No Dia da Consciência Negra, ouça músicas que desde os anos 30 marcam a luta por direitos civis

Jair dos Santos Cortecertu

É quase impossível separar a música negra das ideias de resistência e luta. Mesmo quando suas letras e seus artistas não apresentam uma linha de combate, ao retratar o cotidiano de uma comunidade e as formas de relacionamento que são desenvolvidas dentro de determinados regimes e leis opressivas, estas expressões também dão formas ao que o jamaicano Bob Marley chamou de canções de liberdade.

“A música é a resposta dos negros ao terror e ao trauma”, afirma Cornel West,  filósofo, ativista e professor, no documentário “Chasing Trane”, sobre o músico John Coltrane, que compôs a música “Alabama”, em reação ao atentado de 15 de setembro de 1963, na Igreja Batista da rua 16, onde quatro crianças negras foram mortas.

O movimento negro ainda luta contra a violência, a repressão policial, o apartheid social e econômico e a violência contra a mulher, entre outras bandeiras –seja no Brasil, nos Estados Unidos ou na África. O ano de 2017 vai terminando e artistas como americanos como Beyoncé, Jay-Z, Kendrick Lamar, os brasileiros Emicida, Rashid, Karol Conka e Preta Rara, as bandas Aláfia e OQuadro, os veteranos Racionais, Elza Soares e a jovem MC Sofia, entre outros, ainda são destaques no cenário musical pela atitude combatente diante a desigualdade racial.

Neste Dia da Consciência Negra, o Blog do Acervo Folha recorda algumas das manifestações musicais que expuseram a violência contra os negros e tornaram-se hinos que ecoam até hoje. Duas dessas canções são “Strange Fruit”, interpretada por Billie Holiday (foto acima) e até hoje executada por artistas dos mais diferentes estilos, e “Tributo a Martin Luther King”, de Wilson Simonal (1939-2000), que num show em 1967 dedicou a música ao filho e disse esperar que ele “não encontre nunca aqueles problemas que encontrei e tenho às vezes encontrado”.

1939
“Strange Fruit”

Árvores do sul produzem uma fruta estranha, sangue nas folhas e sangue nas raízes. Corpos negros balançando na brisa do sul, frutas estranhas penduradas nos álamos”. O poema “Strange Fruit”, do professor Abel Meeropool, escrito em 1936, ganhou dramaticidade na voz da cantora Billie Holiday e entrou para a história como pioneira da música de protesto ao relatar a violência racial no sul dos Estados Unidos. Abel, um judeu progressista, compôs o poema após ver uma revista de direitos civis que estampava o linchamento de dois negros em Indiana, em 1930. O poeta apresentou a canção a Billie Holiday em 1938. No ano seguinte, a voz de Holiday eternizou a luta contra o racismo em “Strange Fruit”. O historiador inglês, Eric J. Hobsbawn, um amante do jazz, durante anos, escreveu sobre o gênero no semanário “The New Statesman” sob o pseudônimo Francis Newton, em homenagem ao trompetista comunista que tocou com Billie Holiday na gravação de “Strange Fruit”. Em 2000, a triste música de Billie Holiday ganhou uma biografia, “Strange Fruit – Billie Holiday e a Biografia de uma Canção” foi escrita pelo jornalista americano David Margolick.


1947
“We Shall Overcome”
Canção fruto do hibridismo cultural americano do século 19, composta pelo compositor negro Charles Albert Tindley. Durante o período das guerras mundiais, foi reformulada por sul-africanos que trabalhavam na indústria do tabaco dos EUA e teve seu nome mudado para “We Shall Overcome”.  A música, lançada em 1947, foi apresentada à diretora Zilphia Horton, no Highlander Folk School, campo de treinamento birracial para interessados em sindicalismo e reformas progressistas no sul do país. Horton mostrou “We Shall Overcome” ao cantor e ativista Pete Seeger, que fez algumas adaptações. No final da década 1950, durante um protesto contra o fechamento da Highlander Folk School pela polícia, a estudante negra Mary Ehtel Dozier acrescentou o verso “Não temos medo”. “We Shall Overcome” tornou-se uma arma sonora contra as injustiças sociais e um hino símbolo do movimento pelos direitos civis dos negros americanos, nas décadas de 1950 e 1960. A música foi cantada em protestos, comícios e festas por outras regiões do país.


