DIVÓRCIO, 40: Zizi Leon foi a primeira divorcista do país, e casal de SP, o primeiro divorciado pela lei
Quando o assunto é família, tudo é polêmico. Imagine então brigar pelo direito ao divórcio, como o fez Zizi Leon, desde os anos 40 até, finalmente, a promulgação da lei.
Quando o ex-presidente Ernesto Geisel (1907-1996) assinou a lei 6.515 de autoria do senador Nelson Carneiro (MDB-RJ), o país vivia a ditadura militar e ainda não havia a anistia política.
A celeuma para a aprovação envolveu diversos setores da sociedade, especialmente a Igreja Católica.
PRIMEIRA DIVORCISTA
Porém foi na década de 1940 que Alzira Couto Pinto Leônidas, mais conhecida como Zizi Leon, começou a batalhar pelo divórcio no Brasil. Sendo, portanto, considerada a primeira divorcista do país.
O Movimento Contra o Desquite e a Favor do Divórcio (criado por ela em 1942) começou quando Zizi Leon enviou uma carta ao jornal “Diário de São Paulo”, criticando uma polêmica entre os professores Noé Azevedo (a favor do divórcio) e Alexandre Correia (antidivorcista).
“Depois de dez dias, o presidente Getúlio Vargas mandou censurar o assunto no jornal, a pedido dos bispos”, disse Zizi.
Em 1947, as conferências e os debates sobre o tema ganharam corpo, e Zizi contou com o apoio de Anita Carrijo e Artur Saboya, que, segundo ela, foram grandes lutadores da causa. O movimento apoiou o deputado Nelson Carneiro em 1951, quando ele surgiu com um projeto de divórcio.
PRIMEIROS DIVORCIADOS
O primeiro casal a se beneficiar da Lei do Divórcio foi Marta Greger, à época com 78 anos, e Renato Paone, então com 75.
A vida em comum começou em 1930, mas a legitimação só veio 13 anos depois com o casamento. “Uma porcaria de papel passado”, afirmou Marta à Folha.
Para ela, “casar é forçar as coisas”. “Quando se vivia apenas juntos, era melhor.”
Separados havia 26 anos, Marta e Renato requereram o divórcio no Fórum da Capital, em São Paulo, e o mesmo foi anexado ao processo de desquite que correu na 2ª Vara da Família.
Quando recebeu o jornal para falar sobre o divórcio Renato Paone estava acompanhado da segunda mulher, a quem se uniu há 21 anos e com quem teve dois filhos.
Para ele, a relação com Marta ia muito bem. “Depois eu quis casar, pensando que ia dar segurança a ela, e então as coisas começaram a andar erradas.”
Marta resume que a lei é muito oportuna. “Existem milhares de lares desorganizados que agora vão poder se recuperar.”
MAIS DIVÓRCIOS
Além da ação do casal, outras cinco deram entrada em 27 de dezembro de 1977 (data da publicação da lei no “Diário Oficial da União”), todas referentes a casais desquitados há mais de três anos que pleiteavam a conversão do desquite em divórcio.