Há 40 anos, John Travolta e ‘Os Embalos de Sábado à Noite’ tornaram a disco music mania mundial
Ele causa confusão onde chega. Ela é a razão do seu sucesso, é ultrapopular. Os dois dominam as listas dos mais vistos, ouvidos e vendidos. Mas ele não é nenhum astro do funk, nem ela é uma diva do “feminejo”. Estamos em 1977, ano de John Travolta e da disco music.
“Saturday Night Fever”, filme que no Brasil ganhou o nome de “Os Embalos de Sábado à Noite”, foi lançado em 16 de dezembro nos EUA. O musical, produzido por Robert Stigwood e dirigido por John Badham, foi baseado em um artigo sobre a cena disco, escrito pelo jornalista Nick Cohn, para o “New York Times”. Com orçamento baixo, o longa se tornou a terceira bilheteria da indústria cinematográfica americana da época.
John Travolta interpreta Tony Manero, jovem do Brooklin que trabalha numa loja de tintas, passa por conflitos amorosos e ganha destaque na noite como um dos melhores dançarinos de disco music. Karen Gorney vive Stephanie Mangano, sua parceira de dança. Em meio ao preconceito racial da época, Tony vence o concurso, mas acaba frustrado ao perceber que, mesmo sendo melhores do que ele, os segundos colocados não conquistam o prêmio por serem latinos.
O filme chegou ao Brasil apenas em julho de 1978, mas no auge efervescência disco.
“Desde o meio-dia de ontem, José Augusto, gerente do Cine Gazetinha, vive horas de muita loucura tentando conter a multidão de cocotas, ferinhas, gatinhas e bruxinhas que se acotovelam para surfar em mais uma onda milionária produzida por Hollywood. O nome dessa marola é ‘Os Embalos de Sábado à Noite'”, conta o jornalista Osmar Freitas Jr., que compara John Travolta ao ator e dançarino Fred Astaire em reportagem da Folha sobre a película do diretor John Badham.
A disco music, conhecida no Brasil como “som discotéque”, invadiu as rádios e as pistas de dança em 1977. “O produto que deu mais lucro para as gravadoras nestes últimos 12 meses”, afirma Antonio Celso, locutor da Rádio Excelsior, uma das mais populares entre o público jovem da época, em entrevista à Folha. Para o radialista, apesar da popularidade, o estilo musical tem péssima qualidade e faz parte de um movimento pobre.
Mas os números provam o contrário, a trilha de “Os Embalos de Sábado à Noite”, com músicas compostas pelo grupo Bee Gees, atingiu o primeiro lugar nos EUA, permanecendo no topo por 24 semanas entre os meses de janeiro e julho de 1978, e vendeu 15 milhões de cópias em toda a América. O disco fica durante 120 semanas nas paradas da Billboard.
“Stayn’ Alive”, “Night Fever”, “How Deep is Your Love”, interpretadas pelos Bee Gees, e “Disco Inferno”, do The Trammps, entre outras, construíram, tijolo por tijolo, o castelo da disco music. O visual de Tony Manero, com seu terno branco, camisa com gola gaivota e um medalhão no pescoço, inspirou a vestimenta dos frequentadores das discotecas pelo mundo. Em Nova York foi criada a discoteca Studio 54. No alto do Morro da Urca, no Rio de Janeiro, o jornalista e produtor Nelson Motta instalou o Dancin’Days –futuro reduto do grupo As Frenéticas–, clube que deu nome à novela global protagonizada por Sônia Braga.
“Os Embalos de Sábado à Noite”, assim, transformou-se num fenômeno cultural incontestável e passou a ser parte do imaginário popular. A imagem do dançarino Tony Manero na pista de dança é uma das marcas da década de 1970. Nos EUA, a disco music sofreu com altos e baixos no início da década 80 e passou por transformações nas mãos de novos DJs. Desse movimento surgiu a house music, que teve como berço a cidade de Chicago.
OUÇA A TRILHA SONORA DO FILME “OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE”