Acervo Folha https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br No jornal, na internet e na história Fri, 19 Feb 2021 13:40:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 1968 – AS 28ª E 29ª BOMBAS: Avião da praça 14 Bis e multinacional viram alvos https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/17/1968-as-28a-e-29a-bombas-aviao-da-praca-14-bis-e-multinacional-viram-alvos/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/12/17/1968-as-28a-e-29a-bombas-aviao-da-praca-14-bis-e-multinacional-viram-alvos/#respond Mon, 17 Dec 2018 09:00:38 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/aviaoC3-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10645 Quatro dias após o então presidente do Brasil, Arthur da Costa e Silva, ter baixado o Ato Institucional nº5 e endurecido o regime ditatorial, duas bombas explodiram na região da Grande São Paulo na madrugada de 17 de dezembro de 1968.

Um dos alvos foi o avião da FAB (Força Aérea Brasileira) que ficava exposto como um monumento na praça 14 Bis, perto da avenida 9 de Julho, na Bela Vista, região central de São Paulo.

O outro ponto de ataque foi  na  seção de classificação de algodão da multinacional americana Anderson, Clayton & Company, em São Caetano do Sul. As duas ações não deixaram feridos.

Essas foram as últimas duas das 28 bombas em 1968 na região metropolitana de São Paulo que foram contabilizadas em um levantamento do Banco de Dados da Folha. As histórias de todos os casos foram relatados no Blog do Acervo em 2018.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

A bomba na praça 14 Bis não teve grande poder destrutivo. Danificou a fuselagem e a asa direita do avião C-3, que havia sido transformado em um monumento para homenagear os pracinhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira).

O veículo aéreo, utilizado em combates na Itália durante a Segunda Guerra, foi adaptado e colocado sobre uma armação de cimento para que pudesse ser visto com maior facilidade. Em sua volta, para isolá-lo, foi colocada uma corrente presa a cápsulas usadas também na guerra. Porém as crianças costumavam entrar na área para brincar.

O autor do atentado, assim como faziam as crianças nas brincadeiras, passou pelas correntes. Deixou o artefato junto ao pedestal do monumento e fugiu.

A explosão não fez com que o avião caísse, mas provocou a quebra de vidros em vários prédios vizinhos. O barulho foi ouvido até da delegacia que funcionava na rua Marques de Paranaguá (a aproximadamente um quilômetro do local).

Os agentes foram à praça e recolheram panfletos com mensagens atribuídas ao ex-deputado Carlos Marighella. Ele lutava contra a ditadura e era líder de um grupo armado que viria a receber o nome de ALN (Ação Libertadora Nacional).

O texto divulgado nos panfletos negava a participação de Marighella em assaltos, mas o ligava aos movimentos contra o regime militar. Também havia a reclamação de que os Estados Unidos tinham se transformado em donos do Brasil.

Em 18 de maio de 1992, a Folha publicou uma reportagem, assinada pelo jornalista Mario Cesar Carvalho, relatando que o arquiteto e artista plástico Sérgio Ferro participou do ataque contra o avião da FAB.

Na época da ditadura, Ferro integrava o “Grupo de Arquitetos”, que tinha ligação com a ALN. Também chegou a fazer a ponte com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Ficou preso por um ano, entre dezembro de 1970 e dezembro de 1971, e foi torturado.

Da França, onde radicou-se no exílio, Ferro comentou a ação na praça 14 Bis. “Isso foi ridículo. O avião não caiu, coitado, ficou lá”, declarou.

Na mesma reportagem de 1992, o arquiteto fez uma revelação, bem mais séria. Disse ter colocado, junto com o arquiteto Rodrigo Lefévre (1938-1984) e com uma outra pessoa que ele não contou o nome, a bomba no Consulado dos Estados Unidos na madrugada de 19 de março de 1968.

A explosão atingiu o estudante Orlando Lovecchio Filho, que passava pelo local e teve que amputar o terço inferior de sua perna esquerda.

A reportagem do Banco de Dados Folha não conseguiu entrar em contato com Ferro.

São Caetano do Sul

Assim como ocorreu na praça 14 Bis, panfletos com mensagens que seriam de Marighella foram encontrados onde explodiu a outra bomba da madrugada de 17 de dezembro de 1968.

O petardo foi colocado na porta do prédio da Anderson, Clayton & Company no centro de São Caetano do Sul. Com a detonação, a porta de ferro foi bastante danificada. Vários vidros do edifício também ficaram quebrados.

Antes disso, os agentes estavam empenhados em averiguar uma falsa ameaça.

Uma ligação telefônica anônima, por volta das 23h, informava que uma bomba seria jogada na empresa Matarazzo Rayon (a cerca de 2,5 quilômetros da Anderson) em dez minutos.

Com isso, viaturas da Rádio-Patrulha, dos Bombeiros e da Polícia Civil se dirigiram para o local para realizar as buscas, tomando um drible.

A polícia só ficou sabendo do verdadeiro ataque por volta das 3h30 com um telefonema de um morador da região.

O Dops (Departamento de Ordem Política e Social) foi avisado do ataque pela delegacia de São Caetano, mas o delegado de plantão não pôde ir ao local de prontidão, porque estava ocupado no caso da praça 14 Bis.

O chefe da Polícia Federal em São Paulo, o general Silvio Correia de Andrade, disse acreditar que foi o mesmo grupo que realizou as duas ações.

Independentemente de quem foi o autor da ação em São Caetano, o fato foi que mais uma vez a ditadura voltou a ser desafiada em 1968.

Prédio da Anderson, Clayton em São Caetano depois do ataque – Reprodução

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1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas

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1968 – 27ª BOMBA: Jato de fogo em área da Aeronáutica gera especulações https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/11/24/1968-27a-bomba-jato-de-fogo-em-area-da-aeronautica-gera-especulacoes/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/11/24/1968-27a-bomba-jato-de-fogo-em-area-da-aeronautica-gera-especulacoes/#respond Sat, 24 Nov 2018 09:00:45 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/CampodeMarte-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10495 Apesar de 1968 ter sido um período marcado por bombas em São Paulo, uma explosão no Parque da Aeronáutica no Campo de Marte (zona norte de São Paulo), na noite de 25 de novembro daquele ano, não gerou muito alarme nas autoridades. Pelo menos, publicamente.