1957
“Fables of Faubus”
O contrabaixista de jazz, Charles Mingus, escreveu “Fables of Faubus” em 1957, a partir do episódio de Orval Faubus, governador do Arkansas, que ganhou notoriedade na época por reagir contra a integração racial nas escolas de seu Estado, no famoso caso dos “Nove de Little Rock”, quando Faubus agiu contra as ordens federais para acabar com a segregação nas escolas públicas. “Ó Senhor, não deixe que eles atirem em nós”, gritam os músicos da banda na introdução da música. Em 1959, o protesto jazzístico causou problemas para os executivos da gravadora Columbia. As letras controversas da versão original foram deixadas fora do lançamento. A forma completa de “Fables of Faubus” foi lançada na década de 1960, no disco “Charles Mingus Presents Charles Mingus”.



1963
“Alabama”
Em 15 de setembro de 1963, uma bomba colocada por membros da Ku Klux Klan foi detonada na Igreja Batista da rua 16, em Birmingham, Alabama, matando Addie Mae Collins, Cynthia Wesley, Carole Robertson e Denise McNair, crianças com idades entre 11 e 14 anos. O atentado revoltou a população negra do Estado e o Movimento dos Direitos Civis. O crime contra as meninas inspirou o ícone do jazz, John Coltrane, que gravou a canção “Alabama”, em 18 de novembro de 1963. No mesmo ano, Coltrane tocou a música ao vivo no programa de TV Jazz Casual. “Alabama” é um jazz triste- baseado no discurso de Martin Luther King, feito após o atentado da Ku Klux Klan- que vai da revolta à esperança. Considerada um estandarte sonoro da luta contra o racismo, “Alabama”  teve importância comparável ao discurso “Eu Tenho um Sonho”, de Martin Luther King.


“Mississippi Goddam”
Nos anos 1960, em plena tensão racial nos EUA, Nina Simone aderiu ao movimento pelos direitos civis dos negros. A explosão na Igreja Batista do Alabama, que causou a morte de quatro meninas negras, e o assassinato do ativista Medgar Ever, no Mississippi, em 1963, foram o gatilho para a criação de “Mississippi Goddam”, canção que transformou Nina Simone num símbolo da luta do movimento negro. “O nome desta música é maldito Mississippi […] Alabama me deixou chateada, Tennessee me fez perder o sossego. E todo mundo sabe sobre o maldito Mississippi”, canta Nina Simone. “Mississippi Goddam” voltou a embalar protestos durante os primeiros meses do governo de Donald Trump.


 

O cantor norte-americano de soul e funk, James Brown, tenta tocar pandeiro ao lado de Wilson Simonal (à esquerda) e sambistas brasileiras após desembarque no aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP). (São Paulo (SP), 29.03.1973. Foto: Acervo UH/Folhapress)


1967
“Tributo a Martin Luther King”
“Sim, sou negro de cor, meu irmão de minha cor. O que eu te peço é luta sim. Luta mais! Que a luta está no fim”, conclama Wilson Simonal na canção “Tributo a Martin Luther King”, composta em parceria com Ronaldo Bôscoli  em homenagem ao líder da luta antirracista e pelos direitos civis nos EUA. Em vídeo disponibilizado no canal de seu filho, Wilson Simoninha, Simonal, durante a apresentação de seu programa “Show em Si…monal”, em 1967, faz um discurso marcante e afirma que “o mérito maior de Martin Luther King é lutar, cada vez mais, pela igualdade dos direitos das raças”. Continuando o discurso, o cantor brasileiro dedica a canção ao seu filho e fala sobre a esperança de um futuro sem racismo, “esperando que no futuro ele não encontre nunca aqueles problemas que encontrei e tenho às vezes encontrado”. Luther King foi assassinado em abril de 1968.


