‘Senhor Diretas’ completaria 100 anos hoje

Há 100 anos, nascia o “Senhor Diretas”. Ulysses Silveira Guimarães era natural de Rio Claro (SP), formou-se em direito pela USP e ingressou na política pelo PSD (Partido Social Democrático). Conseguiu ser eleito deputado federal por 11 mandatos consecutivos (quatro pelo PSD, quatro pelo MDB e três pelo PMDB), estreando essa série em 1950.

Tentou ser governador de São Paulo em 1958, mas Juscelino Kubitschek lhe negou apoio –embora Ulysses tenha chefiado no Estado a campanha de JK para a Presidência em 1955. Em 1973, foi lançado como candidato à Presidência da República, juntamente com Barbosa Lima Sobrinho, indicado como vice em convenção do MDB. À época Folha noticiou “MDB homologa sua chapa” em referência às eleições indiretas que se dariam em 15 de janeiro de 1974 (vencidas pelo general Ernesto Geisel).

Ainda que tenha alçado outros postos executivos, foi como deputado federal que Ulysses deu sua maior contribuição à política brasileira.

Ulysses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados, acena para multidão ao lado de José Richa, Osmar Santos e Orestes Quércia, durante comício em campanha pelas "Diretas Já", em São Paulo (Foto: Fernando Santos - jun.1984/Folhapress)
Ulysses Guimarães acena para multidão durante comício pelas “Diretas Já”. (Foto: Fernando Santos – jun.1984/Folhapress)

Notável orador e líder partidário, Ulysses conseguiu aglutinar em torno de si nomes importantes de diversas correntes políticas e, além de ter sido presidente da Câmara três vezes (1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988), foi determinante em dois momentos da história do Brasil: no movimento das Diretas Já e na promulgação da Constituição de 1988 –a qual chamou de Constituição Cidadã.

Sobre este último e relevante evento, a Folha publicou em 6 de outubro de 1988 a manchete “Ulysses faz sua a festa da promulgação” e, na íntegra, seu discurso “O inimigo mortal do homem é a miséria”.

Com uma carreira política iniciada aos 29 anos, como membro fundador da seção paulista do PSD, Ulysses tentou a Presidência da República pela segunda vez, nas eleições de 1989, mas ficou em sétimo lugar, com 4,43% dos votos.

Uma derrota retumbante e a força da corrente quercista ganhando espaço no PMDB denotavam o fim de um ciclo. Sobre o fracasso da eleição de Ulysses e seu histórico a Folha analisou no caderno especial “Diretas-89” sob o título “Ulysses queria tudo, mas enterrou seu próprio mito”.

Apesar do revés nas eleições e de perder espaço no próprio partido, o ocaso de Ulysses não aconteceu. Em 1990, foi reeleito deputado federal pela 11ª vez e teve seu prestígio retomado em 1992 durante o processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, quando defendeu que a votação do impeachment no Congresso não fosse secreta.

Morreu em 12 de outubro de 1992 (seis dias após completar 76 anos), quando o helicóptero em que viajava de Angra dos Reis (RJ) para São Paulo caiu no mar. No aparelho também estavam a mulher do deputado, Mora, o ex-senador Severo Gomes e a mulher, Henriqueta. Mesmo sob mau tempo, Ulysses insistiu em viajar, pois segundo ele, “não tinha medo de voar“.

Ulysses Guimarães durante entrevista em seu gabinete, em Brasília, 21 dias antes de morrer. (Foto: Ailton de Freitas - 21.set.1992/Folhapress)
Ulysses Guimarães durante entrevista em seu gabinete, 21 dias antes de morrer. (Foto: Ailton de Freitas – 21.set.1992/Folhapress)

Famoso por longos discursos e centenas de anotações que fazia, desde manhã até dormir, Ulysses gravou algumas frases na história. “Na política, o povo ou é tudo ou é nada, ou é personagem como cidadão ou é vítima como vassalo”, afirmou certa vez o “Senhor Diretas”.