Acervo Folha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br No jornal, na internet e na história Fri, 19 Feb 2021 13:40:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 1988: Morre Aracy de Almeida, jurada de TV e maior intérprete de Noel Rosa https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/20/1988-morre-aracy-de-almeida-jurada-de-tv-e-maior-interprete-de-noel-rosa/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/20/1988-morre-aracy-de-almeida-jurada-de-tv-e-maior-interprete-de-noel-rosa/#respond Wed, 20 Jun 2018 11:00:02 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Aracy1-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9737 “Mas que putaria, eu não posso estar aqui”, afirmou Aracy de Almeida à sua afilhada Maria Adelaide Bragança minutos antes de uma embolia pulmonar  tirá-la de cena aos 73 anos, na tarde de 20 de junho de 1988, no Hospital dos Servidores do Estado (centro do Rio), onde estava internada havia 13 dias por causa de um acidente vascular cerebral.

Personagem das mais memoráveis da TV brasileira, onde encarnou a jurada “ranzinza” em quadros de calouros, o último deles no Programa Silvio Santos –onde estava desde 1975–, Aracy de Almeida foi, sobretudo, uma das mais proeminentes cantoras da era de ouro do rádio. No samba, gênero que adotou para a carreira, foi considerada a mais fiel intérprete de Noel Rosa, ao lado da cantora Marília Batista.

Aracy, que nunca se casou nem teve filhos, foi sepultada no cemitério Parque Jardim da Saudade (Rio) depois de ser velada por cerca de 20 mil pessoas no Teatro João Caetano, onde em 1981 e 1982 fez suas últimas apresentações como cantora, ao lado de João Nogueira e do grupo Coisas Nossas, respectivamente.

“O mais triste é saber que toda esta gente veio aqui para se despedir da jurada de televisão. Quase ninguém mais lembra que ela foi uma grande cantora”, disse o compositor e pesquisador da música brasileira Hermínio Bello de Carvalho, que esteve na cerimônia para dar o último adeus à cantora e amiga.

Aracy Teles de Almeida, ou “Araca”, como também era chamada pelos amigos, nasceu em 19 de agosto de 1914, na rua Guilhermina, no bairro suburbano do Encantado (zona norte do Rio), onde morou até o fim da vida. Filha de uma dona de casa e de Baltasar Teles Almeida, um pastor protestante e funcionário da Central do Brasil, Aracy, que dizia nunca ter brincado de boneca nem de ciranda durante a infância, era a única mulher entre os cinco filhos da família.

O SAMBA EM PESSOA

Durante a adolescência, a pulsação pelas batucadas do Rio levou Aracy a ser uma assídua frequentadora de escolas de samba na zona norte da cidade, onde aprendeu as gírias, os trejeitos e a ginga que acabaram se tornando marcas na vida da artista. Em entrevistas revelou que a escolha pela música veio por necessidade. “Era uma menina pilantra, safada, que não queria estudar e não sabia fazer nada. Daí, só mesmo cantando.”

Aracy começou muito jovem. O primeiro contato direto com a música foi quando integrou corais evangélicos no bairro do Méier (zona norte do Rio). Depois, contrariando os preceitos religiosos da família, passou a cantar em candomblés no Engenho de Dentro, também na zona norte.

NOEL ROSA

A entrada na música popular se deu no início dos anos 30, sob influência de Carmen Miranda, cantora que Aracy admirava e tentava imitar no início da trajetória. Sua dicção peculiar, caracterizada por sua voz nasalada, foi elogiada num estudo de Mário de Andrade numa conferência em 1943.

O primeiro empurrão para o profissionalismo, porém, foi dado pelo compositor Custódio Mesquita, que, em 1933, a levou para um teste no programa Pinocchio, da Rádio Educadora (depois Tamoio), onde cantou a marchinha “Bom Dia, Meu Amor” (Joubert de Carvalho e Olegário Mariano), sucesso na voz de Carmen Miranda. Foi lá que conheceu o eterno “poeta da Vila”, Noel Rosa, que no mesmo dia compôs para a estreante “Seu Riso de Criança”, após ter ouvido e apreciado o raro timbre vocal da iniciante.

Aracy e Noel se tornaram grandes amigos, construindo uma parceria que duraria até a morte do compositor em 4 de maio de 1937, de tuberculose. Dele, gravou “Feitio de Oração”, “Palpite Infeliz” e “O X do Problema”, entre outras. O último trabalho foi a melancólica “Último Desejo”, cuja interpretação Noel não teve tempo de ouvir.

Em 1934, Aracy  foi contratada pela Columbia, onde gravou o seu primeiro disco, com a marcha carnavalesca “Em Plena Folia”, de Julieta de Oliveira. Depois, assinou com a Rádio Cruzeiro do Sul. Daí não demorou muito até a sambista ser convidada pela RCA Victor, onde gravaria “Cansei de Pedir”, “Triste Cuíca” e “Amor em Parceria”, todas de Noel. Logo passou pelas rádios Philips, Mayrink Veiga, Ipanema e Tupi. Ao longo da carreira foram mais de 400 canções gravadas.

OUTROS COMPOSITORES

A trajetória de Aracy na MPB não se resumiu apenas à grandeza de ter sido uma das maiores intérpretes de Noel. A “Dama da Central”, como também ficou conhecida, emprestou sua voz a vários outros nomes do cancioneiro brasileiro.

Dentre as composições que a sambista gravou estão “Helena” (Raul Marques e Ernâni Silva), “Vaca Amarela” (Lamartine Babo e Carlos Neto), “Saudosa Favela” (Heitor do Prazeres), “Fale Mal… Mas Fale de Mim” (Ataulfo Alves e Marino Pinto), “Brigamos Outra Vez” (Wilson Batista e Marino Pinto), “Saia do Caminho” (Custódio Mesquita e Evaldo Rui) e “Camisa Amarela”, de Ary Barroso, que certa vez criticou a voz da cantora ao dizer que ela desafinava e cantava pelo nariz.

A partir de 1948, com Noel Rosa quase esquecido, Aracy decidiu revisitar a obra do poeta com apresentações antológicas na famosa boate Vogue, no Rio, que posteriormente viraram discos e ajudaram a ecoar a poesia do autor às novas gerações. Em 1950, a cantora reduziu o ritmo de shows e passou a morar em São Paulo, onde viveu até 1962.

Em 1968 gravou “A Voz do Morto”, do tropicalista Caetano Veloso, que entrou para um compacto-simples produzido para a Bienal do Samba daquele ano. “Essa música é uma coisa meio tétrica, um negócio pra tocar em castelo estranho”, disse a cantora no programa de entrevistas Vox Populi, da TV Cultura.

Um ano depois, participou do show “Que Matavilha”, com Toquinho, Jorge Benjor, Paulinho da Viola, Trio Mocotó e Trio do Luiz Melo. Apresentado no Teatro Cacilda Becker, o espetáculo teve a direção do amigo Fernando Faro.

