Em 21 de novembro, Pelé assombrou o futebol ao marcar oito gols em uma única partida

Edmir Lima

O dia 21 de novembro marca uma das marcas mais impressionantes do futebol.

E essa marca foi alcançada por Pelé, o Atleta do Século, em 1964. Na ocasião, em partida contra o Botafogo-SP na Vila Belmiro, válida pelo Campeonato Paulista, o craque santista anotou oito gols nos 11 a 0 para o time da casa.

A histórica partida, além de ser uma das maiores goleadas conhecidas em certames oficiais na categoria de profissionais, quebrou paradigmas no futebol.

A começar pelo placar do estádio.

As 9.437 pessoas que compareceram à Vila Belmiro naquele dia, que poderão contar orgulhosas, viram um problema inesperado quando Pelé anotou o décimo gol do Santos.  Isso porque não havia número suficiente para o placar. Foi quando um torcedor gritou: “Tira a camisa do Pelé e coloca lá”. Um outro comentou: “É melhor parar por aí. Você já pensou se marcam mais dois gols, todo esse povo gritando queremos o 13º? Irá criar um problema social”.

Logo aos 3 min do primeiro tempo, Pelé balançou as redes. A equipe santista dava assim, sua primeira demonstração que não entrou em campo para brincadeira.

O time todo, de Gilmar a Pepe, funcionou como uma máquina, quase perfeita, sem erros. Aos 8 min, Pelé, colocado pela meia direita, recebeu lançamento de Lima, superou na corrida Tiri, deu um chapéu em Corlucci na entrada da grande área e, de pé esquerdo, atirou de forma inapelável contra a meta de Machado: 2 a 0.

Pelé estava endiabrado, e a torcida sentia isso. Tanto que, aos 16 min, o camisa 10 fez 3 a 0.

Mesmo com a vantagem, o Santos continuou a pressionar o Botafogo, que havia tentado dois ataques –eles terminaram com a bola pela linha de fundo.

Três minutos depois do terceiro gol de Pelé, foi a vez de Pepe assinalar o seu. Aos 19 min, ele cobrou escanteio da ponta esquerda e mandou a bola diretamente para o gol. Machado até tentou rebater com um soco, em vão.

Parecendo estar satisfeito, Pelé mudou de posição com Coutinho, que passou a jogar pela direita.

 

Pelé, com Maciel ao lado, espera pela caída da bola. O “Rei” marcou oito

Aos 25 min, Coutinho recebeu a bola pelo lado direito. Correu com ela, acompanhado por Pelé. Coutinho passou a bola ao camisa 10 em diagonal. Pelé deixou a redonda passar, virou de costas e devolveu de calcanhar para Coutinho, que continuava correndo rumo ao gol e só teve o trabalho de amortecer e empurrar para dentro do gol na saída do arqueiro: 5 a 0.

Os botafoguenses não sabiam mais o que fazer.

O técnico Osvaldo Brandão fez alterações no time, mas sua tática não deu resultado.

Pelé continuava com apetite. Aos 35 min, penetrou pela área levando todo mundo e foi derrubado por Carlucci. Pênalti que o árbitro não marcou.

Aos 38 min, Pepe cobrou novo escanteio, pela direita. Pelé amorteceu a bola no peito e encheu o pé de esquerda. A bola bateu em Carlucci e voltou para ele, que emendou de pé direito do jeito que ela veio. A pelota ricocheteou na perna de um defensor do Botafogo e foi parar no fundo do gol. Foi o sexto gol.

Dois minutos depois, Pelé voltava a mexer o marcador, desta vez com o mais belo gol da tarde. Pepe desceu pela ponta esquerda e cruzou para a área, a meia altura. Coutinho se atirou de cabeça e furou. Pelé, que vinha mais atrás, lançou o corpo no ar e apanhou a bola de pé direito, acertando um voleio, mandando-a para as redes, sem possibilidade de defesa.

Assim terminava o primeiro tempo, com 7 a 0 para o Santos, sendo cinco gols de Pelé.

Vale lembrar que o Botafogo-SP tinha surpreendido o Santos em setembro daquele ano, vencendo por 2 a 0 em Ribeirão Preto. Naquele dia, torcedores e até jogadores do time do interior paulista tiraram sarro de Pelé, o que ajuda a explicar o apetite do craque.

Assim, o segundo tempo na Vila Belmiro não foi muito diferente, apesar de o Botafogo ter começado a pressionar um pouco. Aos 10 min Antoninho perdia a maior oportunidade do time na partida, possibilitando a Gilmar uma grande defesa.

A torcida santista, em êxtase, pedia mais um gol. E Pelé resolveu atender aos pedidos.

Pelé fez o público delirar em Vila Belmiro, a cada descida ao gol contrário

Aos 26 min, ele recebeu um lançamento pelo alto –estava impedido, mas o bandeira não apontou a infração. Pelé, então, superou Helio Vieira e enganou o goleiro com o corpo e fez 8 a 0.

Um minuto depois, Pepe avançou pela esquerda e foi derrubado por Ditinho. Penalidade que Pelé cobrou e marcou 9 a 0.

Mais um minuto depois, aos 28 min, Pelé aparou um cruzamento de Pepe pela esquerda e marcou seu oitavo gol na partida.

Finalmente, aos 45 min, o Santos fechou a conta com Toninho, que decretou o 11 a 0 depois de receber um lançamento de Coutinho na meia-lua.

A partida foi encerrada, e os feitos de Pelé já corriam o mundo, com recorde de gols num só jogo (8), além ter feito algo até então inédito: três gols com intervalo de apenas um minuto entre eles –o 8º, o 9º e 10º tentos foram feitos dos 25 min aos 27 min do segundo tempo.

Até então nenhum outro jogador havia conseguido isso em partidas oficiais. O recorde pertencia a Friedenreich, que em 1929, defendendo o Paulistano, marcara sete gols na partida contra o União Lapa. Fried, como era conhecido, foi um dos principais craques do futebol sul- americano de sua época. Outro jogador a conseguir tal façanha foi Araken Patusca, também do Santos, que, em 1927, marcou sete gols em uma mesma partida duas vezes, contra o Ipiranga e diante da Portuguesa.

Um avante húngaro havia conseguido a marca de seis tentos contra a República Árabe Unida, nos Jogos Olímpicos de Tóquio de 1964.

Com a goleada sobre o Botafogo-SP, Pelé passou a ser o artilheiro do Campeonato Paulista, com 24 gols, superando o corintiano Flavio, que estava com 21. O santista encerrou o campeonato com 34 gols naquele ano.

Já percebendo que o ocorria na Vila Belmiro em 21 de novembro de 1964 entraria para a história, o roupeiro do Santos entrou em campo, no intervalo do primeiro para o segundo tempo, e apanhou a bola para guardar como recordação. Foi preciso providenciar outra para o segundo tempo.

Pelé marca um de seus oito gols contra o Botafogo de Ribeirão Preto em vitória por 11 a 0