No dia seguinte ao fato, a Folha da Tarde divulgou que duas bombas foram detonadas no local e que o assunto estava sendo mantido em sigilo pela Aeronáutica para não provocar pânico na região.

Depois, veio a versão oficial: uma explosão ocorreu em um buraco de um terreno vazio no Campo de Marte. Porém não foi explicado o que provocou o estouro nem quem foram os autores.

Esse caso se juntou a outros 26 registros de explosivos e bombas, ocorridos na região metropolitana paulista desde março a novembro de 1968 (o quarto ano da ditadura militar no Brasil).

O levantamento foi realizado pelo Banco de Dados, e os episódios estão sendo publicados no Blog do Acervo da Folha.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

A misteriosa explosão em uma zona de segurança da Aeronáutica gerou muitas especulações.

O então chefe da Polícia Federal em São Paulo, o general Silvio Correa de Andrade, recusou-se a comentar a possibilidade de ligação com algum outro atentado anterior.

“Não fui solicitado pelas autoridades da Aeronáutica nem sei qual tipo dos artefatos, o material utilizado, o estrago causado e outros detalhes para fazer uma comparação com a [bomba] do consulado americano, a do Estadão e as que foram lançadas contra os quartéis do 2º Exército”, declarou na época o general, citando alguns atentados que estavam sob investigação.

Segundo o relato do delegado Wanderico Arruda de Moraes, o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) foi chamado no dia 25 de novembro para atender a um acidente com um garoto atingido por um jato de fogo, vindo de um buraco num terreno baldio. Não foi revelada a gravidade dos ferimentos no garoto.

Edição da Folha da Tarde de 27 de setembro de 1968

Um tenente-coronel apontou que a explosão pode ter sido causada por um obus (uma espécie de granada explosiva que era arremessada por boca de fogo) enterrado no local em 1932, ano da Revolução Constitucionalista. Também informou que um buraco de um metro e meio no terreno ficou aberto e que só um menino foi queimado.

Oficiais da 4ª Zona Aérea disseram acreditar que a explosão tenha sido provocada pelo garoto que estaria brincando nas imediações do Campo de Marte.

Já o delegado-adjunto Orlando Rosante cogitou a possibilidade de ter ocorrido uma combustão espontânea com gases acumulados no local.

O Dops desligou-se do caso. As autoridades da Força Aérea Brasileira negaram-se a considerar que tenha sido um ação política e preferiram não comentar o fato por causa da sua “pequena importância”. E, assim, mais uma bomba ficava sem solução.

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1968 – DA 24ª À 26ª BOMBA: Após dois meses, explosivos na Água Branca e na Bela Vista voltam a intrigar o Exército https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/10/31/1968-da-24a-a-26a-bomba-apos-dois-meses-explosivos-na-agua-branca-e-na-bela-vista-voltam-a-intrigar-o-exercito/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/10/31/1968-da-24a-a-26a-bomba-apos-dois-meses-explosivos-na-agua-branca-e-na-bela-vista-voltam-a-intrigar-o-exercito/#respond Wed, 31 Oct 2018 15:00:09 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/Bomba1-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10447 O final de outubro de 1968 marcou a volta dos casos de grande repercussão de bombas em São Paulo. Uma explodiu na loja Sears, na Água Branca (zona oeste), no dia 27, sem provocar vítimas. Outras duas foram encontradas, sem serem detonadas, na Bela Vista (região central), no dia 31.

Essas ações representaram o fim de mais de dois meses sem notícias assim nos jornais naquele ano.

Os últimos haviam sido no dia 19 de agosto, com explosões em frente ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e nos fóruns da Lapa e de Santana –os três foram de madrugada.

Conforme levantamento feito pelo Banco de Dados, foram feitos, ao menos, 26 registros de bombas, entre março e outubro de 1968 -era o quarto ano dos militares no poder. Essas histórias estão sendo resgatadas e publicadas no Blog do Acervo Folha.

Depois do atentado no Dops, a polícia prendeu um grupo de extrema direita acusado de provocarem, pelo menos, 13 ataques a bomba.

O líder do grupo, o escritor Aladino Félix, afirmou que as explosões eram determinadas pela Casa Militar da Presidência da República e que ele era apenas um intermediário.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

Quando uma explosão voltou a ocorrer, com o episódio na loja Sears, surgiu novamente a dúvida se havia um cunho político.

Para o delegado Edward Quass, do Dops, o “atentado era obra de pessoas interessadas no endurecimento do regime militar”, independentemente se tivesse sido feito por integrantes extremistas da direita ou da esquerda.

O ataque foi feito de madrugada. Uma bomba explodiu em uma das portas de aço que protegem as vitrines da loja, destruindo vários aparelhos eletrodomésticos. Um cano também foi rompido. A água jorrou pelo local, alagando os porões.

Segundo cálculos dos diretores da Sears, os prejuízos causados eram de mais de NCr$ 30.000 (o que equivaleria a aproximadamente R$ 240 mil).

Os vidros das janelas de uma empresa vizinha quebraram com o deslocamento de ar. Isso também ocorreu em residências próximas.

Foram recolhidos os fragmentos da bomba, uma peça de aço, pedaço de um cano, papéis com o emblema das Forças Armadas e em um deles havia a inscrição: Ministério da Guerra, Fábrica de Explosivos do Exército, Piquete.

A hipótese de que o artefato teria sido lançado por um Volkswagen, que tinha passado momentos antes da explosão, foi deixada de lado, já que a bomba era muito pesada.

Quatro dias depois, a polícia ganhou um outro mistério para tentar desvendar. Duas bombas, de alto poder destrutivo, foram encontradas de madrugada perto de um estacionamento de carros na rua Paim, na Bela Vista.

Elas estavam escondidas embaixo de um monte de pedras, o que, segundo policiais, aumentaria o poder de ação quando explodisse, porque gerariam muitos estilhaços.

Bombas estavam debaixo de um monte de pedras

O Exército não informou como as descobriu lá. Durante a madrugada, oficiais do Serviço Secreto foram até o local,  começaram a a cavar as pedras, cuidadosamente, até que acharam os dois petardos.

