Há 50 anos, cantor Roberto Carlos dava adeus ao programa de televisão ‘Jovem Guarda’

Em 17 de janeiro de 1968, o rei Roberto Carlos fazia a sua última aparição como apresentador do dominical “Jovem Guarda”, atração da TV Record que oficializou o movimento musical homônimo no Brasil.

A partir daquele dia, as jovens tardes de domingo, sempre regadas a paixões, guitarras e flores, já não seriam as mesmas sem a presença do ídolo máximo da juventude brasileira daqueles anos.

EI, EI, EI, ROBERTO É O NOSSO REI

O programa “Jovem Guarda” entrou no ar pela primeira vez às 16h30 do dia 22 de agosto de 1965. O tremendão Erasmo Carlos e a ternurinha Wanderléa, como eram conhecidos os outros dois astros da música jovem, foram os artistas convocados para comandar a nova atração ao lado do rei.

Os primeiros convidados do programa foram a cantora Rosemary, os conjuntos The Jet Blacks e Os Incríveis e os cantores Ronnie Cord, Tony Campelo e Prini Lorez, três componentes da primeira geração do rock brasileiro, que na passagem dos anos 1950 para os 1960 compunham versões em português para os hits internacionais da época.  

O primeiro nome cogitado para o programa foi “Festa de Arromba”, título de um dos grandes sucessos do Tremendão na época. Mas o trio de apresentadores decidiu pelo nome “Jovem Guarda”, ideia do publicitário Carlito Maia (1924-2002), que se inspirou em uma frase de Lênin dirigida ao proletariado russo: “O futuro do socialismo repousa nos ombros da jovem guarda”.

TAPA-BURACO

A então nova atração musical da Record surgiu como uma espécie de tapa-buraco na grade da emissora, uma vez que a Federação Paulista de Futebol, com o argumento de que a exibição do Campeonato Paulista na no canal estava esvaziando os estádios, revogou a autorização da transmissão dos jogos.

O núcleo artístico da TV Record na época contava com a direção de Paulinho Machado de Carvalho, filho de Paulo Machado de Carvalho, dono do conglomerado que incluía ainda as rádios Record, Pan-Americana (Jovem Pan) e São Paulo. O programa era dirigido por Carlos Manga, um dos nomes mais citados na história da televisão no país.

O “Jovem Guarda” era transmitido ao vivo do Teatro Record, localizado no número 1992 da rua da Consolação, na região central de São Paulo, onde uma massa ensurdecedora de jovens e adolescentes lotava o local aos gritos de “ei, ei, ei, Roberto é o nosso rei” e “asa, asa, asa, Roberto é uma brasa”, jargão que significa “muito bom”.

Roberto Carlos nos anos 1960 (Foto: Folhapress)

Foi através desse movimento que surgiram algumas gírias usadas pela juventude. Entre as mais populares estão: “broto” (garota bonita), “pão” (garoto bonito), “papo firme” (alguém muito legal), “carango” (carro bacana), “coroa” (velho) e “calhambeque” (carro velho), esta última patenteada por Roberto Carlos.  

O programa, assim como o movimento que levou o seu nome, influenciou toda uma geração de jovens, tanto na estética quanto no comportamento. A grande audiência, que só em São Paulo chegou ao alcance de 3 milhões de espectadores, trouxe uma vida lucrativa ao mercado fonográfico brasileiro.

Ao longo de seus quase três anos de existência, a atração teve grandes destaques da cena musical, como Eduardo Araújo, Silvinha, Jerry Adriani, Trio Esperança, Golden Boys, Os Vips, Martinha, Deny e Dino, Leno e Lilian e Waldirene –esta última imortalizada na música “É Papo Firme”, de Roberto e Erasmo.

Nomes de outras vertentes sonoras, como Elis Regina, Jair Rodrigues e Jorge Benjor –à época Jorge Ben–, também passaram pelo programa.

O FIM EM MOMENTOS DE LUTA

No início de 1968, com a saída de Roberto Carlos, o programa, que continuou sob os comandos do Tremendão e da Ternurinha, resistiu durante cinco meses, até o seu fim, em junho daquele ano, devido sobretudo à queda na audiência.

Eram novos tempos. O movimento tropicalista e contestador de Gil e Caetano se intensificava no país com o advento dos grandes festivais de MPB –além do teatro e do cinema. E as grandes manifestações de jovens contra o regime militar, implantado no Brasil em abril de 1964, passaram a tomar as principais vias públicas do “país tropical” cantado por Jorge Ben.

Cinquenta anos depois, Roberto e Erasmo, que, a partir daqueles anos formaram a dupla de compositores mais bem sucedida da história da música popular brasileira, além de Wanderléa, ainda continuam arrastando multidões pelo Brasil, sempre com o intenso romantismo e recordações daquelas tardes de guitarras, sonhos e emoções.