Há 15 anos, EUA sofreram seu maior atentado
“Protegido por uma máscara que consegui com um dos bombeiros, pude ultrapassar três bloqueios policiais e estou a poucos passos dos fundos do que sobrou das estruturas das duas torres. O ar está tomado por uma mistura de pó branco com fumaça preta. É meio-dia, o sol brilha alto, mas ao lado do World Trade Center está escuro como noite.
Além do ar sufocante e do calor que emana das duas construções em fogo, há um desagradável cheiro doce de queimado, que embrulha o estômago.”
Trecho de “Corpos, destroços e confusão compõe o cenário de horror”, do correspondente da Folha em Nova York, Sérgio Dávila
Há 15 anos, o mundo assistia incrédulo ao ataque às torres gêmeas do World Trade Center e ao Pentágono. Com uma diferença de menos de 20 minutos, dois Boeings atingiram as duas torres do WTC, em Nova York. Meia hora depois o prédio do Pentágono, nas proximidades de Washington. O primeiro ano do século 21 começava de maneira amedrontadora.
Com duas guerras mundiais e guerras civis em quase todos os continentes, o século 20 deixou marcas que ninguém gostaria de reviver. Mas a Al Qaeda tinha outros planos e as guerras passadas não os impediram de aplicarem o maior atentado que os EUA já sofreram em seu território. Aquele 11 de setembro de 2001 jamais seria esquecido.
A Folha entendeu isso e estampou na primeira página de 12 de setembro de 2001 “EUA sofrem maior ataque da história”. O jornal desse dia trazia uma cobertura extensa, tomando 33 páginas. Dois dias após os ataques, a Folha estreava o caderno especial “Guerra na América”, com a cobertura dos ataques e os desdobramentos políticos internacionais.
Acompanhando os próximos passos do episódio, como a investigação do FBI para identificar os suspeitos dos ataques, a preparação dos EUA para uma retaliação e análise do que foi o 11 de setembro, a Folha passou a publicar textos de renomados escritores.
Dois dias após os ataques, no caderno especial “Guerra na América”, é publicado “As duas faces do fanatismo”, do escritor israelense Amos Oz. Paul Auster escreveu “E assim começa o século 21”, em 16 de setembro de 2001, e três dias depois foi a vez do Prêmio Nobel de Literatura em 1998, José Saramago assinar “O fator Deus”.
Os EUA sempre estiveram envolvidos em guerras e desta vez não seria diferente. Depois de investigações coordenadas pelo Departamento de Estado norte-americano e o FBI, os EUA já tinham um alvo: os extremistas do Taleban. Passados 26 dias do ataque ao WTC e ao Pentágono, os americanos, junto de aliados (Reino Unido, França e Canadá), começavam a retaliação ao Afeganistão.
Quando o atentado completou 10 anos, os EUA inauguraram em Nova York um memorial para recordar as 2.733 vítimas. Na ocasião estiveram presentes o presidente Barack Obama e seu antecessor, George W. Bush.
Em 8 de outubro de 2001, a Folha noticiava na primeira página “EUA atacam Afeganistão; Bin Laden lança ameaças”. No Afeganistão, os americanos travaram o que é considerada a guerra mais longa na qual se envolveram, terminada oficialmente em 2014.
Os desdobramentos não se limitaram a uma guerra que duraria 13 anos. Depois do Afeganistão, foi a vez do Iraque sofrer ofensiva norte-americana. Em 20 de março de 2003 a Folha publicou “EUA atacam Iraque”. Durante um mês o jornal cobriu intensamente a Guerra do Iraque com textos de Sérgio Dávila e fotos de Juca Varella –os únicos jornalistas brasileiros a permanecer em Bagdá durante as primeiras semanas da guerra.
Em menos de dois anos os EUA enviavam milhares de homens ao Afeganistão e ao Iraque a fim de dar cabo ao “terror”. Com a morte de Saddam Hussein, em 2006, executado por enforcamento pela morte de 148 xiitas, restava um grande líder árabe para fazer justiça aos ataques de 11 de setembro: Osama bin Laden.
Finalmente, em 1º de maio de 2011, o exército americano conseguiu executar seu inimigo nº 1. Bin Laden foi morto em um esconderijo em Abottabad, a 115 km de Islamabad, capital do Paquistão, após tiroteio com forças dos EUA.
Apesar do forte poderio militar, os Estados Unidos e aliados tiveram dificuldades em lutar nos territórios afegãos e iraquianos. Passada mais de uma década de guerra, com severas baixas de ambos os lados, os EUA agora pensam em futuros inimigos, para manter seu domínio geopolítico.
Não há, no momento, retaliação a atentado semelhante ao 11 de setembro, mas há a tradição de manter-se constantemente em guerra. Uma triste notícia para um século que ainda não se recuperou do terror que abalou o mundo 15 anos atrás.