg).

Em 12 de maio de 1988, a Folha divulgou que a Justiça condenou a nove anos de prisão Sérgio Pereira Ayres (conhecido como Sérgio Peralta), José Luiz Vieira da Silva (Luiz Bigode) e Francisco José Rocha Rivera (Chico Barbudo), acusados de terem roubado a Jules Rimet. Já Juan Carlos Hernandes pegou a pena de três anos de prisão como receptor.

Conforme texto publicado na Ilustríssima em 25 de maio de 2014, assinado por Anélio Barreto,  Peralta foi preso em 1994 e ganhou liberdade condicional quatro anos depois. Chico Barbudo morreu assassinado em 1989. Luiz Bigode foi capturado em 1995 e ganhou liberdade condicional após três anos. Já Hernandes foi preso em 1998, mas por tráfico de drogas, e não por causa do roubo na CBF.

Reportagem sobre o roubo da Jules Rimet publicada na Folha – 21.dez.1968/Reprodução

 

 

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1988: Folha desmascara banda fake do hit ‘Pipi Popô’, idealizada pelos Titãs https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/18/1988-folha-desmascara-banda-fake-do-hit-pipi-popo-idealizada-pelos-titas/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/18/1988-folha-desmascara-banda-fake-do-hit-pipi-popo-idealizada-pelos-titas/#respond Tue, 18 Dec 2018 09:00:03 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/PIPI-POPO-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10583 No final de 1988, um sucesso meteórico começava a fazer barulho nas FMs. Era o proibidão “Pipi Popô”,  uma marchinha nonsense do grupo fake Vestidos de Espaço, feita para o Carnaval de 89.

Com referência clara à homossexualidade [“Seu pipi no meu popô, seu popô no meu pipi…”], o hit foi o escolhido para ser a faixa-título do único trabalho do grupo, um compacto de duas músicas.

No lado B do disco está a mais elaborada, porém menos difusa, “A Marcha do Demo”, feita em homenagem ao compositor popular Lamartine Babo (1904-1963), dos clássicos “O Teu Cabelo Não Nega” e “Linda Morena”.

O grupo era formado pelos “farsantes” Pepino Carnale, 37 –que assina as composições do disco–, Lola, 26, Zeno, 25, e Sebastian, 23, todos nomes fictícios para aumentar ainda mais o ar de mistério diante do então novo fenômeno musical.

O propósito era fazer com que o público acreditasse que o Vestidos de Espaço fosse uma banda real. Outra estratégia era salvaguardar as identidades dos músicos de estúdio e dos verdadeiros letristas.

Mas a brincadeira durou poucas semanas, já que em 3 de dezembro daquele ano, a Folha, por intermédio do repórter Mario Cesar Carvalho, tornou público o enigma.

“É tudo mentira. Vestidos de Espaço, o grupo que está nas rádios com a marchinha ‘Pipi Popô’, nunca entrou num estúdio de gravação”, revelou o jornal.

A reportagem mostrou que quem estava por trás das letras, dos instrumentos e vozes, eram os Titãs, à época em processo de gravação do seu 5° álbum de estúdio, “Õ Blésq Blom” (Warner), das músicas Miséria, Flores e O Pulso.

Os vocais tiveram também as contribuições secretas da então integrante do Kid Abelha, Paula Toller, do produtor musical e ex-Mutante Liminha, do engenheiro de som Vitor Farias e do traquejado músico, escritor e poeta Jorge Mautner, que foi quem batizou a banda. Segundo Mautner, a expressão “vestido de espaço” era usada na Grécia Antiga para dizer que uma pessoa estava despida. 

A reportagem veio acompanhada de uma entrevista exclusiva com dois dos integrantes fake: Pepino Carnale, que o jornal revelou ser o artista plástico Fernando Zarif (1960-2010), e Lola, que era representada pela modelo Bronie, uma das mais requisitadas para desfiles entre os anos 70 e 80.

Na tentativa de mostrar a verdade dos fatos, o jornal perguntou aos falsos músicos se eles sabiam que as marchinhas do compacto eram cantadas e tocadas pelos Titãs, ao que Carnale respondeu: “Quem? Deve haver algum engano. Se isso for uma intriga, eu entro na justiça e processo. Os Titãs formam um grupo interessante. Mas nós fazemos outra coisa. Rock é coisa de colonizado”.

Antes, a Folha havia questionado a banda sobre a possibilidade de “Pipi popô” ser censurada por causa de sua conotação homossexual. Carnale rechaçou o cenário ao afirmar que a música “é muito casta” e que “não existe orgasmo e nem penetração na letra”.

Sobre o poder de influência da marchinha nas crianças, Carnale e Lola, num tom intelectualizado, responderam que “a cultura de massa infantil é onanística” e que a composição foi pensada para ser “uma coisa anti-onanística”.

Os porta-vozes do grupo aproveitaram a entrevista para reforçar que o Vestidos de Espaço não era uma banda de mentira, e sim um projeto que culminaria no lançamento de um LP para o ano seguinte, que não chegou a ser concretizado pelo grupo.

Conforme a biografia “A Vida Até Parece uma Festa – Toda a História dos Titãs” (Record), escrita pelos jornalistas Luiz André Alzer e Hérica Marmo, lançada em 2003, as marchinhas “Pipi popô” e “Marcha do Demo” começaram a ser trabalhadas entre setembro e outubro de 87, no estúdio Nas Nuvens (Rio).

As músicas foram feitas durante os intervalos das gravações do 4º LP dos Titãs, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, dos sucessos “Comida”, “Diversão” e “Lugar Nenhum”, lançado em 88 pela Warner.