Houve um impasse para fazer a remoção das bombas. Os agentes militares queriam que a Polícia Técnica as desmontasse, mas não foram atendidos.

Um engenheiro da Polícia Técnica alegou que elas poderiam explodir ao simples contato com mão e que as Forças Armadas tinham o equipamento necessário para a ação.

Quem fez esse trabalho foi a Polícia do Exército. Nenhum dos oficiais quis fazer alguma declaração para a imprensa, mas eles admitiram que “aquilo era obra de terrorista”.

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1968 – DA 21ª À 23ª BOMBA: Após explosões no Dops e em fóruns, polícia prende grupo de extrema direita https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/08/20/1968-da-21a-a-23a-bomba-apos-explosoes-no-dops-e-em-foruns-policia-prende-grupo-de-extrema-direita/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/08/20/1968-da-21a-a-23a-bomba-apos-explosoes-no-dops-e-em-foruns-policia-prende-grupo-de-extrema-direita/#respond Mon, 20 Aug 2018 09:00:56 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/carro2-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10300 A madrugada de 19 de agosto de 1968 foi muito agitada para os policiais em São Paulo. A partir das 3h, houve uma sequência de três explosões em locais relevantes para o poder público.

Um carro-bomba, cheio de dinamites, foi detonado na frente do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e dois artefatos foram jogadas nos prédios dos fóruns da Lapa e de Santana.

Apesar de o ataque ter sido de grande potência, só houve vítimas com ferimentos leves.

Com essa ação, a região metropolitana de São Paulo passou a registrar, pelo menos, 23 casos de bomba somente em 1968. Essas histórias estão sendo resgatadas pelo Banco de Dados e publicadas no Blog do Acervo Folha.

Após tantos ataques, a polícia prendeu um grupo de extrema direita e o apontou como responsável por, pelo menos, 13 ações com bombas, inclusive as três do dia 19 de agosto.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

A maior explosão daquela madrugada ocorreu no largo General Osório a cerca de 50 metros do Dops. A bomba estava dentro de um automóvel Aero Willys, de cor verde.

Esse carro e outros dois, que estavam parados ao seu lado, ficaram destruídos. Estilhaços dos veículos foram encontrados até a 150 metros.

O estouro destruiu todos os vidros do prédio do Dops e deixou um policial ferido, o sentinela Paulo Roberto Santos. Com o impacto da explosão, ele foi jogado para trás e teve a perna cortada.

Um hóspede de um hotel da região também se feriu. Jeronimo Moreira Neto foi atingido por um estilhaço de vidro na testa enquanto dormia. Passou pelo Pronto-Socorro da Barra Funda e depois foi ao Dops.

A cerca de cinco quilômetros dali, o Fórum Distrital de Santana também foi alvo de um ataque apenas poucos minutos depois. Uma bomba destruiu a fachada do local.

O soldado da Força Pública Isidoro Luís Inoe estava dormindo nos fundos do prédio e caiu da cama com o estouro. Ele, ainda atordoado e usando apenas um shorts, foi até a frente do prédio e verificou o que tinha acontecido.

As casas vizinhas do fórum também sofreram danos. A deslocação de ar quebrou muitos vidros das residências.

O terceiro e último atentado daquela madrugada ocorreu no Fórum Distrital da Lapa, localizado a dez quilômetros do de Santana e a oito quilômetros do Dops.

A bomba foi jogada na parede lateral do edifício, provocando um rombo no concreto. Uma agência bancária, instalada no prédio vizinho, ficou com sua entrada bastante danificada.

A primeira viatura que chegou ao local teve que prestar socorro a um casal de namorados que estava passando próximo ao local. Eles ficaram levemente feridos.

A moradora Neusa Pinto Magalhães, que residia perto do fórum na Lapa, disse que a explosão deixou a rua sob muita fumaça.

“Eram 3h15, mais ou menos. Eu acordei um pouco antes. Repentinamente, ouvi uma violenta explosão, as paredes tremeram, os vidros se partiram”, afirmou.

Investigação

Ao analisar os destroços, a polícia verificou que o carro que explodiu era o mesmo utilizado por ladrões em um assalto a um banco em Perus, no dia 1º de agosto daquele ano. O automóvel havia sido roubado e teve a placa trocada.

Em 22 de agosto, as forças de segurança informaram ter detido alguns membros do grupo que organizou os atentados ao Dops e aos fóruns da Lapa e Santana, além do assalto ao banco de Perus.

As investigações prosseguiram. E, após depoimentos de 19 presos, o Exército apontou o escritor Aladino Félix (que usava o codinome de Sábato Dinotos) como o chefe da quadrilha. O grupo de extrema direita contava com a participação de militares e de civis.

O motivo era político. Segundo a polícia, eles formam um movimento que pretendia levar Félix a ser governador de São Paulo e fazer com que o soldado Gesse Candido de Morais se tornasse comandante da Força Pública.

Apenas parte dos adeptos desse movimento, porém, teria participado das ações violentas. As autoridades acreditavam que eles organizaram outras dez ações com explosivos em pontos estratégicos:

  1.  Quartel-general da Força Pública
  2.  Departamento de Alistamento da Força Pública
  3.  Bolsa de Valores
  4.  Pontilhão da ferrovia Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, no Piqueri
  5.  Passagem subterrânea da ferrovia Estrada de Ferro Sorocabana, na Lapa
  6.  Passagem de nível da Estrada de Ferro Central do Brasil, na Penha
  7.  Trem da da Estrada de Ferro Central do Brasil
  8.  Oleoduto em em Utinga, na cidade Santo André
  9.  Estátua de Duque de Caxias, na praça Princesa Isabel
  10.  Palácio do Governo

Félix havia ganhado notoriedade com seus estudos sobre disco voador anteriormente. Chegou a dizer a um jornalista que tinha feito uma viagem de ida e volta ao planeta Vênus. Também foi divulgado na época que ele havia criado uma nova língua, misturando o hebraico, o grego e o latim, na qual ele teria aprendido de Deus.

De acordo com a polícia, o plano do preso era primeiro atingir o poder do estado de São Paulo e, depois, dominar o país.

