Há cinco anos, morria o mestre da cítara Ravi Shankar, que levou a música indiana ao Ocidente

Há cinco anos, morria em San Diego, no Estado da Califórnia, aos 92 anos, o músico Ravi Shankar, que popularizou a música indiana no mundo todo.

Ravindra Shankar Chowdhury nasceu em 7 de abril de 1920, em Varanasi, no Estado de Uttar Pradesh (nordeste da Índia), e passou a maior parte de sua juventude estudando música (tocava diversos instrumentos) e dança, tendo desistido da segunda aos 18 anos para se dedicar à cítara.

Shankar se tornou mestre do instrumento. Além de citarista, também foi compositor e fundou a Orquestra Nacional da Índia. A partir dos anos 50, iniciou uma série de turnês pela Europa e pelos  Estados Unidos.

Na década de 1960, o músico passou a dar aulas para jazzistas como John Coltrane e Don Ellis. O saxofonista reverenciava Shankar e quando o indiano lhe disse que sua música era incrível e tocante, mas que, em algumas partes, a sentia “como o grito de uma alma atormentada”, Coltrane respondeu: “É exatamente isso o que eu quero saber e aprender com você. Como você encontra tanta paz na sua música e a entregue às pessoas?”

Não foi só a Coltrane que Shankar chamou a atenção. Em 1966, já era um músico consagrado quando foi apresentado a George Harrison e Paul McCartney, em Londres. “Foi a primeira pessoa que realmente me impressionou em toda a minha vida”, declarou Harrison.

“Quando George me procurou e disse que queria aprender [cítara], eu não sabia o que pensar. Mas percebi que ele realmente queria. Eu nunca poderia imaginar que nosso encontro causaria tamanha explosão, que subitamente a música indiana surgiria na cena pop”, confessou Shankar anos mais tarde.

Harrison tocou cítara na canção “Norwegian Wood (This Bird Has Flown)” –presente no álbum Rubber Soul (1965)–, que foi uma das primeiras músicas ocidentais a usar o instrumento indiano.

Com as aulas de Shankar, Harrison se especializou e tocou cítara novamente, desta vez na faixa “Within You Without You” do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967).

Em 1997, o “padrinho da world music”, como o ex-beatle se referia a ele, declarou a revista americana “Rolling Stone” que “quando George se tornou meu aluno, ganhei um novo público: a geração mais jovem”.

Seus fãs, entretanto, não ficaram por aí. Os britânicos Rolling Stones e Led Zeppelin e a banda americana Grateful Dead também se disseram inspirados por Shankar.

Como registrou o crítico da Folha André Barcinski, “Ravi Shankar adorava colaborar com artistas de outros estilos”. “Foi assim com o flautista Jean-Pierre Rampal e com o compositor Philip Glass, com quem lançou um disco em parceria.”

DISCOS E GRAMMYS

Ser apenas inspiração e tutor não foi suficiente para o mestre da cítara. Shankar colaborou também com outros músicos, como o violinista e maestro americano Yehudi Menuhin (1916-1999) e o flautista francês Jean-Pierre Rampal. Além disso, participou de dois festivais icônicos dos anos 60, o de Monterrey, em 1967, e o de Woodstock, em 1969.

Com Menuhim gravou o disco “West Meets East”, de 1966, que no ano seguinte foi coroado com um Grammy. Depois deste se seguiram outros dois em vida e mais um após sua morte, pelo conjunto da obra.

Ao lado de seu pupilo, George Harrison, em 1971, participou de um dos maiores eventos de caridade do mundo, “The Concert for Bangladesh”, que teve participação de Bob Dylan, produção de Phil Spector e acabou ganhando o Grammy de álbum do ano.

LEGADO

A atividade musical de Ravi Shankar foi vigorosa, inclusive como compositor. É autor de dois concertos para cítara e orquestra, além de músicas para balés e trilhas sonoras para filmes.

Em 1971, protagonizou o filme “Raga”, centrado em sua vida, e, em 1978, publicou o livro autobiográfico “My Life, My Music”.

De seu primeiro casamento, com Annapurna Devi, filha do músico Ustad Allauddin Khan, nasceu seu primeiro filho, em 1942, Shubhendra Shankar, que faleceu repentinamente aos 50 anos.

A relação com Annapurna terminou em divórcio em 1982, após anos de separação nos quais manteve relações com Sue Jones, mãe da cantora e multipremiada Norah Jones.

Por fim, casou-se em 1989 com Sukanya Rajan, mãe de Anoushka Shankar, virtuose da cítara, que críticos e fãs descrevem como a sucessora do pai.

Após sua morte, seu corpo foi cremado e as cinzas espalhadas em sua cidade natal, na Índia, no mar de San Diego e nas colinas do da região do Vale de São Fernando, na Califórnia.