“Aproveitávamos o tempo para brincar com faixas e bagunças perdidas no estúdio”, disse Charles Gavin, em 1995, em entrevista para a MTV.

“Pipi Popô é uma composição super infantil, embora com uma certa tendência homossexual. Era uma brincadeira!”, disse Paulo Miklos, também para a MTV, anos após a produção do disco.

Em janeiro de 1989, com o estouro de “Pipi Popô” nas rádios, um manifesto organizado por um estudante de nome Fábio Moura, de 24 anos e estagiário de uma agência de publicidade, pedia a censura da marchinha nas rádios.

A ideia do estudante, segundo a Folha publicou na ocasião, surgiu após o seu retorno dos EUA, onde cursou marketing por dois anos na universidade estadual do Missouri, em Springfield.

Fábio disse ter ficado chocado ao voltar para o Brasil, onde, na sua visão, “tudo estava indo para pior”, até que ele resolveu se manifestar contra um estado de coisas, entre as quais a execução de “Pipi Popô” na mídia.

Empenhado em manter a “ordem”, o estagiário reuniu alguns colegas do Mackenzie e do Anglo, onde havia estudado, para coletar assinaturas em oposição a marchinha, que ele classificou como “símbolo da corrupção no país”.

O estudante, que contou à Folha ser da Igreja Batista e confessou então ser grande admirador de Paulo Maluf, disse que sua principal oposição era ao efeito maléfico que a audição da música poderia causar aos mais velhos e, principalmente, às crianças.     

Para Fábio, que conseguiu 244 assinaturas, “Pipi Popô” estimulava o homossexualismo infantil. “Quem já tem a tendência, vai virar de qualquer jeito. Mas ouvindo essa música, a criança, que é ingênua e pura, vai querer brincar de ‘Pipi Popô’ com os amiguinhos”, afirmou.

Em 14 de janeiro, uma semana após a publicação da reportagem, a leitora da Folha Duane Barros da Fonseca, do Rio, que teve sua carta publicada na coluna “Painel do Leitor”, retrucou o manifesto do estagiário ao chamá-lo de “ridículo”. “O manifesto que pede a censura da música é simplesmente ridículo. Seu organizador devia se preocupar com problemas mais sérios. Manifestos políticos não irão melhorar a moral do país”, escreveu Fonseca.

No mesmo dia em que revelou o segredo dos Titãs e da Warner, o jornal relembrou outros episódios envolvendo bandas fake pelo mundo, como foi o caso do conjunto Klaatu, que, quando do lançamento em 1976 do seu primeiro LP (sem créditos e fotos), deixou rumores de que quem estaria por trás das gravações do álbum seriam os Beatles, por causa de similaridades com a sonoridade do álbum “Sgt. Pepper’s  Lonely Hearts Club Band”, gravado pelo quarteto inglês em 1967.

As identidades dos componentes do Klaatu eram desconhecidas até pela própria gravadora da banda. A verdade só veio à tona dois anos depois, em 1978, quando foi revelado que o conjunto era formado por quatro músicos canadenses de estúdio, que acabaram entrando no ostracismo.

Outra história citada pela reportagem é a dos célebres roqueiros Robert Plant e Jimmy Page, ex-membros do Led Zeppelin, que em 1985 gravaram um disco com “baladinhas açucaradas” sob o nome de Honeydrippers, “provavelmente, tentando escapar à fúria dos fãs conservadores do Led”.

Confira as letras das duas marchinhas do compacto “Pipi Popô”

Pipi Popô 
(Arnaldo Antunes e Branco Mello)

Seu popô no meu pipi

Seu pipi no meu popô

Meu pipi no seu popô

Meu popô no seu pipi

 

Seu pipi no meu popô

Seu popô no meu pipi

Meu popô no seu pipi

Meu pipi no se popô

 

Pipi popô, popô pipi,

Pipi popô popô pipi popô pipi

Pipi popô

 

A Marcha do Demo
(Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer, Branco Mello e Paulo Miklos)

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia o Capitão Nemo

Cuidado com o Demo, cuidado com o Demo

Já dizia Pero Vaz

Cuidado com o Satanás

 

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia Maria Antonieta

Cuidado com o Capeta, cuidado com o Capeta

Já dizia pai Jeú

Cuidado com o Belzebu

 

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia Napoleão

Cuidado com o Cão, cuidado com o Cão

Já dizia Santo Antônio

Cuidado com o Demônio

 

Não foi por falta de aviso

Não foi pro falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

Já dizia Lamartine Babo

Cuidado com o Diabo, cuidado com o Diabo

Já dizia Simbá o Marujo

Cuidado com o Dito Cujo

 

Não foi por falta de aviso

Não foi por falta de alarde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

Agora nas chamas do inferno

O seu corpo arde

 

 

 

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1968 – AS 28ª E 29ª BOMBAS: Avião da praça 14 Bis e multinacional viram alvos https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/17/1968-as-28a-e-29a-bombas-aviao-da-praca-14-bis-e-multinacional-viram-alvos/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/17/1968-as-28a-e-29a-bombas-aviao-da-praca-14-bis-e-multinacional-viram-alvos/#respond Mon, 17 Dec 2018 09:00:38 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/aviaoC3-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10645 Quatro dias após o então presidente do Brasil, Arthur da Costa e Silva, ter baixado o Ato Institucional nº5 e endurecido o regime ditatorial, duas bombas explodiram na região da Grande São Paulo na madrugada de 17 de dezembro de 1968.

Um dos alvos foi o avião da FAB (Força Aérea Brasileira) que ficava exposto como um monumento na praça 14 Bis, perto da avenida 9 de Julho, na Bela Vista, região central de São Paulo.

