Há 20 anos, Nintendo 64 e o novo e revolucionário ‘Super Mario’ desembarcavam nos EUA e no Brasil
Há 20 anos, a Nintendo lançava nos Estados Unidos –três meses após sair no Japão– um de seus videogames mais controversos, mas de grande influência para o futuro da indústria dos games: o Nintendo 64.
Com o lançamento do console no mercado norte-americano, foi questão de poucos dias para que as grandes redes de varejo no Brasil tivessem o produto em suas prateleiras. Apesar de custar em média R$ 650 (US$ 199 nos EUA) –na época, muito dinheiro–, a proximidade com o Dia das Crianças e as facilidades no parcelamento fizeram com que o videogame se esgotasse em muitas lojas.
Munido de um processador de 64 bits, o N64 era mais potente que seus rivais Sony Playstation e Sega Saturn, que possuíam 32 bits cada um. Isso ficava evidente na qualidade gráfica dos jogos. Mas o terceiro console de mesa da Nintendo tinha um calcanhar de aquiles ante seus concorrentes: o cartucho.
Enquanto os videogames da Sony e Sega utilizavam o CD (Compact Disc) como mídia para seus jogos, que era o que havia de mais moderno na época, a empresa de Kyoto (Japão) apostava ainda nos cartuchos.
A escolha da Nintendo se deu pelas demoradas telas de carregamento que a mídia usada pelos rivais proporcionava e também para coibir a pirataria –o que não aconteceu. O maior problema disso foi no que diz respeito ao armazenamento. Enquanto os CDs podiam armazenar em média 650 MB de conteúdo, os cartuchos eram limitados a 32 MB.
Com isso, as então populares CGs (cenas em computação gráfica), as músicas orquestradas e os diálogos entre personagens –que faziam parte da maioria dos grandes lançamentos da época– ficavam de fora dos games lançados para o console da “Big N” por falta de espaço. Outro problema era custo de produção elevado dos cartuchos, que afastou grandes produtoras, algumas delas antigas parceiras da Nintendo, como a Square.
Porém, com um pouco mais de investimento era possível trazer jogos que antes pareciam inviáveis de rodar no N64, devido as limitações já citadas. O grande exemplo fica com a Capcom, que apesar de ter abandonado o console nos primeiros anos, conseguiu com a ajuda de estúdios menores colocar o clássico Resident Evil 2 -com suas CGs e vozes- em um cartucho maior, de 64 MB, graças a um novo novo tipo de compressão criado. Para efeito de comparação, no Playstation o game foi distribuído em dois discos (mais de 1 GB).
A opção pelo cartucho é muito provável a maior causa da derrota da Nintendo naquela geração de videogames. O seu aparelho vendeu cerca de 33 milhões de unidades no mundo, contra 102 milhões do Playstation.
Isso não significa que o Nintendo 64 tenha sido um fracasso. Pelo contrário. O arsenal de franquias próprias e a parceria com a desenvolvedora Rare trouxeram jogos revolucionários e divertidíssimos aos gamers e influenciaram o futuro da indústria. E o mascote Mario foi o primeiro dessa fila de sucessos.
INOVAÇÕES
Em “Super Mario 64”, jogo de lançamento do console, o criador das principais propriedades intelectuais da Nintendo, Shigeru Miyamoto, mostrou ao mundo o primeiro jogo de plataforma 3D.
Sem perder a identidade do personagem, criada em jogos para o “Nintendinho” (8-bits) e Super Nintendo (16-bits), o game apresentou grandes cenários para serem explorados em três dimensões, movimento de câmera livre e visão em primeira pessoa para inspecionar o ambiente. O tradicional jeito de acabar com os inimigos pulando sobre a cabeça deles, além de outras adições no gameplay, também se fizeram presentes. Outra novidade: era primeira vez que ouvíamos a voz de Mario.
O game foi um marco e depois dele vários outros copiaram o seu estilo. Alguns com competência, outros nem tanto, como aconteceu com a maioria dos jogos do Sonic.
Outras franquias do N64 que inovaram e se tornaram inspiração para futuros lançamentos foram “Goldeneye 007” e “The Legend of Zelda: Ocarina of Time”.
No jogo do espião britânico James Bond, produzido pela Rare, os jogadores foram apresentados a um divertido multiplayer competitivo para até quatro pessoas, com tela dividida. Isso mesmo! O Nintendo 64 possuía quatro entradas para controles. O game serviu como base para a maioria dos FPS (jogos de tiro em 1ª pessoa) que vieram depois.
Já “The Legend of Zelda: Ocarina of Time” –considerado um dos melhores jogos de todos os tempos– trouxe, além de belos gráficos e uma aventura épica, o pioneiro “Z-Targeting”, que consistia em utilizar o botão Z do controle para travar a mira em um inimigo e assim golpeá-lo de forma eficaz, principalmente em um ambiente de movimentação 3D. O recurso de travamento é utilizado até hoje em diversos jogos, como em Dark Souls 3 e The Witcher 3, presentes na atual geração de videogames.
O legado deixado pelo Nintendo 64 vai além de seus jogos. O console inovou com seu controle em forma de tridente, seu direcional analógico –que apesar de não ter sido inventado pela “Big N”, foi popularizado por ela– e o botão Z, este em forma de gatilho, perfeito para jogos de tiro. Com o passar dos anos, estes itens foram copiados e aperfeiçoados pelos concorrentes.
A marca também foi a responsável por sair da mesmice dos videogames e controles nas cores preto e cinza. Controladores verdes, vermelhos, azuis e amarelos podiam ser encontrados desde o lançamento. Depois de um tempo, a Nintendo também lançou versões coloridas do console, inclusive temáticas, como a do Pikachu. Algo bem comum nos dias atuais.
Outra novidade apresentada pelo N64 foi o Rumble Pak. O acessório vibrava com o impacto de veículos, explosões, tiros e golpes de personagens, o que trazia uma maior imersão. O efeito de vibração virou tendências nos videogames que vieram depois, claro que aperfeiçoados.
GAME OVER
Quem pensa que a única bola fora da Nintendo com o console foi o uso de cartuchos está enganado. O 64DD (Disc Drive), prometido logo no início do ciclo de vida do aparelho e adiado diversas vezes até o seu lançamento no Japão, foi o grande desastre! O drive, um trambolho que era acoplado na parte de baixo do N64, era compatível com grandes disquetes regraváveis de 64 MB. A ideia era que ele funcionasse para jogos e conteúdo adicionais (DLC’s???). A demora no lançamento e a falta de praticidade do aparelho de disquetes gigantes contribuiu para que o público perdesse o interesse e ele ficasse restrito apenas ao mercado nipônico.
NOVA CARTADA
Agora, 20 anos depois, a Nintendo planeja inovar mais uma vez. Apelidado de NX, o novo videogame da empresa está previsto para março de 2017. Mas suas especificações e visual ainda são uma incógnita. Tudo que se sabe sobre ele são especulações feitas em cima de diversas patentes registradas.
Acredita-se que ele será um misto de portátil com console de mesa e que, pasmem, usará cartuchos como mídia. Caso isso se concretize, a aposta dessa vez pode dar certo. Os atuais videogames usam o Blu-Ray para jogos, mas estes discos têm uma leitura muito lenta, o que obriga os games neste formato serem sempre instalados nos discos rígidos dos aparelhos.
Resta aguardar pelo anúncio oficial. Com certeza a Nintendo irá inovar e trazer muita diversão aos gamers, pois é isso que sempre se pode esperar dela.