Símbolo do Rio, Cristo Redentor completa 85 anos

A data de 12 de outubro marca, além das comemorações do Dia da Criança e do Dia de Nossa Senhora Aparecida, o aniversário de um dos ícones do Brasil. No alto do Corcovado, a 710 metros de altura, o Cristo Redentor completa nesta quarta-feira 85 anos de vida.

Feito de pedra-sabão, em estrutura de cimento armado, o Cristo Redentor começou a ser idealizado pelo padre francês Pedro Maria Boss, que, em 1859, viu no Corcovado “o pedestal único no mundo” para homenagear Cristo.

A concepção, entretanto, só vingaria em 1921, quando surgiu a ideia de que o monumento marcasse a comemoração do Centenário da Independência do Brasil, festejado em 1922.  Técnicos, porém, consideraram o plano inviável.

Ilustração publicada pela Folha em fevereiro de 1960 (Crédito: Folhapress)
Ilustração publicada pela Folha em fevereiro de 1960 (Crédito: Folhapress)

Após pressão de mulheres católicas e do Círculo Católico, em 1924 foi retomada a intenção de erguer o Cristo Redentor com recursos angariados em subscrição popular. À época o projeto vencedor foi o do arquiteto Heitor da Silva Costa, com desenho do pintor e gravador Carlos Oswald. O plano todo foi levado por Heitor à Europa e entregue ao escultor polonês Paul Landowski. O projeto arquitetônico coube ao engenheiro Heitor Levy.

Iniciada em 1926, a construção do maior símbolo do Rio de Janeiro durou cinco anos, com placas de metal vindas da França e cimento importado da Suécia. A festa da inauguração, em 12 de outubro de 1931, parou a cidade. Na ocasião, o cardeal dom Sebastião Leme benzeu solenemente a estátua, e até o criador do telégrafo sem fio, Guglielmo Marconi (1874-1937), foi acionado para, da Itália,  acender os interruptores das lâmpadas que iluminariam o monumento –entretanto o mau tempo impediu.

Iluminação, aliás, que sempre pautou olhares, campanhas, reportagens e visitas de celebridades ao monumento. Em 21 de outubro de 1961, por exemplo, anúncio na capa da Folha mostrava o orgulho de uma empresa ser responsável por sua iluminação.

Contudo, 15 anos depois, a iluminação foi apontada como principal problema, pelo calor e excesso de luz. Então com 45 anos de vida, o Cristo Redentor encontrava-se mal conservado, com uma reforma feitas às pressas e com luzes excessivas, que se tornaram alvo de críticas de especialistas. O fato de a iluminação atrair insetos noturnos, que morriam no local, provocou tanto um desequilíbrio na floresta da Tijuca quanto atrapalhou a visita dos turistas, que pisavam nos insetos mortos e pioravam as precárias condições de limpeza do local.

Tombado em 1937 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o monumento comemorou 50 anos em 1981, quando, repetindo o ato tentado na inauguração, teve sua iluminação acesa a partir da Itália. Dessa vez, coube ao papa João Paulo 2º acender as luzes do Cristo, ato que foi acompanhado pelo som dos sinos das igrejas do Rio.

Detalhe dos pés, um pontos menos vistos do Cristo Redentor (Foto: Lewy Moraes – 11.out.1981/Folhapress)

Em 1991, quando completou 60 anos e enfrentava queda no número de visitantes, o Cristo Redentor teve a base e a capela pichada pelos paulistas Ayres Monteiro de Araújo Neto, então com 18 anos, e F.L.S., o Binho, 17, que foram detidos e condenados a prestarem seis meses de serviços comunitários.

Cinco anos depois, o local foi transformado em santuário católico pelo cardeal-arcebispo dom Eusébio Scheid, que pretendia ver o local não só como ponto turístico mas também como local de peregrinação, tornando-se santuário em 2006.

Em 2007, o cartão-postal do Rio de Janeiro, que foi visitado pela princesa Diana (1991), pelo presidente dos EUA, Barack Obama (2011), e pelo líder espiritual tibetano Dalai Lama (2011), foi escolhido como uma das sete novas maravilhas do mundo, em eleição promovida pelo produtor de cinema e aviador suíço Bernard Weber.

Capa da revista "The Economist" com o Cristo Redentor
Capa da revista “The Economist” com o Cristo Redentor

Em outubro de 2011, quando dos 80 anos do Cristo Redentor, a Folha mostrou como a expressão serena do cartão-postal do Rio de Janeiro era alvo de uma batalha judicial por parte dos herdeiros dos que desenharam e dos que construíram a estátua, tendo no meio da disputa a Arquidiocese do Rio, que encomendou o monumento e detém os direitos de imagem dele.

O Cristo Redentor ainda estampou a capa da revista “The Economist”, numa alçando voo (2009) e noutra num mergulho sobre a Guanabara (2013) -em alusão ao desempenho da política e da economia brasileira-, ganhou destaque na visita do papa Francisco para a Jornada Mundial da Juventude (2013) e durante a Copa do Mundo (2014) e a Olimpíada (2016).

Aos 85 anos, o Cristo Redentor se mantém, como definiu o papa João Paulo 2º em sua primeira visita ao Brasil em 1980, um “símbolo do amor, apelo à reconciliação e convite à fraternidade”. Capaz até mudar nacionalidade, afinal foi diante dele que o líder católico declarou: “Se Deus é brasileiro, o papa é carioca”.