Há 25 anos, SOS Mata Atlântica luta pelo Tietê

A história da SOS Mata Atlântica está ligada a um dos maiores desafios ambientais do país: a despoluição do rio Tietê.

Isso porque, desde 1991, quando conseguiu reunir 1,2 milhão de assinaturas através de uma petição pública, a ONG encampa o Projeto Tietê.

Dois meses após o encontro com o presidente Collor, em outubro de 1991, o governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB-SP), obteve promessa de empréstimo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) no valor de US$ 1,150 bilhão, para o projeto de despoluição do Tietê.

Na ocasião, a Folha noticiou que se tratava da primeira vez que o projeto era divulgado em detalhes pelo governo estadual. O objetivo era reduzir até 1994 entre 50% e 60% o volume de poluição jogado no Tietê.

“Em torno de oito anos já será possível pescar”, disse Fleury.

Margens do rio Tietê com a placa do projeto de recuperação e despoluição. (Foto: Helcio Nagamine - 23.set.1993/Folhapress)
Margens do rio Tietê com a placa do projeto de recuperação e despoluição (Foto: Helcio Nagamine – 23.set.1993/Folhapress)

Em 1994, o Núcleo Pró-Tietê, da Fundação SOS Mata Atlântica, inaugurava um programa de educação ambiental e monitoramento da qualidade das águas do rio Tietê.

À época, a Folha havia revelado que o IQA (Índice de Qualidade das Águas) das águas do rio coletadas na estação Edgard de Souza, em Santana de Parnaíba (SP), havia caído durante o governo Fleury.

Mário Mantovani, coordenador do Núcleo Pró-Tietê, da Fundação SOS Mata Atlântica (atualmente diretor de políticas públicas do órgão), criticou o comportamento do governo em relação às informações sobre o programa de despoluição do Tietê.

“É uma situação gravíssima. É mais fácil obter dados sobre o Tietê em Washington do que em São Paulo”, afirmou.

Em 25 de janeiro de 2010, nos 456 anos da cidade de São Paulo, a Folha publicou o caderno “São Paulo 456 anos“. O especial trouxe 16 páginas, dez delas sobre o Tietê, com suas histórias, enchentes, problemas e personagens.

Uma das matérias, assinada pelo repórter Eduardo Geraque, trouxe o título “Rio já está morto mesmo com o projeto de despoluição“.

Apesar de triste, a afirmação fazia sentido. “Mesmo que o programa de despoluição do rio paulista atinja as suas metas em alguns anos e praticamente corte o fornecimento de esgoto para o Tietê, ele nunca mais vai ter peixes. O rio está morto, porque a carga de poluição difusa [toda sujeira despejada no rio sem ser esgoto] será sempre longe de zero.”

Malu Ribeiro, coordenadora da Rede de Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, explicou: “Você pode até ter um ou outro peixe entrando [sob a ponte das Bandeiras ou dos Remédios, por exemplo] mas ele vai viver pouco tempo e morrer”.

Decorridos 21 anos do lançamento da campanha pela despoluição do Tietê, Malu Ribeiro alertou, em análise publicada na Folha, para os problemas políticos do projeto.

“A falta de transparência e a ausência de um pacto para gestão integrada da bacia hidrográfica do Alto Tietê -que engloba os 34 municípios da região metropolitana- durante a primeira etapa do projeto, associada a seu uso político, com a divulgação em ano eleitoral de que, em curto espaço de tempo seria possível beber água do rio, por pouco não fizeram com que ele caísse em descrédito”, disse.

Só a capacidade financeira e o investimento em tecnologias para a recuperação da água não resolvem o problema da poluição. Exemplo disso é que, de acordo com a Sabesp, até agora foram investidos US$ 2,6 bilhões para despoluir o Tietê –entre aportes do governo do Estado, BID e Caixa Econômica Federal.

“A ocupação desordenada e o aumento de moradias irregulares desprovidas de coleta e tratamento de esgotos impõem a necessidade da atuação integrada do Estado, União, municípios e da sociedade”, alertou Malu, na página Tendências / Debates, em fevereiro de 2014.

Atividade promovida pela Fundação SOS Mata Atlântica, próxima a Ponte das Bandeiras. (Foto: Almeida Rocha - 22.set.2009/Folhapress)
Atividade promovida pela Fundação SOS Mata Atlântica, próxima a Ponte das Bandeiras (Foto: Almeida Rocha – 22.set.2009/Folhapress)

O trecho do Tietê que está dentro da capital de São Paulo tem 49,6 km de extensão e recebe, por meio dos afluentes, as cargas de esgoto não tratado de toda a bacia hidrográfica que abrange a região metropolitana. E, de acordo com a SOS Mata Atlântica, requer ação integrada dos governos.

Um dos pontos que também prejudicaram o andamento do projeto de despoluição do Tietê, que se encontra na terceira de seis fases, foi o fim do programa Córrego Limpo, que deveria tratar 110 afluentes do Tietê numa parceria entre Prefeitura de São Paulo e Sabesp.

“Se a gente vier salvando os córregos, os afluentes, as nascentes urbanas, salva a bacia. Não adianta olhar só para o Tietê: ele é reflexo de tudo o que é jogado nele”, disse Malu.

Assim como no início, em 1991, a SOS Mata Atlântica acredita que o sucesso depende de ampla participação social e governamental. “Temos que acabar com a categoria que permite rio morto no país. Só com mobilização vamos tomar posse do rio”, resume Malu.

 

Leia Mais sobre a atuação da SOS Mata Atlântica e sua participação no processo de despoluição do rio Tietê e no desmatamento da mata atlântica neste link.