Há 15 anos, música brasileira perdia Cássia Eller

Alberto Nogueira

Nesta quinta-feira (29) a música brasileira completa 15 anos sem uma de suas mais poderosas vozes femininas: Cássia Eller.

Nascida no Rio em 10 de dezembro de 1962, Cássia Rejane Eller teve seu nome sugerido por uma avó devota de Santa Rita de Cássia.

Até os 18 anos de idade, a garota carioca da voz rouca morou em diferentes lugares do país, como Belo Horizonte (MG), Santarém (PA) e Brasília (DF).

No meio dessa fase de mudanças, aos 14 anos, a menina ganhou um violão. Nele tocava, principalmente, músicas dos Beatles.

Já na maioridade, quando vivia na capital brasileira, fez testes para musicais, cantou em corais e foi corista em duas óperas, além de ter participado de um show de Oswaldo Montenegro.

Mas, ao atingir a fase adulta, Cássia precisava dividir sua vontade de cantar com outras responsabilidades, como o trabalho.

“Quando criança, queria fugir com o circo, mas acabei sendo garçonete e cozinheira, aos 18 anos, em Brasília”, disse à Folha em 1999.

Um ano depois, ela foi para Minas Gerais e trabalhou como servente de pedreiro. “Fiz massa e assentei tijolos.”

Em sua volta para Brasília, foi secretaria no Ministério da Agricultura, na vaga que era de uma amiga. “Fui demitida no terceiro dia. Aí resolvi só cantar.”

Então, em 1989, deu um “start” na carreira musical. Gravou uma fita demo em São Paulo, com o apoio de seu tio Anderson -seu primeiro empresário-, que a entregou para a gravadora Polygram.

No cassete estava gravada a música que se tornaria seu primeiro sucesso: “Por Enquanto”, de Renato Russo.

Com isso ela conseguiu assinar com a gravadora e, em 1990, lançar seu primeiro disco. Até a sua morte, foram dez álbuns: “Cássia Eller (1990), “O Marginal” (1992), “Cássia Eller” (1994), “Cássia Eller Ao Vivo” (1996), “Veneno” (1997), “Minha História” (1997), “Música Urbana” (1997), “Veneno Vivo” (1998), “Com Você Meu Mundo Ficaria Completo” (1999) e “Acústico MTV” (2001).

VIDA E MORTE

No ano de 1993, a cantora deu à luz a Francisco Ribeiro Eller –que mais tarde se transformaria no cantor Chico Chico. O filho foi fruto de um relacionamento com Tavinho Fialho, músico de sua banda, morto pouco antes do parto.

Homossexual assumida, Cássia Eller manteve até sua morte relacionamento de 14 anos com Maria Eugênia Viera Martins, que ficou com a guarda de Chico.

Cássia Eller teve problemas com drogas. A própria cantora assumiu o vício em 2001, em entrevista à Folha, na época do lançamento de “Acústico MTV”: “Quando me mostraram essa música, eu estava fazendo tratamento de desintoxicação de cocaína, que durou de 1998 a 2000. Encontrei Jesus, sigo com ele até hoje, limpinha”, contou, entre gargalhadas, ao se referir à música “De Esquina”, do rapper Xis, interpretada por ela no disco, em companhia dele.

Muitas vezes de uma personalidade tímida misturada à rebeldia típica de uma adolescente, a carioca agitava o público em seus shows. E isso pôde ser visto em sua apresentação no Rock in Rio 3, em 2001, quando, durante cover de “Come Together”, dos Beatles, acompanhada pela Nação Zumbi, levantou sua regata e mostrou os seios.

Cássia Eller morreu em 29 de dezembro de 2001, aos 39 anos, após sofrer três paradas cardíacas. Ela havia sido internada na clínica Santa Maria, em Laranjeiras (zona sul do Rio).

A artista foi enterrada no cemitério Jardim da Saúde, na zona oeste do Rio, ao som de dois de seus principais sucessos, “Malandragem”, de Frejat e Cazuza, e “Segundo Sol”, de Nando Reis, um dos seus grandes amigos. O músico, que compôs diversas músicas para Cássia, chorou muito.

“Uma característica que faz de um cantor um grande cantor é tomar para si as músicas como se fossem dele. Ela tinha essa intensidade. A característica explosiva dentro dela é rara”, disse o ex-integrante dos Titãs.

Cerca de 500 pessoas acompanharam o enterro, entre eles os cantores Djavan, Adriana Calcanhoto, Zélia Duncan, Agnaldo Timóteo e Jerry Adriani. Uma bandeira do Atlético-MG, seu time do coração, cobriu seu caixão.

A morte de Cássia Eller teve contornos polêmicos, como supostos erro médico da clínica que a atendeu e abuso de drogas por parte da cantora.

Contudo exames toxicológicos realizados pelo IML do Rio deram negativo para a presença de drogas e álcool no corpo da cantora.

A Polícia Civil encerrou as investigações em fevereiro do ano seguinte ao dizer que “infarto do miocárdio consecutivo a múltiplas paradas cardiorrespiratórias”, apontado pelo laudo, era conclusivo sobre a morte da cantora.