Iraque revive drama da época de Saddam Hussein
O Iraque que os EUA atacaram em 2003, a fim de derrubar o ditador Saddam Hussein, parece o mesmo 13 anos depois. Pobreza, atentados, crianças privadas de estudar e vítimas de bombas são retratos de uma zona de guerra em que as notícias parecem se repetir.
Um exemplo disso é que, em 28 de março de 2003, a Folha noticiou a explosão de um armamento (supostamente da coalizão anglo-americana) que fez com que um jovem de 20 anos, homônimo do ditador iraquiano perdesse o braço.
“Saddam Hussein é estudante do segundo grau, tem 20 anos de idade, ganhou este nome do pai em homenagem ao presidente iraquiano e estava fazendo compras em Al Tadji, o paupérrimo centro comercial do paupérrimo subúrbio de Al Shola, localizado no norte de Bagdá, quando dois mísseis que supostamente seriam da coalizão anglo-americana teriam atingido por engano o meio da praça”, descreveu o texto da seção “Diário de Bagdá”, assinado por Sérgio Dávila.
No último sábado, 19 de novembro, a Folha trouxe em suas páginas a história de outra mutilação no Iraque, que, mesmo após o enforcamento do ditador, não desenvolveu uma democracia e atualmente é palco das disputas entre a milícia terrorista Estado Islâmico e as forças iraquianas.
“Abdurrahman perdeu a mão, segundo conta, há pouco mais de um mês, quando fugia com a família de uma batalha entre o Estado Islâmico e as forças iraquianas em um vilarejo a cerca de 50 quilômetros ao sul de Mossul”, descreveu a reportagem de Yan Boechat.
O menino de nove anos, torcedor do Real Madrid e que gosta de estudar, foi treinado pelo EI. Vítima de um morteiro disparado pela própria milícia, Abdurrahman conta como era parte do treinamento. “Eles nos ensinavam a degolar as pessoas com livros. Eles mostravam figuras e nos diziam como deveríamos fazer, mas nunca fizemos”.
Os jovens recrutados pelo EI aprendiam como montar uma bomba improvisada, a segurar e a atirar com um AK-47 e até a maneira correta e mais eficiente de degolar uma pessoa.
Em 30 de dezembro de 2016, completará dez anos que Saddam Hussein, o ditador, foi enforcado. Mas, para quem vive no Iraque, com ou sem ele, a guerra –a tristeza e as vítimas que produz diariamente– nunca acabou.