Tida por Paulinho da Viola como a maior cantora de samba, no final dos anos 70 Aracy esbarrou no rock, quando se apresentou ao lado do grupo Joelho de Porco, em espetáculo apresentado no Teatro Célia Helena, onde interpretaram Noel Rosa, Antônio Maria e Chico Buarque, entre outros nomes.

A JURADA

Começou a trabalhar como jurada nos programas do Chacrinha e do Bolinha, até ser contratada em 1975 para o “Show de Calouros” de Silvio Santos, atração que a tornou uma das figuras mais populares da TV pela irreverência e pelo deboche com que julgava os aspirantes a artistas.

Aracy era direta e não amenizava nas críticas nem mesmo calouros mirins, que recebiam palavras duras sobre suas performances.

Quando perguntada sobre ter abdicado da profissão de cantora pela de jurada de TV, respondia: “Melhor ser jurada do que ficar em casa fazendo tricô”.

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1918: Nasce Fanny Blankers-Koen, a mulher do século 20 no atletismo https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/04/26/1918-nasce-fanny-blankers-koen-a-mulher-do-seculo-20-no-atletismo/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/04/26/1918-nasce-fanny-blankers-koen-a-mulher-do-seculo-20-no-atletismo/#respond Thu, 26 Apr 2018 10:00:45 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/Blankers-Koen-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9245 Antes de chegar a Londres para disputar a Olimpíada de 1948, a holandesa Francina ‘Fanny’ Blankers-Koen, que completaria 100 anos nesta quinta-feira (26), teve que superar desconfianças, críticas e preconceito.

Mãe de um garoto de seis anos e de uma menina de dois, a atleta conciliava as atividades familiares com os treinos. Como conseguia bons resultados no esporte, era chamada de “Dona de Casa Voadora”.

Só que muita gente não concordava que ela continuasse no esporte após a maternidade, conforme a atleta declarou para o jornal americano New York Times, em 1982.

“Eu recebia muitas cartas com mensagens ruins, pessoas escrevendo que eu deveria ficar em casa com as minhas crianças e que eu não deveria ter permissão para correr em uma pista  –como se diz isso?– com calças curtas”, disse.

Mas a holandesa se defendeu dizendo que era uma boa mãe e que dividia praticamente todo o seu tempo entre as tarefas domésticas e o treinamento, sem ter período livre para fazer outras coisas.

Fanny (dir) vence os 80 m com barreiras em Londres (Reprodução)

A primeira Olimpíada que disputou, ainda solteira, foi a de Berlim-1936. Aos 18 anos, ficou em quinto lugar no revezamento 4 x 100 m e em sexto no salto em altura.

Ela se casou com o seu treinador Jan Blankers em 1940 (ano que não teve a competição por causa da Segunda Guerra Mundial).

Os Jogos só voltaram a ser organizados em 1948, quando a holandesa tinha 30 anos. E já havia quem a visse como veterana para que conseguisse brilhar no torneio.

“Um jornalista escreveu que eu era velha demais para correr, que eu deveria ficar em casa e cuidar das minhas crianças. Quando eu cheguei a Londres, eu apontei o meu dedo para ele e disse: ‘Eu te mostro’”, afirmou Fanny.

4 ouros

Sua resposta em pista foi brilhante. Venceu as quatro provas que disputou: 100 m, 200 m, 80 m com barreiras e revezamento 4 x 100 m.

Até hoje, a façanha de conquistar quatro medalhas de ouro no atletismo em apenas uma edição da Olimpíada não foi repetida por nenhuma outra mulher.

“Sábado à tarde, Fanny disputou a última prova da 14ª Olimpíada na pista de Wembley. Horas depois, já se encontrava em alto mar, em viagem para Amsterdã. Toda essa pressa consistia no desejo de chegar a seu lar, para beijar e abraçar sua mãe e seus filhos, Jan, de seis anos, e Fanny, de dois, e também para descansar de tanta ‘preocupação olímpica’”, informou reportagem da Folha da Manhã, intitulada de “A Impressionante carreira olímpica de Fanny Blankers-Koen”.

Atleta do século 20

Durante a sua carreira, a holandesa chegou a registrar 20 recordes mundiais e foi eleita, em 1999, a melhor atleta do século 20 pela Iaaf, a entidade que controla o atletismo mundial –entre os homens, o americano Carl Lewis foi o escolhido.

Ao saber do prêmio, Fanny mostrou espanto. “Quando penso em todas as grandes mulheres que já competiram no século e nas jovens que estão indo tão bem, eu tenho que dizer que estou surpresa, mas muito contente também”, afirmou.

Ela morreu aos 85 anos, em 2004, após sofrer do mal de Alzheimer.

Edição de 21 de novembro da Folha da Manhã de 1948
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Cassandra Rios desafiou censura para se tornar a primeira brasileira a vender 1 milhão de livros e educar uma geração https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/03/08/cassandra-rios-desafiou-censura-para-se-tornar-a-primeira-brasileira-a-vender-1-milhao-de-livros-e-educar-uma-geracao/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/03/08/cassandra-rios-desafiou-censura-para-se-tornar-a-primeira-brasileira-a-vender-1-milhao-de-livros-e-educar-uma-geracao/#respond Thu, 08 Mar 2018 09:00:57 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/AHi_j0076__Cassandra-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=8344 “Me acusaram de atentado à moral e aos bons costumes. Isso em 1954. No livro [“A Volúpia do Pecado”], a homossexual é simplesmente aquilo que ela quer: ela enfrenta seus problemas, que todo o mundo os tem, mas no final é feliz”, diz a escritora Cassandra Rios, em entrevista ao jornal Lampião da Esquina, de outubro de 1978.

Perseguida pelo regime militar e considerada uma escritora maldita, Cassandra Rios, pseudônimo de Odete Rios, mesmo tendo 36 livros proibidos, foi a primeira mulher a vender 1 milhão de exemplares no Brasil e, no início dos anos 1990, passou a ser objeto de análises no meio acadêmico sobre sua vivência numa sociedade conservadora, onde Rios escreveu sobre homoafetividade, prazer e drogas. 

A escritora morreu de câncer, aos 69 anos, no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março de 2002.

Nascida em outubro de 1932, Cassandra Rios publicou “A Volúpia do Pecado”, seu primeiro livro, em 1948.

“Ela o escreveu com 16 anos. Fazia uma literatura assumidamente popular. Eram livros baratos. Havia desenhos provocantes nas capas: moças oferecidas em poses sutilmente sensuais”, disse Marcelo Rubens Paiva, em artigo na Folha, em março de 2002. Segundo o autor, a literatura de Cassandra Rios educou uma geração.

As censuras aplicadas aos livros de Rios –que foram intensificadas com o Ato Institucional no 5 (AI-5)–,  renderam apelidos como “papisa da homossexualidade”, “a grande pornógrafa” e “a safo de Perdizes”. Este último dá nome ao documentário Cassandra Rios – A Safo de Perdizes”, da diretora Hanna Korich, lançado em 2013.