O outro ponto de ataque foi  na  seção de classificação de algodão da multinacional americana Anderson, Clayton & Company, em São Caetano do Sul. As duas ações não deixaram feridos.

Essas foram as últimas duas das 28 bombas em 1968 na região metropolitana de São Paulo que foram contabilizadas em um levantamento do Banco de Dados da Folha. As histórias de todos os casos foram relatados no Blog do Acervo em 2018.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

A bomba na praça 14 Bis não teve grande poder destrutivo. Danificou a fuselagem e a asa direita do avião C-3, que havia sido transformado em um monumento para homenagear os pracinhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira).

O veículo aéreo, utilizado em combates na Itália durante a Segunda Guerra, foi adaptado e colocado sobre uma armação de cimento para que pudesse ser visto com maior facilidade. Em sua volta, para isolá-lo, foi colocada uma corrente presa a cápsulas usadas também na guerra. Porém as crianças costumavam entrar na área para brincar.

O autor do atentado, assim como faziam as crianças nas brincadeiras, passou pelas correntes. Deixou o artefato junto ao pedestal do monumento e fugiu.

A explosão não fez com que o avião caísse, mas provocou a quebra de vidros em vários prédios vizinhos. O barulho foi ouvido até da delegacia que funcionava na rua Marques de Paranaguá (a aproximadamente um quilômetro do local).

Os agentes foram à praça e recolheram panfletos com mensagens atribuídas ao ex-deputado Carlos Marighella. Ele lutava contra a ditadura e era líder de um grupo armado que viria a receber o nome de ALN (Ação Libertadora Nacional).

O texto divulgado nos panfletos negava a participação de Marighella em assaltos, mas o ligava aos movimentos contra o regime militar. Também havia a reclamação de que os Estados Unidos tinham se transformado em donos do Brasil.

Em 18 de maio de 1992, a Folha publicou uma reportagem, assinada pelo jornalista Mario Cesar Carvalho, relatando que o arquiteto e artista plástico Sérgio Ferro participou do ataque contra o avião da FAB.

Na época da ditadura, Ferro integrava o “Grupo de Arquitetos”, que tinha ligação com a ALN. Também chegou a fazer a ponte com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Ficou preso por um ano, entre dezembro de 1970 e dezembro de 1971, e foi torturado.

Da França, onde radicou-se no exílio, Ferro comentou a ação na praça 14 Bis. “Isso foi ridículo. O avião não caiu, coitado, ficou lá”, declarou.

Na mesma reportagem de 1992, o arquiteto fez uma revelação, bem mais séria. Disse ter colocado, junto com o arquiteto Rodrigo Lefévre (1938-1984) e com uma outra pessoa que ele não contou o nome, a bomba no Consulado dos Estados Unidos na madrugada de 19 de março de 1968.

A explosão atingiu o estudante Orlando Lovecchio Filho, que passava pelo local e teve que amputar o terço inferior de sua perna esquerda.

A reportagem do Banco de Dados Folha não conseguiu entrar em contato com Ferro.

São Caetano do Sul

Assim como ocorreu na praça 14 Bis, panfletos com mensagens que seriam de Marighella foram encontrados onde explodiu a outra bomba da madrugada de 17 de dezembro de 1968.

O petardo foi colocado na porta do prédio da Anderson, Clayton & Company no centro de São Caetano do Sul. Com a detonação, a porta de ferro foi bastante danificada. Vários vidros do edifício também ficaram quebrados.

Antes disso, os agentes estavam empenhados em averiguar uma falsa ameaça.

Uma ligação telefônica anônima, por volta das 23h, informava que uma bomba seria jogada na empresa Matarazzo Rayon (a cerca de 2,5 quilômetros da Anderson) em dez minutos.

Com isso, viaturas da Rádio-Patrulha, dos Bombeiros e da Polícia Civil se dirigiram para o local para realizar as buscas, tomando um drible.

A polícia só ficou sabendo do verdadeiro ataque por volta das 3h30 com um telefonema de um morador da região.

O Dops (Departamento de Ordem Política e Social) foi avisado do ataque pela delegacia de São Caetano, mas o delegado de plantão não pôde ir ao local de prontidão, porque estava ocupado no caso da praça 14 Bis.

O chefe da Polícia Federal em São Paulo, o general Silvio Correia de Andrade, disse acreditar que foi o mesmo grupo que realizou as duas ações.

Independentemente de quem foi o autor da ação em São Caetano, o fato foi que mais uma vez a ditadura voltou a ser desafiada em 1968.

Prédio da Anderson, Clayton em São Caetano depois do ataque – Reprodução

Leia também:

1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas

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1943: Nasce Jim Morrison, poeta, cantor e símbolo sexual da música dos anos 60 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/08/1948-nasce-jim-morrison-poeta-cantor-e-simbolo-sexual-da-musica-dos-anos-60/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/08/1948-nasce-jim-morrison-poeta-cantor-e-simbolo-sexual-da-musica-dos-anos-60/#respond Sat, 08 Dec 2018 09:00:56 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/Doors__bx__blog-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10618 Para descrever Jim Morrison, as palavras cantor, compositor e líder dos The Doors podem ser substituídas por poeta, provocador e rock star incendiário e sexy.

Há 75 anos, nascia em Melbourne, na Flórida, James Douglas Morrison, primogênito de um militar de alta patente da Marinha, em cuja casa reinava a ordem, a disciplina e a retidão. Pela carreira de George Stephen Morrison, pai de Jim, a família se mudou diversas vezes de cidades e estados.

