Há 5 anos, humor brasileiro perdia Chico Anysio e mais de duas centenas de seus personagens

“Se um dia a história for justa com a memória dele, terá de dizer, no mínimo, que foi maior do que Charles Chaplin.”

Com essas palavras, o ator Lúcio Mauro, 90, encerrou depoimento à Folha sobre o amigo Chico Anysio, morto há cinco anos.

Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho nasceu na cidade cearense de Maranguape, em 12 de abril de 1931. Aos sete anos de idade, mudou-se com a mãe e os irmãos Elano de Paula, Zelito Viana (cineasta) e Lupe Gigliotti (atriz) para o Rio.

A carreira de Chico Anysio, um dos maiores nomes do humor brasileiro, criador de mais de duas centenas de personagens, donos de célebres bordões, teve início na Rádio Guanabara.

Foi no rádio, inclusive, que, em 1952, surgiu a “Escolinha do Professor Raimundo”. Programa este que imortalizou seu mais famoso personagem, um docente mal remunerado (“E o salário, ó!”) que dá aulas para uma turma cheia de “figuras”.

Sua estreia nas telinhas se deu cinco anos depois, em “Aí Vem Dona Isaura”, da TV Rio, na pele do Professor Raimundo. Mais tarde, na mesma emissora, em 1962, ganhou seu próprio humorístico, “Chico Anysio Show”.

Em 1969, o ator entrou na Globo, onde no ano seguinte estreou o humorístico “Chico Anysio Especial”. Três anos depois, foi a vez de “Chico City”, uma pequena cidade repleta de seus personagens.

Durante toda sua carreira, Chico Anysio criou 209 personagens, entre os quais se destacam –com chances de cometer injustiças– Professor Raimundo, Bento Carneiro -o vampiro brasileiro (“Minha vingança será maligna”)-, Nazareno (“Ca-la-da”), o político Justo Veríssimo (“Eu quero que pobre se exploda”), o galã e ancora Alberto Roberto (“Não ‘garavo’), o jogador de futebol vesgo e ruim de bola Coalhada (“Depois eles dizem que o Coalhada é isso, que o Coalhada é aquilo…”) e Painho (“Eu sou doido por uma neguinha”), um pai de santo homossexual que lê búzios.

E ele se orgulhava dessa diversidade de tipos: “Meu programa era absolutamente crítica social. Sempre defendi o pobre, o preto, o nordestino, o retirante, o mendigo, o preso, o esfarrapado. Rico nos meus programas sempre fez papéis ridículos. Era uma maneira de dar um sonho, que fosse, para o povão”, disse em entrevista ao “Roda Viva”, em 22 de junho de 1993.

Chico também atuou em quadros do “Fantástico”, do “Zorra Total” e de novelas (como “Caminho da Índias”), trabalhou como locutor de rádio, diretor de rádio e TV, comentarista esportivo, fez filmes, pintou, gravou mais de 30 discos e escreveu mais de 20 livros de contos, além de uma autobiografia. Foi uma vida ativa, e era assim que ele gostaria de morrer.

Também existiram momentos ruins na carreira do comediante, como quando viu a “Escolinha” sair do ar, ou quando ficou um tempo na “geladeira”. Nesse período, criticou a Globo e colegas, como já havia feito no passado, quando disse que estava ocorrendo uma “juvenilização” na emissora e quase assinou com o SBT.

“Não existe humor novo. Existe humor engraçado e sem graça. O humor novo é uma bobagem. Se os Três Patetas aparecessem hoje, eles seriam engraçadíssimos”, disse Chico Anysio à Folha, em 2009.

FAMÍLIA

Chico Anysio casou-se seis vezes. Um desses relacionamentos foi com a ex-ministra da Fazenda do governo Collor, Zélia Cardoso de Mello, com quem teve dois filhos. Ao morrer, deixou viúva sua última mulher, Malga di Paula.

Falando sobre filhos, o artista foi pai de nove (um adotivo e um enteado). Atuou com dois deles na “Escolinha”, Lug de Paula, o “passa fome” Seu Boneco, e Nizo Neto, o nerd Ptolomeu. Recentemente foi homenageado pelo filho Bruno Mazeo, ator que interpretou o icônico Professor Raimundo em uma série especial televisionada aos domingos pela Globo.

MORTE

Internado em novembro de 2011, Chico Anysio, 80, sofreu uma série de problemas cardiorrespiratórios e digestivos até sua morte, em 23 de março do ano seguinte. Foram mais de seis décadas de carreira. Desde então, não há substituto.