1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

Cristiano Cipriano Pombo
Jair dos Santos Cortecertu
Luiz Carlos Ferreira
Rodolfo Stipp Martino

O relógio marcava 22h05 da quarta-feira, dia 10 de abril de 1968.

Um estrondo foi ouvido na praça Coronel Fernando Prestes, 115, no bairro do Bom Retiro (região central da capital paulista). Era uma bomba, a segunda de uma série de explosões que foram registradas há 50 anos na cidade de São Paulo –a primeira explodiu em 19 de março de 1968, no Consulado dos EUA– e que o Banco de Dados resgata no Blog do Acervo Folha.

O alvo foi o quartel-general da Força Pública em São Paulo –hoje o local abriga o Quartel e o Comando do Policiamento Metropolitano da Polícia Militar.

Foram registradas pelo menos 24 bombas e explosões naquele ano, o que mobilizou os governos federal e estadual, o Exército, a Polícia Federal, o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), a própria Força Pública e delegacias da cidade, num total de 800 agentes voltados a caçar os autores dos ataques, das ameças feitas a repartições públicas e também dois roubos de dinamites e explosivos.

Clique na imagem e confira o mapa das explosões em São Paulo em 1968

A segunda bomba de 1968 em São Paulo foi colocada no teto do elevador do prédio da Força Pública. Ao contrário da bomba de 19 de março, que fez a primeira vítima daquele ano –o estudante Orlando Lovecchio Filho–, a explosão não feriu ninguém, mas provocou forte deslocamento de ar que estilhaçou vidraças e também quebrou o vidro da entrada principal do QG.

E esses danos foram suficientes para deixar a força policial e os governantes alarmados. Afinal: como uma bomba foi parar dentro do prédio da Força Pública?

Assim que a explosão foi ouvida, quatro carros do Corpo de Bombeiros e da Polícia Técnica foram enviados para o local. Viaturas da Rádio Patrulha cercaram o prédio, para manter o isolamento da área.

O diretor do DOPS, delegado Petrarca Ielo, e o chefe da Casa Militar do governo do estado, coronel Edmundo de Moura Salles, foram até a Força Pública avaliar os estragos.

Apesar de a polícia informar que a bomba colocada era do tipo “Molotov”, imprensa e especialistas descartaram essa versão, já que bombas deste tipo só explodem com impacto, e a que foi detonada no QG da Força Pública teve um estopim.

Para dar uma ideia da potência da explosão, a porta do elevador sobre o qual foi colocada a bomba foi atirada a uma distância de 10 metros.

Três estudantes que estavam em frente ao QG madrugada do dia 11 foram detidos por policiais à paisana, mas depois acabaram soltos devido à intermediação de um professor universitário.

Assim, a polícia, mais uma vez, via-se sem pistas diante de uma explosão. Tanto que a imprensa começou a tratar as bombas como “Terror Fantasma”.

Policiais andam na frente quartel-general da polícia (Arquivo/Última Hora)

PROPAGANDA

O termo ganhou força já que, dias antes, fora descoberta outra bomba, no Departamento da Polícia Federal. Na ocasião, o general Silvio Correia de Andrade, chefe da PF, ironizou o artefato: “Essa bomba aí é de fabricação caseira, muito malfeita conforme vocês [repórteres presentes no local] podem observar. O efeito de sua explosão seria exclusivamente propagandístico”.

De acordo com o coronel, a bomba na PF não passava de uma caixinha cheia de pólvora, coberta com um pano embebido em gasolina, e embrulhada num jornal. E tinha o pavio tão malfeito que o vento o apagou.

Naquele dia, porém, Correia de Andrade afirmou que o artefato era “altamente subversivo” e disse que não sabia se existia um plano terrorista em marcha.

Título da reportagem da Folha da Tarde na qual relata a explosão da bomba colocada no teto do elevador

TESES

O secretário de Segurança, Hely Lopes Meirelles, que havia tomado posse no cargo um dia antes da explosão do quartel-general da Força Pública em São Paulo, não tinha dúvida de que o artefato deixado na Polícia Federal e a bomba detonada na Força Pública estavam ligadas a um plano para desestabilizar a segurança.

“Essa bomba faz parte de um plano terrorista, que se iniciou com o atentado à Polícia Federal”, afirmou.

Apesar da certeza do secretário de Segurança, a possibilidade de ser um plano terrorista era vista com desconfiança.

Segundo deputados da oposição, não havia motivos para essas bombas serem jogadas, porque o governador Abreu Sodré tinha permitido a realização de passeatas em São Paulo e nem havia reprimido as mais violentas.  Outro ponto que a oposição destacou é que o governador já tinha permitido as manifestações do Dia do Trabalho (1º de maio) e havia até prometido comparecer ao local para ouvir as críticas à política salarial que era adotada.

Dessa forma, não se acreditava que a bomba pudesse ser um ataque ao governo. E tampouco conseguiam estabelecer paralelo com a explosão no Consulado dos EUA.

Com a incógnita, a imprensa apelidou as bombas de “fantasmas”, já que assombravam as forças militares e os policiais sem que deixassem rastros de seus autores.

O mistério sobre aquele ataque continuou, e a Força Pública ainda viria a ter muito mais trabalho com outras bombas mais graves que explodiriam ao longo de 1968.

Colaboraram Carlos Bozzo Júnior, Felipe Lima Shirley Queiroz