Em depoimento ao juiz, Félix negou que tenha participado diretamente de um atentado a bomba. No entanto disse que os atos eram determinados pela Casa Militar da Presidência da República e que ele era apenas o intermediário do grupo.

Segundo ele, o objetivo era apenas criar tensão para possibilitar uma ditadura mais aberta e, por isso, não poderia chamar as ações de “terroristas”.

Félix disse que, quando foi preso, sofreu tortura, com choques elétricos, e que assinou o seu depoimento quando estava semiconsciente.

O general Silvio Correia de Andrade, titular do Departamento de Polícia Federal em São Paulo, desmentiu as falas de Félix. “Está completamente fora da realidade”, disse, sobre o escritor preso.

À parte a prisão de Félix, as forças de segurança se mantinham em alerta e ainda à caça dos autores de outros atendados a bomba.

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1968 – 20ª BOMBA: Ataque no Sumaré faz polícia suspeitar de ação contra EUA https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/30/1968-20a-bomba-ataque-no-sumare-faz-policia-suspeitar-de-acao-contra-eua/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/30/1968-20a-bomba-ataque-no-sumare-faz-policia-suspeitar-de-acao-contra-eua/#respond Mon, 30 Jul 2018 09:21:26 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/DOPS4-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10228 No primeiro semestre de 1968, o Consulado dos Estados Unidos e a residência de um executivo norte-americano da Kibon já haviam sido alvos de atentados a bombas em São Paulo.

O caso seguinte a estes contra um estrangeiro ocorreu no dia 28 de julho daquele ano, um domingo.

Às 3h30, um coquetel molotov foi jogado na residência da chinesa Elizabeth Chang Margareth, que havia vindo de Hong Kong para São Paulo fazia cinco anos.

O explosivo caiu no jardim, falhou ao explodir e só queimou uma pequena parte da grama.

Ela morava na rua Grajaú, número 212, no Sumaré, na zona oeste de São Paulo. Seu vizinho era o vice-cônsul norte-americano Richard Baker.

Com esse dia, ao menos, 20 bombas haviam sido registradas na região metropolitana de São Paulo pela polícia em 1968, conforme mostra a série do Banco de Dados que está sendo publicada no Blog do Acervo Folha.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

O Brasil vivia um período de ditadura. Os militares, no poder desde 1964, estavam sendo desafiados por grupos armados.

E as autoridades batiam cabeça para tentar desvendar a autoria dos ataques a bombas e se havia alguma relação entre eles.

Sobre o atentado do dia 28 de julho, a polícia sabia que, além do explosivo jogado, também houve disparos de tiros. E isso não era comum nos casos de bombas registrados em 1968.

A janela de frente da casa foi atingida e ficou com vidros quebrados. O Dops (Departamento de Ordem Política e Social) esteve no local e apurou, ao analisar uma bala incrustada na parede, que a arma usada era de calibre 38.

Morador da casa ao lado, o vice-cônsul americano acordou e foi para a janela ver o que estava acontecendo.

Ele relatou que chegou a ver um carro Aero Willys, com várias pessoas discutindo em seu interior. O veículo logo partiu em alta velocidade.

Uma das suspeitas da polícia era que os autores do atentado desejariam fazer um ataque contra o diplomata dos Estados Unidos. Porém eles teriam se enganado na hora da ação e lançado o coquetel molotov na casa errada.

Outra hipótese, esta com cunho político contra Hong Kong, levantada pela polícia considerava que o grupo responsável pelo ataque tinha alguma ligação com a comunista China continental.

O território, de onde veio Elizabeth, estava sob o controle do Reino Unido e era um polo do capitalismo na região da Ásia.

Suspeitas sem relação política também foram feitas.

Sem ter muitas pistas, esse caso se juntou a outros atentados (alguns bem mais graves) que as autoridades brasileiras buscavam,  ainda meio desnorteadas, esclarecer.

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1968: Atores de ‘Roda Viva’ são agredidos, e teatro é depredado https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/18/1968-atores-de-roda-viva-sao-agredidos-e-teatro-e-depredado/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/18/1968-atores-de-roda-viva-sao-agredidos-e-teatro-e-depredado/#respond Wed, 18 Jul 2018 09:00:35 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/BancoTeatroRuthEscobar-320x213.jpg https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10142 Assim que terminou a apresentação da peça ‘Roda Viva’, por volta das 23h30 de 18 de julho de 1968, os atores foram surpreendidos por um ataque na sala O Galpão, no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo.

Integrantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) começaram a bater nos atores e na equipe do espetáculo.  Cerca de 90 homens agiram dentro do teatro, e 20 ficaram fora.

A peça foi escrita por Chico Buarque e recebeu a direção de Zé Celso Martinez Corrêa. Estreou no Rio de Janeiro em janeiro de 1968, com muito sucesso, e em maio veio para São Paulo.

Os invasores estavam armados com cassetetes e socos-ingleses, relatou a Folha, em uma edição vespertina, publicada no dia seguinte.

“Depredaram as poltronas, quebraram os ‘spots’, instrumentos musicais, e subiram aos camarins onde as atrizes estavam mudando de roupa. Espancaram-nas, tirando-lhes a roupa, e praticaram atos brutais de sevicia, conforme afirmavam atores, testemunhas oculares da violência”, informou a reportagem.

Reprodução da primeira página da Folha de 19 de abril, da edição vespertina

A pancadaria durou cerca de três minutos. O contrarregra José Luiz Araújo sofreu uma fratura na bacia. A atriz Marília Pêra, protagonista da peça, foi forçada a sair pelada de lá.

“Os invasores quebraram tudo o que puderam, bateram em todos os artistas, principalmente no contrarregra José Luiz Araújo e na atriz Marília Pêra, que, depois de várias vezes mordida, foi obrigada a andar nua pela rua”, reportou a Folha da Tarde.

Manchete da Folha da Tarde, de 19 de julho de 1968

Marília falou sobre esse episódio no livro “Vissi D’Arte” (1999), biografia escrita pelo dramaturgo Flavio de Souza e pela própria atriz.

