Na década de 1980, políticos pichavam cidade de São Paulo para fazer propaganda eleitoral

Jair dos Santos Cortecertu

“A pichação está crescendo. Se você não tomar cuidado, sua casa vai no embrulho também”, afirmou o então diretor do Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), Romeu Tuma, em reportagem da Folha de outubro de 1982.

Diferente da guerra aos pichadores declarada pelo atual prefeito de São Paulo, João Doria, no início dos anos 1980 os protagonistas da contravenção não eram os jovens que escalam prédios para deixar suas marcas, e sim os políticos.

Candidatos a diferentes cargos usavam a pichação como forma de propaganda eleitoral e estavam na mira do delegado Romeu Tuma. Mas o protesto do diretor do Masp (Museu de Arte de SP), Pietro Maria Bardi, fez com que o delegado buscasse orientação junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ao Ministério da Justiça.

Cansado das pichações que fazem propaganda política, Pietro Bardi mandou um funcionário escrever "merda" nas paredes do Masp. (Foto: Davi de Barros - 1982/Folhapress)
Protesto de Pietro Bardi no Masp. (Foto: Davi de Barros/Folhapress)

Cansado das pichações, Bardi mandou escrever “merda” sobre o nome do candidato a deputado estadual pelo PMDB, Jair Andreoni, um dos recordistas de pichações da época.

“Minha reação não foi política. Foi só para dar uma demonstração de que é injusto pichar uma obra pública como essa, que é um monumento tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. Quando vi aquelas pichações enormes, eu só podia fazer isso, mandar escrever ‘merda’ em cima”, disse.

A atitude de Pietro Maria Bardi, considerada obscena, gerou uma série de discussões sob o aspecto ético e jurídico, envolvendo nomes como Aurélio Buarque de Holanda, Antonio Houaiss e Austregésilo de Athayde.

Em 1985, o secretário das Administrações Regionais, Sampaio Dória, prometeu mais rigor contra os pichadores.

A Prefeitura destinou verba para que 150 funcionários, em caráter permanente, apagassem frases como: “Deputado Silveira – Viva a Nova República”, “Andreoni Já” e “Jânio Prefeito 85”.

“Esta é uma modalidade de publicidade cara demais para a coletividade. É bom esse pessoal contratado que sai pelas ruas pichando saber que poderá ser detido e fichado pela polícia, além de pagar multa”, advertiu o secretário.

Discordando de Dória, o deputado federal Gastone Righi, do PTB, não viu problemas em utilizar a pichação como propaganda eleitoral. Já o campeão dos muros, Jair Andreoni, justificou: “São amigos tentando colaborar. Sou um dos deputados mais jovens do PMDB e tenho apoio do jovem; essa meninada é que deve fazer isso”.

Avenida 23 de Maio
acima: avenida 23 de Maio com pichações de políticos, na década de 1980; abaixo à esq: muro com grafites na avenida 23 de Maio; abaixo à dir: muro da avenida 23 de Maio pintado de cinza. (Fotos: Folhapress)