“A ditadura perseguiu Cassandra por ela ser lésbica, mulher e por vender muitos livros! A ditadura era machista e burra e não se conformava com uma mulher escrevendo explicitamente cenas de sexo entre mulheres, e com tiragens imensas de livros. Cassandra era explícita, sempre foi, não escondia nada, seja em cenas de sexo hétero, como principalmente homossexuais femininas”, diz Hanna Korich em entrevista ao jornalista Vitor Angelo.

Os livros de Cassandra Rios contam histórias que o regime militar e parte da sociedade do século 20 preferiam que fossem apagadas.  Sua literatura provoca e questiona a heterossexualidade compulsória.

Cassandra, em várias ocasiões, declarou que não era subversiva e sim ‘apolítica’. A verdade é que ela abordava abertamente temas tabus numa época em que a sociedade brasileira era extremamente homofóbica, conservadora e machista, mais do que agora”, conclui Hanna Korich.

Neste Dia Internacional da Mulher, o Banco de Dados relembra a você outras histórias. Confira abaixo:

OUTROS DIAS DA MULHER: Paraplégica, Maria da Penha persistiu até agressor ser preso e inspirou lei

OUTROS DIAS DA MULHER: Ruth de Souza foi a primeira atriz negra a atuar no Municipal do Rio

OUTROS DIAS DA MULHER: Governo Dilma jogou luz sobre aborto, mas legislação continua a de 1940

OUTROS DIAS DA MULHER: Primeira presa política do Brasil, Pagu lutou contra opressão

OUTROS DIAS DA MULHER: Bertha Lutz foi pioneira na organização da luta feminista

OUTROS DIAS DA MULHER: Reivindicação de mães moldou perfil das creches em SP desde os anos 20

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Guthrie, 80, chutou pneus de raiva e se tornou a 1ª mulher na Indy-500 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/03/07/guthrie-80-chutou-pneus-de-raiva-e-se-tornou-a-1a-mulher-na-indy-500/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/03/07/guthrie-80-chutou-pneus-de-raiva-e-se-tornou-a-1a-mulher-na-indy-500/#respond Wed, 07 Mar 2018 15:00:06 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/Janet-2-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=8325 Para se tornar a primeira mulher a correr nas 500 Milhas de Indianápolis, a ex-piloto Janet Guthrie, que completa 80 anos nesta quarta-feira (7), teve que superar preconceitos, desconfianças e insultos.

Nascida em Iowa, nos Estados Unidos, formou-se em física em 1960, mas deixou de lado a carreira profissional, em engenharia aeroespacial e na aviação, para se dedicar somente ao automobilismo em 1972.

Ela, que participava de competições organizadas pela SCCA (Sports Car Club of America), teve a sua primeira grande chance em 1976, quando foi chamada para testar um carro para as 500 Milhas de Indianápolis.

Apesar do convite, ela escutou do próprio dono da equipe, Rolla Vollstedt, que não teria vida fácil em Indianápolis: “Você nunca será vencedora, pois ninguém vai te dar um carro vencedor, porque você é mulher”.

Ainda em 1976, ela participou de corridas na categoria Nascar Winston Cup, um feito inédito para as mulheres. No entanto teve de encarar a descrença de muitos torcedores.

Guthrie contou para o site da Nascar que ficou muito chateada, antes de uma prova, quando um grupo de espectadores lhe perguntou se, realmente, iria competir. Como a resposta foi positiva, os torcedores falaram que torciam para que ela batesse o carro em uma região do circuito próxima ao lugar em que eles estavam. Só para que vissem o acidente de perto.

“Eu voltei para a garagem e chutei alguns pneus”, disse a piloto, relatando como fez para controlar a sua raiva.

JANET FAZ HISTÓRIA

Em 1977, ela voltou às 500 Milhas de Indianápolis e tentou se credenciar para disputar a corrida. Durante o treino classificatório, um cartaz lhe chamou a atenção: “Janet, conquiste a pole”.  Só que alguém desenhou uma genitália masculina nessa mensagem.

A ofensa lhe incomodou, mas ela preferiu não admitir isso quando, depois do treino, os repórteres lhe perguntaram sobre o insulto. “Eu disse que era um problema da organização do circuito. E não meu. Que mentira!”,  afirmou Guthrie para o site da ESPN em 2013.

O autor da ofensa não deve ter gostado do desempenho de Guthrie em pista. Ela se classificou para largar na 26ª posição e pela primeira vez uma mulher participou dessa corrida.

Com problemas mecânicos, não conseguiu concluir a prova daquele ano, mas, em 1978, obteve um grande resultado em Indianápolis. Após largar em 15º lugar, terminou as 500 Milhas em nono lugar.

Guthrie também correu em 1979, mas abandonou a prova ainda no início.

MULHERES NA PISTA 

Mesmo após a sua façanha, a participação das mulheres nessa corrida não cresceu rapidamente. Desire Wilson atuou como piloto de teste em 1982, e Lyn St.James começou a competir  na década de 90.

Apenas nos anos 2000 foi que a presença feminina aumentou, com Sarah Fisher, Danica Patrick, Milka Duno, Simona De Silvestro, Pippa Mann, Katherine Legge e a brasileira Bia Figueiredo (de 2010 a 2013).

O nono lugar de Guthrie em 1978 continuou sendo o melhor de uma mulher até a corrida de 2005, quando Danica Patrick ficou em quarto lugar.

Em 2009, Danica superou essa marca ao conquistar a terceira posição.

No ano passado, só uma mulher participou da corrida –Pippa Mann, que ficou em 17º lugar.

Danica Patrick dá entrevista após treino em  Indianápolis (Brent Smith – 15.mai.2005/Reuters)
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Há 50 anos, Regina Duarte falou à Folha sobre noivado e aprovação na USP https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/26/ha-50-anos-regina-duarte-falou-a-folha-sobre-noivado-e-aprovacao-na-usp/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/26/ha-50-anos-regina-duarte-falou-a-folha-sobre-noivado-e-aprovacao-na-usp/#respond Mon, 26 Feb 2018 19:30:07 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/capa-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=7996 “O carnaval vai ser para recuperar o sono atrasado”, disse a atriz Regina Duarte em entrevista à Folha publicada em 25 de fevereiro de 1968.

Ela tinha 21 anos e havia acabado de ficar noiva do então estudante de engenharia e hoje empresário e ex-marido, Marcos Flávio Cunha Franco, com quem teve dois filhos, André Duarte e a também atriz Gabriela Duarte.

“Fico noiva de aliança no estilo tradicional, com as duas famílias reunidas e quero casar com um suntuoso vestido de noiva”, disse ao jornal.

Outra realização da atriz durante os festejos carnavalescos, foi sua aprovação na Escola de Comunicações Culturais, hoje Escola de Comunicações e Artes (ECA), da USP (Universidade de São Paulo). Mas Regina Duarte ainda estava indecisa sobre qual especialidade seguiria.

