Há 35 anos, negro texano foi o primeiro executado por injeção letal nos Estados Unidos

Cristiano Cipriano Pombo

Às 3h16 (horário de Brasília) do dia 7 de dezembro de 1982, pela primeira vez na história, um condenado à morte nos Estados Unidos foi executado por injeção letal.

A vítima foi Charles Brooks Jr., que era negro e tinha 40 anos à época. Ele foi dado como morto sete minutos após a aplicação intravenosa de um produto químico à base de pentotal (conhecido como soro da verdade).

Brooks Jr. foi condenado à morte pelo assassinato, seis anos antes, o mecânico David Gregory em Fort West. Na ocasião, Brooks Jr. pediu para testar um carro de uma concessionária de automóveis. Gregory o acompanhou sem saber o que estava por vir.

Ao volante, Brooks Jr. dirigiu até onde estavam Woody Loudres e Marlene Smith. Foi então que, com a ajuda de Loudres, amarrou Gregory e o colocou no porta-malas. À base de álcool e drogas, eles partiram, então, para um motel, o New Lincoln, onde o mecânico foi morto com um tiro na cabeça –ele foi encontrado amarrado a uma cadeira e com boca atada com fita adesiva.

A polícia conseguiu prender os dois a partir de relatos de funcionários do motel.

Não era a primeira vez que Brooks Jr. era preso. Ele já tinha duas passagens por roubo, uma delas em 1962, e três por porte ilegal de armas, em 1968.

Nenhum dos dois cúmplices se declarou autor do disparo que matou Gregory.

Apesar disso, houve pesos diferentes para aplicar as penas aos dois.

Enquanto Brooks Jr. foi condenado a pena capital, Loudres foi condenado a 40 anos de prisão -naquela época, o Texas não tinha uma lei que tornava os cúmplices igualmente responsáveis, e a cor de pele também pode ter influenciado.

A EXECUÇÃO

Nas 24 horas que antecederam a injeção letal, a Justiça e as autoridades estaduais e federais americanas -incluindo a Suprema Corte– negaram sete apelações que tentavam livrar Brooks Jr. da morte.

Durante a madrugada no Texas –lá a execução ocorreu às 6h16–, o condenado conversou com um parente e um pastor.

Brooks Jr, que se tinha se convertido ao islamismo, revelou que não desejava morrer, mas estava preparado para o que viria a acontecer.

O condenado, que em sua última refeição pediu um filé com batatas fritas, sorvete de morango, doces e biscoitos, ainda aguardou em vão uma última chance de escapar da morte.

Isso porque seu advogado, James Strickland, chegou a falar com o governador do Texas, William Clements. O político poderia suspender a execução. Mas a esperança não se concretizou.

A execução, conforme relatou a Folha, chegou a ser atrasada em 16 minutos à espera do telefonema que poderia livrar o condenado da morte, mas, ao perceber que o aparelho seguiria sem tocar, o diretor da prisão autorizou a aplicação da injeção letal.

Brooks citou Alá antes de morrer. “Ná há outro Deus, senão Alá. Em verdade, nós pertencemos a Ele e a Ele retornaremos”.

E, como últimas palavras, disse “Eu te amo” para a namorada, Vanessa Sapp, que acompanhava a execução.

Quando o médico declarou Brooks oficialmente morto, o advogado Strickland afirmou: “Isso é horrível. O Estado do Texas executou o homem errado”.

Desde que a Suprema Corte dos EUA reafirmou a constitucionalidade da pena de morte, em 1976, cinco pessoas tinham sido executadas. Brooks foi o sexto –e o primeiro negro.

A última execução datava de 1964.

À época, 37 dos 50 Estados dos EUA adotavam a pena capital, sendo que 18 a aplicavam com a cadeira elétrica, 9 com a câmara de gás, 4 com a forca, 2 com fuzilamento e 4 com a injeção letal (além do Texas, Idaho, Oklahoma e Novo México).