“Entraram quebrando os espelhos, arrancaram minha roupa, deram socos. Saí correndo, me desviando de socos. No corredor havia mais rapazes, e enquanto fugia eu sentia cassetetes nas costas”, declarou.

A atriz Margot Baird foi outra vítima, conforme publicou a Folha da Tarde. “Depois de despi-la totalmente, dois terroristas torceram os seus seios”, descreveu a reportagem.

O ator Rodrigo Santiago declarou que estava no seu camarim só de paletó, quando houve a invasão. “Corri. Passei por um corredor polonês, de 20 homens com japonas azuis. Levei porrada e torci o tornozelo. Nada grave.”

Durante a tarde daquele dia, um telefonema anônimo foi recebido avisando que um grupo estava planejando um quebra-quebra na peça “Feira Paulista de Opinião”, também encenada no Teatro Ruth Escobar. A ameaça ao teatro se confirmou, mas o alvo foi o outro espetáculo.

No momento do ataque, policiais estavam teatro para tentar aumentar a segurança. Porém, como relatam os jornais, eles nada fizeram para impedir a depredação e as agressões.

O enredo de “Roda Viva” não tinha cunho diretamente político. Contava a história de um artista que ficou famoso, virou um ídolo, se adaptou as demandas da indústria cultural  e depois cometeu suicídio.

A peça tinha palavrões e cenas mais fortes. Por exemplo, um fígado cru era dilacerado no palco, como se um ídolo fosse devorado, e o sangue respingava no público.

Nesta época, a ditadura militar estava em seu quarto ano no poder no Brasil, e os militares já haviam começado a endurecer o discurso.

O teatrólogo Plínio Marcos, um dos dirigentes da classe teatral, afirmou que o ataque aos atores de “Roda Viva” serviria para tumultuar ainda mais o país.

“Todo o patriota teme e nós tememos pelos destinos de nossa pátria. Sentimos que há realmente um grupo organizado, forçando a barra, para levar a nação a um regime de terror e violência”, declarou.

No dia seguinte, os atores se apresentaram mesmo feridos e com figurinos rasgados.

Depois do ataque, o censor Mário F. Russomano chegou a questionar se Chico Buarque seria um débil mental por ter escrito a peça.

“Roda Viva” ainda sofreria outro ataque, em Porto Alegre, em outubro de 1968. Segundo Zé Celso, soldados foram ao hotel, agrediram os atores e os colocaram em um ônibus com destino a São Paulo.

O ataque

Em 17 julho de 1993, a Folha publicou a reportagem “Comando de Caça aos Comunistas diz como atacou ‘Roda Viva’ em 68”, assinada pelo jornalista Luís Antônio Giron.

O texto revelou que o advogado João Marcos Flaquer foi quem planejou e comandou a ação.

“O objetivo era realizar uma ação de propaganda para chamar a atenção de autoridades sobre a iminência da luta armada, que visava a instauração de uma ditadura marxista no Brasil”, disse  Flaquer.

Dos 110 homens que atuaram naquela noite, 70 eram civis e 40 militares. Fora do teatro, ficaram 20 para facilitar a fuga. Estavam armados com cassetetes, revólveres e metralhadoras.

Eles, que já haviam estudado o espaço do teatro, esperaram o público sair, colocaram uma luva na mão esquerda para identificação e iniciaram o quebra-quebra.

Segundo o grupo, a meta havia sido atingida, pois não houve feridos graves e ação ganhou muita repercussão.

O Ato Institucional número 5 foi decretado em 13 de dezembro de 1968, pelo presidente Arthur da Costa e Silva, e deu poderes extraordinários para o governo, como o de fechar o Congresso, as Assembleias e as Câmaras e o de suspender a garantia de habeas corpus em crimes políticos.

“[O ataque à ‘Roda Viva] antecipou o AI-5 e cortou a via subversiva que o teatro teria seguido”, disse Zé Celso, em maio de 1993.

Em novembro de 2017, a coluna da Mônica Bergamo informou que Zé Celso recebeu a autorização de Chico Buarque para remontar a peça. O diretor passou a buscar financiamento para a produção.

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1968 – 18ª E 19ª BOMBAS: Em SP, série de explosões em ferrovias atinge trens https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/12/1968-18a-e-19a-bombas-serie-de-explosoes-em-ferrovias-chega-aos-trens/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/12/1968-18a-e-19a-bombas-serie-de-explosoes-em-ferrovias-chega-aos-trens/#respond Thu, 12 Jul 2018 10:00:20 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/trem_-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10044 Duas bombas em trens em São Paulo, na noite da sexta-feira 12 de julho de 1968, voltaram a desafiar a ditadura miliar, instalada no país havia quatro anos.

As ações não provocaram vítimas, mas danificaram dois vagões de composições diferentes.

Um trem estava parado na estação Roosevelt (atualmente chamada de Brás) quando o explosivo foi detonado. O outro passava por um pontilhão da Alameda Nothmann, no bairro de Campos Elíseos.

Cinco dias antes desses atentados, cinco ataques foram feitos em áreas de ferrovias. Provocaram estragos em linhas férreas e outras instalações, mas ninguém ficou ferido.

No dia 8 de julho, o ministro da Justiça, Luís Antônio Gama e Silva, participou de uma reunião com o chefe do Departamento da Polícia Federal em São Paulo, o general Sílvio Correia de Andrade, e com diretores e chefes de segurança de ferrovias para discutir os ataques.

Os serviços de segurança estaduais e federais entraram em prontidão. Mesmo assim, o esquema estabelecido não evitou que dinamites fossem colocadas dentro de trens.

Em um período de quatro meses, 19 casos de bombas, pelo menos, foram registrados na região metropolitana de São Paulo naquele ano. O levantamento foi feito pelo Banco de Dados e está sendo publicado no Blog do Acervo Folha.

Essa era uma época em que grupos armados estavam mobilizados e protagonizavam ações para tentar desestabilizar o regime militar.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

As duas bombas de 12 de julho explodiram em um intervalo de cerca de uma hora. A primeira estourou por volta das 22h20 em um trem da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.

Ele estava a passar pelo pontilhão da Alameda Nothmann, no Campos Elíseos, em direção à estação da Luz, na região central de São Paulo.

