Nos anos 1970, artistas brasileiros cantaram em inglês e fizeram sucesso como estrangeiros

Jair dos Santos Cortecertu

Se a década de 1970 foi marcada pela interferência da censura do regime militar na música brasileira, por outro lado, houve uma explosão da música estrangeira no Brasil. Em São Paulo, as duas emissoras mais populares entre os jovens, Difusora e Excelsior, levaram ao ar 31.754 músicas internacionais contra 10.683 nacionais em 1977.

A disco music, conhecida aqui como “som discothéque”, dominava o mundo. Nos bailes, a juventude lotava lugares como o Círculo Militar e o Clube Pinheiros para assistir aos shows de bandas cover de seus grupos de rock preferidos. Reportagem da Folha de 1978 mostra que, num programa de rádio para a juventude, eram transmitidas 11 músicas estrangeiras de 15 em 15 minutos.

Nesse período, cantores como Terry  Winter (foto acima), Morris Albert, Chrystian, Tony Stevens, Mark Davis, Dave Maclean e Steve Maclean, entre outros, foram contratados pelas poucas gravadoras que existiam no país e se destacaram ao frequentar trilhas de novelas e emissoras de rádio com suas músicas românticas. O que estes artistas tinham em comum? Eram brasileiros que usavam pseudônimos estrangeiros e cantavam em inglês. Sucesso garantido.

“Até há dois anos, mais ou menos, o público brasileiro não os aceitava como brasileiros. Assim que descobriam que um Paul McDonald ou William Diamond, de quem gostavam tanto e vibravam com suas músicas cantadas em inglês, era um João da Silva qualquer, paravam de comprar seus discos. Hoje a coisa mudou, e com uma vantagem: estão sendo, aos poucos, lançados nos Estados Unidos e na Europa através de discos brasileiros e como brasileiros”, conta o jornalista Dirceu Soares em reportagem de janeiro de 1977.

O Blog do Acervo Folha recorda alguns artistas brasileiros que participaram deste fenômeno musical dos anos 1970.


TERRY WINTER
Considerado o primeiro brasileiro a cantar em inglês e se passar por estrangeiro, Thomas William Standen, filho de brasileiros e neto de ingleses, começou a fazer sucesso como Terry Winter em 1972, com a música “Summer Holiday”. Outra canção que tocou muito na primeira metade da década de 1970 foi “Our Love Dream”. Nos anos 1980, o cantor fez dueto com Silvia Massari na música “Lovely Love”, que integrou a trilha sonora da novela global “A Gata Comeu” (1985).

THE LIGTH REFLECTIONS
Em 1972, a banda The Ligth Reflections lançou no disco “Tell Me Once Again”, que tinha a faixa homônima como seu maior sucesso. Em um ano, “Tell Me Once Again” vendeu mais de 1 milhão de cópias. O grupo fez show em países da América Latina. Em 1983, Ney Mato Grosso gravou a faixa “Calúnias (Telma, Eu Não Sou Gay)”, versão do hit  “Tell Me Once Again”, com o grupo João Penca e Seus Miquinhos Amestrados.

MORRIS ALBERT
Maurício Alberto Kaysermann é o mais lembrado entre os artistas que cantavam o inglês “made in Brazil” nos anos 1970. “Feelings”, gravada em 1973, é seu maior sucesso e foi regravada por artistas como Barbara Streisand, Shirley Bassey, Andy Williams, Ella Fitzgerald, Julio Iglesias, Nina Simone, Richard Clayderman e a banda punk The Offspring. Morris Albert fez sucesso em mais de 50 países. “Feelings” faz parte da trilha sonora da novela “Cuca Legal” (1975), da Rede Globo.

DAVE MCLEAN
José Carlos Gonzales já cantava em inglês com sua banda The Buttons, mas seu grande sucesso foi “Me and You”, música de sua carreira solo como Dave McLean que participou da novela “Os Ossos do Barão” (1973), da Rede Globo.

CHRYSTIAN
Em 1977, José Pereira da Silva Neto, um garoto de 20 anos, revelou à Folha que, por contrato com a gravadora TopTape, foi obrigado a ficar enrustido longe do público e da televisão. Chrystian gravou “Don’t Say Goodbye”, que fez parte da trilha sonora da novela “Cavalo de Aço” (1973). A cantor faz parte da dupla sertaneja Chrystian & Ralf. Nos anos 1970, Ralf Richardson da Silva, irmão de Chystian e integrante da dupla, cantou “My Love For You”, com o pseudônimo Don Elliot.

MARK DAVIS
O cantor, compositor e ator Fábio Júnior  gravou “Don´t Let Me Cry”, que entrou na trilha sonora da novela “Barba Azul”, da TV Tupi, em 1974. Fábio também utilizou o pseudônimo Uncle Jack.

STEVE MCLEAN
Os grandes sucessos de Hélio Eduardo da Costa Manso como Steve McLean são as músicas “True Love”, que virou tema da novela “O Grito” (1975), e “Sweet Sounds Oh Beautiuful Music”, da novela global  “Locomotivas” (1977). O cantor, que também foi vocalista da banda Sunday, ainda gravou “Forever Alone”, que entrou na trilha da novela “O Casarão” (1976).

PETE DUNAWAY
Nos anos 1970, o cantor e compositor Otávio Augusto Fernandes Cardoso escreveu canções e produziu temas para novelas das emissoras Tupi e Globo. Otávio foi executivo da Som Livre e RGE. Como produtor, trabalhou com Rita Lee e produziu o primeiro disco de Guilherme Arantes. Como Pete Dunaway, fez sucesso com as músicas “I’ll Be Fine” e “Believe Me Darling”.

MICHAEL SULLIVAN
Ivanilton de Souza Lima utilizou o pseudônimo Michael Sullivan por exigência da gravadora TopTape. O cantor e compositor, que integrava a banda Renato e Seus Blue Caps, compôs a música “My Life”, que entrou na trilha da novela “O Casarão” (1976), da Rede Globo. Michael Sullivan produziu trabalhos de Tim Maia. Alcione, Sandra de Sá, Balão Mágico, Trem da Alegria e Roupa Nova, entre outros. O cantor –que também fez participações no grupo The Fevers– foi parceiro do compositor Paulo Massadas por mais de uma década.

TONY STEVENS
Jessé é conhecido nacionalmente por sua música “Porto Solidão”, exibida no Festival MPB Shell (1980). O cantor também participou do fenômeno “made in brazil” como Tony Stevens, cantando as músicas “Flying Hight” e “If You Could Remember”.

 

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