Há 65 anos, Palmeiras vencia a Copa Rio
-Atualizado em 05/02/2021
Em 22 de julho de 1951, um pouco mais de um ano após a fatídica perda da Copa do Mundo para o Uruguai, o torcedor brasileiro voltava ao Maracanã, o maior palco da história do futebol, desta vez para sorrir. Mais de 100 mil pessoas lotaram o estádio para ver o Palmeiras conquistar a Copa Rio em cima da italiana Juventus.
Organizado pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos), o torneio teve São Paulo (Pacaembu) e Rio (Maracanã) como sedes. Oito clubes disputaram o torneio, que contou com seis campeões nacionais (Nacional, do Uruguai, Juventus, da Itália, Estrela Vermelha, da Iugoslávia, Áustria Viena, da Áustria, Sporting, de Portugal, e Nice, da França), além de Palmeiras, como campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1951, e Vasco, campeão carioca do mesmo ano.
Na fase de classificação, o Palmeiras superou Nice (3 a 0) e Estrela Vermelha (2 a 1) e sofreu uma impactante derrota diante da Juventus (4 a 0). Já na semifinal, disputada em dois jogos, venceu a primeira partida contra o Vasco por 2 a 1 e empatou o duelo de volta em 0 a 0. Na final, enfrentaria novamente os temidos italianos -que bateram o Áustria Viena na outra semifinal-, em duas partidas a serem realizadas no Maracanã.
No primeiro duelo da decisão, a goleada sofrida ante a equipe italiana durante a fase de classificação ainda estava fresca na memória. No entanto, mesmo sabendo da força do adversário, ainda invicto na competição, o alviverde foi imponente do início ao fim do jogo. A partida terminou 1 a 0 para o Palmeiras, com gol de Rodrigues aos 21min do primeiro tempo, mas poderia ter sido bem mais, tamanha a superioridade do time paulista.
“Em nome do futebol brasileiro, o Palmeiras, mercê de inabalável disposição de luta, impediu que se repetisse esta tarde, no Maracanã, o melancólico acontecimento de 16 de julho de 1950. Consciente da responsabilidade que tinha, o quadro esmeraldino, superando a si próprio em momentos que a derrota parecia ameaçá-lo, conseguiu por duas vezes fugir do revés.”
O trecho acima, publicado na Folha da Noite de 23 de julho de 1951, resume o que foi a partida. A Juventus mostrou desde a primeira fase que seria um adversário duríssimo e provou isso logo aos 18min do primeiro tempo, quando Praest abriu o placar. A equipe de Palestra Itália não mostrava o bom futebol do primeiro duelo decisivo e foi para o intervalo em desvantagem no placar.
No segundo tempo, porém, o Palmeiras reagiu, graças à entrada do meia Canhotinho, que substituiu Ponce. O jogador infernizou a defesa italiana e ajudou a dar o ímpeto ofensivo que faltava ao time alviverde. Com isso, logo aos 2min da etapa final, Rodrigues pegou rebote de chute de Liminha na trave e empatou a partida com um sem-pulo.
Quando o Palmeiras se mostrava melhor, um lance de insegurança de seu arqueiro colocou o time novamente atrás na disputa: Fábio não conseguiu segurar o chute de Muccinelli e a bola sobrou para Karl Hansen marcar 2 a 1 para a Juventus.
Os palmeirenses não se abateram, e Liminha fez jus ao verso “Linha, atacante de raça” –do hino palestrino–, quando, aos 32min do segundo tempo, driblou o zagueiro Manente e chutou, viu a bola tocar no goleiro Viola e voltar ao seu pé. Não deu outra, o raçudo atacante colocou a redonda no fundo da rede e correu para comemorar.
Com o jogo mais uma vez empatado (2 a 2), o desespero tomou conta dos italianos, que, precisando reverter a derrota na primeira decisão, passaram a agir com violência.
O tempo passou. E, ao apito final do árbitro francês Gabriel Tordjan, o Palmeiras se tornou o primeiro campeão interclubes e fez a torcida, que gritou “Brasil, Brasil Brasil” após o empate, explodir de emoção no Maracanã. Foi o alívio pós trauma e o primeiro grande título em escala mundial do futebol brasileiro –a seleção ganharia sua primeira Copa quase sete anos depois.
No retorno da equipe a São Paulo, milhares de pessoas tomaram as ruas e a estação ferroviária Roosevelt (atual estação Brás) para receber e saudar os campeões da Copa Rio. No desembarque, “aplausos delirantes, música, serpentina e confetes”, assim foi descrita a chegada triunfal do Palmeiras pela Folha da Noite.
Somente em 2014, após muita pesquisa e levantamento de documentos por parte de seus diretores e com a influência do governo federal e da CBF, o Palmeiras conseguiu que a Fifa reconhecesse o torneio como o primeiro Mundial de Clubes da história.
No entanto, em 2017, já sob a gestão de Gianni Infantino, a entidade máxima do futebol passou a considerar os vencedores da Copa Intercontinental, disputada de 1960 a 2004, oficialmente como campeões mundiais e ignorou a chancela dada à Copa Rio por Joseph Blatter, seu ex-presidente.