Ela fora informada por amigos que o curso de Cinema estava “muito interessante”. “O curso está bom, existe uma sala de projeção com exibição de filmes de Buñuel e outros grandes diretores”, contou a atriz, que depois escolheu fazer Comunicação. Ela estudou na mesma sala da cantora Rita Lee.

Regina Duarte também falou sobre o seu desempenho nas provas. Em conhecimentos gerais, disse ter acertado 52 das 100 questões. Em redação, cujo tema foi “A importância da imprensa no desenvolvimento da cultura”, atingiu 72 pontos.

A atriz Regina Duarte quando prestou vestibular para a Escola de Comunicações Culturais da Universidade de São Paulo (foto: 15.fev.1968/Folhapress)

Apesar da pouca idade, a atriz já estava em sua sexta novela, “Terceiro Pecado”, exibida pela TV Excelsior, onde era contratada desde 1965. Ela estava “muito feliz” pelas conquistas. “Os pais também estão contentes. Quando um filho sobe um degrau, os pais sobem dois”.

A JORNALISTA

Nascida em Franca, no interior de São Paulo, Regina Blois Duarte era a filha mais velha da dona de casa Dulce Blois e do tenente reformado do Exército, Jesus Duarte.

Suas maiores paixões eram o jornalismo e o cinema. Desde muito cedo escrevia contos infantis para o jornal “Diário do Povo”, de Campinas (SP), cidade para onde se mudou aos 6 anos com os pais e três irmãos.

Mais tarde assinou crônicas e fez entrevistas para a revista “Nosso Cantinho”, além de colaborar com o paulistano “Diário Popular” (hoje “Diário de São Paulo), que teve falência decretada pela Justiça em janeiro deste ano. “O ambiente de jornal me prende e fascina”, contou à Folha.

Os atores Regina Duarte e Francisco Cuoco em cena da primeira versão da novela “Selva de Pedra” (1972) (Foto: Divulgação)

A ATRIZ 

Regina iniciou no teatro amador aos 14 anos. Como profissional, estreou quatro anos depois, em 1965, na peça “A Megera Domada” (William Shakespeare), dirigida por Antunes Filho.

No mesmo ano, na extinta TV Excelsior, fez sua primeira novela, “A Deusa Vencida”, de Ivani Ribeiro, com direção de Walter Avancini. No cinema começou no drama “Lance Maior” (1968), dirigido por Sylvio Back.

Em 1969, trancou a faculdade depois de receber o convite da TV Globo para protagonizar o folhetim “Véu de Noiva”, de Janete Clair, onde fez par romântico com o ator Cláudio Marzo (1940-2015).

De “Namoradinha do Brasil” à feminista da série global “Malu Mulher” (1979), a atriz se destacou em vários papéis, sobretudo na teledramaturgia.

Entre os personagens mais marcantes de sua trajetória estão a sofrida Simone, da primeira versão do drama “Selva de Pedra” (1972), a viúva Porcina, de “Roque Santeiro” (1985), e Maria do Carmo, de “Rainha da Sucata (1998), além das “Helenas”, de Manuel Carlos.

Ao longo da carreira, a atriz atuou em cerca de 50 novelas, 12 peças teatrais e 15 filmes. 

A atriz Regina Duarte na série “Malu Mulher”, exibida pela Globo em 1979 (foto: Divulgação)

POLÍTICA

Simpatizante do atual prefeito de São Paulo, João Doria, e crítica ferrenha do ex-presidente Lula, durante a campanha para o 2° turno das eleições presidenciais de 2002, a atriz causou polêmica ao gravar um vídeo eleitoral para o programa do então presidenciável José Serra (PSDB).

Na gravação, Regina Duarte disse ter “medo” da vitória do candidato Lula. A atriz palpitou que com o PT no poder, o Brasil correria sérios riscos de perder toda a estabilidade econômica. 

Em 2017, em outra manifestação pró PSDB, desta vez a favor do prefeito João Doria, a atriz mostrou-se confiante com a vitória do tucano para o posto de “gestor” da capital paulista.

Em 7 de janeiro daquele ano, quando Doria completava uma semana à frente da prefeitura, a atriz esteve na avenida Paulista para prestigiar o prefeito, que participava de uma das etapas do programa Cidade Linda, de zeladoria urbana.

O prefeito de São Paulo, João Doria Jr, e a atriz Regina Duarte participam da Operação Cidade Linda na avenida Paulista, no centro de São Paulo. (Foto: Danilo Verpa – 7.jan.2017/Folhapress)

 

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Há 85 anos, Nina Simone nascia para lutar e brilhar na música https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/21/ha-85-anos-nina-simone-nascia-para-lutar-e-brilhar-na-musica/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/02/21/ha-85-anos-nina-simone-nascia-para-lutar-e-brilhar-na-musica/#respond Wed, 21 Feb 2018 09:00:40 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/AHi_j0013-150x150.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=7935 Quase impossível você não ter ouvido uma música de Nina Simone?
Escute as canções abaixo.

Todas elas estiveram entre as melhores músicas de todos os tempos. E principalmente relevaram o virtuosismo de Eunice Kathleen Waymon.

O talento para a música surgiu logo aos três anos, quando passou a tocar piano de ouvido. Apoiada pela mãe, que era empregada doméstica e pastora metodista, e pelo pai, biscateiro, Nina Simone caminhava para se tornar uma pianista clássica.

As primeiras aulas de piano foram pagas com ajuda da comunidade de Tyron, onde nasceu na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, em 21 de fevereiro de 1933. Como retribuição, tocava na igreja.

Mas já aos 12 anos sentiu que não bastava ter talento na música, isso porque viu seus pais serem alvo de discriminação em seu primeiro concerto –os primeiros assentos eram destinados aos brancos.

Ela reagiu. Só tocaria mediante mudança dos pais para mais perto do palco.

E essa personalidade forte foi equivalente a seu talento.

Tanto que é difícil rotular Nina Simone em um estilo musical.

Nina Simone, em performance no Brasil, em 1988 (Foto: Juvenal Pereira 11.set.1988/Folhapress )

Desde que deixou sua cidade natal para seguir os estudos, quando que dar aulas de piano e passar a tocar num bar para se manter financeiramente, ela se moldou.

“Eu estudei piano clássico por 22 longos anos e teria seguido carreira se tivesse dinheiro para isso. Acontece que eu era pobre e fui rejeitada pelo Curtis Institute of Music da Filadélfia [por ela ser negra]. Então, eu não tive outra alternativa além de cantar em clubes noturnos para sustentar a família [ela tinha sete irmãos]”, afirmou à Folha em setembro de 1988.

Primeiro, foi desafiada a cantar, caso contrário perderia o emprego no bar de Atlantic City. Queriam que cantasse à altura de como tocava piano. E ela o fez. “Até eu fiquei surpresa”, disse ela, que até então não notava a voz.