Quando entrou para o curso de cinema da Universidade da Califórnia (UCLA), em 1964, praticamente cortou os laços com a família e dali em diante se dedicou a filmes de curta metragem, poesia e, em pouco tempo, música.

Leitor voraz desde os tempos de escola, foi influenciado por Nietzche, Plutarco, Arthur Rimbaud, além de Jack Kerouac, Allen Ginsberg e Charles Baudelaire.

Um professor de inglês disse: “Jim leu tanto e provavelmente mais do que qualquer aluno, mas tudo o que leu era tão inusitado que outro professor (que estava indo para a Biblioteca do Congresso) foi verificar se os livros que relatava realmente existiam.”

A literatura se fez tão presente na vida dele que até o nome da banda foi inspirado em um livro. The Doors é uma referência direta à obra psicodélica de Aldous Huxley, “The Doors of Perception”. Huxley, por sua vez, tinha se baseado em um trecho de “The Marriage of Heaven and Hell”, de William Blake, de quem Morrison era fã.

De 1966 a 1971 (ano de sua morte), esteve à frente da banda que formara com o tecladista Ray Manzarek (1939-2013), em Venice, na Califórnia. Eles produziram apenas seis álbuns em cinco anos, mas com canções suficientes para marcar aqueles anos turbulentos e criarem clássicos como “The End”, “L.A. Woman”, “Light My Fire” e “Love Me Two Times”.

As músicas dos Doors eram uma fusão de blues, jazz e rock psicodélico. Suas composições captaram a atmosfera de rebeldia efervescente dos anos 1960 e o choque de gerações.

Não à toa que, diante de suas performances no palco, Jim se tornou um dos mais célebres mártires do rock. À frente dos Doors, sua presença magnética de cantor e poeta (também conhecido como “Lizard King”) vestido de couro, trouxe o poder fascinante de um xamã ao microfone.

A rebeldia e o confronto com a ordem, presente em suas canções e atitudes eram sua marca registrada, desafiando a censura e a sabedoria convencional. As letras de Morrison mergulharam em questões de sexo, violência, liberdade e espírito.

“Eu sempre fui atraído por ideias que eram sobre revolta contra a autoridade. Eu gosto de ideias sobre o rompimento ou a derrubada de uma ordem estabelecida”, explicou em uma entrevista.

Sua carreira sempre foi marcada por confronto e provocação. Em março de 1969, em Miami, durante um show Morrison baixou as calças para a plateia ao som de “Touch Me”. Foi julgado e condenado a seis meses de prisão e obrigado a pagar uma multa de US$ 500.

A atitude fez os Doors serem banidos das rádios, tiveram discos recolhidos de lojas e viram seus futuros shows cancelados.

Longe do estúdio, os problemas com drogas e álcool, combinados com sua mentalidade antiautoritária, resultaram em um comportamento sempre imprevisível.

Antes do lançamento de “L.A. Woman” (último álbum da banda com Jim ainda vivo), em abril de 1971, mudou-se para Paris.

Em 3 de julho do mesmo ano foi encontrado morto na banheira do apartamento que dividia com a namorada Pamela Courson. Oficialmente foi declarado ataque cardíaco, mas não houve autópsia e a verdadeira causa da morte segue sem explicação.

Do último trabalho resultaram em clássicos a faixa-título, “Love Her Madly” e “Riders on the Storm”.

Jim Morrison morreu exatamente dois anos depois de Brian Jones (um dos fundadores dos Rolling Stones), dez meses após Jimi Hendrix e nove de Janis Joplin.

Em 1984, o colunista da Folha Ruy Castro escreveu sobre o lançamento do disco “Alive, She Cried”, que continha gravações inéditas dos Doors, ao vivo. O jornalista sintetizou a sucessão de perdas para o rock com uma questão.

“Por que todos os mártires do rock têm J no nome?” E citou todos os acima com o acréscimo de John Lennon, assassinado em 8 de dezembro de 1980. “Quem será o próximo?”, perguntou Castro. E ele mesmo respondeu: “Quem falou Mick Jagger errou. Jagger é esperto demais para morrer”.

Ao longo de seis álbuns e incontáveis apresentações ao vivo, Morrison mudou o curso do rock. Seu corpo acabou não sendo trasladado para os EUA e foi enterrado na capital francesa, onde fãs do mundo todo fazem peregrinações para seu ver túmulo.

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1993: Frank Zappa deixou rock and roll órfão de seu humor e inventividade https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/04/1993-frank-zappa-deixou-rock-e-musica-orfaos-de-seu-humor-e-inventividade/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/04/1993-frank-zappa-deixou-rock-e-musica-orfaos-de-seu-humor-e-inventividade/#respond Tue, 04 Dec 2018 19:01:03 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/Zappa-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10592 O mundo da música nesta terça-feira (4) completa 25 anos sem um de seus ícones: Frank Zappa.

Como bem escreveu o jornalista Fábio Massari em 1997, na Folha, com Frank Vincent Zappa é difícil ficar no meio de caminho. “É amar ou odiar. Ficar indiferente frente à música do ‘american composer’ requer sacrifício.”

Isso porque o americano nascido em 21 de dezembro de 1940, em Baltimore, foi um workaholic da música, tendo lançado mais de 60 álbuns ao longo de 30 anos de carreira e ter sido sempre imprevisível.

Em 1978, porém, num show em Paris, o guitarrista tocou durante três horas, inventando versões de suas “The Illinois Enema Bandit” e “The Torture Neves Stops”, aproveitando as brechas das músicas para fazer gozações com ingleses, para delírio dos franceses.