1968
“Say It Loud – I’m Black and I’m Proud”
Vinte e quatro horas após o assassinato de Martin Luther King, em 4 de abril de 1968, num clima extremamente tenso, com um saldo de 40 mortos, centenas de feridos e 20 mil presos, James Brown cantou “Say It Loud, I’m Black and I’m Proud” [diga alto: sou negro e tenho orgulho] –música que falava de respeito, autoestima, desafio e libertação– para uma multidão durante um show na cidade de Boston, em Massachusetts. “Aquela canção sozinha conferiu a Mr. JB sete afortunados anos de amor por parte da comunidade negra, o que não é fácil de conseguir. Em minha humilde opinião, imediatamente após o assassinato de Martin Luther King, James Brown se tornou o negro mais importante dos Estados Unidos”, afirma Chuck D, líder do grupo Public Enemy, no prefácio do livro “O Dia em que James Brown Salvou a Pátria”, que traz registros do dia em que o cantor garantiu a paz nas ruas dos EUA. O cantor veio ao Brasil em 1973, quando foi recepcionado por Wilson Simonal,  1988, em São Paulo e Rio de Janeiro,  e 1994, no Free Jazz Festival.

1971
“Negro É Lindo”
Como se ouvisse o chamado de Simonal em “Com uma canção também se luta irmão” (“Tributo a Martin Luther King”),  em 1971, Jorge Ben Jor lançou o disco “Negro É Lindo”, com referência ao conceito de consciência negra, elaborado pelo ativista sul-africano Steve Biko, e ao “Black Is Beautiful”, expressão do movimento negro dos EUA que ultrapassou as fronteiras do país e representa até hoje a reconstrução da identidade e autoestima negra. Em 1972, no disco “A Tábua de Esmeralda”, Ben Jor apresentou “Zumbi”, faixa que fala do líder Zumbi dos Palmares, homenageado no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. Na década de 1980, nos bailes black e nas festas das comunidades negras nas periferias, as canções de Jorge Ben Jor fizeram parte da construção da identidade dos jovens negros, entre eles, estavam os adolescentes Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay, que formariam o grupo Racionais.


“What”s Going On”
Em 1970, Marvin Gaye passou por momentos difíceis, sua parceira de música e amiga, Tammi Terrell, morreu após uma luta de três anos contra um tumor cerebral. Seu irmão Frankie havia retornado do Vietnã contando histórias trágicas da guerra. Em 1971, contrariando outros músicos e produtores, que achavam que Gaye arruinaria sua carreira cantando uma canção de protesto, o cantor gravou “What”s Going On”, uma inspiração de Obie Benson, membro do Four Tops. Em 1969, Benson esteve em San Francisco e presenciou crianças sendo espancadas pela polícia. “Eu vi isso e comecei a me perguntar o que estava acontecendo. ‘O que está acontecendo aqui?’ Uma pergunta leva a outra. Por que eles estão enviando crianças tão longe de suas famílias no exterior?’”. Para protestar contra a guerra e a situação racial nos EUA, Marvin Gaye colocou sua alma em  “What”s Going On”.

1977
“Mandamentos black”

“Dançar como dança um black; amar como ama um black; andar como anda um black; usar sempre o cumprimento black.” Na ditadura de 1977, durante o governo Ernesto Geisel, Gerson King Combo, influenciado pelo funk e a soul music, integra o emergente Movimento Black Rio e pede aos jovens que assumam suas mentes, sua cor e sua história na música “Mandamentos Black”, parceria com Augusto César e Pedrinho. Na década de 1970, Gerson King Combo, durante uma viagem a Porto Rico, assistiu a uma apresentação do cantor James Brown, fato que mudou totalmente sua arte. Nos anos 1990, a música de Combo foi revisitada pelos rappers do grupo Câmbio Negro. O termo empoderamento não era popular no Brasil, mas “Mandamentos Black”, de maneira simples, transmite os conceitos de autoestima e conquistas em meio ao racismo estrutural.

