Há 35 anos, Mané Garrincha, ídolo do Botafogo e da seleção brasileira, era derrotado pelo alcoolismo

Manoel Francisco dos Santos, mais conhecido como Mané Garrincha, morreu em 20 de janeiro de 1983, na Casa de Saúde Doutor Eiras, em Botafogo, no Rio, vítima de cirrose hepática.

Ídolo máximo do Botafogo, o ex-jogador, então com 49 anos, não resistiu ao maior adversário que enfrentou em sua vida: o alcoolismo.

Só nos dez meses que antecederam sua morte, o ex-craque passou por oito internações.

Nilton Santos, companheiro de clube e de seleção, lamentou sua morte afirmando que o eterno camisa 7 do Botafogo “foi vítima de sua própria solidão”. “Não sei se houve, antes, algum outro velório no Maracanã. Sei apenas que Garrincha não poderia ser velado em outro lugar”.

Na ocasião de sua morte, Paulo Amaral (1923-2008), seu primeiro preparador físico na equipe de General Severiano, disse que ninguém devia ser responsabilizado pela morte de Garrincha. “Não faltou carinho a ele”, disse.

O ex-jogador Sócrates, morto em 2011, foi enfático quanto a condição do jogador e do cidadão: “Nem ele se enquadrou, nem a sociedade o absorveu como Manoel dos Santos.”

Natural de Pau Grande, no distrito de Magé (RJ), Garrincha foi casado com Nair, com quem teve oito filhas. De Iraci, com quem mantivera relação extraconjugal, outras duas filhas.

Com a cantora Elza Soares, mulher que o ajudou em várias fases da vida e com quem esteve por 15 anos, teve um filho, Manuel Garrincha dos Santos Júnior, morto em 1986, aos 9 anos. O casal também adotou Sara, em 1965.

De sua primeira participação em Copa do Mundo, na Suécia, em 1958, mais um filho: Ulf Lindberg. E com a última mulher, Vanderléa, outra menina, Lívia.

Além dos filhos, do craque das pernas tortas –como também era chamado– ficaram as imagens de lances geniais (em videotapes e fotografias), homenagens em logradouros (em Osasco, Paulínia, Rio de Janeiro, Natal, Porto Velho) e um estádio com seu nome, em Brasília (que recebeu sete jogos na Copa do Mundo de 2014).

MITO

Boa parte das histórias, do folclore em torno de Garrincha, repetidos em mesas redondas e em bares, não são verdadeiros, ou, não aconteceram como se descrevia à época.

No livro “Estrela Solitária — Um brasileiro chamado Garrincha”, lançado em 1995 –que está em sua 19ª reimpressão–, o colunista da Folha Ruy Castro fez essa observação.

Para o autor da biografia, os jornalistas “Sandro [Moreyra] e Mario Filho não calculavam que essas histórias seriam repetidas, deturpadas e que, com elas, estava se criando o mito de um gênio infantil, e quase debiloide, que não fazia justiça a Garrincha”.

Ninguém melhor do que Ruy Castro para descrever a genialidade dentro das quatro linhas do maior ponta direita da história –segundo o jornalista Juca Kfouri e tantos outros– e as agruras do homem (mulherengo e alcoólatra) que perdeu a vida para o vício.

O Blog Acervo Folha indica o texto do colunista publicado pelo jornal cinco anos atrás.

Arte publicada em 20.jan.2013 em Esporte (Folhapress)