A efervescência surgiu na infância, quando vivia com o pai, a mãe e três irmãos mais novos. Agarrou-se à música e dela jamais se desprendeu. Foi baterista, compositor, vocalista e guitarrista, e não só isso.

A sua banda, Mothers of Invention, formada em 1964, como descrito em 1983 pelo jornalista Pepe Escobar na Folha, materializou o que Zappa construía em mente, que misturava música, paródias pop, referências clássicas (Edgard Varèse e Béla Bartók), improvisos de jazz de vanguarda, teatro de variedades e comédia burlesca.

Imagem de Frank Zappa que ilustra “You Are What You Is”, álbum duplo do cantor lançado em 1981 (Crédito: Divulgação)

Com um bigode e cavanhaque que também viraram símbolo, Zappa tinha um humor impagável. Exemplo disso: com a banda usando máscaras de gases, de repente todos os músicos ignoravam o público e cessavam a música, e o baterista se levantava para engraxar os sapatos de Zappa. No limite da paciência do espectadores, ele ironizava: “Isto traz à tona todas as hostilidades dentro de vocês, não é?”.

E poucos souberam brincar como Zappa, que reunia desde ácidas críticas ao establishment, deboche e improvisos únicos com a guitarra que o colocam ao lado de Jimi Hendrix, Jeff Beck e Eric Clapton. Um exemplo do que falava: “Não usem drogas, crianças! Elas arrasam o fígado, o coração, a cabeça e, de modo geral, fazem com que vocês fiquem que nem os seus pais”.

Não à toa e por ter deixado uma das mais inacreditáveis discografias, Zappa teve seu nome incluído no Hall da Fama do rock and roll, em 1995, (“Repórteres de rock são pessoas que não sabem escrever, entrevistando gente que não sabe falar para leitores que não sabem ler”, dizia) e também deixou um enorme legado no jazz. Ganhou ainda Grammy póstumo pelo conjunto da obra, em 1997.

Para dar uma ideia de como a obra de Zappa influenciou a música, nada menos do Paul McCartney disse que, se não fosse “Freak Out” (1966), não haveria “Sgt. Pepper” (1967), dos Beatles.

O americano, que também chamou a atenção por participações políticas —chegou “a se lançar” a Presidência dos EUA— e virou tema de filme, morreu em 1993, aos 52 anos, vítima de câncer na próstata.

Abaixo você confere um texto do músico, escrito e publicado pela Folha em 3 de abril de 1983.

Americanos e mediocridade
“A América deveria se orgulhar das coisas que foram produzidas aqui e são excepcionais, diferentes, ousadas, e não coisas das coisas que se fingem de excepcionais, diferentes e ousadas. A América deveria optar pelo que realmente conta. Mas os americanos não optam, porque nunca são expostos a isso. O trabalho transgressivo nunca chega ao rádio, e nunca é comentado. Porque tudo que é ouvido sobre a dita vida musical nos EUA é de autoria de pessoas em jornais e revistas que não estão qualificadas para a tarefa; não são capazes de diferenciar uma composição boa de uma péssima, e não sabem diferenciar uma ótima composição mal tocada de uma composição medíocre que ganhou um grande tratamento molto vibrato por uma orquestra importante (…) É o clima dos tempos. Você faz alguma coisa realmente ousada, e fica com sua vida na palma da mão. Todo mundo quer ficar com a mediocridade.”
Frank Zappa
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1948: Nasce Ozzy Osbourne, que comeu morcego, cheirou formiga e se tornou ‘O Príncipe das Trevas’ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/03/1948-nasce-ozzy-osbourne-que-comeu-morcego-cheirou-formiga-e-se-tornou-o-principe-das-trevas/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/03/1948-nasce-ozzy-osbourne-que-comeu-morcego-cheirou-formiga-e-se-tornou-o-principe-das-trevas/#respond Mon, 03 Dec 2018 09:00:12 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/Ozzy-careta__BX-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10522 Três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, nasce em Birmingham, na Inglaterra, John Michael Osbourne, o Ozzy, mundialmente conhecido por um apelido dado na escola como provocação por sua dislexia.

Após passar por uma série de empregos na juventude e ter cometido pequenos crimes que acabaram levando-o a uma sentença de prisão por roubo, aos 20 anos ele se junta a Geezer Butler, Tony Iommi e Bill Ward para formar a banda Polka Tulk Blues.

O conjunto, depois, se tornaria Earth, mas, como havia um grupo de mesmo nome, os músicos decidiram adotar Black Sabbath, referência a um filme de Boris Karloff e título da canção que abre o primeiro trabalho do quarteto, em 1970.

Nos vocais da banda, que inaugurava um novo gênero, o heavy metal, Ozzy ficou até 1979, onde emprestou sua voz em nove discos e cravou sucessos como “N.I.B”, “Paranoid”, “Iron Man” e “War Pigs”.

Sobre o “divórcio” com o Sabbath, Ozzy disse em entrevista à Folha, em 1995, que “a banda é como uma ex-namorada: desejo tudo de melhor para ela, mas tenho minha própria vida”.

Capa do primeiro disco da banda Black Sabbath (Divulgação)

A partir de 1980, Ozzy inicia sua carreira solo e já no primeiro disco emplaca três canções executadas até hoje em suas turnês: “Crazy Train”, “Mr. Crownley” e “Suicide Solution”.

Desta última há duas controversas: Ozzy disse ser em homenagem ao ex-vocalista do AC/DC, Bon Scott, morto em 1980, mas Bob Daisley (ex-baixista e principal letrista de Ozzy) afirmou que a letra faz alusão ao próprio cantor. E o suicídio de um fã cujos pais processaram o cantor como responsável por sua morte.

