UOL - O melhor conteúdo

GUGA HÁ 20 ANOS: Favorito pela 1ª vez em Roland Garros, brasileiro bate ‘zebra’ belga e vai à final

Depois de deixar para trás dois tops cinco do ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), Thomas Muster (5º) e Yevgeny Kafelnikov (3º), o tenista Gustavo Kuerten (66º) disputaria a semifinal do Aberto da França contra o azarão Filip Dewulf, da Bélgica, então número 122 do mundo.

Mas o inédito favoritismo em Roland Garros não alterou a rotina de Guga, que tinha treinos físico, com bola, tático e, depois, diversão. “Vou manter o mesmo ritmo desde o início do torneio, que está dando certo. Vou ficar pelas quadras, acompanhar jogos, treinar um pouco e jogar videogame no final da tarde”, disse à Folha.

O tenista creditou o seu bom desempenho no Grand Slam francês a sua forma física: “Peguei alguns jogos duríssimos. Se não estivesse bem preparado, não aguentaria”. “Ele [Kafelnikov — nas quartas de final] estava mais cansado e começou a arriscar. Minha vantagem foi eu ter mantido o ritmo”, afirmou.

A ótima performance do brasileiro também refletiu no aumento do assédio por parte dos fãs e da imprensa. “As pessoas estão me acompanhando mais, pedindo autógrafos. Isso só acontece com os grandes [tenistas] de Roland Garros. Mas foi pouco a pouco, conforme fui ganhando. É normal”, concluiu.

Adversário naquela semifinal de 6 de junho de 1997, Dewulf, que não estava nem entre os cem melhores do mundo, veio do qualifying e chegar aonde chegou era uma surpresa maior do que Kuerten. Dentre seus feitos no torneio, eliminou o brasileiro Fernando Meligeni (88º), na segunda rodada, e o catalão Alex Corretja (7º), nas oitavas de final.

O belga, portanto, vinha tão motivado quanto o catarinense. Seu principal ponte forte era a potente mão direita.

Por outro lado, o tenista da Bélgica não tinha uma boa devolução de saque e seu jogo de rede era limitado. E o técnico brasileiro, Larri Passos, ciente disso, na véspera do jogo fez Guga trabalhar um saque com mais efeito e menos potência.

“O próximo adversário do Gustavo é um grande jogador, mas não tem nenhuma grande arma que possa preocupar. Por isso, Gustavo, faça o seu melhor possível. Solte o braço e bola pra frente!!!”, escreveu Meligeni em texto para a Folha.

E foi isso que Guga fez em quadra no primeiro set. Impôs o seu ritmo e venceu por 6/1.

Mas o belga voltou melhor, fez o brasileiro correr bastante e empatou a partida ao vencer por 6/3. Guga demonstrava nervosismo, diferentemente de outras partidas. E a torcida de Dewulf crescia com gritos de “Allez, Filip” (Vai Filip), abafando o apoio brasileiro nas arquibancadas da quadra central.

“Ele foi muito bem no segundo set. Aí eu tentei me controlar para voltar mais forte no terceiro”, disse Guga, que retornou com muita vibração e conquistou o set seguinte com outro 6/1.

O quarto set foi marcado pelo equilíbrio.  Depois de empatarem em 6/6, foram para o tie-break (desempate). Dewulf chegou a abrir 2 a 0 no marcador, mas Kuerten se recuperou. Os dois empataram em 3 a 3 e depois em 4 a 4, mas Guga fez três pontos seguidos, que colocaram fim nas 2h14min de jogo disputados até ali.

“Eu pus na minha cabeça que ia me divertir com a semifinal”, disse o tenista brasileiro após o jogo, ao comentar sua reação na partida.

A classificação à final rendeu ao tenista um prêmio de cerca de US$ 350 mil na época, que poderia ser dobrado caso ele vencesse seu adversário do dia 8 de junho, o espanhol Sergi Bruguera (19ª), que ganhou na outra semifinal do australiano Patrick Rafter.

“Sei que ganhei muito dinheiro nesta semana, mas não vou mudar minha maneira de viver. Tenho tudo o que preciso”, disse Kuerten.

Indagado sobre a possibilidade de título ante o bicampeão de Roland Garros (1993-1994), Bruguera, Guga foi direto: “E por que não?”.

Comentários 0

Avatar do usuário

Avatar do usuário

960

Compartilhe:

Ao comentar você concorda com os termos de uso

    Os comentários não representam a opinião do portal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
    Leia os termos de uso