Há 95 anos, Pier Paolo Pasolini nascia para dar ao cinema um tom crítico que o fez ser perseguido
Há 95 anos, nascia na Bolonha (Itália) o cineasta, poeta e escritor Pier Paolo Pasolini. Filho de um militar de carreira e de uma professora primária, ingressou em 1939 na Universidade de Bologna para estudar literatura.
Antes de estrear como cineasta, publicou dois livros: “Meninos da Vida” (1955) e “Uma Vida Violenta” (1959). Sua vivência em Roma na década de 1950 forneceu as representações do submundo da cidade que estão nessas obras e no filme em que debutou como diretor, “Accattone – Desajuste Social” (1961).
“A criminalidade nos bairros de Roma é tão atrozmente desumana que essa gente já não tem uma moral”, disse em entrevista à revista “Juventude Comunista”. “As pessoas se tornaram completamente amorais”, completou.
Sua obra célebre é “O Evangelho Segundo São Mateus” (1964), que foi fortemente atacada pelo Vaticano. Somente em 2014, quase 40 anos após sua morte, é que a Santa Sé (que o perseguiu e o condenou por blasfêmia) declarou ser este “o melhor filme já feito sobre Jesus Cristo”, além de digitalizá-lo por sua própria filmoteca.
Outras obras também receberam o reconhecimento da crítica como “Édipo Rei” (1967), “Medéia” (1969) –estrelado pela soprano Maria Callas–, e a “Trilogia da Vida”, como Pasolini definiu as obras “Decameron” (1971), “Os Contos de Canterbury” (1972) e “As Mil e Uma Noites” (1974), vencedor Grande Prêmio do Júri em Cannes.
Marxista, homossexual e crítico da sociedade de consumo, o cineasta ficou marcado nas artes por suas críticas à violência, a defesa dos pobres e das minorias.
Foi assassinado a pauladas por Giuseppe Pelosi, em 2 de novembro de 1975, em Óstia, próximo a Roma. Segundo a polícia, também foi atropelado com o próprio automóvel (um Alfa Romeo), no qual Pelosi tentara fugir.
Seu assassinato, confirmado pelo agressor e pela polícia, ainda suscita dúvidas sobre o verdadeiro autor (ou autores), como questiona o cineasta Abel Ferrara na cinebiografia “Pasolini” (2014), estrelada por Willem Dafoe. O filme tenta reconstituir as últimas horas do cineasta e indaga a real intenção sobre sua morte.
Sabe-se, por exemplo, que Pelosi confessou o crime e foi condenado um ano depois, em 1976. Entretanto, um exame conduzido pelo médico forense Dr. Faustino Durante concluiu que “Pasolini foi vítima de um ataque conduzido por mais de uma pessoa”.
Por suas observações sociais e até por suas colunas no jornal italiano “Corriere della Sera”, Pasolini esteve à frente de seu tempo. Meses antes de sua morte fez críticas à televisão como meio de influência perniciosa e previa a ascensão ao poder de um magnata de mídia, tal como Berlusconi.
Seus pontos de vista e reflexões o levaram, talvez, a antever seu próprio fim. “Sou um homem que ama a vida ferozmente, desesperadamente, e isso não pode resultar bem”, sentenciou Pasolini.