Em 1985, Ozzy desembarcou no Rio de Janeiro para a primeira edição do Rock in Rio. Realizou dois shows, um em 16 de janeiro e outro no dia 19. Na ocasião explicou a Folha sua fama de mau.

“Faço as pessoas sentirem medo porque elas gostam de sentir essa sensação. Para mim tanto faz, sou tão interessado em Deus como no Diabo. Se querem horror, tomem lá, que todo mundo se diverte e eu ainda ganho dinheiro”, disse o “Príncipe das Trevas”, como também é conhecido.

Na década de 80, ele lançou praticamente um disco por ano. Já nos anos 1990, foram apenas quatro trabalhos. Porém o primeiro deles, “No More Tears” (1991), também deixou uma marca com a canção título e “Mama, I’m Coming Home”, tocadas até hoje quando está no palco.

‘THE OSBOURNES’

Com a aposentadoria anunciada inúmeras vezes e sempre de volta à estrada, os anos 2000 acabaram mais lembrados pelo reality show “The Osbournes” do que pelos sete discos.

Com quatro temporadas na MTV, os telespectadores viram outra pessoa. O cotidiano de Ozzy, a inseparável (e empresária) Sharon, os filhos Jack e Kelly, além dos gatos e cachorros, foram transmitidos de 2002 a 2005. Prevaleceram os diálogos esculachados, os palavrões, e o dia a dia de uma família cujo “chefe” apalermado foi motivo de muitas risadas.

Num dos episódios, ao ser maquiado e penteado para ir a um jantar na Casa Branca com George W. Bush, o roqueiro disparou: “Não quero parecer a Cher”.

Sua contribuição para a música juntamente com a fase no Black Sabbath, no entanto, vão além da caricatura que ficou por causa do programa.

Nada menos do que 162 produções, sejam de longas, de documentários ou de séries de TV, já usaram alguma de suas canções ou do Sabbath.

Talvez a mais famosa e na memória dos fãs mais jovens seja a música tema do “Homem de Ferro”, protagonizado por Robert Downey Jr. Sobre ela, Ozzy declarou sem nenhum pudor: “Gostaria de não ter que tocar ‘Iron Man’ todas as noites”.

BEATLES

Com 18 shows no Brasil –já computados os de sua última passagem, em maio deste ano–, Ozzy disse que precisava diminuir o ritmo. Apesar de a turnê No More Tours Tour ter programação até 2020, o “Padrinho do Heavy Metal” afirmou “não estou me aposentando, só não vou mais cair na estrada por longos períodos em turnês“.

Para quem já comeu morcegos, mordeu pombos, cheirou formigas (relatos podem ser conferidos na autobiografia “Eu sou Ozzy”) e bebeu hectolitros de álcool, um descanso é merecido.

Fã confesso dos Beatles (“A maior coisa da minha vida foram os Beatles. Agradeço a Deus por eles.”), falando à Folha oito anos atrás, foi questionado sobre se havia alguma coisa que ainda gostaria de fazer. “Sim, tocar com Paul McCartney”, disse.

Quem sabe um dia o novo setentão da praça não realiza seu sonho. Afinal, seu ídolo segue ativo, com disco novo (“Egypt Station”) e sem pistas de uma possível aposentadoria.

Trecho do livro “Eu sou Ozzy” (Reprodução)
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Hipopótamos, fogueira de dinheiro e prisão de luxo marcaram o traficante Pablo Escobar, morto há 25 anos https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/02/hipopotamos-fogueira-de-dinheiro-e-prisao-de-luxo-marcaram-o-traficante-pablo-escobar-morto-ha-25-anos/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/02/hipopotamos-fogueira-de-dinheiro-e-prisao-de-luxo-marcaram-o-traficante-pablo-escobar-morto-ha-25-anos/#respond Sun, 02 Dec 2018 09:00:39 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/hipo-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10542 Quando estava em cima do telhado durante uma fuga, na tarde de 2 de dezembro de 1993, o mais famoso narcotraficante do mundo, o colombiano Pablo Escobar Gavíria, foi alvejado e morto, em Medellín.

Ele tentava escapar de um cerco montado por forças do Exército e da polícia, conforme consta a versão oficial.

O cartel da cidade, liderado por Escobar, chegou a responder por cerca de 80% do fornecimento de cocaína ao Estados Unidos, segundo dados da DEA, a agência norte-americana de combate às drogas.

Estima-se que a organização criminosa tenha sido responsável pela morte de mais de 4.000 pessoas.

O traficante estava foragido desde julho de 1992, quando tinha escapado de uma prisão em Envigado (a cerca de 20 quilômetros de Medellín).

A cadeia em que ficou (conhecida como La Catedral) poderia ser mais comparada a um luxuoso hotel do que a um centro de detenção.

A imprensa colombiana divulgou que os traficantes teriam à disposição, de dentro do cárcere, banheira com hidromassagem, televisão de 60 polegadas, videocassete, telefones celulares e armas.

Foi Escobar quem teria mandado construí-la, já projetando a possibilidade de se entregar para a polícia, o que ocorreu ao obter a garantia de que não seria extraditado aos Estados Unidos.

Edição da Folha de 20 de junho de 1991

Ficou 13 meses detido. Só optou pela fuga quando soube que seria transferido de penitenciária, depois que seus privilégios se tornaram público.

Fogueira de dinheiro

Para escapar da polícia e de seus inimigos, Escobar organizou um esquema com esconderijos em várias casas espalhadas pela região.

Em março de 2015, um de seus filhos, Juan Pablo Escobar Henao, falou para a revista colombiana Don Juan que seu pai, quando estava foragido, chegou a fazer uma fogueira com notas de dinheiro, em um total de US$ 2 milhões, por causa do frio intenso.