1979
“Redemption Song”
Escrita nos últimos meses de 1979 e gravada em seu próprio estúdio, na Jamaica, “Redemption Song” é uma das músicas que marcam a trajetória de Bob Marley, a faixa entrou no disco “Uprising”, lançado em 1980. A canção traz Marley cantando sozinho com um violão acústico, fato que rendeu comparações com a obra de Bob Dylan. “Por quanto tempo vão matar nossos profetas, enquanto ficamos parados olhando?”, pergunta Bob Marley ao fazer relações com as mortes de ativistas pelos direitos civis como o pastor Martin Luther King. “Redemption Song” também é um chamado ao retorno da consciência negra. “Emancipem-se da escravidão mental, ninguém além de nós mesmos pode libertar nossa mente”, canta Marley.


 

O grupo de rap americano Public Enemy, com Chuck D (à frente, à esq.) e Flavor Flav (à frente, no centro), em imagem de divulgação de 2012.

1981
“Sorriso Negro”
A sambista Dona Ivone Lara, primeira mulher a compor um samba-enredo, interpreta “Sorriso Negro”, música de Jorge Portela e Adilson Barbado que é um forte protesto contra o racismo. Com foco na mobilização e no amor próprio, Dona Ivone canta: “Um sorriso negro, um abraço negro, traz felicidade”. A canção também fala da situação de desemprego e preconceito no mercado de trabalho que atinge a população negra. Regravada pelo grupo Fundo de Quintal e pela cantora Mart’nália, “Sorriso Negro” é entoada até hoje em rodas de samba pelo país. Entre os versos de afirmação, Dona Ivone Lara conclui: “Negro é a raiz da liberdade.”

1982
“Olhos Coloridos”
Interpretando uma composição de Macau, em 1982, Sandra de Sá, apresentou ao Brasil “Olhos Coloridos”,  música que mescla soul e samba, seguindo a linha de seus antecessores Lady Zu e Tim Maia, entre outros. Abordando a estética negra, “Olhos Coloridos” cabe perfeitamente nos ideais divulgados pela atual geração tombamento, manifestados por jovens negros que combatem o racismo utilizando a estética como uma de suas armas. Autoestima, roupas, tranças, cores e enfrentamento mostram hoje o empoderamento que Sandra Sá cantou nos anos 1980. “Meu cabelo enrolado, todos querem imitar. Eles estão baratinados, também querem enrolar”, diz Sandra. “Olhos Coloridos” também fala do descaso e do racismo no cotidiano dos negros brasileiros. “Você ri da minha roupa, você ri do meu cabelo. Você ri da minha pele, você ri do meu sorriso.”


1989
“Fight the Power”
Emprestando o refrão da música “Fight the Power”, gravada em 1975 pela banda The Isley Brothers, o grupo Public Enemy faz seu protesto visceral em instrumental caótico e cheio de groove que tem samples de “Funky Drummer”, de James Brown (1970), “Different Strokes”, de Syl Johnson (1967), e recortes vocais de Sly & The Family Stone, todos ícones da música negra que Chuck D e Flavor Flav, líderes do P.E., cresceram ouvindo.  O resultado: um rap dançante, com energia rock e que convoca os negros para enfrentar o racismo.  “Fight the Power” foi trilha sonora de “Faça a Coisa Certa”, filme sobre a tensão racial no Brooklyn dirigido pelo cineasta Spike Lee. De acordo com Manning Marable, autor da biografia “Malcolm X – Uma Vida de Reinvenções”, sobre o líder negro assassinado em 1965, os integrantes do Public Enemy são fenômenos da “nação hip-hop” e no começo dos anos 1990 protagonizaram o renascimento da popularidade de Malcolm.  Mano Brown, integrante do grupo Racionais, no livro “Hip Hop Brasil”, diz que conhecer o Public Enemy foi  “o mesmo que ver o Pelé para o moleque que jogava futebol.”


