Tyson completa 50 anos à Jake LaMotta
Em meio a conquistas, cinturões, escândalos e redenção, “Iron” Mike Tyson completa 50 anos nesta quinta-feira (30). O mais jovem lutador a conquistar o cinturão dos pesos-pesados chega a meio século com sua trajetória marcada nas páginas da Folha e refazendo sua trajetória nos palcos e no cinema.
Em 22 de novembro de 1986, em Las Vegas, Mike Tyson começa a assombrar o mundo com seus jabs, diretos e cruzados. Nessa data, com apenas 20 anos, Tyson se torna o mais jovem lutador de boxe a conquistar o cinturão dos pesos-pesados pela WBC (Conselho Mundial de Boxe), derrotando o jamaicano Trevor Berbick (1954 – 2006), no segundo round por nocaute. Na ocasião a Folha publica na Primeira Página a queda de Berbick e em Esportes destaca “Tyson derruba Berbick e é o mais jovem campeão”.
Menos de nove meses depois, Tyson unifica os três cinturões ao derrotar respectivamente James Smith, pela WBA (Associação Mundial de Boxe), e Tony Tucker, pela IBF (Federação Internacional de Boxe), ambos por pontos. Com 21 anos completos e campeão nas três organizações, Tyson se torna o lutador a ser batido.
A luta contra Smith também é destaque na capa da Folha e em Esportes com o título “Tyson decepciona mas derrota Smith em luta cheia de agarrões”.
Já na unificação dos cinturões, contra Tony Tucker, a Folha vaticina em alto de página “Tyson, o ‘Homem de Aço’, é o supercampeão dos pesados”.
A carreira do garoto delinquente do Brooklyn se mostra ser promissora, mas casamentos malsucedidos e problemas fora do ringue (acusação de estupro, agressões, drogas e prisões) começam a tumultuar a trajetória do boxeador.
Em 1988, um ano após unificar os três cinturões, Tyson casa-se pela primeira vez (com Robin Givens) e exatos 12 meses depois está se divorciando, sob a acusação de abusar fisicamente de Robin. Em 1991, é acusado de estupro pela Miss América Negra, Desirre Washington e é condenado em 26 de março de 1992, conforme a Folha noticia em “Tyson é condenado a 6 anos de prisão”.
A partir desse episódio, passa a colecionar eventos fora do ringue que vão minando sua carreira. De suas seis derrotas, quatro foram certeiras para encerrar seu ciclo de vitórias e impedir uma retomada na carreira. A primeira e mais improvável, em 1990, ocorre diante de James Buster Douglas, seis anos mais velho que Tyson. Em 1996 e 1997, é a vez de Evander Holyfield levar Tyson à lona (na segunda luta foi desclassificado por morder a orelha de Holyfield). E, antes das duas últimas da carreira, perde para Lennox Lewis, em 2002.
A segunda luta contra Holyfield marca de vez a carreira de Tyson, negativamente. a Folha destaca assim o episódio, em duas páginas de Esporte: “Título de Holyfield custa naco de orelha” e “Vingança suspende Tyson e ameaça a bolsa”.
Suas duas últimas lutas são realizadas em 2004 e 2005, em ambas deixa o ringue derrotado, mas é em 2003 que Tyson vê seus quase 20 anos de luta encerrados. Ao ter de declarar falência, depois de queimar mais de US$ 400 milhões em joias, carros e animais exóticos, o pugilista nascido em Nova York coloca no boxe a chance de se levantar, mas não consegue.
Embora sua carreira tenha sido quase toda construída entre Nova York e Las Vegas, sempre em companhia de treinadores, amigos e Don King, em 2005, uma passagem por São Paulo, sem seu séquito, acaba com nova ida de Tyson à delegacia. Acusado de agredir um cinegrafista do SBT e danificar sua filmadora, na casa noturna Love Story, Tyson é conduzido ao 27º Distrito Policial.
A Folha cobre de perto o episódio, inclusive com entrevista exclusiva. Sob os títulos “Tyson estoura e é detido em SP”, em 11 de novembro de 2005, e “Ninguém me ama e eu não amo ninguém, diz Tyson, que chora”, em 12 de novembro de 2005, o jornal desnuda “Iron” Mike Tyson, que revela: “Não consigo mais fazer as coisas que fazia antes. Não tenho mais o coração, o estômago para isso [lutar]. A luta só me prejudicou, trouxe vícios”.
A trajetória de infância e adolescência difíceis e início de carreira arrasador não ajudam Tyson a controlar a fama e o dinheiro. Atualmente, o norte-americano tenta retomar o sucesso fazendo as pessoas rirem de suas histórias e desgraças, no palco, como no show da Broadway dirigido por Spike Lee, “Mike Tyson: Undisputed Truth”, e nas pontas que tem feito em produções hollywoodianas como “Se Beber Não Case”.
O ator Jammie Fox (premiado com o Oscar de Melhor Ator por “Ray”) declarou recentemente que viveria Tyson numa cinebiografia e que o diretor seria ninguém menos que Martin Scorsese. Numa história cheia de vitórias, derrotas e escândalos, Tyson chega aos 50 anos com uma transição que se assemelha à do velho Jake LaMotta, também de Nova York, também no Hall da Fama e também de temperamento difícil: caindo no ringue e se reerguendo no palco e no cinema.