E que voz ela tinha. Eletrizante que era, rapidamente fez sucesso, o que a levou a se transformar em Nina Simone –Nina, porque um namorado porto-riquenho a chamava de menina em espanhol (niña), e Simone, porque era fã da atriz Simone Signoret e “soava bem”.

O batismo artístico servia para preservar os pais do preconceito que seria destilado contra eles por ela estar cantando na noite e se afastando da figura única de pianista clássica.

Até estudou na respeitada Julliard School of Music, mas foi além e se tornou, como escreveu o repórter da Folha Thales de Menezes, em 2017, uma grande cantora de jazz e também de soul, rhythm’n’blues, pop, folk, gospel. Além de exímia pianista, tornou-se uma compositora inspirada e engajada na luta pelos direitos civis.

Essa última vertente rendeu-lhe amizades com Malcom X e Martin Luther King e um discurso forte, como o da música “Mississippi Goddam” (Maldito Mississippi), que escreveu em minutos após o assassinato de quatro meninas negras numa igreja em Birmingham (Alabama), em 1963. Tão forte que a aversão ao racismo a fez deixar os EUA e a ajudou a amealhar mais fãs.

Em meio a casamentos, problemas financeiros e vários endereços –Barbados, Suíça, Libéria, Guiné, Reino Unido e França–, a “suma sacerdotisa do soul”, como é descrita em seu site, lutou até quando pôde, contra o racismo, contra fãs barulhentos, contra um câncer de mama, contra sua própria birra e até mesquinharia.

Registrou isso em suas músicas, em livros e em documentários e filmes, como “What Happened, Miss Simone“.

Nada, porém, que apagasse a imagem da cantora imponente, que visitou o Brasil em 1960, em 1988, em 1997 e em 2000. A passagem de 1997  marcou uma série de “encenações” para envolver a cantora sobre o horário do show –ela tocava às 16h acreditando ser 17h– e mostrou ao público e aos produtores brasileiros o quanto eletrizante era Nina Simone.

Na última, 2000, em entrevista à Folha, revelou que “não era fácil ser Nina Simone“.

Nina Simone, durante coletiva de imprensa no Hotel Softel em São Paulo, em 2000 (Foto: Ormuzd Alves – 11.abr.2000/Folhapress)

Como escreveu Sérgio Dávila, hoje editor-executivo da Folha, em 23 de abril de 2003, quando da morte da cantora (no dia 21 daquele ano), Nina “nos abandonou primeiro, antes que começássemos a abandoná-la, enxergando-a como uma ‘velha exótica'”.

 

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Há 15 anos, morria dona Zica, ícone da Mangueira e idealizadora do cultuado restaurante Zicartola https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/01/22/ha-15-anos-morria-dona-zica-icone-da-mangueira-e-idealizadora-do-cultuado-restaurante-zicartola/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/01/22/ha-15-anos-morria-dona-zica-icone-da-mangueira-e-idealizadora-do-cultuado-restaurante-zicartola/#respond Mon, 22 Jan 2018 08:00:11 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/Zica-capa-180x122.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=7486 Em 22 de janeiro de 2003, o Carnaval amanheceu desolado com a morte, aos 89 anos, de dona Zica, viúva do compositor Agenor de Oliveira, o Cartola, e um dos talismãs da escola de samba Estação Primeira de Mangueira.

Era por volta das 8h da manhã de uma quarta-feira quando a filha da mangueirense, Glória Regina, que acompanhava a mãe em casa no morro da Mangueira, a chamou para tomar remédios como fazia todos os dias. Aparentemente desfalecida, Zica não respondeu à filha, que logo pediu por socorro. Mas era tarde. Uma parada cardiorrespiratória interrompeu a trajetória de uma das pérolas da Velha Guarda da escola verde e rosa.

Dona Zica morreu a duas semanas de completar 90 anos, quando lançaria o seu primeiro livro de culinária, “Dona Zica, Tempero, Amor e Arte” (editora Fábrica de Livros), que reúne receitas feitas por ela ao longo de 80 anos de cozinha. Familiares e amigos haviam até programado uma grande festa para celebrar seu aniversário. 

Seu corpo foi velado na quadra da Mangueira, como era o seu desejo. Cerca de mil pessoas compareceram à cerimônia. O sepultamento foi realizado no Cemitério São Francisco Xavier, na zona norte do Rio, ao som de “Exaltação à Mangueira” (Enéias Brites e Aluísio Costa), hino da agremiação da qual ela fazia parte desde a fundação, em 28 de abril 1928.

INTERNAÇÕES

Dona Zica andava debilitada desde 1997, quando foi internada por causa de uma descompensação cardiovascular, na clínica Semeg, na Tijuca (zona norte do Rio). Em 26 de julho de 2000, uma crise hipertensiva motivou outra internação, desta vez no hospital Salgado Filho, no Méier, também na zona norte da capital fluminense.

Na ocasião, em menos de dez dias, ela perdera uma sobrinha e a eterna amiga e baluarte da Mangueira, Dona Neuma (1922-2000), filha de Saturnino Gonçalves, o Seu Saturnino, primeiro presidente da escola de samba e um dos fundadores, ao lado de Cartola, Carlos Cachaça, Abelardo da Bolinha, Zé Espinguela, Seu Euclides, Pedro Paquetá e Seu Maçu.

Em 2002, Zica foi internada cinco vezes. Em uma delas, foi parar na CTI (Centro de Terapia Intensiva) do hospital São Vitor, na Tijuca (Rio), onde entrou com quadro de pneumonia e edema agudo em um dos pulmões. Ela era hipertensa, diabética e já havia sofrido um princípio de derrame em 1988.

O CARNAVAL E A VIDA NO MORRO

Dona Zica nasceu Euzébia Silva de Oliveira, em 6 de fevereiro de 1913, no bairro da Piedade (zona norte do Rio). Mudou-se para o Morro de Mangueira aos 4 anos, acompanhada da mãe, a lavadeira Gertrudes Efigênia dos Santos, e de quatro irmãos. Seu pai, Euzébio da Silva, funcionário da estação da Central do Brasil, morreu um ano antes. 

As adversidades sociais interromperam boa parte da infância da pequena Euzébia. Aos 7 anos, para ajudar no sustento da família, teve que trabalhar como empregada doméstica na casa de uma das patroas da mãe, época em que “era tratada como escrava”, conforme dizia em entrevistas.

A sambista Dona Zica, integrante da velha guarda da Estação Primeira de Mangueira, visita o sambódromo de São Paulo, em 1997 (Foto: Rodney Suguita – 31.jan1997/Folhapress)

Zica tinha 15 anos quando desfilou pela primeira vez na Mangueira, na ala das baianas. Desde então, nunca mais parou.

Saudosista, sempre recordava com emoção dos primórdios da escola e de seus blocos embriões, como os da Tia Tomázia, da Tia Fé, do Senhor, dos Aregueiros (bloco masculino liderado por Cartola) e do Mestre Galdino, além do Rancho Príncipe das Florestas.

