1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas
Rodolfo Stipp Martino
Cristiano Cipriano Pombo
Jair dos Santos Cortecertu
Luiz Carlos Ferreira
A série de explosões ocorridas em São Paulo ao longo de 1968 ganhou mais um capítulo por volta das 17h45 do dia 15 de abril .
Depois de jogarem bombas no Consulado dos Estados Unidos e no prédio da Força Pública em São Paulo, o alvo, desta vez, foi o quartel-general do 2º Exército em São Paulo.
No entanto a tentativa deu errado, o explosivo caiu no pátio interno de um edifício ao lado do quartel e feriu dois trabalhadores.
Essa é mais uma história desse agitado período –foram registradas, ao menos, 24 bombas e explosões em 1968 em São Paulo– que o Banco de Dados resgata no Blog do Acervo Folha. Naquele ano, o quarto da ditadura militar no país e marcado pela ação de guerrilhas urbanas, os governos federal e estadual, o Exército, a Polícia Federal, o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), a Força Pública e delegacias da capital paulista mobilizaram mais de 800 agentes na caçada aos autores das explosões.
O quartel-general do 2º Exército estava localizado na rua Conselheiro Crispiniano, 378, bem no centro da cidade. E, ao seu lado, havia um alto prédio, o edifício Hélio.
De acordo com detetives do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), a bomba teria sido arremessada do quinto andar desse prédio, pela janela do banheiro que dava visão para o quartel. O banheiro era de uso coletivo, e o andar estava vazio para ser alugado.
Esse local seria o melhor ponto para lançar a bomba com o objetivo de acertar o gabinete de comando do 2º Exército.
Mas, por precipitação na hora de jogar ou um erro de pontaria, o lançamento foi feito sem muita força. O explosivo caiu no terraço interno do mesmo edifício, em cima de um vaso de folhagens.
Funcionários do escritório das Lojas Marisa, instalado dentro do prédio, perceberam que havia caído um objeto e que estava saindo uma fumaça dele.
Explosão
O corretor Darci de Almeida, 48, decidiu, então, jogar água para evitar maiores danos. “A molecada jogou uma bomba no terraço. Não é bom apagar com um pouco de água?”, disse ele para o gerente do estabelecimento, Bassil Babadobulos.
A telefonista Iara Aparecida Mendes, 23, também entrou na conversa e perguntou: “Já é tempo de São João?”. Na tradicional festa junina, são comuns bombinhas serem soltas para celebrar a data.
Ela pegou um balde, colocou água, e Darci levou para jogar na fumaça. Porém, ao se aproximar do local, a bomba explodiu.
Com o balde, Darci protegeu o rosto, mas sofreu um ferimento no olho direito e teve o tímpano rompido.
Já Iara machucou as pernas e sofreu um corte no rosto devido aos estilhaços que voaram na explosão. Quando viu as pernas ensanguentadas, ela desmaiou. Foi levada ao pronto-socorro, que funcionava no Pátio do Colégio, e foi liberada na mesma noite.
“O Brasil já está um vietconguinho, com essas bombas todas. E é um país tão maravilhoso”, afirmou Iara, referindo-se à Guerra do Vietnã.
Fabricação caseira
A explosão foi ouvida em um raio de mais de um quilômetro, em um momento de grande movimentação de pedestres e veículos pela rua Conselheiro Crispiniano.
Segundo os técnicos, a bomba era de fabricação caseira, com pólvora preta colocada dentro de um cano de duas polegadas de diâmetro por dez centímetro de comprimento.
Como tinha um pavio longo, a bomba demorou cerca de três minutos até a explosão. O prédio foi fechado, mas policiais acreditavam que esse tempo teria sido suficiente para quem jogou a bomba ter saído do edifício.
O mistério sobre a autoria do atentado continuou apesar de dois suspeitos terem sido presos.
Sequência
De acordo com o secretário de Segurança, Hely Lopes Meirelles, essa explosão no quartel-general do 2º Exército era “um dos atos de uma cadeia de terrorismo previamente planejada”.
“Outras bombas virão, mas a polícia está atenta para tentar evitar que novas explosões se verifiquem”, declarou.
A primeira bomba em São Paulo em 1968 havia estourado no dia 19 de março no Consulado dos Estados Unidos, que era localizado no Conjunto Nacional na avenida Paulista. Nessa explosão, o estudante Orlando Lovecchio Filho, que passava pelo local, sofreu grave ferimento e perdeu o terço inferior de sua perna esquerda.
No dia 9 de abril, uma bomba chegou a ser jogada nas dependências da Polícia Federal, mas falhou. A segunda explosão foi registrada no dia 10 de abril no quartel-general da Força Pública em São Paulo –essa não deixou feridos.
Colaboraram Carlos Bozzo Júnior, Felipe Lima e Shirley Queiroz