Segundo o Departamento da Polícia Federal, o explosivo havia sido deixado dentro do banheiro com a porta fechada, e nenhum dos seis passageiros do vagão ficaram feridos.  As pessoas ficaram apavoradas e desceram do comboio que parou e abriu suas portas.

Ao investigar o caso, os agentes federais disseram acreditar que a bomba teria sido preparada para estourar quando o trem já estivesse na estação Luz, a menos de um quilômetro dali.

Funcionários da ferrovia informaram que a movimentação de passageiros de sexta-feira na estação costumava ser maior, e uma explosão àquela hora poderia gerar pânico no local.

A outra bomba da noite foi detonada por volta das 23h15 em um trem da Estrada de Ferro Central do Brasil, na estação Roosevelt (hoje Brás).

O comboio veio de Mogi das Cruzes, transportando muitos estudantes e professores. A explosão ocorreu cinco minutos depois da chegada, quando os passageiros  já haviam descido.

A bomba, que tinha sido colocada embaixo de um dos bancos, provocou um rombo no assoalho e assustou as pessoas que embarcariam em uma composição próxima.

Os seguranças da estação chegaram a deter dois homens. Porém constaram que eles estavam bêbados.

Passageiros já tinham saído do trem após chegada ao Brás – Reprodução

De acordo com o chefe do Departamento da Polícia Federal em São Paulo, o general Sílvio Correia de Andrade, o laudo pericial apontou que as duas bombas eram feitas de dinamites, sem canos ou roscas como as usadas em outros atentados.

Isso o forçava a crer que os explosivos foram roubados de pedreiras. Segundo o general, os responsáveis pela ação tentavam chamar a atenção com as ações em trens.

“Os terroristas querem fazer guerra psicológica e propaganda de uma força que realmente não possuem”, disse. “Eles querem demonstrar força para conseguir adeptos”, declarou.

O delegado João Candido Delfino, do Serviço de Ordem Política e Social, manifestou a sua intenção de pagar 2 milhões de cruzeiros velhos (o que equivaleria hoje a cerca de R$ 16 mil) a quem lhe oferecesse uma boa pista sobre os atentados.

“O dinheiro influenciará não só os alcaguetes como algum parente de terrorista que esteja necessitado”, afirmou Delfino.

A atitude, porém, não era aprovada por todos nas forças de segurança. O general Sílvio Correia, por exemplo, tinha afirmado que não ofereceria dinheiro nenhum a ninguém no caso.

O fato é que mais uma vez a polícia encontrava muitas dificuldades para tentar solucionar casos de bomba que geravam grande repercussão.

Veja também:

1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas

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1968 – DA 13ª À 17ª BOMBA: Ferrovias de SP registram 5 explosões em menos de 2 horas https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/09/1968-da-13a-a-17a-bomba-ferrovias-de-sp-registram-5-explosoes-menos-de-2-h/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/07/09/1968-da-13a-a-17a-bomba-ferrovias-de-sp-registram-5-explosoes-menos-de-2-h/#respond Mon, 09 Jul 2018 09:00:57 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/IMG_5680_-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=10002 O número de bombas registradas ao longo 1968, na região metropolitana de São Paulo, deu um grande salto na madrugada de 7 de julho.

Até aquele dia, pelo menos, 12 casos haviam sido contabilizados em 1968. Em menos de duas horas, o número passou para 17.

Cinco explosivos foram detonados em áreas de ferrovias. Não houve vítimas nem grandes prejuízos, apenas sustos e aumento da sensação de insegurança.

Foram atingidos um pontilhão sobre o rio Tietê (perto do Piqueri), dois pontos de uma passagem subterrânea para passageiros na estação da Lapa, uma passagem de nível perto da estação de Engenheiro Goulart e um jardim de oleoduto em Utinga, em Santo André.

O Brasil vivia a ditadura desde 1964, e militares mostravam sinais de que o regime se tornaria ainda mais duro. Usavam o combate à luta armada de opositores como uma das justificativas.

Banco de Dados tem resgatado as histórias de bombas jogadas em 1968 em São Paulo no Blog do Acervo Folha.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

A primeira bomba na madrugada de 7 de julho foi deixada em uma passagem de nível (um viaduto para trem passar sobre a rua) na avenida Gabriel Mistral, na Penha, bairro da zona leste de São Paulo, perto da estação de Engenheiro Goulart, da Estrada de Ferro Central do Brasil. A explosão ocorreu por volta da 1h30.

De acordo com uma testemunha, duas pessoas, que estavam em um Volks vermelho, foram responsáveis pela ação. No momento em que a dupla colocava a bomba no local, outro veículo, um Gordini bordô, fazia a cobertura.

A versão ganhou força com o depoimento de outra testemunha, que informou ter visto integrantes do carro Gordini alertarem um taxista e um motorista de ônibus Penha-Lapa para não passarem pelo local onde a bomba estava.

Os trilhos ficaram retorcidos, peças foram arremessadas para longe, e a rede elétrica, ao lado da ferrovia, foi danificada.

O deslocamento de ar causou quebra de vidros em várias casas na rua Assis Ribeiro, a cerca de 100 metros do local da explosão.

Por temer atentados nesta área, a polícia interrompeu o trânsito em ruas nessa área.

 

Pontilhão sobre o rio Tietê

Enquanto o Departamento da Polícia Federal recebia as primeiras informações sobre a ação a Penha, o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) era avisado sobre a segunda explosão do dia.

Uma bomba foi detonada aproximadamente à 1h45, apenas 15 minutos depois da primeira, em uma ferrovia da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. O alvo foi trecho de uma linha que passa em um pontilhão sobre o rio Tietê, perto do Piqueri, na zona noroeste da capital.

A explosão fez com que vários metros de trilhos fossem destruídos e provocou o descarrilhamento dos três últimos vagões de um trem de carga, que estava vazio indo para Jundiaí.

Uma linha de energia de alta-tensão foi desligada, e a movimentação de trens, interrompida. Assim, evitou-se um desastre.

Estação da Lapa

A terceira e a quarta explosões da madrugada ocorreram quase simultaneamente, em torno das 2h, em uma passagem subterrânea para passageiros, na Estação da Lapa, da Estrada de Ferro Sorocabana.

