Há 45 anos, começava o caso Watergate, escândalo que levou Nixon à 1ª renúncia presidencial nos EUA

Há 45 anos, cinco homens foram presos quando tentavam colocar escutas telefônicas nos escritórios do Partido Democrata, no condomínio Watergate.

A este evento sucedeu-se uma série de investigações, cobertura jornalística e, dois anos depois, a renúncia de Richard Nixon –37º presidente dos Estados Unidos e o único a declinar do cargo.

Quem primeiro noticiou a invasão ao comitê democrata foi o jornal “Washington Post”. Os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein tornaram-se os principais nomes no desenvolvimento
e na publicação do escândalo que acabou mundialmente conhecido como caso Watergate.

Uma dessas notícias, veiculada pouco mais de três meses depois da invasão, era a de que agentes do FBI haviam descoberto que a invasão ao escritório do Partido Democrata era parte de uma série de ações de sabotagem e espionagem política conduzidas em nome da campanha para reeleger Nixon.

Os jornalistas Bob Woodward (dir.) e Carl Bernstein, do jornal “The Washington Post”, que ganharam o prêmio Pulitzer pelas reportagens do caso Watergate. (Foto: Associated Press)

A cobertura extensa do Post levou a um choque entre o jornal e a Casa Branca. Mas os repórteres tiveram apoio do então editor-executivo Ben Bradlee e da publisher Katherine Graham –e acabaram coroados em 1973 com o Prêmio Pulitzer na categoria Public Service.

Entre os homens que trabalhavam para o ex-presidente e que vieram a ser investigados e condenados estava James McCord, o primeiro sentenciado no caso (em janeiro de 1973) e que esteve na invasão de Watergate.

Mais de um ano após as primeiras reportagens, Nixon declarou: “Não sou um bandido”. E reiterava que era inocente no caso Watergate.

Assessores, secretários, ex-agentes, figuras ligadas ao presidente, um a um foram sendo descobertos e convocados a depor. Ao todo mais de 70 pessoas foram condenadas, menos Nixon, perdoado por seu sucessor, Gerald Ford.

Mas o nome que mais atraiu a atenção e se tornou figura central nas notícias publicas pelo Post e na transformação destas em ações jurídicas foi o informante “Garganta Profunda“, apelido dado pelo editor Howard Simons e baseado num filme pornográfico da época.

William Mark Felt, então número 2 do FBI, ajudou Bob Woodward nas investigações jornalísticas e reportagens que o repórter assinava juntamente com Carl Bernstein. Sua identidade só foi revelada 33 anos depois do escândalo que levou à queda do presidente Nixon.

O ex-agente e número 2 do FBI, William Mark Felt, em foto de agosto de 1976 (Foto: Associated Press)

Em 2005, num texto assinado pelo advogado e representante legal da família Felt, John D. O’Connor, e publicado na revista “Vanity Fair”, acabava o mistério de quem era a fonte anônima que guiou os repórteres durante toda a cobertura feita pelo jornal.

RENÚNCIA, LIVRO E FILME

Em 24 julho de 1974, a Suprema Corte americana, por unanimidade, determinou que o presidente entregasse 64 fitas com conversas gravadas na Casa Branca. Três dias depois, a Comissão da Câmara aprovou o primeiro dos três artigos que permitiam o impeachment, sob a acusação de obstrução à Justiça.

O escândalo que já passava de mais de dois anos e incluía grampos telefônicos, furtos e lavagem de dinheiro, ficou insustentável para Nixon. Tanto que em 8 de agosto de 1974 ele renunciou.

Três meses antes, porém, foi lançado o livro “All the President’s Men”, da dupla de repórteres que ficou conhecida como “Woodstein”.

O livro esteve fora de catálogo no Brasil desde os anos 80. Em março de 2014, a editora Três Estrelas o relançou, com tradução Denise Bottmann.

O ator e produtor Robert Redford comprou os direitos do livro para a obra homônima que estrearia em 1976, sob a direção de Alan J. Pakula e roteiro de William Goldman –que criou a expressão “follow the money” (siga o dinheiro), que não aparece nos blocos de anotação de Woodward e nunca foi dita por “Garganta Profunda”.

O filme deu mais glamour ao livro, e Robert Redford e Dustin Hoffman, respectivamente Bob Woodward e Carl Bernstein, imprimiram alguns dos cacoetes de muitos jornalistas mundo afora.

A importância de ambos –à época e até hoje para o jornalismo– pode ser resumida como observou o ex-ombudsman da Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva: “O que Woodward e Bernstein e outros fizeram de virtuoso foi terem agido rigidamente de acordo com os preceitos dessas instituições (a imprensa, o Legislativo, o Judiciário) e terem colocado à margem suas próprias referências ideológicas e partidárias ou suas conveniências e gostos pessoais”.

Dustin Hoffman e Robert Redford, respectivamente Carl Bernstein e Bob Woodward, no filme ‘Todos os Homens do Presidente’ (Foto: Divulgação)