Isso ocorreu quando a família estava escondida em uma habitação rústica, em uma das montanhas que rodeiam Medellín. A polícia havia armado um bloqueio na área, e eles não poderiam deixar o local naquele momento.

Segundo o filho, a sua irmã começou a sentir mal por causa da hipotermia. O pai, então, decidiu queimar dois sacos de dinheiro para aquecê-los.

Pablo Escobar foi muito rico. Seu nome constou na lista de bilionários da revista Forbes por sete anos, de 1987 a 1993. Na primeira edição, a publicação informou que o traficante recebia a maior fatia, estipulada em 40%, dos negócios do Cartel de Medellín.

A revista estimou que, ao longo de 1987, o criminoso teria movimentado sozinho US$ 3 bilhões (cerca de R$ 11,56 bilhões) e o seu patrimônio líquido seria de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 7,71 bilhões).

Fortuna que começou a ser formada na segunda metade da década de 1970. Em 1980, ele já tinha sua própria organização para o envio de drogas aos Estados Unidos.

Juan Pablo Escobar Henao passou a adotar o nome de Sebastián Marroquín depois da morte de seu pai (foto: Enrique Marcarian – 6.nov.2009 / Reuters)

Hipopótamos

Com dinheiro em abundância, Escobar comprou mansões, fazendas, edifícios de apartamentos, escritórios e obras de arte. Uma de suas investidas foi montar um zoológico particular na Hacienda Nápoles, onde também tinha uma luxuosa casa.

Comprou quatro hipopótamos, que se adaptaram bem ao clima e procriaram bastante. Com os anos, os animais viraram uma preocupação na região.

O pesquisador David Echeverri, de uma agência ambiental do governo colombiano, disse para o site da revista National Geographic Brasil que o problema ainda persiste.

Em entrevista publicada em agosto de 2018, Echeverri afirmou que entre 26 e 28 hipopótamos vivem no lago da Hacienda Nápoles, mas relatou que há evidências de que pequenos grupos ou animais solitários tenham migrado pelo rio Magdalena e ido para outras áreas.

“É possível que haja até 40 hipopótamos na região. Em dez anos, este número pode chegar a quase 100 se não forem administrados”, afirmou o pesquisador.

Sem símbolos

Assim como a Hacienda Nápoles, há outros lugares relacionados a Escobar, que atraem pessoas curiosas sobre a vida do traficante.

Como mostrou a reportagem da jornalista Sylvia Colombo, na edição de 9 de outubro de 2018 da Folha, Medellín lançou ofensivas para apagar os símbolos do auge de Escobar.

O edifício Mônaco, onde a família do traficante morou, vai dar lugar a um memorial para as vítimas. O prefeito da cidade, Federico Gutiérrez, foi quem iniciou a demolição simbólica do prédio.

“Apagar o passado é impossível, devemos aprender com ele e construir uma melhor cidade a partir do que aprendemos perdendo tantos seres queridos”, declarou Gutiérrez.

O prefeito Federico Gutiérrez iniciou a demolição simbólica do prédio de Mônaco – Reprodução
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1968 – 27ª BOMBA: Jato de fogo em área da Aeronáutica gera especulações https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/11/24/1968-27a-bomba-jato-de-fogo-em-area-da-aeronautica-gera-especulacoes/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/11/24/1968-27a-bomba-jato-de-fogo-em-area-da-aeronautica-gera-especulacoes/#respond Sat, 24 Nov 2018 09:00:45 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/CampodeMarte-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10495 Apesar de 1968 ter sido um período marcado por bombas em São Paulo, uma explosão no Parque da Aeronáutica no Campo de Marte (zona norte de São Paulo), na noite de 25 de novembro daquele ano, não gerou muito alarme nas autoridades. Pelo menos, publicamente.

No dia seguinte ao fato, a Folha da Tarde divulgou que duas bombas foram detonadas no local e que o assunto estava sendo mantido em sigilo pela Aeronáutica para não provocar pânico na região.

Depois, veio a versão oficial: uma explosão ocorreu em um buraco de um terreno vazio no Campo de Marte. Porém não foi explicado o que provocou o estouro nem quem foram os autores.

Esse caso se juntou a outros 26 registros de explosivos e bombas, ocorridos na região metropolitana paulista desde março a novembro de 1968 (o quarto ano da ditadura militar no Brasil).

O levantamento foi realizado pelo Banco de Dados, e os episódios estão sendo publicados no Blog do Acervo da Folha.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

A misteriosa explosão em uma zona de segurança da Aeronáutica gerou muitas especulações.

O então chefe da Polícia Federal em São Paulo, o general Silvio Correa de Andrade, recusou-se a comentar a possibilidade de ligação com algum outro atentado anterior.

“Não fui solicitado pelas autoridades da Aeronáutica nem sei qual tipo dos artefatos, o material utilizado, o estrago causado e outros detalhes para fazer uma comparação com a [bomba] do consulado americano, a do Estadão e as que foram lançadas contra os quartéis do 2º Exército”, declarou na época o general, citando alguns atentados que estavam sob investigação.

Segundo o relato do delegado Wanderico Arruda de Moraes, o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) foi chamado no dia 25 de novembro para atender a um acidente com um garoto atingido por um jato de fogo, vindo de um buraco num terreno baldio. Não foi revelada a gravidade dos ferimentos no garoto.

Edição da Folha da Tarde de 27 de setembro de 1968

Um tenente-coronel apontou que a explosão pode ter sido causada por um obus (uma espécie de granada explosiva que era arremessada por boca de fogo) enterrado no local em 1932, ano da Revolução Constitucionalista. Também informou que um buraco de um metro e meio no terreno ficou aberto e que só um menino foi queimado.