Uma das bombas foi deixada perto do compartimento que abrigava uma central elétrica. A porta de ferro da dependência resistiu ao impacto. Ela cedeu um pouco, mas não o suficiente para que os equipamentos fossem atingidos.

De acordo com peritos, essa bomba falhou parcialmente ao estourar, pois foram encontrados pedaços de canos inteiros.

O outro petardo estourou a 20 metros dali, arrancando cerca de três metros quadrados de ladrilhos da passagem e destruindo a tubulação de água.

 

Oleoduto

A quinta bomba daquela madrugada explodiu, por volta das 3h15, no terminal de oleoduto da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, em Utinga, na cidade Santo André.

A explosão abriu um buraco de dois metros em um jardim próximo à rua Felipe Camarão. O local ficava a 50 metros de um tanque de querosene.

Se o mesmo explosivo tivesse sido jogado do lado oposto, os equipamentos de bombeamentos dos combustíveis poderiam ter sido atingidos. Seria uma situação muito grave, pois o fogo, provavelmente, se espalharia pela tubulação ligada a 16 tanques.

Ninguém foi preso naquela madrugada.

Um dia depois, o ministro da Justiça, Luís Antônio Gama e Silva, esteve em São Paulo e participou de uma reunião com diretores e chefes de segurança de ferrovias.

Para jornalistas, o ministro declarou que não eram ações de estudantes e indicou que os atendados poderiam levar o governo a tomar uma atitude mais severa. “Estão tentando criar condições para o estado de sítio”, disse.

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1968 – A 12ª BOMBA: Coquetel molotov é jogado em muro do Colégio Mackenzie https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/1968-a-12a-bomba-coquetel-molotov-e-jogado-em-muro-do-colegio-mackenzie/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/1968-a-12a-bomba-coquetel-molotov-e-jogado-em-muro-do-colegio-mackenzie/#respond Thu, 28 Jun 2018 10:00:45 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/mackenzie_-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9868 Por volta das 4h de 28 de julho de 1968, dois dias após um carro carregado de dinamite ser lançado no quartel-general do 2º Exército e a explosão ter matado o soldado Mário Kozel Filho, a polícia contabilizou mais um ataque com bomba.

Desta vez, o episódio não foi grave e ninguém ficou ferido. Um coquetel molotov foi jogado em um muro do Colégio Mackenzie, em Higienópolis, em São Paulo.

Em menos de quatro meses, pelo menos 12 casos de bombas já tinham sido registrados na cidade. E essas histórias estão sendo resgatadas pelo Banco de Dados e publicadas no Blog do Acervo Folha.

Nesta época, os atentados intrigavam a ditadura militar, que estava em seu quarto ano no Brasil. E grupos de guerrilhas agiam pela cidade desafiando as forças de segurança.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

Conforme a Folha da Tarde publicou, o ataque feito ao Mackenzie teve dois médicos como testemunhas. Eles viram um carro Volkswagen vermelho passar em alta velocidade pela rua Itambé, fazer uma rápida parada, jogar a bomba e fugir.

A dupla chegou a seguir o veículo, mas o perdeu de vista. Depois, eles foram ao quartel-general relatar o ocorrido.

O Dops (Departamento de Ordem Política e Social) foi acionado, e policiais foram ao colégio, recolheram material para a análise e começaram a investigação.

Os agentes voltaram à delegacia às 6h com um homem detido. Porém, após uma interrogação, ele comprovou inocência e foi solto. Assim, a autoria e o motivo do ataque não foram esclarecidos.

Furto de dinamites

No mesmo dia, mais notícias aumentaram a preocupação das autoridades. Um grupo invadiu, também de madrugada, o depósito de explosivos de uma pedreira, perto do 15º quilometro da rodovia Raposo Tavares, e levou 500 quilos de dinamites.

A quantidade de explosivo que foi subtraída da pedreira era dez vezes maior do que a colocada no carro-bomba que matou Kozel Filho, 18.

O furto só foi descoberto às 6h30 pelo funcionário Jurael Lara dos Santos, quando este chegava ao trabalho.

“Conversei um pouco com os meus colegas lá do escritório e depois fui ao depósito buscar as dinamites. Uns 20 metros antes de chegar ao depósito vi que a porta estava meio aberta e a fechadura arrebentada. Corri, puxei a porta, a dinamite tinha sumido”, disse Santos para a Folha.

Os cálculos feitos eram que, somando essa ação a outros assaltos já efetuados em pedreiras, cerca de 1.100 quilos de dinamites estavam em mãos de elementos desconhecidos. E a polícia ainda teria muito trabalho naquele ano.

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1968 – A 11ª BOMBA: Após general criar desafio, carro com dinamite é lançado em QG e mata soldado de 18 anos https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/26/1968-a-11a-bomba-apos-general-criar-desafio-carro-com-dinamite-e-lancado-em-qg-e-mata-soldado-de-18-anos/ https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2018/06/26/1968-a-11a-bomba-apos-general-criar-desafio-carro-com-dinamite-e-lancado-em-qg-e-mata-soldado-de-18-anos/#respond Tue, 26 Jun 2018 09:04:10 +0000 https://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/OU_Image100154-F_-320x213.jpg http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/?p=9800

A sequência de bombas jogadas em São Paulo em 1968 provocou uma vítima fatal no dia 26 de junho, por volta das 4h50.

O soldado Mário Kozel Filho, de 18 anos, morreu com a explosão de um carro-bomba no quartel-general do 2º Exército, no Ibirapuera.

Depois do atentado ao Consulado dos Estados Unidos, no dia 19 de março daquele ano, outras nove bombas, pelo menos, foram registradas na cidade. Mas nenhum desses casos tinha provocado morte.

O Brasil vivia um período bastante conturbado. Os militares estavam no poder desde 1964, quando instalaram um regime ditatorial com a deposição do presidente João Goulart, e enfrentavam a resistência de grupos armados.

A bomba que matou Kozel acirrou mais a situação no país.

Banco de Dados tem resgatado as histórias de bombas jogadas em 1968 em São Paulo no Blog do Acervo Folha.

