Mafioso dedo-duro viveu e foi torturado no Brasil
Nesta quinta-feira (15), o Blog do Acervo Folha traz a história do siciliano Tommaso Buscetta.
Também conhecido como “Don Masino”, Buscetta foi ex-integrante da elite da Cosa Nostra, a temida máfia italiana, que nos anos 80 o considerou seu inimigo número um após ele ser o primeiro a quebrar a omertá –o código de silêncio dos criminosos italianos.
Em meio à sangrenta guerra entre os clãs da máfia que ocorria em Palermo (Itália), em 1962, Tommaso Buscetta fugiu para o México, passou um tempo nos Estados Unidos e por último refugiou-se no Brasil, onde passou parte de sua vida e deu continuidade aos seus negócios do crime.
No Brasil, em 2 de novembro de 1972, o italiano foi preso na praia de Itapema, em Santa Catarina, em uma operação comandada pelo delegado Sérgio Fleury. O mafioso de 44 anos, suas filhas pequenas e o seu amor, a jovem Maria Cristina, foram colocados em um avião militar, onde começaram a sofrer com o pior da ditadura brasileira: a tortura.
Maria Cristina, grávida de quatro meses, chegou a ser colocada na porta da aeronave e ameaçada de ser atirada em pleno voo. Foi o suficiente para que o italiano declarasse seu nome verdadeiro ao delegado –ele usava a identidade falsa de Tomas Roberto Felice.
Então procurado pela Justiça da Itália pela explosão de um carro-bomba que matou sete policiais em 1963, Tommaso Buscetta foi fichado em São Paulo uma semana após ser preso pelo DOPS. De acordo com ele, neste intervalo, foi torturado.
Acusado, assim como mais seis estrangeiros, por tráfico internacional de drogas, “Don Masino” foi expulso do país após ato assinado pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici. Condenado na Itália, ficou preso até 1980. No ano seguinte, retornou ao Brasil, mas novamente foi detido. Desta vez pelo delegado da Polícia Federal Romeu Tuma, em 23 de outubro de 1983, em São Paulo.
Extraditado no ano seguinte, decidiu colaborar com o juiz Giovanni Falcone –assassinado pelos mafiosos em 1992– para desmantelar a máfia na Itália. Entregou rivais, antigos parceiros e políticos do país. Teve parentes mortos em represália e era constantemente ameaçado.
No ano de 1986, aconselhado pelo Brasil, seu próprio país o extraditou aos EUA. Na América do Norte, mais uma vez foi peça-chave na colaboração contra a máfia, que tinha uma rede de traficantes de cocaína e heroína que funcionava nas pizzarias de Nova York. A delação lhe rendeu a nacionalidade americana, uma nova identidade e proteção para ele e seus familiares.
“Don Masino”, que passou o restante de sua “aposentadoria” em uma pequena casa em Nova Jersey, morreu em 2 de abril de 2000, em um hospital de Nova York, em decorrência de um câncer.