1968 – A QUARTA BOMBA: Impacto de explosão na sede de O Estado de S. Paulo atinge raio de 200 m

Luiz Carlos Ferreira
Rodolfo Stipp Martino
Cristiano Cipriano Pombo
Jair dos Santos Cortecertu

Parecia uma madrugada tranquila no sábado de 20 de abril de 1968, na sede do jornal “O Estado de S. Paulo”, na rua Major Quedinho, número 28.

Mas, por volta das 3h, uma forte explosão sacudiu o edifício. Era o quarto caso de bombas jogadas em diferentes pontos de São Paulo em pouco mais de um mês –a primeira explodiu em 19 de março de 1968.  

Pelo menos outras 20 bombas e explosões ainda seriam registradas em São Paulo ao longo de 1968 —o quarto ano da ditadura militar no Brasil. Contra as ações de guerrilhas urbanas, cerca de 800 agentes foram mobilizados pelos governos federal e estadual, pelo Exército, pela Polícia Federal, pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social), pela Força Pública e pelas delegacias da capital paulista.

O Banco de Dados tem resgatado no Blog do Acervo Folha a história de uma série de explosões ocorridas em 1968. A bomba que explodiu na sede do jornal foi considerada de grande potência.   

Clique na imagem e confira o mapa das explosões em São Paulo em 1968

No momento do atentado, havia gente em praticamente todos os andares do prédio.

Na Redação do Jornal da Tarde, que ficava no quinto andar, trabalhavam oito pessoas. Na seção de tipografia, no terceiro, estavam mais de 200 funcionários no momento da explosão.

A bomba havia sido colocada na coluna externa, atrás do prédio, na rua Martins Fontes, onde ficava a área de publicidade do jornal.

A explosão fez com que fosse arremessada uma porta de aço para o outro lado do saguão, na entrada da rua Major Quedinho. Até o quinto andar todas as janelas foram destruídas.

O porteiro Mário José Rodrigues, 52, foi o único a se ferir com o petardo. Ele foi atingido por estilhaços de vidro que voaram numa distância de quase 10 metros.

Rodrigues ficou com o corpo todo perfurado. “Eu sentia a pele arder como fogo. Uma coisa muito grande passou a um palmo de mim, depois fiquei sabendo que era a porta de aço da rua Martins Fontes. Pedaços de parede e muita poeira davam a impressão de que as colunas do prédio estavam cedendo. Fui arremessado contra a parede”, contou.

O porteiro foi levado de táxi para o Pronto Socorro do Pátio do Colégio e depois transferido para o Hospital Matarazzo.

Bomba que explodiu na sede do jornal “O Estado de S. Paulo” abriu cratera e entortou uma laje do edifício (Reprodução/Folhapress)

Logo após a explosão, todo o prédio foi cercado com faixas protetoras para evitar a aproximação de curiosos.

Por razão das bombas que haviam explodido nas últimas semanas na capital, o delegado José Paulo Bonchristiano pediu ao Quartel General da Força Pública que fizesse a segurança de todas as dependências dos jornais existentes na cidade.

A Folha informou que na véspera da explosão um dos diretores de “O Estado de S. Paulo”, Luís Carlos Mesquita, havia solicitado à Secretaria da Segurança Pública do Estado policiamento no prédio do jornal.

A bomba contra o “Estado” era a de “maior potência” das que tinham explodido até então, naquele ano. Ela continha dois quilos de dinamite.

Para se ter uma ideia do poder de alcance do petardo, os terceiro e quarto andares do edifício da Galeria Metrópole, que ficava a 200 metros do jornal, tiveram suas vidraças quebradas pelo estrondo. Na Biblioteca Municipal de São Paulo (hoje Mário de Andrade), todos os vidros foram estilhaçados.

Porta de aço é destruída com explosão no edifício do jornal “O Estado de S. Paulo” (Reprodução/Folhapress)

No subsolo do edifício, um operário que estava sentado sobre uma bobina de papel foi atirado a vários metros de distância e por sorte não se feriu.

O estampido chegou até o Centro de Controle da Rádio Patrulha, na rua Brigadeiro Tobias, no centro, onde hoje funciona a Delegacia Geral de Polícia.

As primeiras ações foram tomadas pelo delegado da Rádio Patrulha, Braz Giudice Netto, e pelo capitão Jorge Bourdules, que cercaram o prédio com vários agentes da polícia.

Investigadores do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e o chefe da Polícia Federal  em São Paulo, o general Silvio Correia, que esteve à frente do caso, também estiveram presentes na sede do jornal.

Após algumas vistorias, Correia declarou que já era prevista a explosão. “Na posse do comandante da 4ª Zona Aérea, eu disse a pessoas que comigo conversaram que a próxima bomba explodiria num jornal, que eu considero uma trincheira em defesa dos ideais democráticos. Infelizmente, acertei”.

O então governador de São Paulo, Abreu Sodré, afirmou que o atentado foi obra de grupos de esquerda, pois, segundo ele, os de direita não “estariam preparados para isso”.

Já o novo comandante do 2º Exército, o general Carvalho Lisboa, sugeriu que o “terrorista” responsável pela explosão pertencia à extrema esquerda.

O diretor-geral da Polícia Federal, o coronel Florimar Campello, também disse que a explosão fora obra de terroristas ligados aos comunistas.

De acordo com a polícia técnica, que chegou ao local às 4h30, os fragmentos recolhidos eram insuficientes para qualquer conclusão naquele momento. Não foi possível saber se a bomba era de fabricação caseira, bananas de dinamite ou bomba-relógio.

Colaboraram Carlos Bozzo Júnior, Felipe Lima e Shirley Queiroz

 

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