Há 170 anos, nascia a libertária Chiquinha Gonzaga, primeira maestrina do Brasil e um ícone da MPB
Desde 2012, o Brasil comemora o Dia Nacional da Música Popular Brasileira no dia 17 de outubro.
A data não foi escolhida ao acaso: é o dia de nascimento da primeira maestrina do Brasil: Chiquinha Gonzaga (1847-1935).
Compositora da marcha-rancho “Ó Abre-Alas” (1899), que inaugurou o cancioneiro brasileiro de Carnaval, Francisca Edwiges Neves Gonzaga teve uma carreira profícua, com mais de 2.000 composições.
Mas sua importância histórica não se limita à música.
Com a vida pessoal pontilhada por episódios que escandalizam a sociedade do Rio de Janeiro do final do século 19 e início do 20, Chiquinha foi uma mulher à frente de seu tempo.
Com pai militar e mãe filha de escravos, Chiquinha compôs sua primeira música aos 11 anos. Cinco anos depois, por imposição do pai, casou-se com um rico proprietário de terras.
O marido a obrigou a escolher entre ele e o piano. “Senhor, meu marido, fico com o piano, porque eu não posso viver sem harmonia”, respondeu ela.
Chiquinha se casou novamente, desta vez com um engenheiro de estradas de ferro, mas também se separou.
Seu pai e sua mãe a declararam “morta”, e ela foi condenada pelo Tribunal Eclesiástico do Bispado do Rio à separação perpétua do marido por abandono do lar e adultério.
A compositora precisou dar aulas particulares de piano para sobreviver.
E, numa época em que o compositor Sinhô dizia que “samba é como passarinho, de quem pegar primeiro”, ela lutou pelos direitos autorais. Em 1917, fundou a SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais).
Seu espírito libertário também a envolveu em um escândalo político-musical.
No final do mandato do presidente Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914), a primeira-dama da República, Nair de Teffé, executou ao violão, em uma recepção no Palácio do Catete, o “Gaúcho”, um tango de Chiquinha Gonzaga popularmente conhecido como “Corta-Jaca”.
Rui Barbosa foi à tribuna do Senado atacar o presidente pela execução da “mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba”.
Além dos divórcios, a maestrina também desafiou os padrões familiares da época ao se apaixonar, aos 52 anos, por João Batista de Carvalho, 16. Ela o apresentava como filho para calar o moralismo da sociedade. Eles ficaram juntos até a morte da compositora em 28 de fevereiro de 1935.
Por muito tempo, a vida e obra de Chiquinha Gonzaga ficaram relegadas a um segundo plano.
A situação começou a mudar com o lançamento da biografia “Chiquinha Gonzaga – Uma História de Vida”, da socióloga Edinha Diniz, em 1984.
Para a biógrafa, Chiquinha foi a primeira grande personagem feminina da história do Brasil, mas não uma heroína no sentido oficial. “O esquecimento a que foi relegada é uma forma de punição a uma pessoa que ousou”, afirmou Edinha Diniz.
O período de esquecimento deu lugar a um “boom” no final dos anos 1990.
Em 1997, a escola Imperatriz Leopoldinense ficou em sexto lugar no Carnaval do Rio com um enredo em homenagem à compositora.
Após a homenagem no Sambódromo em comemoração aos 150 anos do nascimento da compositora, Antônio Adolfo lançou o disco “Chiquinha com Jazz”, e a pianista paulista Rosária Gatti, “Chiquinha Gonzaga, Inéditas & Célebres”.
Em janeiro de 1999, a minissérie “Chiquinha Gonzaga”, com Regina e Gabriela Duarte, estreou na Globo.
A obra, atacada pela crítica, foi sucesso de público, com média de audiência de 30 pontos (na época, cada ponto equivalia a 80 mil expectadores na Grande SP).
Montada pela primeira vez em 1983, a história de Chiquinha Gonzada voltou aos palcos paulistanos em março de 1999. O musical “Ô Abre Alas”, de Maria Adelaide Amaral, tinha Rosamaria Murtinho interpretando a maestrina.
“Ela foi muito importante para a música popular brasileira, fundamental na história da mulher no país e, apesar disso, durante muito tempo, pouco se falou dela”, afirmou à época Charles Moeller, diretor do musical e da parte teatral da minissérie global.
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