Há 55 anos, nascia Jordan, que ‘voava’ no garrafão e ‘desconhecia’ lei da gravidade
Insatisfeito com o desempenho do Charlotte Hornets nesta temporada da NBA, o proprietário da equipe, Michael Jordan, decidiu agir de uma maneira diferente antes da partida contra Los Angeles Lakers, no dia 9 de dezembro.
Em busca de uma reação no campeonato, ele reuniu os jogadores para uma conversa, sem a presença do treinador.
“Não foi uma bronca. Ele queria escutar quais eram os nossos pensamentos. Ele também falou sobre o que estava vendo e sobre o que gostaria de ver daqui para a frente”, declarou o jogador Marvin Williams para o jornal “Charlotte Observer”.
A conversa não foi suficiente para que o time vencesse o duelo contra os Lakers (derrota por 110 a 99), mas mostrou um episódio curioso do melhor jogador de basquete da história atuando agora como cartola.
Neste sábado (17), Jordan completa 55 anos e luta para voltar a triunfar na NBA. Como jogador, o sucesso foi estrondoso.
Nascido no Brooklyn, em Nova York, foi criado na Carolina do Norte, onde se destacou jogando pela universidade local.
INÍCIO NA NBA
No draft da NBA de 1984, foi o terceiro jogador a ser selecionado e passou a defender o Chicago Bulls (Houston Rockets e Portland Trail Blazers –os primeiros times a fazer a escolha– optaram por outros jogadores).
Antes de iniciar sua carreira como profissional, Jordan ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Los Angeles de 1984. Depois, com a camisa dos Bulls, mais glórias. Em sua primeira temporada, foi escolhido o melhor jogador estreante do campeonato.
Antes mesmo de conquistar um título, ele já era visto como um astro. Em 28 de março de 1989, a Folha publicou um balanço dos primeiros anos de Jordan nos Bulls. Apontou que o atleta já era popular como o cantor Michael Jackson: “Michael Jordan, famoso como o xará Jackson, desconhece a lei da gravidade” foi o título do texto.
Em reportagem de 21 de maio de 1991, suas habilidades foram descritas com destaque: “Suas cestas acrobáticas –parece voar quando entra no garrafão para suas enterrada– o tornaram famoso e lhe proporcionaram o apelido de Michael ‘Flying’ [voador] Jordan”. Outro apelido dado a ele foi o de Michael ‘Air’ (ar) Jordan.
É CAMPEÃO
Ainda em 1991, veio o primeiro título na NBA, conquistado sobre o Los Angeles Lakers, de Magic Johnson. O triunfo também era inédito para os Bulls.
“Quando terminou a partida, Jordan chorou. Ainda na quadra, uma equipe da Disney o abordou para que lhe dissesse ‘I’m going to Disney World [Eu vou para a Disney World]’. Caso tivesse concordado, ganharia um cachê individual pela propaganda. Depois, explicou usa recusa. ‘Qualquer coisa que eu ganhar, eu quero que o time inteiro receba. Foi preciso o time inteiro para ganhar o campeonato’”, relatou a Folha.
Em 1992 e 1993, Jordan repetiu o feito e conquistou mais dois títulos da NBA. Também em 1992, ele foi um dos principais astros do Dream Team (Time dos Sonhos), como ficou conhecida a seleção norte-americana vencedora dos Jogos Olímpicos de Barcelona.
Quando estava no auge da sua carreira, Jordan surpreendeu ao anunciar sua aposentadoria. Estava abalado pela morte de seu pai, James Jordan, assassinado, aos 57 anos, com um tiro no peito à queima-roupa.
Longe do basquete, Jordan foi se aventurar em partidas de beisebol profissional. Em entrevista à Folha, ele contou o porquê dessa decisão.
“Sentia falta do desafio no esporte quando deixei a NBA. No beisebol, a situação era diferente, havia muito o que aprender. Tinha muita confiança, mas também muitas dúvidas. Isso porque o ambiente não era familiar”, contou.
VOLTA AO BASQUETE E MAIS TÍTULOS
Sem sucesso no beisebol, Jordan anunciou em 1995 o seu retorno ao basquete pelos Bulls. E uma nova Jordan-mania tomou conta dos EUA.
“Tenho medo de que as pessoas me vejam como um Deus. Tenho muitos defeitos. Meu humor varia muito, por exemplo. Isso está ficando grande demais. No começo, é divertido, você se sente querido, afinal você quer respeito. Depois, vira absurdo”, declarou.
O seu retorno foi um sucesso, e ele tornou-se hexacampeão da NBA, vencendo os campeonatos de 1996, 1997 e 1998. Novamente, quando estava no auge, anunciou que deixaria o basquete.
Só que, mais uma vez, ele mudou de decisão. Primeiro, aceitou ser dirigente do Washington Wizards, em 2000. Depois, em 2001, decidiu deixar o lado administrativo para trás, largou o cargo e resolveu, aos 38 anos, retornar às quadras como jogador pelo seu novo time.
Apesar de não ter conseguido levar o Washington nem aos playoffs, o atleta disse que estava contente por ter voltado às quadras. “Vivi momentos maravilhosos, pude recordar velhos tempos, ver novas coisas. Foi muito divertido. Mas, desta vez, vou parar em definitivo.”
DONO DE TIME
Fora dos Wizards, virou sócio minoritário do Charlotte Bobcats em 2006. Quatro anos depois, fez mais investimentos e comprou a equipe. Sob sua gestão, o time voltou a se chamar Charlotte Hornets em 2014.
Nesta nova fase de Jordan, como cartola, os títulos e as grandes campanhas ainda não vieram. Sem poder “voar” no garrafão para fazer cestas, ele tenta à base do bate-papo empurrar a sua equipe à vitória. E o estilo do dirigente parece agradar aos atletas.
“As pessoas me perguntam o tempo todo como é jogar para o time do Michael Jordan. Acham que seria difícil, por ele ter sido um jogador tão grandioso. Mas, para nós, é muito benéfico. Ele conhece o duro trabalho que é necessário ser feito durante a temporada da NBA”, declarou o jogador do Charlotte Marvin Williams.
Nesta temporada da NBA, o Charlotte perdeu a maioria dos jogos (foram 24 vitórias e 33 derrotas) e está na décima colocação da Conferência Leste. O oitavo colocado, o último na zona de classificação aos playoffs, é o Miami Heat, que venceu 30 vezes e perdeu 28. A virada é possível.