Há 75 anos, era fundada a mineradora Vale

Há 75 anos, era criada por meio de decreto-lei (nº 4.352), durante o governo Getúlio Vargas, a Companhia Vale do Rio Doce, que tinha como seu principal acionista o governo federal.

Devido ao impacto da 2ª Guerra Mundial na economia global, o governo decidiu criar a Companhia Vale do Rio Doce com o intuito de aumentar a produção mineral do Brasil.

A companhia deveria explorar o tráfego da Estrada de Ferro Vitória a Minas e promover o desenvolvimento da região do vale do rio Doce com recursos provenientes de fundo originário de uma parcela dos lucros líquidos obtidos pela empresa.

A partir da década de 1950, a companhia se consolidou como empresa exportadora sob as administrações de Juracy Magalhães (1951 – 1952) e Francisco de Sá Lessa (1952 – 1961).

O aparelhamento do complexo mina-ferrovia-porto como operação contínua, sem excessos, pesquisas de aproveitamento e política de comercialização agressiva levaram a Vale a atingir a meta de 8 milhões de toneladas de minério de ferro em 1960, prevista no Plano de Metas do governo Juscelino Kubistchek.

Já nos anos 70, a CVRD desenvolveu uma política de diversificação de atividades que a levou a envolver-se na produção de bauxita/alumina/alumínio, manganês, titânio, fosfato/fertilizantes, madeira/celulose, pelotas e ferritas magnéticas num processo que transformou a companhia num grande conglomerado empresarial estatal.

A CVRD cruzou a década de 1980 mantendo a política de diversificação de atividades. A produção de ouro começou em 1984, crescendo em ritmo acelerado nos Estados da Bahia e do Pará. Assim, a empresa tornou-se a maior produtora individual de ouro na América Latina ao atingir a marca de 12 toneladas em 1993.

PRIVATIZAÇÃO

Em 1997, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a Vale −até então Companhia Vale do Rio Doce− foi vendida por R$ 3,3 bilhões (cerca de R$ 11,3 bilhões, em valores corrigidos) ao Consórcio Brasil, liderado pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional).

O grupo comprou 41,73% das ações com direito a voto, dos quais 16,3% ficaram com a CSN; 10,43% com a Litel Participações (fundos de pensão); 10% com a Eletron S/A (liderada pelo banco Opportunity); e 5% com a Sweet River (Nations Bank).

O Consórcio Brasil derrotou o Consórcio Valecom (liderado pelo grupo Votorantim) no leilão. A venda representou um ágio de 19,99% sobre o preço mínimo. À época, em Montevidéu (Uruguai), FHC reagiu ao anúncio dizendo que “o governo agiu direito”.

A privatização da companhia gerou turbulência desde seu anúncio, em janeiro de 1997. À época a Vale, a fim de refutar informações de que não era rentável e de aplacar movimentos contrários ao leilão, publicou informe de rentabilidade na Folha a fim de justificá-lo e explicitou que a companhia estava “no mesmo nível de outras grandes mineradoras do mundo”.

O leilão, apesar de começado às 12h11 e ser finalizado 17h47 do dia 6 de maio de 1997, teve duração de apenas 12 minutos.

O evento foi realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (adquirida em 2002 pela BM&F por meio de fusão) e esteve interrompido por mais de cinco horas, em virtude de liminares na Justiça Federal que foram cassadas no final do dia.

Leilão da Companhia Vale do Rio Doce, na Bolsa do Rio (Foto: Eduardo Knapp – 6.mai.1997/Folhapress)

Mesmo tendo chegado ao fim, o resultado continuou em suspense. O advogado-geral da União Geraldo Quintão declarou no dia que a CSN “ganhou, mas não levou”.

A privatização não causou celeuma somente nos campos políticos e jurídicos. No dia do leilão, cerca de 300 manifestantes protestaram em frente ao prédio da Assembleia Legislativa do Rio.

Eles ameaçavam invadir o prédio da Bolsa de Valores, localizado próximo ao local da manifestação. Houve confronto entre a PM e manifestantes e pelo menos sete pessoas ficaram feridas.

Na véspera do leilão, o ministro do Supremo Tribunal de Justiça, Demócrito Reinaldo, cassou 27 liminares contra a venda da Vale, incluindo a principal delas, concedida a advogadas de São Paulo. O ministro justificou sua decisão em face do “tumulto que se estabeleceu em decorrência do aforamento de inumeráveis ações”.

A principal delas, impetrada por oito advogados na 6ª Vara Federal, em São Paulo, apontava irregularidades cometidas pelo BNDES no processo de desestatização e foi publicada na íntegra na Folha −ocupou página inteira.

Após a vitória da CSN ainda havia liminares impedindo a ratificação da privatização da Vale. No dia 8 de maio, o TRF (Tribunal Regional Federal) do Rio de Janeiro cassou liminar (decisão provisória) que suspendia os efeitos do leilão. Dez juízes se manifestaram pela cassação da liminar e cinco foram contra.

MUDANÇA DE NOME

Sob a gestão Roger Agnelli −morto em 2016, num acidente com um monomotor, em São Paulo−, que durou 10 anos (de 2001 a 2011), o lucro líquido da Vale saltou de US$ 1,3 bilhão para US$ 22,9 bilhões, e as ações da empresa subiram cerca de 1.500%.

Também com Agnelli a Companhia Vale do Rio Doce mudou de nome. Em 2007, a empresa passou a se chamar apenas Vale.

Após seis anos na presidência, Murilo Ferreira −que substituiu Agnelli− deixou o comando da Vale. Em seu lugar entrou Fabio Schvartsman, que deixou a presidência da Klabin, que ocupava desde 2011, para assumir a chefia da mineradora. A escolha foi aprovada pelos acionistas da empresa em 27 de março.

Como presidente-executivo da Vale, terá como principal missão tocar o processo de pulverização do controle da companhia, anunciado em fevereiro.

Roger Agnelli, ex-presidente da Vale (Foto: Fabio Braga – 7.nov.2013/Folhapress)