Heroica, Ada Rogato foi nossa Amelia Earhart
A lendária aviadora norte-americana Amelia Earhart (1897-1937) foi a primeira mulher a cruzar o oceano Atlântico norte sozinha, em 1932.
A piloto de avião desapareceu cinco anos depois, ao lado de seu navegador, Fred Noonan, enquanto sobrevoava o oceano Pacífico com o objetivo de dar a volta ao mundo. Até hoje, ela, seu companheiro de voo e seu bimotor Lockheed Vega continuam desaparecidos.
Reconhecida mundialmente pelos grandes feitos na aviação, Amelia Earhart já foi tema de diversos artigos e livros e até teve sua história eternizada nas telas do cinema com o filme “Amelia” (2009), em que a protagonista foi interpretada pela atriz Hilary Swank.
Menos conhecida popularmente, mas com façanhas importantes e que deveriam ser tão comemoradas quanto às da norte-americana, Ada Rogato (1910-1986) é a lenda da aviação brasileira.
Nascida na cidade de São Paulo em 22 de dezembro de 1910, filha de imigrantes italianos, Ada Rogato era uma funcionária pública que tinha o voo como sua grande paixão.
Aos 24 anos, a paulistana já voava de planador. Foi, inclusive, a primeira mulher na América do Sul a obter o brevê para pilotar este tipo de aeronave.
Em uma época em que a aviação brasileira ainda dava seus primeiros passos, Ada Rogato, que também era paraquedista —a primeira “brevetada” no país—, tornou-se sinônimo de pioneirismo.
Na década de 1940, a aviadora fazia voos de exibição e saltava de paraquedas em diversos eventos. Durante a Segunda Guerra Mundial, ela foi um dos civis voluntários que sobrevoaram o litoral de São Paulo em missões de patrulhamento.
A partir da metade do século 20, a piloto superou homens e mulheres com seus feitos. Em 1950, a bordo de um Paulistinha com apenas 65 HP, apelidado de “Brasileirinho”, foi a primeira brasileira a atravessar os Andes, em um reide de 11.200 km.
No ano seguinte, a maior proeza da paulistana, desta vez a bordo de um Cessna 140-A (90 HP): tornou-se a única aviadora do mundo a voar 51.064 quilômetros sozinha por todos os países das três Américas –exceto a Bolívia. Tudo isso com o intuito de divulgar o Brasil pelo continente.
“Vou animada e certa da vitória”
Ada Rogato, ao jornal Folha da Noite, antes de partir na reide pelas Américas
A incansável aventureira parecia sempre querer mais e mais. Em 1952, transformou-se no primeiro aviador –entre homens e mulheres– a pousar e a decolar em um monomotor de baixa potência —o seu Cessna— no então aeroporto mais alto do mundo, em El Alto (La Paz-Bolívia), que fica a 4.061 m de altitude.
Ao longo de sua trajetória, Ada Rogato demonstrou ser provida de muita destreza. Prova disso foi o voo feito por ela em 1956, em seu famoso monomotor, sobre a selva amazônica. Era a primeira vez que um aviador sobrevoava toda a floresta sozinho e sem rádio. Na ocasião, fazia uma peregrinação aérea pelo território brasileiro com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida a bordo.
Em 1960, a perspicaz moça comprovou, mais uma vez, a sua importância para a história da aviação nacional, ao se tornar a primeira mulher piloto a chegar a Ushuaia, na província argentina da Terra do Fogo, no extremo do continente sul-americano.
Por todos esses feitos não foi à toa que a brasileira foi tão elogiada pelos astronautas Neil Armstrong e Richard Gordon em 21 de outubro de 1966, quando os norte-americanos estiveram em São Paulo como parte de uma turnê promovida pelos EUA. Na ocasião, além de ouvirem os relatos de Ada Rogato, as estrelas do espaço aproveitaram para tirar fotos com a aviadora.
Durante seus últimos anos de vida, Ada Rogato foi presidente da Fundação Santos Dumont e se dedicou à preservação do Museu da Aeronáutica –que existiu outrora–, no Ibirapuera, em São Paulo. Quando ela deixou a fundação, nos início dos anos 80, o museu começou a ruir.
Em 15 de novembro de 1986, um câncer interrompeu a trajetória da heroica aviadora brasileira, aos 75 anos. Ada Rogato pode não ter tido o reconhecimento e um final típico das histórias de Hollywood, como teve Amelia Earhart, mas sem dúvida deixou seu legado na aviação brasileira e mundial.