Há 20 anos, Folha publicava reportagem sobre movimento ‘Riot Girls’, com texto de Courtney Love
Há 20 anos, a Folha trazia quatro páginas do caderno mais! sobre movimento “Bad Girls” ou “Riot Girls” (ou “Grrrls”), que incentivava mulheres a criar fanzines e bandas de hardcore e punk rock e a lutar por seus direitos.
Mais do que a manifestação cultural, o movimento tinha o propósito de denunciar toda e qualquer violência sofrida pela mulher, desde a imposição de padrões de beleza (“meu corpo me pertence” era uma de suas bandeiras) até atitudes machistas oriundas do meio punk.
Composto essencialmente por mulheres jovens, na faixa dos 13 aos 30 anos, as Bad/Riot Grrrls lideraram a mais jovem onda feminista do século 20, que veio da música “grunge” e uniu as jovens numa nova atitude comportamental. O movimento exprimia suas ideias em fanzines, mas, sobretudo, na música, localizada nas cenas punk, hardcorde e indie rock.
Bandas como Bikini Kill e Bratmobile, além de L7 e Hole, foram ícones das “Girls”. Courtney Love, líder da banda Hole e viúva de Kurt Cobain, diversas vezes se negou a participar do movimento, mesmo assim foi considerada um dos expoentes das “Riot Girls”.
E os valores defendidos pelo movimento eram praticamente os mesmos do feminismo, com enfoque nas questões do corpo: estupro, direito ao aborto, bulimia, anorexia, padrões de beleza, exclusão da cultura popular, o sexismo cotidiano, sexualidade, autodefesa, opressão aos gordos, racismo e classismo.
Uma das máximas do movimento era “apoiar umas às outras, encorajar e fazer as coisas acontecerem sem pressão, sem competição”.
Tal sentença encontra significado numa palavra ausente nos dicionários, mas que se proliferou pela internet: sororidade. Ou seja, antes de ser empregada em blogs e redes sociais, já estava embutida como premissa das “garotas rebeldes”.
À luz do que acontece hoje, ao mudar trecho da letra de “Beijinho no Ombro”, a cantora Valesca Popozuda contribuiu para o movimento feminista e justificou a troca de alguns versos, em julho de 2017, justamente em respeito as outras mulheres, tirando o caráter “de competição” que havia na versão original.
Sai: “Acredito em Deus, faço Ele de escudo / Late mais alto que daqui eu não te escuto / Do camarote, quase não dá pra te ver…”. Entra: “A gente junta não precisa de escudo / Voa mais alto, agora as minas “tão” com tudo / No camarote tem lugar para você…”.
Debbie Stoller, fundadora da revista americana “Bust”, que começou como fanzine, disse à época que acreditava que “a cultura pop tem mais poder do que a política para transformar os valores das pessoas”. “É ali, na cabeça das pessoas, que as transformações realmente acontecem.”
Se através das fanzines manifestavam-se valores contrários ao da indústria da moda e beleza, foi na música que as bandas carregaram nos decibéis e nas distorções dos baixos e guitarras, além das letras, para ressaltar a autonomia feminina.
Dentre os textos publicados pela Folha, o de Courtney Love contando sobre sua vida –e como via a relação garotas boazinhas versus garotas malvadas– dava a dimensão de quanto representava o movimento.
Sob o título “Malvada como eu”, Love descreve “Garotas malvadas conseguem lidar com alguma infidelidade. Garotas boazinhas te largarão ‘por princípio’. Garotas malvadas podem ser tão classudas quanto Jackie O., que era, sim, uma garota malvada, mas que só achava que não era da nossa conta saber disso”.
E sintetiza: “Nós, garotas malvadas, somos vulgares, mas temos potencial para sermos totalmente finas. O resto é só da minha conta, e não da conta do ‘New York Post'”.
Não é à toa, portanto, a escolha do nome. Bad Girls (garotas más ou malvadas) ou Riot Girls (garotas rebeldes), e o slogan “garotas boazinhas vão para o céu, as malvadas para todo lugar”.
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