O dia em que a Inter derrubou Palmeiras e tabu
Eram jogados 47 minutos e 54 segundos do segundo tempo, quando o árbitro Dulcídio Vanderley Boschilla pediu a bola ao goleiro Silas e apitou o final do jogo no dia 3 de setembro de 1986.
Estava decretado ali, com o placar do estádio do Morumbi exibindo Palmeiras 1 x 2 Internacional, o fim de um tabu de 84 anos no Campeonato Paulista.
Até a decisão entre Palmeiras e Inter de Limeira nenhum clube do interior paulista tinha conquistado o título do Estadual considerado o mais forte do país.
O primeiro jogo da final, também disputado no Morumbi, terminou 0 a 0. Assim, no segundo jogo da decisão, a Inter de Limeira, comandada pelo técnico Pepe, por ter feito melhor campanha, precisava apenas de mais dois empates (no tempo normal e na prorrogação).
No Morumbi, diante de 78.564 pagantes, o Palmeiras, comandado pelo técnico Carbone e que não conquistava o título estadual desde 1976, era considerado favorito, especialmente após ter eliminado o Corinthians na semifinal.
Um dos mais otimistas era Amarildo, que iria substituir o atacante Vágner na última partida do campeonato. “Fiz o primeiro gol do Palmeiras no campeonato, justamente contra a Inter [vitória por 3 a 1, em 23 de fevereiro de 1986]. Espero fazer o último, contra o mesmo adversário“.
À época, a TUP, então maior torcida organizada do clube, com 4.000 associados, levou 2 toneladas de papel picados ao Morumbi e uma faixa de 51 m para motivar o time. Uma grande festa também estava programada para o Parque Antarctica.
Para ajudar o ímpeto palmeirense, a Inter tinha problemas para repetir o time que jogou a primeira partida da final. O centroavante Kita, que recebera quatro pontos no joelho direito, e Gilberto Costa, com o olho inchado, se esforçavam para não ficar de fora.
O retrospecto também ajudava o Palmeiras. Afinal, nunca um time do interior tinha conquistado o título. Em 1976, quando o XV de Novembro, de Piracicaba, chegou à final, foi derrotado pelo Palmeiras, assim como a Ponte Preta, de Campinas, que perdeu para o Corinthians nas decisões de 1977 e 1979 e para o São Paulo em 1981.
O JOGO
No gramado do Morumbi, mesmo com uma formação ofensiva, com dois atacante Edmar e Mirandinha, e os perigosíssimos escanteios cobrados pelo ponta-esquerda Éder, o Palmeiras anulou as principais jogadas da Inter no primeiro tempo. Porém, as jogadas mais agudas, mantiveram os dois times em igualdade, já que Éder acertou a trave direita do goleiro Silas, em cobrança de falta, e Gilberto Costa, também em falta, acertou a trave de Martorelli.
Na volta do intervalo, porém, a Inter voltou melhor. E logo aos 5 min abriu o placar, com o centroavante Kita, em chute forte, no canto direito de Martorelli.
O gol desnorteou o Palmeiras. Tanto que o time de Carbone sofreu novo tento em menos de cinco minutos, em falha da zaga. Após Kita ter chutado para o alto, do meio-campo, o lateral Denys tentou atrasar, com o peito, para o goleiro Martorelli, mas Tato se antecipou, driblou o arqueiro e tocou para as redes.
O Palmeiras, então, lançou-se com tudo, expondo-se aos contra-ataques do Leão, como é conhecida a Inter de Limeira. A tática, que resultou em pelo menos duas chances claras desperdiçadas pela Inter, fez com que o Palmeiras marcasse aos 29min, de cabeça, após cobrança de escanteio de Éder. O gol foi de Amarildo, que cumpriu o que previu (“de fazer o último gol”). Depois disso, os dois times perderam chances claras, mas o placar se manteve em 2 a 1.
O título coroou Pepe, que, além de ter vencido o torneio como jogador e técnico (ambos pelo Santos), conseguiu fazer da Inter o time com melhor ataque do torneio, com 59 gols, sendo 24 deles do artilheiro Kita.
A festa foi grande em Limeira (a cerca de 150 km da capital paulista). Depois da madrugada toda em comemoração, cerca de 6.000 pessoas se reuniram no estádio Limeirão para recepcionar os campeões.
A taça chegou à cidade por volta das 13h. Os jogadores, porém, não estavam presentes. Após o presidente Victorio Marchesini ser alertado por um repórter de que os atletas estavam numa chácara, comemorando o título e o aniversário do ponta Lê, mandou chamá-los para participar. Naquele dia, decretado feriado na cidade, aos gritos de “É campeão”, foram consumidos cerca de 10 mil litros de chope.