1968 – A QUINTA BOMBA: Bomba explode em casa de ex-procurador do Estado
Luiz Carlos Ferreira
Cristiano Cipriano Pombo
Jair dos Santos Cortecertu
Rodolfo Stipp Martino
Após a bomba na sede do jornal “O Estado de S. Paulo”, no centro da capital, na madrugada do sábado de 20 de abril, não demorou um dia para que outra explosão viesse à tona em São Paulo.
Desta vez o artefato foi colocado no jardim de inverno da residência do desembargador aposentado e ex-procurador do estado Virgilio Malta Cardoso, que ficava num edifício da avenida Rebouças (zona oeste de São Paulo).
Esta foi a quinta de uma série de explosões que foram registradas na cidade de São Paulo ao longo de 1968 –a primeira delas explodiu em 19 de março no Consulado dos EUA– e que o Banco de Dados resgata no Blog do Acervo Folha.
Eram 20h quando ouviu-se um estampido no edifício de número 3.143 da Rebouças. Uma das empregadas do ex-procurador, Isilda Batista de Sousa, estava sozinha na casa no momento da explosão. Virgilio e sua família passavam o fim de semana em Santos (litoral de São Paulo). Em contato com a polícia, o aposentado disse que não tinha suspeitas de quem teria causado a explosão e completou: “Se quiserem fazer promoção, procuraram a pessoa errada”.
Todos os vidros de uma porta de ferro que dava acesso ao jardim, nos fundos do imóvel, foram quebrados com o impacto do petardo.
Logo a polícia técnica chegou ao local para a coleta de fragmentos para a perícia e antecipou que se tratava de uma bomba caseira. Estiveram também na residência um delegado de plantão do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e agentes da Força Pública do Estado.
Um dos investigadores do caso comentou que “avacalharam com terrorismo”, em referência ao curto espaço de tempo entre uma explosão e outra na capital, que, naquele ano, o quarto da ditadura, viu cerca de 800 agentes serem mobilizados pelos governos federal e estadual, pelo Exército, pela Polícia Federal, pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social), pela Força Pública e pelas delegacias da cidade na caça aos responsáveis pelas explosões.
O chefe da Polícia Federal, o general Silvio Correia de Andrade, o mesmo que esteve à frente das investigações do “atentado” contra o jornal O Estado de S. Paulo, ocorrido um dia antes, cogitou a hipótese de a bomba ter sido fabricada a partir das 250 bananas de dinamite roubadas em Cajamar (região metropolitana de São Paulo), um ano antes. Já a equipe do Sops (Seção de Ordem Política e Social) informou que poderia até mesmo ser uma “brincadeira de crianças”, pela baixa potência do explosivo.
O medo de novas explosões na capital levou a polícia a adotar procedimentos de segurança até em suas próprias dependências. No Dops, órgão que vinha recebendo telefonemas com ameaças de atentados, ninguém podia entrar sem passar por revista. A mesma regra se estendeu ao Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
Além dos lugares já atingidos por bombas naquele ano, entre os quais o Consulado dos EUA e o quartel-general do 2º Exército de São Paulo, outras instalações públicas, como o Palácio dos Bandeirantes e a Assembleia Legislativa, também passaram a ter a segurança reforçada por imposição da Secretaria da Segurança Pública do Estado.
Colaboraram Carlos Bozzo Júnior, Felipe Lima e Shirley Queiroz
Veja também:
1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje
1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas