Em Aparecida, primeiro Grito dos Excluídos faz história com panelaço de trabalhadores

Jair dos Santos Cortecertu

“O sistema neoliberal é frio. Contempla as riquezas deste país para poucos. O que se vê é a concentração da riqueza nas mãos de quem vive da lógica da espoliação e exploração da classe trabalhadora.”

Em meio à crise política atual, essa declaração poderia ser feita por líderes de esquerda em manifestações contra o governo Temer, mas as palavras contra a política econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso foram proferidas por d. Angélico Sândalo Bernardino, bispo da Pastoral Operária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante o primeiro Grito dos Excluídos, no dia 7 de setembro de 1995.

Com o lema “A vida em primeiro lugar”, o protesto na Basílica de Aparecida (SP) reuniu 45 mil pessoas –a estimativa da CNBB era de 100 mil –e fez um Sete de Setembro diferente, segundo reportagem desta Folha.

Grito dos Excluídos 2

Mesmo sabendo que parte da Igreja Católica, a ala conservadora, era contra o envolvimento dos religiosos em questões políticas, D. Angélico Bernardino também teve como alvo em seu discurso a inércia dos políticos em relação à reforma agrária e o massacre de Corumbiara, em Rondônia, onde 10 sem-terra foram mortos pela polícia. “Grande parte dos proprietários de terra está no Congresso e não está interessada em fazer a reforma agrária”, afirmou o bispo.

Caravanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santos, Minas Gerais, Goiás, e manifestantes vindos de Rondônia formaram a multidão que batia panelas e fazia apitaço contra o desemprego e a violência no campo.

O Grito dos Excluídos nasceu nas pastorais sociais, como forma de aprofundar alguns temas da Campanha da Fraternidade, da Igreja Católica.