Aos 19, dona Zica casou-se com o fundidor Carlos Dias do Nascimento, com quem teve seis filhos (um adotivo). Dois deles morreram com enfermidades durante a infância. Ela ficou viúva de Carlos em 1948, aos 35 anos.

CARTOLA E ZICARTOLA

Dona Zica conhecia Cartola desde os primeiros anos de Mangueira, mas o flerte entre o dois começou três décadas depois, em 1953, na casa do compositor e sambista Carlos Cachaça, que era casado com Clotildes, irmã da mangueirense. Cartola, também viúvo, logo passou a morar com Zica.

Em outubro de 1964, após uma década de noivado, os dois se casaram em cerimônia realizada na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Rio. Em celebração ao matrimônio, Cartola compôs “Nós Dois”. A união durou até a morte do compositor, em 1980.

Foi dona Zica quem inspirou alguns dos clássicos do marido, entre os quais “As Rosas Não Falam”, “Tive Sim” e “O Sol Nascerá”, este em parceria com Elton Medeiros. Os dois moraram no morro até 1978, depois se mudaram para o bairro de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio.

Dona Zica em sua casa ao lado do marido Cartola em 1978 (Foto: Folhapress)

Em julho de 1963, o casal fundou o cultuado bar e restaurante Zicartola, no número 53 da rua da Carioca, na praça Mauá, considerado um dos principais redutos de resistência da cultura brasileira. 

O Zicartola reuniu artistas de peso, sobretudo do cenário do samba, como os compositores Zé Keti (1921-1999), Nelson Cavaquinho (1911-1986), Elton Medeiros, Nelson Sargento, Paulinho da Viola (que lá ganhou o seu primeiro cachê como músico), Vinicius de Moraes (1913-1980), Nara Leão (1942-1989) e Hermínio Bello de Carvalho, além de personalidades de outras vertentes da arte, como o cinema, o teatro e a televisão. 

O local, porém, durou menos de três anos. Problemas na administração culminaram em seu fechamento em maio de 1966. Em entrevista ao programa Roda Viva, exibido na TV Cultura em 1994, dona Zica contou, rindo, que as “penduras” dos amigos foram uma das causas para o fim do reverenciado refúgio de bambas.  

ZICA MUSICAL

Embora não fosse cantora e tampouco compositora, dona Zica deixou pelo menos três registros musicais. Em 1998, gravou “Capital do samba” (Zé Ramos), no LP “Chico Buarque de Mangueira” (BMG), uma reverência de Chico aos velhos compositores da escola. Depois cantou “Chega de demanda” (Cartola e Paulinho Tapajós), que entrou no disco “Velha Guarda e Convidados”( Nikita Music).

Em 1976, ao lado de Cartola, gravou o samba “Sala de Recepção”, uma homenagem à Mangueira lançada no segundo disco do marido, o da capa em que o casal aparece na janela de casa.

O DESTINO DO CARNAVAL

Em 1980, em entrevista à Folha, a carnavalesca fez duras críticas às mudanças na festa mais popular do país. “A evolução moderninha está desvirtuando o carnaval, não é mais aquele samba que a gente sentia dentro da gente, agora é pra comércio, para ganhar dinheiro, não é aquele samba de paixão”, bradou.

Apesar dos pesares e das discordâncias, a maestrina verde e rosa sempre manteve a mesma adoração intensa pelo Carnaval, em especial pela Mangueira, escola da qual representou com o mesmo sorriso contagiante por quase oito décadas de dedicação e folia.

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Há 45 anos, morria a pintora modernista Tarsila do Amaral, autora da famosa tela ‘Abaporu’ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/01/17/ha-45-anos-morria-a-pintora-modernista-tarsila-do-amaral-autora-da-famosa-tela-abaporu/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/01/17/ha-45-anos-morria-a-pintora-modernista-tarsila-do-amaral-autora-da-famosa-tela-abaporu/#respond Wed, 17 Jan 2018 07:00:19 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/TarsiladoAmaral__blog-180x132.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=7347 Na madrugada de 17 de janeiro de 1973, morria a pintora Tarsila do Amaral, no hospital Beneficência Portuguesa, em decorrência de complicações após uma cirurgia para retirada de uma pedra na vesícula.

Tarsila nasceu em 1º de setembro de 1886, em Capivari, no interior do Estado de São Paulo, filha do fazendeiro José Estanislau do Amaral e de Lydia Dias de Aguiar Amaral. Durante quase toda a infância viveu na fazenda de seu pai e foi educada por uma professora belga, aprendendo a ler e a escrever em francês.

Veio ainda jovem para a cidade de São Paulo, onde estudou no Colégio Sion, no bairro de Higienópolis. Anos mais tarde, foi para Barcelona (Espanha) estudar no colégio Sacre Couer. Foi na cidade catalã, inclusive, que fez seu primeiro quadro, “Sagrado Coração de Jesus”, em 1904.

De volta ao Brasil, casou-se com André Teixeira Pinto, com quem teve a única filha, Dulce —que viria a morrer antes da mãe, em 1966.

Em 1918, a artista conheceu a pintora Anita Malfatti, que quatro anos mais tarde a introduziria no grupo modernista. As duas, ao lado de Menotti Del Picchia, Oswald e Mário de Andrade, formaram o quinteto conhecido como Grupo dos Cinco.

É nessa época que ela começa a namorar Oswald de Andrade. O casal viria o oficializar a união somente em 1926, ano em que Tarsila fez sua primeira exposição individual em Paris.

Considerada sua obra mais importante, o “Abaporu” foi um presente de aniversário ao seu então marido. O nome significa “homem que come carne humana”.

Em 1929, a artista se separou do escritor, quando descobriu que ele a havia traído com a escritora Pagu, frequentadora de sua casa e considerada musa dos modernistas.

EXPOSIÇÕES E OBRAS

No ano de sua separação Tarsila fez sua primeira exposição individual no Brasil.

Em 1933, a artista pintou o quadro “Operários”, considerado pioneiro da temática social no país. Com o mesmo tema, a pintora fez também as telas “Segunda Classe”, “Costureiras” e “Orfanato”.

Tarsila participou da 1ª Bienal de São Paulo, em 1951. Já na 7ª edição, em 1963, ganhou sala especial intitulada “Retrospectiva de Tarsila”.

Seis anos depois, a professora e crítica de arte Aracy Amaral organizou duas importantes exposições sobre a pintora (além de tê-la biografado em vida). Uma no Museu de Arte Contemporânea (MAC USP) e outra no Museu de Arte Moderna do Rio.

Considerada a obra mais icônica de Tarsila, o “Abaporu” faz parte do acervo permanente do Malba (Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires) desde sua fundação, em 2001. A tela foi adquirida pelo empresário Eduardo Constantino, dono do museu.

