Com novos clipes, rappers brasileiros e americanos disparam contra seus presidentes

Jair dos Santos Cortecertu

Vinte e cinco anos depois do lançamento da música “Tô feliz (Matei o presidente)”, rap de Gabriel O Pensador censurado em setembro de 1992,  o cantor e escritor volta a falar sobre mais um “assassinato”. Se nos anos 1990, Fernando Collor de Mello foi o alvo de Gabriel, Michel Temer é a atual vítima no novo videoclipe do artista, trabalho lançado na quinta-feira (19/10).

Em “Tô Feliz (Matei o Presidente) 2”, o rapper fala sobre a corrupção no governo do PMDB e decapita Michel Temer. Com direção de PH Stelzer e produção musical de Papatinho, da ConeCrewDiretoria, o clipe tem cenas gravadas em diferentes regiões do Brasil. Na nova letra, Gabriel O Pensador- que já fez manifestos políticos em “Até quando?”  e “Chega”-, também mira outros políticos: “E é o povo desunido que se mata por partido/Sem razão e sem noção/Chamando políticos ridículos de mito/E às vezes nem acredito num futuro mais bonito.”

O clipe de Gabriel é o mais recente ataque do rap nacional ao presidente Michel Temer. Entre maio e julho de 2017, além de protestos de Criolo, Mano Brown, Emicida e Rael em shows pelo Brasil, artistas como Organização Xiita, BNF e Facção Central, Mano Axé, Léo RC, Nocivo Shomon e WGI CH, Lado A, Taz Mureb, Lady Laay e Mary Periférica gravaram suas rimas em músicas com o título “Fora Temer”.

NOS EUA

Se os rappers brasileiros não estão nada contentes com o governo, com os artistas dos EUA não é nada diferente. MCs de diferentes gerações do hip hop americano também dedicam seus versos ao polêmico presidente Donald Trump.

Em artigo no site Daily Beast, no último dia 19, Chuck D, líder do Public Enemy e uma das referências musicais de Gabriel O Pensador, fala sobre o que chama de processo contínuo de desigualdades, violência racial e retrocesso nas políticas públicas de Trump registrado no clipe da música “Hail to the Chief”, do grupo Prophets of Rage, outro projeto do artista.

Para Chuck D, as políticas das eras Reagan e Bush, nos anos 1980 e 1990, afetaram de forma negativa a vida dos negros americanos e, apesar das mudanças promovidas pelo governo Barack Obama, houve um retrocesso com o atual presidente. O Prophets of Rage lançou recentemente o vídeo “Strength In Numbers”, que ataca o racismo e registra aonda de protestos de atletas da NFL.

FORA TRUMP

O líder do Public Enemy não está sozinho. Snoop Dogg, Eminem e a dupla Oshun- que esteve no Brasil em julho – também atacaram Donald Trump em seus raps. Em março, Snoop lançou o videoclipe da música “Lavender”, colaboração entre a banda canadense BadBadNotGood e o DJ Kaytranada. O vídeo mostra Donald Trump acorrentado, enquanto o rapper aponta uma arma para sua cabeça.

“Vocês conseguem imaginar a algazarra que seria se o Snoop Dogg, com a carreira decadente e tudo, tivesse apontado uma arma e disparado contra o presidente Obama? Iria para a prisão!”, reagiu Trump em sua conta no Twitter.

Em abril, a dupla Oshun lançou o single “Not my president”, rap que entrou na cena alternativa com crítica contundente ao presidente dos EUA e suas medidas conservadoras.

Em 10 de outubro, Eminem –que já havia criticado Donald Trump em 2016– fez um freestyle na cerimônia de premiação Bet Hip Hop Awards, um dos maiores eventos do gênero. O rapper criticou Trump e sua política imigratória, além de atacar a postura do presidente dos EUA em relação ao porte de armas e aos protestos de Charlottesville.