1992
“Voz Ativa”
A influência do rap militante dos EUA, adaptada ao enfrentamento do racismo brasileiro, que foi desenvolvido de maneira diferente da realidade americana, fez nascer “Voz Ativa”, rap dos Racionais que fala da violência policial e convoca os jovens negros  para uma mobilização que vá além dos debates sobre preconceito racial. “Precisamos de um líder de crédito popular, como Malcolm X em outros tempos foi na América. Que seja negro até os ossos, um dos nossos. E reconstrua nosso orgulho que foi feito em destroços”, canta Edi Rock. “Voz Ativa” também critica a falta de negros na mídia e o conformismo da população diante da desigualdade social. “Não proponho o ódio. Porém acho incrível que o nosso conformismo já esteja nesse nível”, rima Mano Brown, que anos depois afirmou não gostar mais da música por ter utilizado uma linguagem que não era local, da rua. Dez anos depois, no disco “Nada Como um Dia Após o Outro Dia”, o grupo apresentou “Negro Drama”, rap que traça rimas sobre o racismo estrutural brasileiro, mas, desta vez, sem falar como “um professor universitário”.


1993
“Haiti”
Faixa que integra o disco “Tropicália 2”, lançado em 1993 por Gilberto Gil e Caetano Veloso, em comemoração as 25 anos da Tropicália, movimento artístico formado por músicos e artistas como Rogério Duprat, Torquato Neto, Os Mutantes, José Carlos Capinan e  Tom Zé, “Haiti” é o retrato do Brasil nos anos 1990. Influenciados pelo canto falado do rap, Caetano e Gil afirmam que o Haiti –primeira nação negra das Américas– é aqui. Quando Caetano diz “O Haiti é aqui / O Haiti não é aqui”, refere-se ao fato de que, em muita coisa, o Brasil e o Haiti são (des)semelhantes. Refere-se também ao fato de que, pelas semelhanças (histórica, étnica, econômica, sobretudo quando se trata de alguns estratos da sociedade brasileira, do resultado da monocultura do açúcar etc.), certa parcela do Brasil pode, sim, ter o mesmo destino do Haiti, afirma o professor Pasquale Cipro Neto, em sua coluna. Em 2015, o rapper Emicida cantou a música de Gil e Caetano, durante apresentação no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

1999
“Identidade”
“Se preto de alma branca pra você é o exemplo da dignidade, não nos ajuda, só nos faz sofrer, nem resgata nossa identidade”, o chamado racismo cordial, o preconceito que ultrapassa gerações em frases como “preto de alma branca”, para mostrar que o negro está num nível elevado em relação aos seus semelhantes, a segregação representada no cotidiano pelas placas de elevador de serviço e o mito da democracia racial são os alvos do sambista Jorge Aragão na música “Identidade”, uma tomada de posição e pedido de compromisso aos negros. “Quem cede a vez não quer vitória, somos herança da memória, temos a cor da noite, filhos de todo açoite. Fato real da nossa história”, canta o ex-integrante do Fundo de Quintal, um dos mais importantes grupos de samba do país.


2002
“A Carne”
A faixa “A Carne”, uma canção de protesto criada por Marcelo Yuka, Seu Jorge e Wilson Capellette e lançado originalmente pelo Farofa Carioca, que integra o disco “Do Cóccix Até o Pescoço” (2002), representa a retorno da cantora Elza Soares –que estava havia mais de cinco anos sem gravar discos– ao cenário musical de maneira independente e com influência visual do movimento black power. A frase “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, cantada por Elza, ecoa até hoje em manifestações, protestos e saraus organizados para discutir e combater o genocídio da juventude negra. Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o perfil padrão das pessoas assassinadas no Brasil em 2016 é homem, jovem e negro. 99,3% dos mortos em ocorrências policiais são homens, 82% tem entre 12 e 29 anos (17% tem entre 12 e 17 anos) e 76% são negros.

 

Colaborou EDGAR SILVA, do Banco de Dados Folha