Há 95 anos, nascia no Rio de Janeiro o polêmico apresentador de televisão Flávio Cavalcanti
Em 15 de janeiro de 1923, nascia no Rio de Janeiro Flávio Antônio Barbosa Nogueira Cavalcanti, jornalista, radialista, produtor e um dos mais polêmicos comunicadores da história da TV brasileira.
Flávio Cavalcanti, como ficou conhecido, iniciou sua carreira em 1952, no programa “Discos Impossíveis”, da Rádio Mayrink Veiga, no Rio. Na atração, circulava pelas ruas da capital fluminense registrando cantorias de artistas que encontrava pelo caminho, dentre os quais o compositor baiano Dorival Caymmi.
Em 1956, o programa foi para a Rádio Nacional e um ano depois para a Tupi, também no Rio.
NA TV
A estreia na televisão foi em 1957, na TV Rio, onde foi repórter do “Noite de Gala”. No programa, em 1961, mesmo sem saber falar inglês, entrevistou o presidente americano John F. Kennedy, na Casa Branca. Dessa entrevista restou apenas uma foto guardada pelo filho, Flávio Cavalcanti Jr.
A popularidade do apresentador, contudo, veio em 1965, quando passou a comandar na TV Excelsior o célebre “Um Instante, Maestro!”, atração pioneira na adoção do júri artístico na TV brasileira.
No corpo de jurados do programa figuraram nomes como os de Nélson Motta, Danuza Leão, Osvaldo Sargentelli, Vera Fischer, Dener –estilista concorrente de Clodovil–, Maysa –a cantora–, maestro Erlon Chaves, entre outros.
Em 1967, quando o programa passou a ser exibido na TV Tupi, Caetano Veloso, que ainda iniciava carreira na música, citou ironicamente o nome do programa na composição “Superbacana”, de seu segundo disco –homônimo–, lançado em 1968, tamanha a notoriedade do apresentador.
O POLÊMICO
O apresentador das grandes polêmicas surgiu a partir de 1970, com a estreia do “Programa Flávio Cavalcanti”, que era uma junção de “Um Instante, Maestro!” e “A Grande Chance”, este, um show de calouros que revelou um dos maiores intérpretes da música popular brasileira, Emílio Santiago.
Conivente com o regime militar e defensor da censura, pagou com a própria língua ao ter, em março de 1973, o seu programa suspenso por 60 dias pela Divisão de Censura de Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal. Isso por ter levado ao ar a história de um homem que havia emprestado a esposa ao vizinho depois de perder uma aposta.
Ainda nos anos 1970, quando chegava a atingir até 70% da audiência, ficou marcado pela contundência em suas críticas e por quebrar diante das câmeras discos que não gostava.
Rita Lee, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Ney Matogrosso foram alguns dos artistas criticados. Sobre este último, disse: “Sou tão quadrado e conservador que acho que homem tem que cantar como homem e mulher como mulher. Que me desculpem Ney Matogrosso, Maria Bethânia, Simone…”
Já para os tropicalistas Gil e Caetano, Cavalcanti fez críticas às suas estéticas e performances: “Eu não vejo necessidade de Gil esticar o cabelo e colocar bolotas nas pontas ou Caetano ficar nu.”
Alguns trejeitos peculiares também se tornaram marca do apresentador na TV. Um deles era a de tirar e colocar os óculos constantemente durante as atrações. Outro era apontar o dedo indicador para o alto para anunciar a entrada dos intervalos com a icônica frase “os nossos comerciais, por favor!”.
A DESPEDIDA DA TUPI
Em 1980, após uma crise financeira que perdurava havia alguns anos, a TV Tupi encerrou suas atividades televisivas. Dois anos depois, em maio de 1982, o apresentador fechou contrato com a TV Bandeirantes, onde apresentou o “Boa noite, Brasil” até outubro de 1983.
No mesmo ano, estreou no SBT o “Programa Flávio Cavalcanti”, depois que a emissora de Silvio Santos ofertou o dobro do salário oferecido pela TV Globo, na época também interessada na contratação do apresentador.
Em seu último programa no SBT, gravado em 22 de maio de 1986, Flávio Cavalcanti sofreu uma isquemia miocárdica aguda, “não passível de cirurgia”, segundo informou na época o médico Renato Duprat Filho. O apresentador ficou internado durante quatro dias, até a sua morte, aos 63 anos, de uma parada cardíaca provocada por fibrilação ventricular.
Flávio Cavalcanti deixou quatro filhos (um adotivo) do único casamento que mantinha havia quase 40 anos, com Belinha, uma prima distante.