Oficiais da 4ª Zona Aérea disseram acreditar que a explosão tenha sido provocada pelo garoto que estaria brincando nas imediações do Campo de Marte.

Já o delegado-adjunto Orlando Rosante cogitou a possibilidade de ter ocorrido uma combustão espontânea com gases acumulados no local.

O Dops desligou-se do caso. As autoridades da Força Aérea Brasileira negaram-se a considerar que tenha sido um ação política e preferiram não comentar o fato por causa da sua “pequena importância”. E, assim, mais uma bomba ficava sem solução.

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Em 50 anos, rodovia Castello Branco já foi palco de nascimento de bebê e de travessia de patos https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/11/10/em-50-anos-rodovia-castello-branco-ja-foi-palco-de-nascimento-de-bebe-e-de-travessia-de-patos/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/11/10/em-50-anos-rodovia-castello-branco-ja-foi-palco-de-nascimento-de-bebe-e-de-travessia-de-patos/#respond Sat, 10 Nov 2018 09:00:05 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/castellobranco-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10463 Nascimento de um bebê dentro de carro parado em uma base policial. Interrupção do trânsito de veículos para patos atravessarem a pista. Uma estrada aberta sem nenhum posto de combustível.

Essas são algumas das histórias incomuns para uma autoestrada, mas que ocorreram na rodovia Castello Branco, durante os seus 50 anos.

O  primeiro trecho, inaugurado em 10 de novembro de 1968, foi construído com 171 quilômetros para ligar São Paulo à cidade de Torre de Pedra (40 quilômetros depois de Tatuí aproximadamente).

O custo da obra foi de quase NCr$ 350 milhões (o que equivaleria hoje a cerca de R$ 2,8 bilhões), conforme divulgado na época. Era considerada a rodovia mais moderna do país.

No entanto, o acesso não estava pronto, e quem estava em São Paulo e quisesse usar a nova estrada tinha que ir até Osasco e de lá seguir as orientações de placas indicativas.

As autoridades também alertavam para não entrar na rodovia com pouco combustível: Não havia nenhum posto de gasolina ao longo do trajeto e só dava para fazer retorno quando chegasse a um trevo. Também não havia oficinas mecânicas.

Apesar de já ter o nome oficial, ela ainda era conhecida por Estrada do Oeste. Sua capacidade era estipulada em 40 mil veículos por dia, no trajeto entre a capital e Sorocaba.

Hoje, a rodovia tem 315 quilômetros e vai até a região próxima a Santa Cruz do Rio Pardo (SP). No trecho mais movimentado (entre São Paulo e Itapevi), são feitas 215 mil viagens por dia.

Patos

E foi justamente um local de trânsito intenso da Castello que teve que ser bloqueado, por instantes, para um pato e cerca de 15 filhotes saírem do canteiro central da estrada, no dia 22 de novembro de 2016.

A agente de monitoramento Angela Cruz, que trabalha no Centro de Controle Operacional, da CCR ViaOeste (empresa que administra parte da rodovia), contou que ficou surpresa quando surgiu a informação da presença desses animais no quilômetro 20, em Barueri.

Para chegar até o canteiro central, os patos tiveram que atravessar as três vias da pista expressa e as cinco da marginal.

O alerta veio por usuários, e Angela avisou uma viatura da concessionária para ir ao local. Os funcionários ficaram tomando conta dos animais para impedir que entrassem novamente nas pistas.

“Foi um fato muito inusitado. É um trecho urbano, mas com bastante mata em volta”, disse Angela para a reportagem do Banco de Dados da Folha.

Os patos saíram de lá com segurança. “As pistas foram bloqueadas por policiais, e eles foram andando de volta para o seu habitat [retornando para a mata].”

Bebê

Assim como Angela, o condutor de emergência Marcos Aurélio Inoue (que dirige o carro de resgate) também recebeu um chamado diferente de sua rotina: Uma mulher estava em trabalho de parto, em um posto policial, em Avaré, no dia 6 de dezembro de 2016.

“A adrenalina subiu na hora. A gente pensa que precisa chegar logo para ajudar. É uma vida em jogo”, afirmou Inoue, que trabalha para a concessionária CCR SPvias.

Quando chegou, a criança tinha acabado de nascer, dentro do carro. O parto foi feito por um policial.

Inoue, que também atua como bombeiro, ajudou a prestar os atendimentos necessários seguintes. Depois, a mulher e a filha foram levadas a um hospital.

A mãe da criança é a escriturária Camila Helena Presser Gonçalves, hoje com 37 anos. Ela morava em Iaras, cidade que não tinha Santa Casa. Por isso, fazia o acompanhamento de gestação em Avaré (a cerca de 40 quilômetros).

Camila e a filha são levadas pelo resgate à Santa Casa de Misericórdia de Avaré – 6.dez.2016/Arquivo pessoal

O nascimento estava previsto para o começo de janeiro de 2017, mas Camila começou a sentir dores e resolveu ir com a irmã até Avaré.

“No caminho, senti duas contrações mais fortes e falei para a minha irmã que não daria tempo de chegar ao hospital”, lembrou a escriturária.

Elas pararam no posto policial e receberam a ajuda. “Minha filha nasceu supersaudável. Ficou três dias na incubadora só por precaução. Eu também passei bem depois do parto.”

Hoje, quando passa pela rodovia, ela conta que tem um sentimento especial. “Não tem como não lembrar do nascimento da minha filha”, declarou Camila.

 

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