Há 40 anos, crítica a duque de Caxias motivou prisão de jornalista e ameaça à Folha
Há 40 anos, a Folha de S.Paulo trouxe a coluna “Herói. Morto. Nós.”, escrita por Lourenço Diaféria, que se tornou um dos textos de maior repercussão na época.
No texto, publicado em 1º de setembro de 1977, Diaféria comentava o fato que esteve na capa do jornal no dia anterior, sob o título “Um drama no Zoo de Brasília”, sobre o ato do sargento Silvio Delmar Hollenbach.
O militar, que estava no zoológico com a mulher e os filhos, pulou no fosso das ariranhas (também conhecidas como onças-d’-água) e salvou Adilson Florêncio da Costa, então com 13 anos –ele brincava à beira do local quando foi puxado por um dos animais.
Com mais de cem mordidas, Hollenbach salvou o menino e foi levado ao Hospital das Forças Armadas em Brasília, onde recebeu atendimento e levou pontos por quase todo o corpo, mas não resistiu a uma infecção generalizada causada pelas mordidas.
Em sua coluna dedicada ao sargento, Diaféria comentou o feito e a morte do militar e o comparou ao patrono do Exército. Assim, além de exaltar o herói (“Passei metade do dia imaginando uma palavra menos desgastada para definir o gesto desse sargento Silvio, que pulou no poço das ariranhas para salvar o garoto…”), criticou um dos ícones do Exército (“Prefiro esse sargento herói ao duque de Caxias. O duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua. (…) O povo está cansado de espadas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal”).
O texto, publicado na página 44 (na Ilustrada), repercutiu mal entre os militares. Dias depois, pressionado pelo ministro do Exército, general Silvio Frota, o ministro Armando Falcão (Justiça) determinou a abertura de inquérito.
Duas semanas após “Herói. Morto. Nós.”, no dia 15 de setembro, Diaféria foi detido pela Polícia Federal. A Folha publicou a detenção na capa. “O jornalista Lourenço Diaféria, da Folha, foi detido nesta quinta-feira (15), em sua casa, por volta das 17h, por agentes da Polícia Federal.”
Como forma de criticar a ação dos militares, o jornal publicou em branco a coluna seguinte de Diaféria, com o aviso de que o conteúdo deixava de ser publicado em virtude da detenção do jornalista –Diaféria permaneceu detido por cinco dias.
Os militares, então, voltaram à carga contra a Folha, com a ameaça do chefe da Casa Militar da Presidência, general Hugo Abreu, de que fecharia o jornal caso o espaço da crônica saísse novamente em branco.
Após a polêmica, Diaféria (1933-2008) voltou a escrever para o jornal. Ao todo, ele publicou 1.868 textos, entre crônicas e reportagens assinadas, na Folha.
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