Kozel era o soldado nº 1803, do então 4° Regimento de Infantaria. Sua ficha no Exército indicava que era de bom comportamento e que não tinha sofrido nenhuma punição.

“Não ia seguir a carreira de militar. Ele sonhava em concluir o Exército e montar uma oficina mecânica”, disse o pai dele, Mário Kozel, em entrevista para a Folha em 2007.

No dia do atentado, o rapaz havia assumido a posição de sentinela na guarita do Posto 5, perto da rampa de uma das entradas do QG.

Ele estava prestando serviço na rua Abílio Soares, mas, cerca de dez minutos antes de o carro-bomba aparecer, pediu para trocar de lugar porque estava com frio, conforme relatou o soldado José Maria Pereira Relva Júnior para a Folha da Tarde, publicada no dia seguinte ao ataque.

Depois da mudança de posição, Relva Júnior foi fazer o trabalho na rua e viu uma perua Chevrolet verde e um veículo Volkswagen vermelho se aproximando. Tentou pará-los para uma averiguação, mas a sua ordem não foi obedecida e quase foi atropelado.

O soldado reclamou que tanto ele como outros companheiros ainda não estavam acostumados com o novo modelo de fuzis usados naquela época.

“Logo à primeira vista notei que a perua Chevrolet ia entrar na rua do quartel. Apontei meu FAL [fuzil automático leve] e fiz sinal para que parasse. O motorista não diminuiu a marcha. Apontei para ele e acionei o gatilho. Tinha certeza de que, se o acertasse, deteria o veículo. Fiquei alguns segundos a esperar pelos estampidos, mas não houve nenhum. Não sei se a arma enguiçou ou se eu esqueci de destravá-la”, afirmou.

Outros soldados viram e começaram a atirar. Só que o Chevrolet verde seguiu pela rampa de acesso à instalação militar. O motorista acelerou e saltou do veículo, que  estava carregado com cerca de 50 quilos de dinamite.  O carro, desgovernado, bateu em um poste e depois chocou-se com a parede do  quartel.

Com a ação, o alarme soou. Kozel se aproximou do local onde estava o veículo e, logo em seguida, houve a explosão que lhe tirou a sua vida.

Os estilhaços da bomba atingiram, sem gravidade, outros cinco militares. Já o motorista, que pulou do carro verde em movimento, foi resgatado pelo veículo vermelho e saiu em fuga.

A explosão fez com que ruísse a parede lateral do QG, onde tinha uma agência da Caixa Econômica Federal. Um cofre, de cerca de uma tonelada, foi jogado a vários metros de distância. O veículo virou somente destroços. Também houve um pequeno incêndio, que logo foi apagado.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

Resposta a desafio

O grupo responsável pelo ataque foi a organização que mais tarde viria ser batizada de VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Segundo integrantes, o lançamento do carro-bomba foi uma resposta ao general Manuel de Carvalho Lisboa, comandante do 2º Exército.

O militar havia lançado uma provocação depois de membros do grupo roubarem, no dia 22 de julho daquele mesmo ano, fuzis no Hospital do Exército, no Cambuci.

“Essa foi uma iniciativa subversiva. Nela, não houve heroísmo algum. Desafio os subversivos a roubar armas dos meus quartéis, e não de hospitais”, disse o general Lisboa para os jornalistas.

Ele afirmou que os soldados estavam prontos para combater as “vanguardas comunistas”. “Desafio que usem essas armas contra nós. Mas previno que usem bem, usem pelas costas.”

Em depoimentos publicados no livro “Mulheres Que Foram à Luta Armada” (1998), do jornalista Luiz Maklouf Carvalho, as ex-guerrilheiras Renata Guerra de Andrade e Dulce Maia (as duas integraram a organização que atacou o QG do Ibirapuera) afirmaram que o objetivo não era matar Kozel nem outros soldados.

“Nós aceitamos a provocação do general. Depois a gente se autocriticou por ter feito isso, que não serviu para nada. A não ser para matar o rapazinho. Eu participei num carro de apoio, onde o motorista entrou depois de saltar. A fuga foi muito rápida. Nós nem ouvimos a explosão”, disse Renata a Maklouf.

“O Kozel realmente foi um azar nosso. Se quiséssemos matar, não jogaríamos o carro-bomba de madrugada, uma hora em que o quartel estava vazio”, afirmou Dulce, que ainda apontou “ingenuidade” do soldado por se aproximar do veículo naquela situação.

O general Lisboa estava no Rio de Janeiro e voltou a São Paulo após ao atentado. Ao regressar e ser questionado pela imprensa sobre o desafio que havia feito aos militantes, o comandante disse que não via nenhuma relação.

“Não é uma resposta ao desafio. Trata-se de um tumor que está arrebentando. É um plano preparado, longamente preparado. Os autores são elementos teleguiados, decaídos da revolução”, afirmou, referindo-se a grupos insatisfeitos com o golpe de 1964.

Segundo o comandante do 2º Exército, a tendência era que houvesse um endurecimento do governo. “Eu tenho para mim que sim. Acho que é o caminho. Não tenho dúvidas, esse é o caminho.”

O endurecimento previsto pelo general Lisboa culminou com o Ato Institucional número 5. Decretado em 13 de dezembro de 1968 pelo presidente Arthur da Costa e Silva, o AI-5 deu poderes extraordinários para o governo, como o de fechar o Congresso, as Assembleias e as Câmaras e o de suspender a garantia de habeas corpus em crimes políticos.

Pensão

Em 2003, durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, foi preciso elaborar uma lei específica para conceder pensão especial aos pais do soldado morto, pois o caso não pôde ser amparado na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça (que analisou a situação de ex-integrantes das Forças Armadas perseguidos durante o regime militar).

O valor inicial da pensão mensal era R$ 330, mas a quantia foi reajustada para R$ 1.140 a partir de janeiro de 2004, com a criação de outra lei.

Só que a família ficou sabendo dessas leis apenas em 14 de junho de 2007. “Nunca soube de nada disso. E, se não nos avisaram, como é que a gente poderia saber?”, disse Mário Kozel para a Folha na época.

O Exército não pagava pensão à família porque Kozel Filho não pertencia ao quadro efetivo do órgão.

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