Há 15 anos, o beatle tímido não resistiu ao câncer
Em 29 de novembro de 2001, morria em Los Angeles, aos 58 anos, o “beatle tímido” George Harrison, em decorrência de um tumor no cérebro, causado por câncer.
Autor de “Here Comes the Sun”, “While My Guitar Gently Weeps” e “Something” (esta última foi regravada por mais de 150 artistas, sendo a segunda música dos Beatles com mais interpretações, atrás de “Yesterday”), Harrison nasceu em Liverpool, conheceu Paul McCartney no colégio e por este foi convidado, em 1958, a integrar o grupo The Quarrymen, que era liderado por John Lennon e se tornaria a banda Beatles.
Mais novo do quarteto e tido como quieto, George Harrison surpreendeu o mundo com seu amadurecimento, sua paixão pela música indiana e por canções bem distintas das que imortalizaram a banda, como “Love Me Do”, “She Loves You”, “Help!” e outras.
Entre 1962 e 1969 os Beatles arrebataram plateias no mundo todo. De mais de 200 canções da banda, apenas 22 foram compostas pelo guitarrista. “Don’t Bother Me”, de 1963, foi a primeira música de Harrison gravada pelos Beatles. “I Need You,” de 1965, do álbum “Help!”, foi uma das músicas que apareceram no filme de mesmo nome do disco.
Mas foi “Here Comes the Sun” e “Something”, de 1969, do lendário álbum “Abbey Road”, que fizeram a fama de Harrison e mostraram que os Beatles eram mais do que Lennon-McCartney.
Multi-instrumentista (tocava 26 instrumentos), ator e produtor de filmes, George Harrison foi o primeiro beatle a lançar um álbum solo após a ruptura da banda. Em novembro de 1970, lançou o disco triplo “All Things Must Pass”. De suas 23 músicas, “My Sweet Lord” foi a que mais fez sucesso, mas também deu dor de cabeça, já que o grupo The Chiffons o acusou de plagiar a canção “He’s So Fine” (1963).
Certo é que, com “All Things Must Pass”, Harrison pôde mostrar que era um compositor capaz de trilhar o próprio caminho. No ano seguinte, organizou “The Concert for Bangladesh” para arrecadar fundos para refugiados do país asiático, evento que virou filme e disco e teve a participação de Bob Dylan.
A partir do fim dos Beatles, o guitarrista se comprometeu em criar uma carreira longe da imagem da banda e materializou nas gravações suas crenças –a maioria delas falava de amor. Nessa época, também criou o próprio selo, Dark Horse.
PAIXÕES
Apaixonado por velocidade, George homenageou os corredores de F-1 –entre eles seus amigos Niki Lauda e Jackie Stewart–, com a música “Faster”. Para compor essa canção e o encarte do álbum, o guitarrista esteve no Brasil em fevereiro de 1979 e causou alvoroço em Interlagos, chegando a chamar mais a atenção do que próprios pilotos.
A Folha noticiou essa vinda do ex-beatle. Reportagens como “George Harrison, um disco de Fórmula Um” na Ilustrada, “Correria nos boxes: o beatle George apareceu” em Esportes e “Beatle rouba o espetáculo de Laffite”, na capa do jornal foram destaques.
No final de 1979, outra de suas paixões chamava a atenção. Fã do grupo de humor Monty Phyton, foi por meio de sua produtora HandMade –e do patrocínio dela– que saiu a “Vida de Brian“. Em 26 de novembro de 1979, o jornal trazia uma resenha sobre o trabalho do grupo inglês e a repercussão do filme.
Com apenas três álbuns lançados na década de 1980, foi com “Cloud Nine“, no final de 1987, que George Harrison retomou o sucesso. A regravação de “Got My Mind Set on You” (originalmente gravada em 1962 por Rudy Clark) alcançou o primeiro lugar nas paradas americanas. Novamente a Folha deu destaque ao trabalho do ex-beatle nas páginas da Ilustrada.
No início de 1988, quando os Beatles foram incluídos no Rock and Roll Hall of Fame, Harrison mostrou senso de humor ao receber a indicação. “Muito obrigado. Eu não vou falar muito porque sou o beatle tímido”, disse arrancando risos e aplausos. E emendou: “É uma pena Paul [McCartney] não estar aqui, porque ele é quem teria um discurso no bolso”.
Em outubro do mesmo ano, é lançado o primeiro álbum dos Traveling Wilburys, banda que ele formou ao lado de Bob Dylan, Jeff Lynne, Roy Orbison e Tom Petty.
A LUTA CONTRA O CÂNCER
Em 1997, é diagnosticado com câncer na garganta e começa tratamento com radioterapia.
Dois anos depois é atacado dentro de sua casa, em Friar Park, no subúrbio de Henley-on-Thames, a oeste de Londres, por Michael Abram, que, segundo a mãe, sofria problemas mentais e era obcecado pelos Beatles.
O ano de 2001 foi especialmente delicado para Harrison que praticamente vivia em hospitais. Em maio foi submetido a uma cirurgia para a retirada de um câncer em um dos pulmões. Dois meses depois começou a tratar um tumor no cérebro, na Suíça, e em novembro foi submetido a radioterapia, em Nova York.
Morreu em 29 de novembro, na casa de um amigo, em Los Angeles, ao lado de sua mulher, Olivia, e do filho, Dhani.
HOMENAGENS
No ano seguinte, o amigo Eric Clapton organizou um show em homenagem a George que contou com a participação de Tom Petty, Jeff Lynne, Ringo Starr, Paul McCartney, Ravi Shankar, Dhani e o grupo Monty Phyton. “Preciso fazer isso por ele, mas é mais por mim mesmo. Preciso expressar minha tristeza desta maneira”, explicou Clapton.
Martin Scorsese, aclamado diretor de “Taxi Driver” (1976) e “Os Bons Companheiros” (1990), produziu o documentário “George Harrison – Living in The Material World” (2011). Ele não era um amigo próximo de Harrison, tampouco roubou sua primeira mulher, Pattie Boyd (foram casados de 1966 a 1977), como o ocorrido com Clapton, mesmo assim Scorsese prestou-lhe uma homenagem.
Olivia, viúva de Harrison e produtora do filme, disse que ele ficaria feliz com o resultado. “Não é um desses filmes açucarados e que só elogiam o biografado, mas um retrato honesto e profundo. Acho que é o filme que George merece”, afirmou.