Há 50 anos, invasão à catedral em São Miguel Paulista deixou destruída a imagem do santo
Em meio às celebrações do aniversário de São Miguel Paulista, bairro do extremo leste da cidade de São Paulo que comemora 395 anos neste fim de semana, o Blog Acervo Folha relembra episódio de tentativa de furto ocorrido há cinco décadas na Catedral de São Miguel Arcanjo, que culminou na destruição da imagem do padroeiro que deu nome ao bairro.
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“Aqui estiveram ladrões, Deus os perdoe.”
Assim lamentou o padre Aristides na manhã daquele sinistro domingo de 17 de setembro de 1967, logo ao entrar na Catedral de São Miguel Arcanjo, que passava por reformas. Ele estava diante de uma cena lamentável para os fiéis do tradicional bairro da capital paulista.
A estátua de São Miguel, feita em gesso e que estava havia 12 anos no local, fora encontrada em pedaços sobre o chão da catedral.
Desiludido com o que vira naquela manhã e já imaginando o que ocorrera no recinto, o padre logo correu em direção a uma caixinha onde eram depositados os dízimos e notou que ela havia sido forçada pelos supostos ladrões. No sacrário, também lançado ao chão, marcas de dedos denunciavam a suspeita do religioso.
Avisados sobre o incidente, um dos sacristões da igreja, de nome Hildebrando, e o pedreiro Decio Corradine, que trabalhava nas reformas da igreja, encontraram o carrilhão, o cibório e outros objetos litúrgicos espalhados pela sacristia.
Naquele ano, a tradicional festa em homenagem ao padroeiro seria realizada dentro de 13 dias, com início em 1º de outubro, com dez carros alegóricos que circulariam pelo bairro. Agora, porém, sem o principal símbolo da igreja, a celebração não seria completamente abençoada.
Ao tomar conhecimento do caso, um empresário do bairro, chamado João Antonio Cobre, proprietário de uma tipografia e frequentador assíduo da catedral, num gesto de devoção ao padroeiro, prontificou-se a doar uma nova imagem do santo à igreja.
Conforme depoimento do pedreiro Décio, a estátua não era patrimônio histórico, mas, apesar do pouco tempo, os fiéis haviam criado “muito estima por ela”, disse à Folha na época.
Numa cartolina cor-de-rosa, postada pelo padre ao lado dos pedaços do santo, estavam os dizeres: “Esta noite profanaram a igreja. Eis como deixaram a imagem do padroeiro. Que São Miguel cuide do malfeitor”.
OS SUSPEITOS
Um dia antes da provável tentativa de furto, o padre Aristides relatou que cinco menores “com comportamento estranho”, chamados pelo religioso de “maus meninos”, estiveram na igreja assobiando e agindo de forma desrespeitosa no local, o que o levou a considerá-los suspeitos pelo infortúnio.
No mesmo dia, ainda com a presença dos menores na igreja, o padre relatou que dois homens altos e brancos também estiveram na catedral, e, mostrando-se curiosos, começaram a mexer em objetos expostos próximos ao altar.
Na opinião do padre e de uma sacristã que o acompanhava naquele dia, os supostos ratoneiros teriam invadido o local por uma das janelas da torre, que estava sem vidros.
Na missa celebrada naquele domingo, os fiéis puderam “velar” os restos da imagem, que ficaram expostos, sob proteção de uma cerca improvisada com bancos de madeira.
O CASTIGO DOS HOMENS
Dois dias após a hipotética tentativa de furto, professores do Sesi (Serviço Social da Indústria), em ato de apoio à igreja, levaram seus pequenos alunos para visitarem à imagem destruída.
Falando baixinho, uma das alunas, “com uma pasta surrada sob o braço”, comentou com a coleguinha: “Coitado de quem fez isso, vai ser castigado”, disse ela em alusão à lei do divino. Pensamento este diferente do da polícia, que, com as impressões digitais colhidas, ansiavam em aplicar a lei dos homens.
De todo jeito, seja por castigo divino ou lei dos homens, não se sabe até hoje a identidade e o paradeiro dos autores do crime, mas a igreja continua firme.
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