Há 10 anos, morreu Braguinha, compositor de 500 canções, entre elas ‘Copacabana’ e ‘Carinhoso’

Há 10 anos, no Rio de Janeiro, aos 99 anos, morria Braguinha, um dos maiores compositores brasileiros, devido a infecção generalizada.

Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, também conhecido como João de Barro –apelido que escolheu porque o pai não queria o sobrenome associado ao meio boêmio–, foi compositor, cantor, autor e produtor.

É considerado por críticos e artistas, como Nana Caymmi, um dos maiores nomes da música brasileira de todos os tempos. “É o compositor mais importante do país, com marchinhas, sambas-canção. Não tem nada mais bonito do que ‘Copacabana'”, disse a cantora.

Natural do bairro da Gávea, o Rio, Braguinha iniciou sua carreira na música no conjunto Bando dos Tangarás, formado também por Noel Rosa, Almirante, Henrique Brito e Álvaro Miranda. E teve como seus primeiros sucessos “Moreninha da Praia” e “Linda Lourinha”, de 1933.

Depois, seja com parcerias, seja sozinho, Braguinha compôs uma série de sucessos, como “Carinhoso”, em 1937, com Pixinguinha, “Pastorinhas”, em 1938, com Noel Rosa, “Balancê”, em 1937, e “Chiquita Bacana”, em 1949, com Alberto Ribeiro, além de “Copacabana”, em 1946, feita sob encomenda para o produtor americano Wallace Downey e imortalizada na gravação de Dick Farney.

João de Barro, o Braguinha, presente na abertura oficial do Carnaval (Foto: Lewy Moraes/Folhapress)
João de Barro, o Braguinha, presente na abertura oficial do Carnaval (Foto: Lewy Moraes/Folhapress)

Autor de músicas da Bossa Nova, sambas-canção e marchinhas, Braguinha também se destacou por produções voltadas ao público infantil. A partir da década de 1940 começou dublar personagens de filmes de Walt Disney, como “Branca de Neve e os 7 Anões”, o primeiro longa-metragem de Walt Disney exibido no Brasil.

Também adaptou fábulas e histórias infantis. “Chapeuzinho Vermelho”, “Branca de Neve”, “Os Quatro Heróis” e “O Pequeno Polegar” estão entre as obras musicadas por Braguinha.

Os temas infantis estavam em sua vida como as centenas de músicas compostas ao longo de sua carreira. Em 1981, falou à Ilustrada sobre o pedido de Grande Otelo da adaptação teatral de “Viveiro de Pássaros”, uma de suas histórias. “Estas músicas infantis são importantes como o resto da minha carreira”, afirmou o compositor.

Recorrente em sua trajetória, como as regravações de marchinhas e os sambas, as canções para os pequenos também fizeram sucesso. Luiz Tatit, cantor e compositor, resenhara a convite da Folha, em 1988, a coleção “Festival Infantil”, com músicas criadas, versadas e adaptadas por João de Barro.

Quase dez anos depois, em 28 de março de 1997, véspera de seus 90 anos, a Folhinha destacou a obra do compositor em “Braguinha faz sucesso com canções infantis”. No mesmo ano, foi lançada a coletânea “João de Barro/Braguinha 90”.

Como Copacabana e Braguinha estavam intimamente ligados, foi no bairro da zona sul carioca, precisamente na praça Demétrio Ribeiro, que em 2004 foi inaugurada uma estátua em sua homenagem.

Inauguração da estátua do compositor Braguinha, que aos 97 anos compareceu à cerimônia, em Copacabana (Foto: Tuca Vieira – 19.fev.2004/Folhapress)
Inauguração da estátua do compositor Braguinha (Foto: Tuca Vieira – 19.fev.2004/Folhapress)

Vítima da doença de Alzheimer, o compositor foi se afastando da vida social. Morreu a 95 dias de completar 100 anos, na véspera de Natal. A razão da longevidade? “Nunca vivi extremos, sempre vivi um meio-termo gostoso”, dizia.

Braguinha revelou que, das queixas da vida, só tinha uma. “Uma menina que eu namorei e um dia encontrei beijando outro.” Ele fez uma música sobre o caso, mas não guardou mágoas. “Nem me lembro mais dela.”

Sérgio Cabral (pai do ex-governador do Rio), jornalista e escritor, escreveu sobre a importância da obra de Braguinha, logo após sua morte.

Em 10 de fevereiro de 1997, em conversa com a Folha sobre seus 90 anos e o Carnaval, ele afirmou ao jornal que tinha 500 músicas gravadas, “entre elas muitas de Carnaval, dependendo do assunto do ano, do coração das meninas que eu conhecia”.

A profusão, acreditava ele, residia na naturalidade. “Quem nasce pra fazer verso nunca vai ter dificuldade para criar música. Eu vou escrevendo verso como se fizesse prosa. Sai tudo muito fácil.”