A última vez que o quadro veio ao país foi em agosto de 2016, para a exposição “A Cor do Brasil”, no MAR (Museu de Arte do Rio), durante a Olimpíada.

MoMA

De outubro de 2017 até o último dia 7 de janeiro, o Art Institute of Chicago recebeu a exposição “Tarsila do Amaral: Inventando a Arte Moderna no Brasil” (em tradução livre). A mostra agora segue para o conceituado Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), onde será realizada entre os dias 11 de fevereiro e 3 de junho.

A exposição terá quase 130 obras de arte, incluindo pinturas, desenhos, cadernos, fotografias e outros documentos históricos extraídos de coleções em toda a América Latina, Europa e Estados Unidos.

CORES

Formas gigantes, figuras geométricas e muitas cores. Essas são algumas das marcas que podem ser observadas nas pinturas de Tarsila do Amaral.

“Encontrei em Minas [o Estado] as cores que adorava quando criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para as minhas telas: o azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante”, explicava a artista.

Além das cores, a temática brasileira sempre esteve presente em seus trabalhos, seja nas paisagens rurais ou urbanas, na fauna, na flora e nas pessoas de sua terra.

Nada mais genuíno para quem dizia querer ser a pintora do Brasil.

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DIVÓRCIO, 40: Após 26 anos, Nelson Carneiro venceu a batalha pela Lei do Divórcio no Brasil https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/12/26/divorcio-40-apos-26-anos-nelson-carneiro-venceu-a-batalha-pela-lei-do-divorcio-no-brasil/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/12/26/divorcio-40-apos-26-anos-nelson-carneiro-venceu-a-batalha-pela-lei-do-divorcio-no-brasil/#respond Tue, 26 Dec 2017 07:00:43 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Nelson-Carneiro-180x136.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=6903 No dia 23 de junho de 1977, após o voto do deputado maranhense Luiz Rocha garantir a maioria necessária para a aprovação da emenda constitucional que possibilitou a criação da Lei do Divórcio –promulgada em 26 de dezembro de 1977-, o senador Nelson Carneiro foi cercado por uma multidão de repórteres.

Naquele momento, recebeu manifestações calorosas do público que o aguardava fora do plenário. Como uma celebridade pop, Carneiro deu autógrafos, recebeu beijos e agradecimentos pela sua luta contra a indissolubilidade do casamento.

“Essa não foi uma guerra contra a igreja. Não foi uma vitória contra a igreja. foi uma vitória da família brasileira”, afirmou o senador em sua primeira declaração após a vitória dos divorcistas.

O debate sobre a aplicação de uma lei sobre o divórcio ganhou maior intensidade em 1977 e dividiu a opinião pública. Naquela época, o desquite dissolvia a sociedade conjugal perante a lei, mas não acabava com os vínculos matrimoniais, fato que impedia um novo casamento.

A oposição da Igreja Católica, os interesses de líderes conservadores e os conceitos morais dos congressistas provocaram fortes discussões quando foi realizada primeira da votação da Emenda Constitucional nº 9 em 15 de junho. Pelo regimento da época, eram necessárias duas votações.

A emenda de Nelson Carneiro foi o ápice de sua luta pelos direitos da família brasileira, iniciada em 1947, quando assumiu uma das cadeiras na Câmara dos Deputados. Mas foi em 1951 que Carneiro apresentou seu primeiro projeto de anulação do casamento, 26 anos antes da sua festejada vitória divorcista.

Em Brasília, vibração do público e dos parlamentares no final da votação da emenda constitucional que possibilitou a criação da Lei do Divórcio, no dia 23 de junho de 1977. (Foto: Folhapress)

“O projeto foi tenazmente combatido por todo o clero, através de suas associações e, na Câmara, pelo meu amigo, mas adversário, monsenhor Arruda Câmara, que chegou a batizar esse projeto de ‘tortuoso e mascarado’ e, que no fundo, levaria a legitimidade do divórcio. Mas o amplo debate que o projeto provocou, graças aos meios de comunicação, esclareceu os justos objetivos a que me propunha”, recorda Nelson Carneiro em entrevista à Folha em abril de 1970.  

Monsenhor Arruda Câmara, um dos maiores militantes antidivorcistas, nas décadas de 50 e 60, e autor do livro “A Batalha do Divórcio”(1952), travou intensos debates com Nelson Carneiro. O parlamentar morreu em fevereiro de 1970.

“Quando Nelson Carneiro apresentou o primeiro projeto, em 1951, foi um escândalo. Foi chamado de profeta das ruínas e coveiro da família. Arruda Câmara, que era muito ativo, conseguiu rapidamente arregimentar uma parcela da Câmara para se opor ao projeto. O projeto foi derrotado, mas foi ele que deu notoriedade a Nelson Carneiro, que passou a ser convidado para debater o tema em rádios e jornais”, afirma a historiadora Tereza Cristina França, em reportagem da Folha de 2007Incansável, Carneiro chegou a declarar à Folha da Noite que a vitória de seu projeto estava assegurada quando foi aprovada uma proposta de votação secreta em 1952.

O deputado Nelson Carneiro conversa com o poeta Jamil Almansur Haddad e crítica de teatro Maria José Carvalho na estreia da peça “O Culpado foi Você”, escrita por Carneiro em 1952.

Em janeiro de 1961, ao comentar, na Câmara dos Deputados, o livro “A Batalha do Divórcio”, de Arruda Câmara, o então deputado Carneiro foi irônico ao abordar o pedido de mudança do título da publicação feito por um cardeal de São Paulo. O religioso queria que o nome do livro fosse “A Vitória Contra o Divórcio”.

“Ao fazer esse registro, sr. Presidente, quero significar, ainda uma vez, que monsenhor Arruda Câmara é o mais prudente dos homens. Melhor será mesmo chamar ‘A Batalha do Divórcio’, porque a guerra quem ganhará sou eu”, disse Nelson Carneiro.

Nascido em 1910, na cidade de Salvador (BA), Nelson Carneiro levou a bandeira política dos direitos da família e do divórcio ao Congresso Nacional, foi eleito deputado federal por três vezes e senador por outras três. O considerado pai do divórcio morreu em  1996, em Niterói, onde se recuperava de uma cirurgia abdominal.

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DIVÓRCIO, 40: Igreja Católica pressionou políticos para manter matrimônio indissolúvel https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/12/24/6792/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/12/24/6792/#respond Sun, 24 Dec 2017 07:00:01 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Geisel-180x132.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=6792 “Para os católicos, em qualquer legislação, o sacramento do matrimônio é indissolúvel.”

“[…] a autoridade eclesiástica, se julgar oportuno, poderá excomungar o divorciado.”

As frases acima dão uma mostra do papel da Igreja Católica em 1977, quando a Lei do Divórcio foi aprovada. Elas foram proferidas, respectivamente, por dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016) e dom Aloísio Lorscheider (1924-2007), secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) na época.

A cúpula católica entrou naquele ano disposta a impedir a aprovação de qualquer legislação divorcista. “A Igreja sabe que, com o reinício dos trabalhos legislativos, novos projetos serão apresentados no Congresso e, por isso, quer sair na frente”, disse Lorscheider.

O religioso se referia ao documento “Fraternidade e Família – Mensagem dos Bispos às Famílias do Brasil”, divulgado em fevereiro de 1977, após o encontro anual da CNBB, em Indaiatuba (SP).

No comunicado, a Igreja chama para si a responsabilidade de orientar os fieis para “o revigoramento da família em nossa pátria” e enfatiza que “o bem comum” deve ser respeitado, “não somente pela consciência do cidadão, como também pela legislação”.

Segundo Lorscheider, “a Igreja, quando defende a família, defende uma instituição natural, e não apenas a família católica”. “Somos contra o divórcio, inclusive dos pagãos.”

Por outro lado, de acordo com levantamento feito pelo “Jornal da Tarde” naquele ano, a grande maioria das igrejas evangélicas, centros espíritas e seguidores de outras religiões não se opunha à lei.

A pauta sobre a dissolução do matrimônio entraria em votação em junho, através de uma comissão mista do Congresso.

O assunto não distinguia oposição e situação. Existiam parlamentares da Arena –governistas– e do MDB –oposicionistas– favoráveis ao assunto, assim como alas contrárias, de ambos os partidos. Já o governo federal, representado na figura do presidente militar (foto acima) Ernesto Geisel (1907-1996), matinha posição neutra.

PRESSÃO DO CLERO

Com a aproximação da apreciação pelos congressistas, a campanha de líderes católicos ganhou cada vez mais espaços durante missas e outras celebrações. Constantemente a opinião destes era exposta nos jornais da época.

Deputados e senadores também foram pressionados por integrantes da Igreja, inclusive com a criação de uma suposta lista negra de divorcistas.

“Penso que as paróquias devem anotar a verdadeira mentalidade dos que se julgam representantes do povo. Por anotar, quero dizer: conservar listas dos que votaram a favor e contra o divórcio, para distinguir bem aqueles que estão afinados com nosso pensamento e confrontar suas posições por ocasião das campanhas eleitorais”, disse Lorscheider, que em outra oportunidade chegou a divulgar uma lista de advertências para quem quisesse se divorciar:

“O divorciado não poderá, enquanto estiver nessa condição, confessar-se. Não poderá, licitamente, aproximar-se da mesa eucarística, nem ser padrinho ou madrinha. O divorciado, se não arrependido, não poderá receber a unção dos enfermos e o viático. […] Não poderá ser rezada missa, a não ser em caráter particular, para o divorciado. Além disso, a autoridade eclesiástica, se julgar necessário, poderá excomungá-lo.”

Posição esta que foi criticada pela Folha em editorial publicado em 22 de junho de 1977: “Não pode se admitir como construtivo, por exemplo, ameaçar divorcistas com a possível privação de sacramentos […] Tais advertências sombrias, talvez inspiradas pelo ardor do clímax de uma campanha exaustiva, expõe a Igreja ou a descrédito, como decorrência de eventual recuo futuro, ou a uma obstinada luta punitiva, incompatível com o espírito de amor e perdão do Evangelho”.

Alguns parlamentares desabafaram sobre a pressão exercida pelos religiosos. “Este Congresso está sendo pressionado de todas as maneiras. Temos recebido cartas, telegramas, cartões e até telex oficiais, apelando para que voltemos atrás e não sejamos favoráveis ao divórcio”, disse o deputado Célio Marques Fernandes (Arena), que desafiou: “Domingo irei comungar na catedral de Brasília e duvido que algum padre vá me negar a hóstia sagrada”.

RESISTÊNCIA POLÍTICA

Mas no Congresso também haviam aqueles contrários à aprovação da emenda. Em 14 de junho, o senador Ruy Santos (Arena), relator da comissão mista, fez alerta aos colegas.

“Santo Agostinho disse: ‘O demônio é quem fez o divórcio’. Se o divórcio vier, virá depois o aborto legalizado e, depois, a prostituição legalizada. E será o fim da família e a expressão ‘família’ terá de ser substituída por outras como “da junção”, do “companheirismo.”

No entanto, segundo a reportagem da Folha enfatizou, talvez o parlamentar nunca tivesse sido tão vaiado em sua vida como no dia em que expôs sua opinião antidivorcista.

No dia seguinte, o divórcio foi aprovado, em primeira discussão, por 219 votos a favor e 161 contra. Franco Montoro (MDB), líder da oposição no Senado, e outros 42 políticos não compareceram à sessão.

A última batalha dos divorcistas estava marcada para o dia 23 de junho. Foi quando rumores de que Igreja e governo haviam feito um pacto pela não aprovação.

“O presidente Ernesto Geisel permanece e permanecerá inteiramente imparcial na questão do divórcio, e não poderia ser de outra forma.” A declaração, dada pelo chefe da Assessoria de Imprensa da Presidência, o coronel Toledo de Camargo, foi para desmentir o burburinho que ganhava cada vez mais força no Congresso e gerava embates e questionamentos entre os políticos.

O líder do governo na Câmara, o deputado arenista José Bonifácio, considerado católico fervoroso e totalmente favorável ao matrimônio indissolúvel, ia a público com frequência para negar quaisquer boato de um acordo entre Estado e católicos.

A CNBB também desmentiu que houvesse qualquer tipo de manobra com o Executivo federal.

Desde o início das discussões, Geisel, que mesmo não tendo ido a público para dar declarações sobre o tema, através de seus porta-vozes sempre deixou clara a posição de que cada parlamentar deveria decidir “de acordo com a própria consciência”.

E assim veio a segunda votação para derrubar qualquer hipótese de conluio entre religiosos e governo. O divórcio foi aprovado por 226 votos contra 159, 14 a mais que do o necessário. No dia 28 de junho, o presidente do Congresso, Petrônio Portela, assinou a promulgação da emenda constitucional nº 9, que tornava dissolúvel o vínculo matrimonial.

Após a aprovação, a pressão da Igreja ainda existia, mas foi diminuindo gradualmente.

O caminho estava aberto para que, no dia 25 de agosto, os senadores Nelson Carneiro e Acioly Filho apresentassem um projeto de lei com a finalidade de regulamentar o divórcio.

A partir disso, as discussões que se estenderam entre as duas casas do Congresso se deram apenas em torno de alterações ou não de artigos.

A aprovação pelo Senado aconteceu na madrugada de 4 de dezembro de 1977. Já a sanção presidencial, sem alterações no texto enviado, foi efetuada no dia 26 de dezembro pelo presidente Geisel, um adepto do luteranismo.

Vale ressaltar que dom Paulo Evaristo Arns e dom Aloísio Lorscheider, personagens citados no texto, apesar de contrários ao divórcio na época, lutaram contra a ditadura e ficaram reconhecidos como líderes progressistas da Igreja Católica no Brasil.

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